Certa vez, tudo por aqui virou um inferno. Um bendito inferno, cheio de poesia, imaginem só! Melhor ainda, um inferno sem calor. Pelo ...

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Certa vez, tudo por aqui virou um inferno. Um bendito inferno, cheio de poesia, imaginem só! Melhor ainda, um inferno sem calor. Pelo contrário, bem friozinho.

Quando andava às voltas com a Comédia de Dante Alighieri, a boadrasta Alaurinda nos lembrou de que a cova mais profunda dos quintos do inferno dantesco é tão fria que até as lágrimas congelam, antes de escorrerem sua dor pelas faces do tormento.

Meu brinquedo favorito na infância era o playmobil. Envelheci e ele sumiu da minha vista por muito tempo. No Brasil, não era comum...

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Meu brinquedo favorito na infância era o playmobil.

Envelheci e ele sumiu da minha vista por muito tempo. No Brasil, não era comum vê-lo mais em propagandas, nem exposto em prateleiras. Foi durante um passeio numa loja de departamentos na Europa que o reencontrei. A surpresa foi tão boa que comprei um exemplar. Era um astronauta que vinha num saquinho. A minha impressão foi que o boneco tinha sido reduzido de tamanho, por alguma mudança no mercado, economia de matéria-prima ou preferência do público infantil. Descobri, depois, que o playmobil sempre teve os mesmos 7,5 centímetros.

      Rotina Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da co...

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
Rotina
Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da conveniência era marcado pelas solas dos sapatos. (e trazia a fotografia do mijo fora da privada) Para o gozo o número era par. Pouco importava a singularidade da morte.

“Eu lhes proponho etimologias contendo a mesma letra x — as palavras latinas anxius, ansioso, e anxia, ansiedade — em lugar de benzod...

ansiedade depressao andrea marcolongo
“Eu lhes proponho etimologias contendo a mesma letra x — as palavras latinas anxius, ansioso, e anxia, ansiedade — em lugar de benzodiepina”
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É com um tom bem-humorado e inteligente que Andrea Marcolongo escreve Etimologias para sobreviver ao caos (Étymologies pour survivre au chaos, Paris, Les Belles Lettres, 2020), tecendo a história das 99 palavras que ela escolheu para uma incursão etimológica inusitada.

Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que perten...

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Dia desses, li um texto maravilhoso, riquíssimo em detalhes e emoções, em que a autora falava sobre uma xícara de estimação que pertenceu a sua mãe. Essa história me tocou e, nostálgica e tristemente, fiquei pensando num tesouro, uma relíquia, que tínhamos em nossa casa.

Em meio a tantas dificuldades para minha família se alimentar, além de vestir e manter sete filhos pequenos, causava-me estranheza a existência daquela louça branca de porcelana, delicada e fina, guardada a sete chaves, num velho móvel tipo Luiz XV.

Meu colega escritor René Descartes ensinava, em seu "Discurso do método", que o bom senso deve ser a coisa mais bem distribuí...

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Meu colega escritor René Descartes ensinava, em seu "Discurso do método", que o bom senso deve ser a coisa mais bem distribuída do mundo, porque até mesmo os mais difíceis de contentar não pretendem ter mais bom senso. Andou certo o querido René; mesmo quando nos dirigimos a Deus, pedimos mais saúde, mais dinheiro, mais tempo de vida.... Porém, não conheço ninguém que tenha rezado algum dia implorando por mais bom senso.

A vegetação de Caatinga com pontos verdes de algumas chuvas esparsas, as plantas belas e igualmente hostis com seus inúmeros espinhos...

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A vegetação de Caatinga com pontos verdes de algumas chuvas esparsas, as plantas belas e igualmente hostis com seus inúmeros espinhos, pedras perdidas no espaço como marcos de um mundo distante, os bichos escondidos à espreita e sobre a paisagem o Sol reinante que alcança praticamente todos os recantos. Aos humanos, animais estranhos, o astro rei torna-se ainda mais inclemente. A definição, por mais estranha que pareça, é de uma espécie de paraíso.

Havia duas ou três de linho branco com bordados manuais e espaçozinhos vazados a ponto de permitirem a visão do tampo da mesa em seu me...

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Havia duas ou três de linho branco com bordados manuais e espaçozinhos vazados a ponto de permitirem a visão do tampo da mesa em seu melhor verniz. Eram as meninas dos olhos de dona Vininha. Mas eu gostava mesmo era daquela com desenho de xadrez, em vermelho e branco. Tinha essa última, sem dúvida, as cores e o clima das festas de dezembro.

CONFESSO, NÃO SEI REZAR Confesso, não sei rezar, Mas, preciso agradecer; Coração esplandecer, Sentimento desnudar. ...


CONFESSO, NÃO SEI REZAR
Confesso, não sei rezar, Mas, preciso agradecer; Coração esplandecer, Sentimento desnudar. Nestes versos transbordar, A leveza que há em mim, Pela dor que teve um fim, E me trouxe avivamento, Eis meu agradecimento, Pelo amor que veio, enfim.

