A herança é a maneira mais pertinente de formar uma biblioteca (Walter Benjamin, Desempacotando minha biblioteca ) À pergunta ...

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A herança é a maneira mais pertinente
de formar uma biblioteca

(Walter Benjamin, Desempacotando minha biblioteca)

À pergunta que alguém me fez recentemente diante das minhas estantes cheias de livros - A senhora já leu todos esses livros? - dei a seguinte resposta: li muitos desses livros para escrever textos, outros fiz apenas a leitura de determinados capítulos e há aqueles que permanecem fechados aguardando a hora da leitura. Foi essa pergunta que me conduziu até ao ensaio de Walter Benjamin, Desempacotando minha biblioteca. Um discurso sobre o colecionador, inserido no livro Rua de mão única. Ele conta que está desempacotando os livros de sua biblioteca e afloram muitos pensamentos e lembranças.

No prédio do Tribunal de Justiça da Paraíba, até algumas décadas atrás — segundo me contou certa vez o historiador Humberto Mello —, ha...

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No prédio do Tribunal de Justiça da Paraíba, até algumas décadas atrás — segundo me contou certa vez o historiador Humberto Mello —, havia um buraco provocado por um dos tiros desferidos contra Sady Castor.

Em 22 de setembro de 2023, a tragédia de amor de Ágaba de Medeiros, normalista de 16 anos, e Sady Castor, estudante do Lyceu Parahybano, morto aos 23 anos, completou 100 anos. No dia 22 de setembro de 1923, Sady foi assassinado na atual Praça Joao Pessoa, onde estudantes do Lyceu Parahybano e da Escola Normal se encontravam. O Lyceu funcionava no prédio que posteriormente serviu à Faculdade de Direito da UFPB; a Escola Normal é o atual edifício do TJ da Paraíba, no centro histórico da capital do estado.

Rótulos são inevitavelmente limitantes. Qualquer um. Por vezes eivados de classificação preconceituosa, quando não equivocados, viraram...

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Rótulos são inevitavelmente limitantes. Qualquer um. Por vezes eivados de classificação preconceituosa, quando não equivocados, viraram moda. Hoje rotula-se, generaliza-se, classifica-se tudo, um festival de sectarismo.

Vivemos tempos cascudos, no Brasil e no mundo. Lá fora, uma guerra sanguinária, desencadeada por quem só tem ódio no coração, e que vem...

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Vivemos tempos cascudos, no Brasil e no mundo. Lá fora, uma guerra sanguinária, desencadeada por quem só tem ódio no coração, e que vem agindo com pura crueldade. E levada adiante por quem tem o coração também empedernido.

Ela afeta principalmente quem não tem culpa de nada, e que não pode se defender. Muito cruel, mesmo.

Vim ver quem era Sivuca na casa de Nathanael Alves. Ele voltara dos Estados Unidos, onde havia experimentado a fama internacional, e...

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Vim ver quem era Sivuca na casa de Nathanael Alves. Ele voltara dos Estados Unidos, onde havia experimentado a fama internacional, e viera matar a saudade de sua Itabaiana na casa de Félix Galdino, vizinhos de sítio. Félix era vizinho de Nathanael, aqui em Tambauzinho, e como era lá que nos reuníamos todos os sábados à noite, arrastamos Sivuca para o nosso papo. Um papo que não se repetirá mais neste mundo. Como se vê, eram Nathanael, Ednaldo do Egito, José Souto, ás vezes Durval Leal, e o Félix já citado, todos na comissão de recepção da então última turnê de Sivuca.

Os capítulos II e III de “A Terra” são curtos, em relação aos outros três que ajudam a compor a primeira parte de Os sertões . Este tra...

