Todavia, meu espanto maior advém da preferência dos fabricantes pelos modelos retrôs, exigência, evidentemente, da distinta clientela.
Impressionam-me esses aparelhos de rádio moderníssimos, com dispositivos eletrônicos para encaixe de pen drive e captura de sinais, v...
Era melhor e não fazia mal
Todavia, meu espanto maior advém da preferência dos fabricantes pelos modelos retrôs, exigência, evidentemente, da distinta clientela.
As idades já são avançadas. As peles, pintura gasta, reboco disforme, cimento esburacado, revelam mais que idades. Na verdade, indi...
Quietas ruas
Deslizo sobre o meu velho caderno de receitas e me vejo repentinamente instalada na vitalidade de antigas cozinhas familiares, cujo po...
Gosto de Vida
Leibniz, desde o início de sua produção intelectual, aspira à criação de uma ciência universal, que compile em si várias disciplinas, ...
Leibniz e a contemporaneidade (parte 1)
Rembrandt morreu pobre, pois – como Bach – foi rotulado, no fim da vida, de ultrapassado. Van Gogh não conseguia vender seus quadros...
Somos (todos) Marias-vão-co'as-outras
Rembrandt morreu pobre, pois – como Bach – foi rotulado, no fim da vida, de ultrapassado.
Van Gogh não conseguia vender seus quadros, ... que tornaram sua cunhada — herdeira de todo o seu lote — rica.
El Greco foi preterido pela corte espanhola.
O retrato de Mona Lisa se tornou “o mais célebre quadro do mundo” quando foi roubado do Louvre e a imprensa tratou de realçar a notícia.
Nos anos 50 – estudando pintura - comprei a História da Arte, de Sheldon Cheney, e dei de cara com isto:
Mas – acrescentou Cheney — sem perceber que fazia o mesmo com os leitores:
Bom, aí todo mundo se tornou cubista, suprematista, fovista, surrealista, inclusive brasileiros que se mandaram para Paris, como Portinari, Di Cavalcanti, Ismael Nery. Isso me lembra que, um tempo antes, o escândalo impressionista sufocara o impulso naturalista. Que fazer, então, se somos prisioneiros da circunstância, do universo — “como disse Ortega y Gasset”? Fazer como Bach, El Greco e Rembrandt.
Quando faço um poema, busco sempre inserir uma palavra nova, que ainda não usei, em seus versos. Nem sempre consigo, porque às vezes o...
Poema é bicho manhoso
Nem sempre consigo, porque às vezes o poema cisma em usar do trivial para dizer o que quer.
É, meus amigos, poema é bicho manhoso e às vezes só quer um pezinho para mandar em você.
Há momentos em nossas vidas em que nos deparamos com a escuridão. Medos, incertezas e obstáculos nos cercam, obscurecendo nosso caminho...
Somos seres destinados a brilhar
Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), filósofo prussiano, em seu primeiro livro, O mundo como Vontade e como representação (1819), cons...
Vontade e Representação
Essa tese, que é um dos fundamentos da sua filosofia, também apresenta o conhecimento sendo construído na relação da intuição sensível à capacidade de interpretar os objetos da realidade, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária. Por exemplo: os princípios da individuação e da causalidade, favorecidos de uma entidade metafísica. O filósofo prussiano garante que é possível chegar até o extranatural pelo corpo humano e que a razão se torna um mecanismo de autopreservação da espécie.
De acordo com Schopenhauer, a Vontade, de forma geral, é o desejo constante de viver, que está presente tanto em organismos quanto no reino inorgânico, em diferentes graus, sendo o corpo humano o mais elevado grau de objetivação. A Vontade aponta para as motivações desconhecidas das ações humanas, no sentido de que os seres humanos são conduzidos por impulsos — fome, sede, medo, sexo e outras coisas — que estão além do controle humano e que, no entanto, determinam as ações, mesmo aquelas que parecem ser provenientes de uma decisão racional e se encontram submetidas às necessidades vitais para sobrevivência.
