A maior liberdade a que me permito é não me sentir obrigada a satisfazer expectativas alheias.

A maior liberdade a que me permito é não me sentir obrigada a satisfazer expectativas alheias.

Inteiramente fascinada, encantada, maravilhada com a narrativa profundamente humana de Annie Ernaux, concluí a leitura de PAIXÃO SIMPL...

annie ernaux paixao
Inteiramente fascinada, encantada, maravilhada com a narrativa profundamente humana de Annie Ernaux, concluí a leitura de PAIXÃO SIMPLES, uma obra de pouco mais de cinquenta páginas, intimista e introspectiva, espécie de inventário da paixão intensa e proibida experimentada pela autora por um homem chamado A.

Todos sabemos muito bem que, do que se veicula na internet, nem tudo se aproveita. Aleatoriamente, há alguns dias, passei o olho em ...

entusiasmo surpresa intuicao
Todos sabemos muito bem que, do que se veicula na internet, nem tudo se aproveita. Aleatoriamente, há alguns dias, passei o olho em duas postagens no Instagram, a primeira era uma aula de língua portuguesa; a segunda, uma utilização da etimologia, para fundamentar um argumento.

Nas aulas de língua portuguesa, pela internet, já tive a oportunidade de observar vários absurdos, dentre eles tecnicismos que não interessam a quem está fazendo segundo grau ou a quem vai prestar concurso que não seja para a área de língua ou de linguística.

Há um trecho de um poema de Cora Coralina que diz assim: “Ajuntei todas as pedras Que vieram sobre mim Levantei uma escada muito al...

Há um trecho de um poema de Cora Coralina que diz assim:

“Ajuntei todas as pedras Que vieram sobre mim Levantei uma escada muito alta E no alto subi Teci um tapete floreado E no sonho me perdi”

Os versos falam sobre transformar as dificuldades em algo positivo; sonhar e buscar realizar esse sonho. Pensar assim é ter coragem de enfrentar os percalços da vida, como ela fez, produzindo doces para sobreviver, mas realizando seu sonho de escritora, ao colar, nos saquinhos de papel que serviam de embalagem, seus poemas encantadores.

Ousadia foi a palavra que me veio à cabeça, ao me meter na aventura de ir a Paraty conhecer a festa literária mais importante do Brasil. Participar desse evento era um desejo antigo a que me dei o luxo de realizar. 

Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
A gente não se engana e sabe que é um evento grandioso voltado para o mundo mercadológico editorial. Lá parece que tudo gira mais em torno de quem escreve do que de quem lê. É um filão a ser explorado, pois quem não quer ser reconhecido pela arte literária que produz? Todo artista quer se mostrar e se exibir. Poucos são os que estão ali que não tenham pelo menos um livrinho publicado ou um texto em alguma antologia.

Marineuma Oliveira
Porém, há a possibilidade de ver e de ouvir escritores que admiramos e trocar experiências num ambiente cuja maioria gosta e respira literatura. Andar pelas ruas de pedras irregulares e ver a luta de tanta gente buscando sair do anonimato são um capítulo à parte. 

Há atividade para tudo quanto é gosto. Da programação oficial, formatada em 20 mesas temáticas, que acontecem numa tenda-auditório climatizada, com reprodução das falas num ambiente com telão que fica ao lado (esse sem ar-condicionado, mas pelo menos com acesso gratuito), até a programação de inúmeros outros espaços privados a que chamam de casas, com suas peculiaridades e que competem entre si pelos ávidos participantes itinerantes, que vão de uma a outra, em busca de novidades. 

Encontramos muitos lugares alternativos em meio a um areal (único local plano, mas cheio de lama), ao lado do rio que corta aquele pedaço da cidade histórica, feita de pedras desiguais e escorregadias, em que até quem tem nariz empinado precisa andar olhando onde pisa, sob pena de escorregar e ir ao chão da dura realidade.

Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
E vamos encontrando pelas ruas camelôs de livros, dividindo o passeio com vendedores de pipoca, salgadinhos, doces, churros e até milho verde cozido! E há os restaurantes caros, cafés, bistrôs, onde acontecem saraus e leituras de textos os mais diversos. Mas não se engane: tudo é muito caro e nem sempre bom. Houve dia em que faltou água e café, acreditem, numa cafeteria.

No entanto, gostei muito da experiência. Ter o nome na programação oficial, através da participação em uma casa parceira, poder lançar um livro na FLIP e estar em uma coletânea de textos de autoria feminina encheram-me de orgulho. Fiz questão de marcar presença e colocar à venda, numa mesinha branca, forrada com toalha preta, meus três livros de poesia. E as pessoas, curiosas, paravam, folheavam, perguntavam de mim e alguns até compravam. 