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Os capítulos II e III de “A Terra” são curtos, em relação aos outros três que ajudam a compor a primeira parte de Os sertões. Este trata do clima e de suas variações, durante o período de estio, “no fastígio das secas” entre “dias queimosos e noites enregeladas” (Capítulo III, p. 38); aquele trata da topografia, desdobrando-se na orografia e na hidrografia. Euclides da Cunha chega a falar das “influências recíprocas” entre a topografia e o clima do sertão, sem que possa “afirmar qual o preponderante”, mas ciente de que o “perene conflito feito num círculo vicioso indefinido,

BACALHAU DA PAIXÃO Sexta-feira Santa. A família, em burburinho infernal, estava à mesa para comer peixe. Para o filho doente, a m...

conto literatura paraibana marineuma oliveira

BACALHAU DA PAIXÃO

Sexta-feira Santa. A família, em burburinho infernal, estava à mesa para comer peixe. Para o filho doente, a mãe fez bacalhau, mesmo com o preço do quilo a exorbitar. Cada um que dissesse do que mais gostava, dentre as comidas ali expostas. Menos ele. Engolia devagar, taciturno, talvez constrangido de ter iguaria diferenciada só para si. Até que, num átimo de silêncio, falou: “Deve estar uma delícia esse bacalhau”. Alguém inquiriu: “Deve estar?!”. Ao que redarguiu: “Desde que o câncer se instalou e precisei fazer o tratamento, não sinto gosto de nada”. Todos voltaram a seus pratos. E comeram calados.

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DE AMORES PROVISÓRIOS

Jamais quis criar animal algum. Não cogitava se apegar a um ser que certamente iria viver menos do que ela. Preferia não se comprometer. A neta ganhou um cãozinho. Deixou-o com ela, sem pedir licença, alegando que a avó morava só, numa casa espaçosa, entre jardim e quintal. A rotina assim se estabeleceu: colocar comida, trocar a água da vasilha, retirar o cocô da caixa de areia e dar banho, uma vez por semana. Dele não gostava nem desgostava. Apenas o aturava, sem sentimentos nem aproximações. Juntos, no entanto, passavam horas a fio, estando ele na beira do fogão, ao pé da máquina de costura ou dormindo no tapete ao lado de sua cama. Isso até o cão adoecer e morrer. Para surpresa de si mesma, uma lágrima correu no canto de cada olho. Agora, sozinha de tudo, resmungava: “Bem que eu não queria bicho aqui”.

Berkay Gumustekin

O ENCONTRO

Estava decidido a morrer naquela noite. A questão era como. Queria uma morte perfeita, sem dores, sangue jorrando, danos a outrem e vestígios. Cansara de ser um velho sozinho, doente e sem ânimo para lutar contra o que lhe oprimia o peito. Chovia fino e, enquanto caminhava a esmo, arquitetava. Foi quando a viu num cantinho escuro, por trás de uma lata de lixo, tremendo de frio e, agora, de medo também. Ela quis se esquivar, para se proteger de uma possível agressão, o que já lhe era natural. O homem se abaixou, pegou-a no colo e a protegeu, entre a camisa de algodão e o surrado casaco de lã. Naquela noite, ela não miou desesperadamente. Ele não mais pensou em se matar.

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Mourad Saadi

Lembram do assalto à agência do Banco Central em Fortaleza? Para os que já eram nascidos em 2005 foi assunto permanente na mídia por m...

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Lembram do assalto à agência do Banco Central em Fortaleza? Para os que já eram nascidos em 2005 foi assunto permanente na mídia por muito tempo. Num fim de semana, mais precisamente entre os dias 6 e 7 de agosto daquele ano uma quadrilha percorreu um túnel de oitenta metros de extensão cavado a quatro metros de profundidade que atravessava desde uma casa alugada onde supostamente comercializavam produtos de jardinagem e entraram pelo subsolo da sede local do Banco Central, arrombando o cofre forte de onde teriam levado cerca de 164 milhões de reais. O túnel que cavaram tinha setenta centímetros de diâmetro.

Por onde anda a crônica? As crônicas relatam acontecimentos do cotidiano, elas não têm a finalidade alguma de informar. A crônica é liv...

leitura jornal cronica
Por onde anda a crônica? As crônicas relatam acontecimentos do cotidiano, elas não têm a finalidade alguma de informar. A crônica é livre, em geral leve, anda por lugares sem tensão, pode até ser provocativa, sarcástica, mas é a narrativa mais gostosa do dia a dia. O objetivo desse tipo de Literatura é, na verdade, provocar uma reflexão sobre um assunto abordado.

Preciso ligar para meu amigo Helder Moura. Não converso com ele desde que o bloqueei no Messenger, no Instagram e no WhatsApp. Ele me...

