Alguns espíritos mais desavisados estariam pensando que a pauta de hoje seria algo relativo à minha introdução nas veredas do dito pecado original. Nada disso. Quem assim está fazendo uso dessas conjecturas pode ir tirando o cavalinho da chuva. O tema é bem menos luxurioso, nem por isso menos intrigante e digno de registro. Dada sua importância nos arquivos de minha memória é que estou aqui ocupando espaço neste poderoso rotativo. O assunto está voltado ao dia em que pela primeira vez, como aluno, pisei em uma sala de aula.
Em Jurucé, uma pequena cidade do interior de São Paulo, na década de 1950, vivia uma linda menina que amava os animais e, particularmente, as formigas.
Durante toda a sua infância, ela alimentara as formigas com parte das suas refeições. O que quer que lhe dessem para comer, ela sempre reservava um naco para as suas amiguinhas. Muitas foram as vezes em que foi repreendida por causa de seu excessivo afeto e zelo pelas formigas.
No dia em que aconteceu a mudança da estação do outono para o inverno, manhã cedinho, com o sol maneiro que iluminava o jardim de nossa casa, um jardim pequeno, onde há flores e plantas suculentas, quando observava de perto uma roseira, inesperadamente surge um besourinho por entre as pétalas úmidas pelo orvalho.
O indivíduo quando sofre e é ofendido em sua honra sente o quanto a dor moral é insuportável e provoca a sensação de apequenamento. O embrutecimento de alguns o afasta do convívio social e o encharca de medicamentos que não curam, tornando-o dependente compulsivo das indústrias farmacêuticas. Apesar disso, as suas falhas existenciais e/ou psíquicas precisam de afetos para preservar a necessidade inata pela sobrevivência e, inclusive, para manter a própria dignidade diante de uma síndrome, transtorno ou distúrbio mental. O mal-estar deve ser enquadrado, de modo a permitir o convívio com as fissuras cognitivas no ambiente familiar e em sociedade e enfrentar a crise com empatia.
Existem pontos do caráter das pessoas que não mudam, apesar das cruezas que sofrem durante a caminhada terrena.
Dizem os estudiosos que “somos a mais social de todas as espécies sociais”, porém atitudes mesquinhas e pobres mostram como algumas pessoas ainda precisam sofrer para se “diamantisar”.
Os irmãos se viam pouco. Não porque não se gostassem, mas era hábito da família a reserva. Queriam-se bem, contentavam-se ao encontro, mas viam-se pouco. Quando juntos, riam alto, comiam com gosto, bebiam até ao exagero, alegravam-se!
Era um sábado, haviam há muito se encontrado, e a esposa de um deles decidiu
promover a reunião – comemorariam a visita do irmão que morava longe, comemorariam a vida também. Sabendo dos gostos da linhagem, ela escolheu uma feijoada para o almoço; teria o sabor que era de agrado de todos, teria a simplicidade que não feria a espontânea conversação. Assim foi.
O assunto dos últimos dias nas redes sociais, e mesmo fora delas, tem sido a implosão do Titan. A simulação do que teria ocorrido com o submersível bateu recordes de acessos na internet. O mundo, com essa mórbida curiosidade que tem pelas tragédias, perguntava-se como haviam morrido os cinco ocupantes.
Houve quem se decepcionasse ao saber que eles morreram “sem sentir nada”. Mas como, se eram bilionários que por espírito de aventura, ou mesmo para se distrair,
resolveram mergulhar para ver os restos do Titanic? Como terem placidamente sucumbido quando milhares de imigrantes vêm perdendo a vida em naufrágios de precárias embarcações? Não era justo!
Essa é uma ponderação pouco sensata, pois morte é sempre morte. O fato de os cinco serem endinheirados não deve diminuir o pesar por uma tragédia que também representou frustração quanto aos planos, por exemplo, de aperfeiçoar a engenharia náutica. Se não fossem os aventureiros que com ousadia exploram a Natureza e ampliam o conhecimento humano, ainda morreríamos de doenças hoje erradicadas ou de muitos eventos naturais.