Feira Literária Internacional de Paraty (RJ) Marineuma Oliveira
Das mesas oficiais, assisti a três no espaço pago. Eu queria sentir todos os lugares dali. Na mesa de abertura, David Jackson e Adriana Armony falaram sobre Patrícia Galvão, Pagu, a pessoa homenageada do evento. Logo após, veio o show de Adriana Calcanhoto. 

Além da mesa 19, cujo tema foi “Só então pude falar”, composta pelo escritor mais lido do momento, Itamar Vieira Júnior, Miriam Espodito e a simpática Glicéria Tupinambá, vi, com muito apreço, a mesa 15, que trouxe falas sobre o artista em destaque, Augusto de Campos, vivinho da silva, com seus 92 anos, um gênio do que ouso chamar, com todo respeito que merece, de poeta do virtual, visual e sinestésico, reverenciado por André Vallas, Ricardo Aleixo e Simone Homem de Melo.

Feira Literária Internacional de Paraty (RJ)Flip
No mais, não nos esqueçamos dos perrengues, como um calor infernal, um apagão em toda a cidade, no segundo dia do evento, cheia de mosquitos que picavam para valer, chuva de vez em quando e as filas quilométricas até para conseguir um pequeno espaço do lado de fora, perto da janela, para ouvir alguma celebridade literária ou para pegar um autógrafo do autor do livro mais vendido. 

A experiência foi boa. É preciso vivê-la, se você escreve e gosta de literatura. Juntar pedras e construir com elas escadas é ainda o que mais precisamos aprender a fazer. Se voltarei lá um dia? Quem sabe? Talvez. Por que não?

Preciso parar com essa mania de revisitar as biografias dos meus ídolos. Mais uma vez me surpreendo com a quantidade de informações fal...

santos dumont aviacao relogio
Preciso parar com essa mania de revisitar as biografias dos meus ídolos. Mais uma vez me surpreendo com a quantidade de informações falsas ou ao menos muito duvidosas que nos dão nas escolas. Até agora eu tinha Santos Dumont como o pai da aviação e não se falava mais nisso. Era uma das referências do Brasil.

Na sociedade atual, globalizada, sob o domínio das tecnologias da comunicação, o cidadão comum é assediado pelos meios galopantes da s...

cardiologia globalizacao informacao
Na sociedade atual, globalizada, sob o domínio das tecnologias da comunicação, o cidadão comum é assediado pelos meios galopantes da supracitada. O profissional médico também pode e deve obter proveito desses avanços tecnológicos e dessas novas fontes de informações em função de sua prática.

Não costumo buscar senha para atendimento “preferencial” em bancos nem nas Casas da Cidadania que os Poderes Públicos instalam, des...

Não costumo buscar senha para atendimento “preferencial” em bancos nem nas Casas da Cidadania que os Poderes Públicos instalam, desde 2001, para tratos que vão do emplacamento do carro ao título de eleitor. Refiro-me ao ambiente único onde prestam serviços individuais ao distinto público os governos federal, estadual e municipal, além dos cartórios e das concessionárias de telefone, água e luz.

O nome do livro submetido aos leitores junta uma expressão de José Américo de Almeida (1887/1980) a um enunciado de Milton Ma...

augusto anjos joao pessoa centro historico
O nome do livro submetido aos leitores junta uma expressão de José Américo de Almeida (1887/1980) a um enunciado de Milton Marques Junior. A expressão consta da conferência pronunciada pelo saudoso escritor e homem público, natural do Município de Areia, no evento comemorativo do cinquentenário do nascimento do poeta Augusto dos Anjos3 , em 1934. Milton a reuniu ao enunciado explicativo do propósito de sua obra.

      Quando eu (flor) for arrancado do jardim, deixarei de ser flor. A noite é da lua, das estrelas, do bom vinho, da ce...

poesia paraibana raniery abrantes
 
 
 
Quando eu (flor) for arrancado do jardim, deixarei de ser flor.

A noite é da lua, das estrelas, do bom vinho, da cerveja, (des) encontros. É do mar, do vento, da maresia, da boemia, dos poetas, da poesia.

Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. ...

melancolia angustia
Velhas roupas e novas promoções podem ser atrativas no intervalo da TV que despeja centenas de bombas que ouvimos estrondar baixo. No Sul do globo ocular os erros se repetem cometidos por outros. As caixinhas eletrônicas transmitem zilhões de informações consumidas aleatoriamente, que mal se consegue processar. O resultado é o julgamento sumário de realidades profundas. As cenas se sucedem entre o braço erguido

O mundo da filosofia e da escrita está repleto de grandes pensadores, filósofos e escritores que têm contribuído para o desenvolvimento...

O mundo da filosofia e da escrita está repleto de grandes pensadores, filósofos e escritores que têm contribuído para o desenvolvimento da humanidade ao longo dos séculos. Desde os tempos antigos até os dias atuais, esses indivíduos têm dedicado suas vidas à reflexão e ao questionamento, buscando compreender os mistérios da existência humana e do universo.

Retorno à leitura de A Nudez de Laura , de Ana Paula Cavalcanti, interrompida há dez anos, quando o romance foi lançado. Me peniten...

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Retorno à leitura de A Nudez de Laura, de Ana Paula Cavalcanti, interrompida há dez anos, quando o romance foi lançado. Me penitencio porque passei tanto tempo sem penetrar nas entranhas dessa obra, que é recheado de episódios protagonizados por pessoas que se revelam portadoras de alma apaixonada.

Eis que uns pingos de chuva apanhados por mim me deixaram posto a sossego. O corpo dolorido como se houvera sido surrado, além da chuva...

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Eis que uns pingos de chuva apanhados por mim me deixaram posto a sossego. O corpo dolorido como se houvera sido surrado, além da chuva travessa, uma tempestade de sola da popa à proa. O jeito foi me render.

Eu, historicamente, sujeito à amigdalite crônica, comecei a padecer a febre em braseiro, a rouquidão me fazendo assoviar pelas cordas vocais. Não quis incomodar o saudoso Ugo Guimarães , nem meu ex-colega de bancos ginasianos, o competente otorrinolaringologista Antônio Carvalho.

Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892–1940) foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão. Em seu livro...

Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892–1940) foi ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo alemão. Em seu livro A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (1934), o pensador alemão discorre sobre a importância da tradição cultural que a obra de arte irradia e como uma reprodução técnica desconstrói a originalidade e a memória afetiva na obra artística. Para ele, uma imagem estética tem um significado maior quanto mais autêntica for, uma vez que existem compreensões

De suas estranhezas notou-se primeiramente uma indisfarçável simpatia pela vida de caserna. Pois não é que, às...

literatura paraibana alberto lacet
De suas estranhezas notou-se primeiramente uma indisfarçável simpatia pela vida de caserna. Pois não é que, às vezes, chegava nos cantos subitamente marchando (entenda-se: você o via aproximar-se andando normalmente, quando, a poucos passos, assumia um andar retesado e o bater de pés dos que marcham, e isto apenas para – chegando junto a você – obedecer a uma imaginária ordem de Alto!), quando então estancava batendo um calcanhar no outro e prestando as continências militares, e só depois disto, voltando ele a normalidade da vida civil…Às vezes me pergunto: de onde viria aquilo lá… nele?

O filme Memórias de Paris (de Alice Winocour, 2022), no Festival de Cinema Varilux, tem como enredo os ataques terroristas em Paris ...

destino instante paris irreversivel cinema
O filme Memórias de Paris (de Alice Winocour, 2022), no Festival de Cinema Varilux, tem como enredo os ataques terroristas em Paris com foco num dos cafés atingidos.

A personagem principal, Mia (Virginie Efira), sai de um encontro com o marido depois de uma desculpa conveniente para ir a um encontro amoroso, e ela, por conta da chuva torrencial, resolve parar num Café. Fica a observar detalhes nos clientes. Duas moças que tiram selfie, um pescoço com um colar, uma outra que se dirige ao banheiro, um aniversário celebrado na mesa vizinha, um olhar sedutor do aniversariante, quando, de repente, uma explosão.

Li que o bilionário Jeff Bezos tem inve...

Li que o bilionário Jeff Bezos tem investido um dinheirão numa startup que pesquisa a imortalidade. Bezos, que já foi ao espaço, parece insatisfeito com a possibilidade de o homem explorar os domínios extraterrestres. Quer mais. Seu sonho é que no futuro possamos escapar de um evento que por excelência confirma a nossa condição animal – o fim da vida.

Quando ocorreu o aumento do consumo de ovos nos Estados Unidos surgiu o acolhimento inesperado e volumoso de pintinhos nas residências ...

horta caseira
Quando ocorreu o aumento do consumo de ovos nos Estados Unidos surgiu o acolhimento inesperado e volumoso de pintinhos nas residências daquele país. Parece uma nova linhagem de pets, e com uma segunda função nos lares americanos: fornecer comida.