Arthur Schopenhauer admite que existe algo no interior do ser humano que não pode ser explicado ou controlado. Existe também a Vontade, de onde as ações provêm, e que não possui fundamento ou finalidade. Por causa disso, conceitos como liberdade e autonomia são ilusões, pois os humanos, assim como outros seres, são guiados por um núcleo irracional e suas atitudes não podem ser determinadas de forma racional. Assim, a razão não pode ser uma entidade abstrata desvinculada da realidade. Para o filósofo, não existem objetos transcendentais fora da experiência, mas, sim, inerentes ao mundo físico e ao próprio corpo. O "ato da vontade" e a "ação do corpo" são "uma única e mesma coisa, só que apresentados de duas maneiras completamente distintas" (SCHOPENHAUER, 2001, p. 157). Deve-se considerar o corpo como a "materialização da Vontade". Esse termo foi criado para expressar a manifestação visível da Vontade no corpo, o qual é o único objeto que não se conhece apenas do ponto de vista da representação - que é o modo pelo qual se distingue todos os outros, de imediato pela Vontade. As contribuições da filosofia schopenhaueriana para o idealismo apresenta o aspecto fisiológico, que faz com que a razão não tenha a importância central na metafísica; e sim o corpo.
Schopenhauer considera a Vontade o motivo de todo o sofrimento no mundo. Os indivíduos estão constantemente em busca da matéria, que, no entanto, é finita e constante. Jair Barboza, em seu livro Schopenhauer: A decifração do enigma do mundo (Ed. Paulus, 2003), remarca a seguinte frase do filósofo prussiano: "Cada pessoa só pode surgir se tomar o lugar de outra, se apoderando da matéria que está no poder. É por isso que vemos conflitos e lutas em todos os lugares". Essa é a razão de a existência ser repleta de conflitos, pois a Vontade está constantemente em discordância consigo mesma quando encontra um obstáculo. Por outro lado, quando se alcança o objetivo esperado, tem-se satisfação. Mas nenhuma satisfação é duradoura. Assim que um desejo é satisfeito, surge outro em seu lugar. Schopenhauer descreve esse sofrimento como uma essência atemporal, mostrando que a dor é inevitável e os esforços para acabar com ela nunca são eficazes.
A forma como a angústia se manifesta ao longo da história ou nas sociedades não nos revela sua causa, pois esta reside em um princípio metafísico implícito a tudo, desde o reino inorgânico até o orgânico. A busca pela causa externa de um mal-estar, ou sua relação com determinado nível de riqueza ou posição social, não é determinante. Viver é sofrer. E a felicidade é conceituada como breves momentos em que a tristeza é aliviada. Segundo Schopenhauer (2015, p. 409):
Entro na Igreja da Misericórdia como quem busca o recolhimento em um templo antigo para a renovação da alma que precisa de arrependi...
A mística dos antigos templos
Os velhos templos religiosos, mais do que os de edificação recente, que são amparados na visão da modernidade, recolhem a mística da igreja reunida para a vivência da fé.
A Misericórdia é uma das quatro igrejas mais antigas da Paraíba. Construída em pedra calcárea esculpida pela mão dos tabajaras e potiguaras, sob a inspiração de jesuítas que trouxeram a visão da fé para o mundo novo que se descortinava, ajuda a observar o Deus invisível, que se revela na alma e transforma a rudeza do homem e da mulher.
Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode...
Amor de máquina
Histórias e piadas contadas por nossa família e amigos, invariavelmente, nos fazem rir... mas se forem das boas. Observando no detalhe,...
Nossa frágil condição humana
O filósofo francês Henri Bergson disse que o cômico exigia algo como uma momentânea anestesia do coração. "O riso não tem maior inimigo que o coração", por isso rimos do mal para que ele não nos atinja.
Uma das piadas que os judeus contavam na Alemanha nazista era sobre o que um comandante da Gestapo dizia a um judeu: "Vou te dar uma oportunidade de viver, se adivinhar qual dos meus olhos é de vidro". O Judeu responde de imediato: "É o esquerdo". O oficial, admirado, pergunta: "Como é que descobriste?" E o Judeu responde: "É o que parece menos humano".
Pode parecer surreal. No entanto, é uma manifestação bastante profunda nas mãos de todos que se confrontaram com o mau absoluto, que o fizeram mais por necessidade do que provocação.
Na União Soviética, a piada frequentemente contada era a seguinte:
"Ivan, isso é pouquíssimo ".
"Eu sei, mas é um trabalho para a vida toda".
Eles riem do mal, do bem, ninguém ri, para quê?
Mesmo histórias curiosas que resultam num final trágico, por consequências em suas entrelinhas, parecem uma ironia do destino. Como ocorreu com o ditador, ex-Presidente de Portugal, Antonio de Oliveira Salazar, apegado ao poder, habituado a dar ordens dramáticas e doloridas àquele povo sofrido. Ele acabou por encontrar um final mortal inesperado em sua trajetória humana. Uma história com ares de ópera-bufa, se imaginarmos que o ditador foi derrotado por uma queda ao chão.
Em 1968, Salazar gozava férias em Santo António do Estoril. Sentado em uma cadeira que não se sabe se em falso ou quebrada, ou estrategicamente fora do lugar, o tirano foi ao chão e bateu a cabeça com violência no piso de pedra. Teve um hematoma cerebral e não se recuperou do trauma. Morreu dois anos depois. Conta-se que ele jamais soube que não era mais o presidente do Conselho de Ministros e que a equipe de governo se reunia em sua presença para encenar reuniões e decisões.
Nossa frágil condição humana limita uma rota a todos, muito similar à fraqueza de seus pares. A finitude nos acompanha.
O dolorido é quando os meses e anos escorrem pelos dedos, e, chegando à velhice, percebe-se que não saiu do lugar.
A culpa é do calor, próprio da época e que colabora para o sem sentido destes dias. Tudo corre devagar, anestesiando emoções, fazendo ...
Paciência e esperança, um dia isso passa
Esta frase do título acima tomei emprestada de Luciano, que, num momento de felicidade retórica, usou-a na saudação que fez à sua mã...
Ozanira nas alturas
Nossa geração foi alfabetizada. As novas gerações são audiobetizadas e videobetizadas. Então, é natural que nossos códigos e signos ...
Caderno de Confidências
No dia da cidade para onde viemos e com a qual nos transfundimos, ambos no vigor da idade, agora, nesse 5 de agosto de 2023, sai Neiva,...
Na estrada sem fim
Em um certo domingo das boas lembranças, tradicionalmente o segundo do mês de Agosto, dedicado em homenagem aos pais, perguntei a ele: ...
O ''pai-tudo''
Em maio de 1932, quando foi publicado o “Catalogo historico e descriptivo dos sellos postaes do imperio do Brasil” , o respeitado e tem...
O Cabo Branco vai desaparecer?
No segundo domingo do mês agosto celebramos o Dia dos Pais. Fiz muitos almoços para o meu querido pai, e para os pais dos meus dois fi...
Os pais: ontem e hoje
Já se acostumara à sua vivenda entrançada em finos arames. Naquele exíguo cubículo por onde o mundo exterior entrava e...
O rouxinol
Epigrama I De como os poetastros, camelôs de sua própria arte, com pompa e circunstância, outorgam para si o título de poetas ...
Treze epigramas a poetas e poetastros
Sempre que trato de precatórios lembro da anedota do português que caminhava por uma calçada e viu lá longe uma...
Não vai dar certo
No mundo da lua Sei que tenho a chave me distraio e a perco fico que nem louca atrás dela Sempre parece que estou ...
Parti pro mundo da lua
Quando vamos envelhecendo é o tempo em que brotam determinadas idiossincrasias. uma delas é ficar lamentando a perda dos amigos. Amig...
Quem é vivo sempre desaparece
Nuvens pesadas pairavam sobre a vida e a sorte do Brasil em 1975, um ano depois de haver o general Ernesto Geisel assumido a Presidênci...
A tragédia da Lagoa
A abertura política “lenta, gradual e segura”, assim prescrita, iniciava-se num momento de profunda insatisfação popular. Findava-se a temporada do milagre econômico, a crise do petróleo abalava o mundo e ao Brasil faltavam os recursos para