Existe uma sopa que está sendo preparada sem parar há 45 anos. Ela fica num restaurante em Bangkok, na Tailândia, chamado Wattana Panich.
Apesar de a ideia parecer muito estranha, o estabelecimento atrai turistas do mundo inteiro, que estão em busca da sopa eterna. Ela é quase uma água benta da culinária, tão única e rara de sentir o gosto.
Quando o assunto é a cidade, o bairro ou o rio Jaguaribe da sua infância, a testa se crispa e os olhos brilham como outrora. Hoje, aos 90 anos, bem vividos e recém-completados, motivo pelo qual o estamos homenageando, a memória que guarda da história e da vida no bairro é rica e fascina a quem o ouve falar sobre estes temas.
Nos anos de 1940-50, por razões várias, a praia era coisa distante e aonde a meninada mais simples somente ia, vez ou outra, e sob as asas dos pais. O lazer era ali mesmo e o que o Jaguaribe oferecia.
Dia desses, estava em uma das empresas de velório da cidade cumprindo o doloroso dever de solidariedade para com um amigo que perdera um filho. Ambiente triste, como seria de esperar, onde, pela conversa eventual e discreta com um e com outro, procura-se aliviar a tensão inerente ao momento. O leitor sabe como é. Ali naquele espaço e naquelas circunstâncias travava-se – e trava-se repetidamente — o eterno combate entre Eros e Tânatos, já explicado por Freud, as duas pulsões (de vida e de morte) que marcam permanentemente a existência dos humanos e de todos os seres vivos, resultado da finitude que a todos condena à efemeridade. Daí as conversas e eventualmente até mesmo inoportunas
Particularmente, não tenho de que me queixar. Uma pessoa de hábitos e haveres comuns, guindada a um ofício dos mais perecíveis, não havia de obter mais favores da gente letrada e do público - e por mais tempo - do que este pequeno caboclo que, por acidente, foi colocado nas santas mãos de D.Antonina Freire Ibiapino, tornada Rodrigues depois de deixar as vestes de beata e casar com Manuel Avelino, construtor braçal de uma engenhoca nos fundões entre Areia e Alagoa Nova.
Não há pôr do sol como ao pé de “O Beijo”, de Victor Delfín, na Miraflores de Mário Vargas Llosa. A poucos metros de uma tragédia em que 35 mulheres atiraram-se para o precipício do Pacífico… por amor. Há tragédia e poesia nesta Lima de céu quase sempre cinza.
Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon foi empurrado para o território das sombras. Tinha completado 40 anos dois meses antes, era pai de um garotinho de cinco anos e de um jovem adolescente; tinha passado os últimos cinco anos recluso, fazendo pão, trocando fraldas e desfrutando da vida doméstica. Poucos dias antes de morrer havia surpreendido o mundo ao lançar um novo álbum. "Double Fantasy" trouxe de volta o velho John, cantando seu amor por Yoko e exibindo a exuberante inteligência.
Para exemplificar o ritmo e o lúdico, seguem alguns poemas de José Paulo Paes e Elias José. A escolha destes poetas não foi aleatória. Escolhemos Paes e Elias, porque são poetas nos quais se evidencia, de forma acentuada e assídua, o trabalho com o lúdico a partir dos jogos de linguagem. Ambos adaptam a linguagem para o sentido conotativo sem empobrecê-la, utilizando-se do humor e da surpresa como forma de “desarmamento” no processo da leitura para que assim, como afirmou Pavan (1998) abrir a cabeça para que o senso de diversidade, a sensibilidade [...] sejam aprimorados por meio da poesia, desenvolvendo a inteligência do leitor-mirim. Aos poemas:
A sinonímia é a propriedade que têm dois ou mais termos, expressões ou palavras reais e instrumentos gramaticais de se empregarem um pelo outro sem prejuízo do sentido, dependendo do contexto. Por essa definição entende-se que existem dois tipos de sinonímia: a das palavras reais e a dos instrumentos gramaticais.
A ARTE DO DESAPARECIMENTO
Em algum momento há de se aprender sobre o desaparecimento
Os dentes assinam as raizes das coisas
(algo desapercebido
- o lapidar da esfinge)
A vida tem sua fome de glória
e guerra pela verdade
e estende seu piso até a Terra
que nos preenche
com a derradeira surpresa.
No aeroporto de Marseille pensei em encontrar Gerard Depardieu. Assisti à série com o nome dessa cidade, cheia de intrigas e máfias. E adoraria ter conhecido esse lugar. Mas ao invés, voamos tranquilamente para London London, com destino certo: Cardiff e Penarth, um istmo ligado à Baía da capital do País de Gales, onde mora a minha irmã, Teca. A primeira vez que as quatro irmãs se juntam naquela cozinha para saborear seus quitutes e do seu marido Anthony: Paella, Sunday lunch com porco cozido com erva doce, bolo de amêndoa, ou a famosa sobremesa Pavlov, ou ainda, um típico Cream Tea enquanto o Rei Charles era coroado. Nos intervalos, os esquilos (Tico e Teco?) pinotavam no quintal/jardim, por entre as palmeiras tropicais e uma calçada com cerâmicas de ondas – numa alusão à Copacabana.
Em O último dia de um condenado (Le dernier Jour d'un condamné, Oeuvres completes, Romans I, Paris, Robert Laffont, 2002), um dos escritos ficcionais de Victor Hugo contra a pena de morte (1829/1832), o outro é Claude Gueux (1834), encontramos, no curto Capítulo XL, que eu chamo O Rei e o Réu (p. 474), a frase que dá título a este artigo. A sua tradução seria — “que a sua carroça encontrasse a tua charrete”.
Em Salvador, capital da Bahia, se concentra um contraste de costumes, arquitetura, folclore, enfim, vivências e convivências. A primeira Capital do Brasil arrebanha costumes e tradições trazidas tanto da Península Ibérica quanto da África.
Lá naqueles tempos distantes de minha infância, uma ligação telefônica de onde eu morava, São José dos Campos, para São Paulo demorava algo em torno de quatro horas. Precisava pedir a ligação à telefonista e ficar esperando que ela conseguisse completar a chamada. Dava tempo de ir até à capital paulista, resolver o que se era para resolver, voltar e ainda haveria um tempinho de crédito, de sobra. A distância entre essas duas cidades, ao que me consta é de apenas 98 km. Mas as coisas naqueles tempos eram assim, parece que o mundo tinha menos pressa. E tinha que ter.
O endereço é o cruzamento da Avenida Dom Pedro II com a dos Tabajaras, no Centro de João Pessoa. Não há uma só vez que eu passe por ali sem essas duas lembranças. Primeiramente, a de Sérgio de Castro Pinto, poeta de imensa grandeza e amigo de algumas décadas. Depois, a da velha Oficina do Jornal “A União”, no prédio absurdamente derrubado para construção da Assembleia Legislativa, uma aberração arquitetônica menos por culpa dos traços modernos e mais, muito mais, por seu descabimento entre edificações centenárias.
Uma sociedade que não enxerga a educação como valor essencial, também é insensível à preservação da memória, indiferente à necessidade de transmissão da cultura. Por mais duro que seja admitir, não foi outra a realidade onde se inseriu a preocupação do Desembargador Raphael Carneiro Arnaud, buscando recuperar para as novas gerações o perfil de Alcides Carneiro.
A poesia, a música, a arte como um todo, tem a vestimenta na medida para cada um, em
especial, nesses dias de São João quando parece florecer espigas de sentimentos.
Imperativo afirmar que poetas, cantores e cantadores conseguem transmitir , da mesma
música dedilhada para multidão, uma melodia para cada coração.