O nome cardinal vem do adjetivo latino cardinalis, que significa “principal”, donde a expressão cardinales numeri, isto é, “números pri...

O nome cardinal vem do adjetivo latino cardinalis, que significa “principal”, donde a expressão cardinales numeri, isto é, “números principais, que servem de base a outros”. É da palavra cardinalis, latina, que vêm o substantivo cardeal para designar o prelado religioso e o adjetivo que designa os pontos principais de orientação (pontos cardeais).

Um gramático ensina que se deva dizer “anos sessentas”, flexionando-se o numeral cardinal. A ideia básica é a de que, se dizemos que há dois sessentas no número 6060, então devemos também dizer “anos sessentas”, já que a dezena se
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repete a cada ano: 1961, 1962, etc.. O argumento não é convincente, e a lição carece de respaldo documental, uma vez que não existe usuário culto da língua (escritor, filólogo, linguista) que pluralize o cardinal depois do nome.

O numeral cardinal tem basicamente duas funções semânticas e duas funções sintáticas, dependendo de sua posição em relação ao substantivo. Se vem antes do nome, o numeral cardinal participa da natureza do pronome indefinido, mas é quantificador determinado, e sua função semântica é de numerativo (na terminologia de Halliday e Hasan, no livro Cohesion in English, London: Longman, 1976, p. 40-41). Sintaticamente, é um adjunto adnominal. Nessa função, alguns numerais cardinais se flexionam, como um, dois e os terminados em –entos. Ex.: duas casas, duzentas obras. Mas, variando ou não, o numeral cardinal, na função semântica de numerativo e na função sintática de adjunto adnominal, é sempre um determinante do nome.

Quando vem posposto ao nome, porém, o numeral exerce função semanticamente classificatória e sintaticamente apositiva (aposto especificativo) e é invariável: prédio dois, casa um, apartamento cento e um, revólveres 38, calibre 45, anos sessenta.

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Em seu emprego isolado, isto é, como núcleo de um sintagma nominal, o numeral cardinal também funciona como um pronome indefinido, como um quantificador determinado. Cf.: “Pedro, José, Maria e Clara não voltaram ainda. Os quatro saíram cedo, todos com pressa.” Segundo Halliday e Hasan, p. 147 e ss. da obra citada, só existe elipse nominal quando o nome elidido é recuperável anaforicamente, e um termo periférico do nome elidido assume a função nuclear. Assim, o termo “os quatro” da frase acima, sujeito de “saíram”, não pressupõe a elipse de nenhum substantivo e equivale ao emprego de “todos”, sujeito da oração seguinte.

Quando se diz “prova dos noves”, “os oitos”, “os cincos”, o numeral passa a ser substantivo (derivação imprópria) e flexiona-se em número. Como substantivo, o numeral cardinal pode exercer uma função nuclear (de sujeito, de predicativo, de objeto direto,
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de objeto indireto, de complemento nominal) ou uma função periférica (de adjunto adnominal ou de aposto). Assim, por exemplo, temos: “Os quatros que ele desenhou parecem noves”, “Gostei dos oitos que ele desenhou” etc.

Em sua função classificatória, o numeral cardinal é invariável porque é um aposto especificativo, como em “professores adjuntos quatro”. Os termos que exercem a função de apostos especificativos pospostos ao fundamental, normalmente não se flexionam, como, por exemplo, sequestros relâmpago, desvios padrão, operários padrão, comícios monstro, vestidos laranja, tons pastel, elevadores Nacional, contas fantasma, cópias xerox, etc. Esses apostos às vezes se confundem com palavras compostas, como em: bananas-maçã, canetas-tinteiro, mangas-rosa, salários-família, em que o segundo elemento não varia por restringir a significação do primeiro ou por indicar-lhe destinação ou fim (como em navios-escola). Se o segundo elemento não restringe a significação do primeiro, ambos geralmente variam, como em: cartas-bilhetes, cirurgiões-dentistas, decretos-leis, etc. No caso do numeral, se ele exerce função classificatória (de aposto especificativo), só o fundamental varia: revólveres trinta-e-oito ( e não “trintas-e-oitos”), anos sessenta (e não “anos sessentas”). Se o aposto especificativo não for um numeral cardinal, ele pode confundir-se com um adjunto adnominal e flexionar-se, como em Casas Pernambucanas (Cf.: Casas Aurora, Livrarias Santana, Lojas Pet, Óticas Visual, etc.). Atente-se para o fato de que em nenhuma língua neolatina o numeral cardinal posposto ao nome se flexiona. Cf. “les années soixante”,
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“los años sesenta”, etc. Não há, pois, nenhuma razão para pleitear que o numeral posposto ao nome se flexione em português. Em italiano, o século pode ser designado pela centena que o caracteriza, como, por exemplo, “l'ottocento”, que indica o séc. XIX.

Equivocam-se, portanto, os que pleiteiam a flexão do numeral cardinal posposto ao nome. A única exceção se dá com o nome “página” (ou “folha”). Com “página”, no singular, o cardinal posposto fica sempre invariável; com “páginas”, no plural, o cardinal posposto pode flexionar-se em gênero: “à página dois”, “a páginas duas” (Cf. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999. p. 207.) Essa concordância excepcional do cardinal posposto ao nome origina-se talvez da analogia com a expressão “a folhas tantas”, “a páginas tantas”.

A função classificatória também é exercida pelo pronome possessivo. Quando digo “meu livro”, estou dizendo que possuo o livro. Mas, quando digo “meu avião sai às 10h”, ou “minha poltrona no cinema é par”, não estou indicando posse, mas classificando.
José Augusto Carvalho, mestre em linguística pela Unicamp e doutor em letras pela USP, é autor da Gramática superior da língua portuguesa (Brasília: Thesaurus, 2011) e De língua e linguística (São Paulo: Cajuína, 2022), entre outros livros sobre língua portuguesa.

Gosto de falar do que entendo e do que vivenciei durante as quase cinco décadas que eu dediquei ao ensino. Por isto mesmo, em determ...

educacao leitura biblioteca
Gosto de falar do que entendo e do que vivenciei durante as quase cinco décadas que eu dediquei ao ensino. Por isto mesmo, em determinados momentos, acho importante fazer a diferença entre conhecimento e opinião, o que não constitui nenhuma novidade, tendo em vista que Platão cansou de fazer isto, nos embates de Sócrates com os sofistas. Para facilitar o entendimento, sugiro a leitura gostosa e rápida do diálogo Íon.

Mais um livro de Hildeberto Barbosa Filho (já são mais de sessenta), o mais produtivo autor paraibano em todos os tempos. E autor d...

hildeberto barbosa literatura paraibana
Mais um livro de Hildeberto Barbosa Filho (já são mais de sessenta), o mais produtivo autor paraibano em todos os tempos. E autor de indubitável qualidade, tanto na prosa como na poesia. Desta vez, trata-se de Da Volúpia do Erro – Pensamentos provisórios, Editora Ideia, João Pessoa, 2023, reunião de pequenos textos (os tais pensamentos) anteriormente publicados, aos poucos, no Facebook. Comecemos, então, pelo título, que é por onde todo livro começa.

Dos colonizadores empobrecidos (mas nobres ou aventureiros) ou cristãos-novos fugidos que aqui chegaram a partir de 1532 (São Vicente)...

familia holanda hollanda dom manuel
Dos colonizadores empobrecidos (mas nobres ou aventureiros) ou cristãos-novos fugidos que aqui chegaram a partir de 1532 (São Vicente) e de 1535 (Olinda), a maioria traz o DNA mesclado com o de Dom Egas Moniz IV, o Aio. Depois dele, o DNA mais comum é de Dona Tereza e Dom Henrique de Borgonha, pais de Dom Afonso Henriques.

Com a esticada dos meus dias, curto o privilégio de ver a cidade de 1951 com seus 119 mil habitantes, na grande e rica João Pessoa de h...

joao pessoa crescimento urbano
Com a esticada dos meus dias, curto o privilégio de ver a cidade de 1951 com seus 119 mil habitantes, na grande e rica João Pessoa de hoje, beirando o milhão. Rica, sim, com o metro quadrado de suas construções de elite o mais caro do Nordeste e um dos mais ansiados pelos que já renegam a angústia de vida no espaço-tempo das megalópoles.

Fui contemporâneo da escrita com pena, tinteiro e mata-borrão. Exigia que se escrevesse com leveza para não rasgar o papel. Sinto que...

tempo estudante escola antiga
Fui contemporâneo da escrita com pena, tinteiro e mata-borrão. Exigia que se escrevesse com leveza para não rasgar o papel. Sinto que o ato de escrever, naquele tempo, exigia maior concentração, no mínimo mais cuidado, até porque estudávamos caligrafia.