Quando Carlos Drummond de Andrade se despediu do Jornal do Brasil, em 1984, em que publicava crônicas desde 1969, pegou seus leitore...

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Quando Carlos Drummond de Andrade se despediu do Jornal do Brasil, em 1984, em que publicava crônicas desde 1969, pegou seus leitores de surpresa. Seus textos traziam um alento para quem os lesse. No nosso caso, somente ao final da tarde quando o jornal chegava por aqui.

Quase quatro décadas depois, mesmo que não seja uma despedida definitiva, mas uma limitação de publicações de suas crônicas, Gonzaga Rodrigues surpreendeu seus leitores dizendo que somente passaria a escrever aos domingos.

Desde 2005 eu vinha trabalhando sem parar! Coordenei o PROJOVEM - Programa de Inclusão de Jovens, no estado da Paraíba, por 5 anos segu...

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Desde 2005 eu vinha trabalhando sem parar! Coordenei o PROJOVEM - Programa de Inclusão de Jovens, no estado da Paraíba, por 5 anos seguidos, mergulhando fundo na metodologia do programa e na realidade daqueles jovens.

Depois disso, em 2011, assumi a Secretaria de Estado da Educação e, por 4 anos, dei outro grande mergulho, dessa vez envolvendo todos os 223 municípios da Paraíba.

Pequenas cidades sempre encantam. O tempo é outro. Gosto de observar e até experimentar hábitos de quem, aparentemente, não tem pres...

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Pequenas cidades sempre encantam. O tempo é outro. Gosto de observar e até experimentar hábitos de quem, aparentemente, não tem pressa. Também gosto de saborear as metrópoles. Por exemplo, às vezes tenho impressão de que São Paulo é um conglomerado de pequenas cidades. São Miguel Paulista é um exemplo. Parece cidade, mas é bairro. Há um toque de Tonico e Tinoco em cada executivo que caminha apressado na Avenida Paulista. Ah, mas existem também as cidades

You got me in between the devil and the deep blue sea. George Harrison O dia surge carregado de nuvens cinzas. Uma chuva fina m...

mozart beethoven montreal
You got me in between the devil and the deep blue sea.
George Harrison

O dia surge carregado de nuvens cinzas. Uma chuva fina me impede de sair de casa em Montreal. Ligo o computador e uma chusma de notícias pesadas invade meus olhos com histórias de corrupção, prisões e escândalos. Leio-as. É osso do ofício me manter informada. Seleciono poucas manchetes e fico apenas o mínimo necessário nas leituras chocantes.

Do outro lado do minúsculo apartamento em que vivemos, sinto que Tchekhov me chama. Olho para o livro e releio um de meus contos favoritos:

A falta de dignidade causada pelo ódio gera os perversos e os sedutores “falsos valores morais” também estimulam violentos comportament...

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A falta de dignidade causada pelo ódio gera os perversos e os sedutores “falsos valores morais” também estimulam violentos comportamentos psicóticos de massa. Todos esses sintomas são alimentados por um “poder político patológico” num determinado momento histórico de terror, bem como numa religiosidade adoecida na esquizofrenia. Por causa disso, alguns cidadãos — influenciados pela beleza da arte — constroem o próprio senso crítico com a finalidade de priorizar o ideal de pertencimento como um “bem comum de gosto estético”; também, de impulsionar as suas atitudes pacíficas na construção do bem-estar social.

Estava lendo A HISTÓRIA DA ASTRONOMIA, de Heather Couper e Nigel Henbest – ela e ele astrônomos britânicos , quando comecei a me impr...

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Estava lendo A HISTÓRIA DA ASTRONOMIA, de Heather Couper e Nigel Henbest – ela e ele astrônomos britânicos , quando comecei a me impressionar com a forte presença feminina nessa área. Foi natural que me lembrasse de quando soube que a linda e sedutora Dalila - que tosara a poderosa cabeleira do marido, no filme SANSÃO E DALILA de Cecil B. DeMille de minha infância (1949) -, a atriz Hedy Lamarr (Viena, 1914 — Altamonte Springs, 2000) era inventora. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ela criara, com o compositor (este mundo é muito doido) George Antheil , um sistema de comunicações para as forças armadas americanas, que serviu de base para a atual telefonia celular.

Depois de eleito para a Assembleia Constituinte, em 1848, Victor Hugo, no ano seguinte, é eleito deputado por Paris. Em 15 de janeiro...

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Depois de eleito para a Assembleia Constituinte, em 1848, Victor Hugo, no ano seguinte, é eleito deputado por Paris. Em 15 de janeiro de 1850, ele faz um severo discurso na Assembleia Nacional, em prol da liberdade do ensino, de modo a retirá-lo das mãos dos religiosos, mas garantindo, aos que quisessem, a liberdade do ensino religioso, tanto quanto do ensino privado. A questão era exigir do Estado a garantia do ensino leigo e gratuito, começando no primário e se estendendo, pouco a pouco, de cidade em cidade, até o ensino superior, e, ainda que a obrigatoriedade

O gosto de Severino Sertanejo pelos temas e formas da literatura oral e, especificamente, sua dedicação ao folheto de feira, pode susci...