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Preciso ligar para meu amigo Helder Moura. Não converso com ele desde que o bloqueei no Messenger, no Instagram e no WhatsApp. Ele mesmo, nosso Helder, o jornalista talentoso, o escritor admirável, o amigo de todas as horas, o camarada inscrito nas hostes dos imortais, porquanto membro festejado da Academia Paraibana de Letras.

Sábado passado, vindo eu pela Rua Duque de Caxias, ou melhor, a antiga Rua Direita, a caminho da Academia Paraibana de Letras, olhav...

joao pessoa augusto anjos
Sábado passado, vindo eu pela Rua Duque de Caxias, ou melhor, a antiga Rua Direita, a caminho da Academia Paraibana de Letras, olhava as casas com paredes e platibandas desmoronando, caliças fofas e plantas que nasciam entre frinchas. Tentava descobrir vestígios dos lugares onde morou o poeta Augusto dos Anjos, como indicou o professor Milton Marques Júnior, depois de peregrinar pelos mesmos lugares.

Por vezes o pouco contato, o distanciamento, a ausência do olhar, do tato, nos desperta a falsa impressão de que aquela pessoa não exer...

libano arabe pai filho
Por vezes o pouco contato, o distanciamento, a ausência do olhar, do tato, nos desperta a falsa impressão de que aquela pessoa não exerceu influência em nossa vida, não deixou algo impregnado, sequer uma mancha exígua, que possamos chamar de exemplo, que nos remeta à lusitana palavra saudade.

Sempre me intrigou a violência masculina. Sou mãe de dois homens e, desde cedo, quando ia buscá-los na escola observava essa energia da...

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Sempre me intrigou a violência masculina. Sou mãe de dois homens e, desde cedo, quando ia buscá-los na escola observava essa energia da força, nem sempre bem direcionada e que, muitas vezes, gerava briga, murros, tapas, chutes, e numa idade pré-adolescente isso brotava assustadoramente.

Ao montar um site com o intuito de falar sobre arte, foi essencial não apenas apresentar os escritores, poetas, filósofos, documentaris...

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Ao montar um site com o intuito de falar sobre arte, foi essencial não apenas apresentar os escritores, poetas, filósofos, documentaristas e professores, mas também proporcionar visibilidade aos seus trabalhos. É essa visibilidade que o Ambiente de Leitura Carlos Romero tem dedicado a oferecer, acreditando no potencial humano e no amor pela cultura.

Esse “Deus lhe pague” não se trata daquele retumbante sucesso teatral de autoria de Joracy Camargo, cuja estreia ocorreu em 30 de de...

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Esse “Deus lhe pague” não se trata daquele retumbante sucesso teatral de autoria de Joracy Camargo, cuja estreia ocorreu em 30 de dezembro de 1932, no Teatro Boa Vista, em São Paulo, pela Cia de Comédia e que colocou nos palcos nada mais e nada menos do que o icônico Procópio Ferreira. Não é por essa seara que vou me enveredar nas linhas que se seguem, mas pelo sentido intrínseco que o vocábulo traz consigo, pois pretendo me apropriar da locução para alguns agradecimentos

O filósofo holandês Baruch Spinoza (1632 - 1677), em seu livro Ética (1677), apresenta, no capítulo I (Sobre a Religião e o Estado) t...

O filósofo holandês Baruch Spinoza (1632 - 1677), em seu livro Ética (1677), apresenta, no capítulo I (Sobre a Religião e o Estado) três teses fundamentais relacionadas a Deus. A primeira é a tese da substância, que estrutura a existência de todos os fenômenos e acontecimentos. A segunda é a tese do atributo, que representa a essência divina, componente da substância. Por último, a tese do modo, que se refere a tudo que existe e assume uma forma característica qualquer, como os fenômenos e situações do cotidiano.

Apesar dos momentos atuais estarem banhados de insatisfação, recebestes mais uma chance de escrever outra página no livro da vida. ...

inveja maledicencia
Apesar dos momentos atuais estarem banhados de insatisfação, recebestes mais uma chance de escrever outra página no livro da vida.

Infelizmente, encontramos pessoas que não conseguem viver sem trazer comentários e observações deprimentes e negativas. É comum, não deveria ser, mas é.

Há uma diferença básica entre artigo de opinião e reportagem. Nesses tempos árduos, vale a pena repetir que um jornalista deve, por dev...

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Há uma diferença básica entre artigo de opinião e reportagem. Nesses tempos árduos, vale a pena repetir que um jornalista deve, por dever ético, evitar transformar a reportagem em um texto moldado para comprovar seus pontos de vista. Os fatos são soberanos e devem ser apresentados com clareza a fim de subsidiar um debate honesto. A ausência de viés no texto oferece ao leitor a possibilidade de examinar os fatos como eles se apresentam, sem que o jornalista ceda a paixões de ocasião e a ideias preconcebidas.

Acordou com uma sensação boa. Depois de décadas malhando na repartição, estava enfim a...

cronica aposentadoria supersticao
Acordou com uma sensação boa. Depois de décadas malhando na repartição, estava enfim aposentado. Até estranhou não ter que pular da cama, engolir rápido o café da manhã e enfrentar o congestionamento do trânsito. Quantas vezes não ficara exasperado ao volante, sentindo o coração bater com força ao ver que a fila de carros não andava e ele corria o risco de perder a hora.

Em visita à antiga capital mineira, Vila Rica, descobri que a história conta suas verdades com sangue e dor, mesmo que o fruto tenha s...

ouro preto chico rei
Em visita à antiga capital mineira, Vila Rica, descobri que a história conta suas verdades com sangue e dor, mesmo que o fruto tenha sido dourado. Hoje a cidade se chama Ouro Preto, nome teve origem porque uma camada negra de minério de ferro cobria o ouro brilhante. Ao ser fundido, o ferro deixava à mostra o que tinha mais valor.

Primeiramente quero agradecer o convite do poeta Leo Barbosa para que eu fizesse a apresentação do seu livro, ou melhor, do novo lança...

poesia paraibana leo barbosa (a)temporal
Primeiramente quero agradecer o convite do poeta Leo Barbosa para que eu fizesse a apresentação do seu livro, ou melhor, do novo lançamento de (A)TEMPORAL, editado pela IDEIA, agora em 2023, contendo 43 poemas que tematizam o amor.

O meu olhar sobre o livro em questão vem pelo do professor e poeta Rony Santos. Não sou crítico literário, por isso não enveredei por nenhuma análise, mas uma leitura como professor e poeta, que também é leitor.

De perto, todo mundo é diferente, ou seja, é igual ao que é, realmente. De longe, as aparências costumam enganar, as virtudes e os víci...

susan sontag
De perto, todo mundo é diferente, ou seja, é igual ao que é, realmente. De longe, as aparências costumam enganar, as virtudes e os vícios eventuais se exacerbam ao olhar alheio, talvez menos atento, e aí a imagem formada pode não coincidir com a realidade. Mas de perto a história é outra. A escritora nova-iorquina Sigrid Nunez, aos vinte e poucos anos, teve a oportunidade de conviver com Susan Sontag, inclusive morando em sua casa, por um bom período. Era uma espécie de assistente (inicialmente, datilografava a correspondência) e depois tornou-se namorada do filho da ensaísta; mas logo se estabeleceu entre as duas uma relação de amizade, o que lhe permitiu observar e penetrar

É raro encontrar qualquer obra, científica ou não, escrita no al-andalus que não esteja adornada com poemas. A mais idiossincrásica fo...

poesia arabe
É raro encontrar qualquer obra, científica ou não, escrita no al-andalus que não esteja adornada com poemas. A mais idiossincrásica forma de cultura oriental, no geral, e árabe, em particular, sempre foi a poesia, a arte do verbo que, neste contexto, nasceu para fazer companhia ao beduíno, seguindo a cadência da sua montada, na solidão do deserto. Talvez não seja por acaso que verso em árabe se diga bait, que significa

Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo. Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de ...


evaldo cabral melo brasil holandes

Não há história completa, mesmo nos limites do seu tempo.

Na reclusão do sanatório, quando li a História da Revolução Francesa de Michelet, sobre a qual se atribui “uma ressurreição integral do passado”, ainda jovem, julguei sobrepor-me ao desânimo da doença e à mediania de outros leitores do meu círculo. Não demorou muito, eis-me afrontado diante dos cinco ou seis volumes da grande revolução, só que escrita sob a visão hegeliana do socialista Jean Jaurés. Dispersivo como sempre fui, não passei do 2º volume, à espera de ocasião para entrar nos subterrâneos da luta de classe, ponto de vista do militante socialista, eloquente orador, assassinado num café de Paris.