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O gosto de Severino Sertanejo pelos temas e formas da literatura oral e, especificamente, sua dedicação ao folheto de feira, pode suscitar alguns questionamentos, sobretudo quando se identifica, nesta expressão severina, o bacharel Luiz Nunes, homem culto, dedicado à aridez dos impasses para o estabelecimento de limites entre a exatidão contábil e as exigências do Direito.

Quantas memórias afetivas relacionadas à alimentação a gente guarda? Eu tenho inúmeras. Consigo fechar os olhos e entrar nas cozinhas ...

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Quantas memórias afetivas relacionadas à alimentação a gente guarda? Eu tenho inúmeras. Consigo fechar os olhos e entrar nas cozinhas da minha infância: da casa da minha avó materna, da minha casa, da casa da minha tia/madrinha Nena, da casa da minha avó paterna...

É preciso ter cuidado com as máximas que pretendem nos ensinar como viver. Elas são inevitáveis, pois o desamparo do ser humano leva-o ...

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É preciso ter cuidado com as máximas que pretendem nos ensinar como viver. Elas são inevitáveis, pois o desamparo do ser humano leva-o a continuamente procurar fórmulas que o conduzam à almejada felicidade. Mas nem tudo o que elas dizem devem, como se diz, ser tomado ao pé da letra.

Por exemplo, li uma vez este conselho dado já não me lembro por quem: “A gente deve enfrentar o que mais teme.” Visando pôr em prática a orientação, comecei a pensar no que mais temo. Várias coisas me causam temor, mas fico em pânico só com a ideia de pensar em ser perseguido por um cão feroz. Um rottweiler, por exemplo. Perto do meu prédio tem uma casa onde existe um. Eu bem poderia me acercar do muro e deixar o cão se aproximar para tentar perder o medo. Desisti. Tampouco me disponho a enfrentar outras coisas que me arrepiam, como passeios à noite por ruas escuras levando o celular.

A razão pela qual um mau militar diz seguir, antes de tudo, valores como a honra, o dever, a ordem e o patriotismo, é que estes “concei...

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A razão pela qual um mau militar diz seguir, antes de tudo, valores como a honra, o dever, a ordem e o patriotismo, é que estes “conceitos” podem ser por ele mesmo definidos, distorcidos e manipulados ao seu bel prazer.

Um verbete descrito num dicionário não é um imperativo de conduta, mas a Constituição, sim. É um caso típico. Quem não se dispõe a se submeter às leis, mas deseja criar o seu próprio projeto particular de tirania, costuma agir desse modo.

O prazer de quem cultiva: ver a semente rasgar solo e ao sol se espichar. Ver bailar a folha viva numa festa criativa...

poesia paraibana geraldo bernardo

O prazer de quem cultiva: ver a semente rasgar solo e ao sol se espichar. Ver bailar a folha viva numa festa criativa, onde a coreografia é obra da ventania. Ver a flor, sentir o fruto, deixa o humano menos bruto, suaviza seu bom dia.

Desejar uma vida com boa qualidade nas relações sociais e um teto para morar não parece ser uma exigência além do aceitável. Banalizar ...

relacionamento tolerancia
Desejar uma vida com boa qualidade nas relações sociais e um teto para morar não parece ser uma exigência além do aceitável. Banalizar uma relação amorosa na qual uma das partes se entregou por anos a fio, isso, sim, é lamentável, dentro de alguns termos vividos pelo casal. A vaidade reúne uma maneira quase louca de fazer acontecer certas situações em detrimento de um desejo intenso e persistente, em ser aceito por alguém ou

Era uma vez uma mulher, brasileira, que recusou-se a fazer amor com ninguém mais ninguém menos que Alain Delon, o célebre ator francês...

alain delon fernanda bruni boate regines
Era uma vez uma mulher, brasileira, que recusou-se a fazer amor com ninguém mais ninguém menos que Alain Delon, o célebre ator francês, à época considerado por muitos e muitas como o homem mais bonito do mundo. Estamos falando do ano de 1978 e o ator estava com meros 42 anos de beleza incontestável. Hoje, pelas fotos mais recentes, ele é uma múmia igual a outras da mesma idade, para consolo e vingança daqueles que sempre viveram em sarcófagos. Não há beleza que resista ao tempo, esse “escultor de ruínas”, bem sabe o leitor, mas vamos ao que interessa.

Queria dias mais calmos. Queria me sentir feliz de novo. Queria sonhar com Monica Vitti no céu. Queria não ter recebido a notícia da mo...

pandemia incertezas normalidade
Queria dias mais calmos. Queria me sentir feliz de novo. Queria sonhar com Monica Vitti no céu. Queria não ter recebido a notícia da morte de Eliézer Rolim, que conheço desde que ele era Filho. Queria não ter pesadelos com as imagens de Moïse sendo espancado até a morte.

Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz...