Uma homenagem a Anayde Beiriz,
pelo que foi e pelo que ainda é
PELO SIM, PELO NÃO
Não,
não quero
amargar
sentimentos
de perdas
por não
ter feito
o que quis.
Prefiro
correr
o risco
e encarar
o perigo
de ter
minha
vontade
como
força
motriz.
Numa cidade parecidíssima com João Pessoa, onde tudo era tão igual que ali também habitavam os falsos ricos, foi noticiada a realização de uma festa espetacular. Aquele evento despertou um frisson jamais visto em toda a cidade. Até o cerimonial era tão sofisticado que foi contratado no sul do país.
Não, não se trata do pé de moleque feito com amendoim e açúcar caramelizado, aquela coisa que tem a dureza das pedras e denominação secular pois advinda das quituteiras, nos tempos coloniais. “Pede, moleque”, reclamavam estas a cada furto cometido por meninos em molambos e sem dinheiro para a compra daquilo que vendiam em tabuleiros, a crer-se na explicação que muitos dão à origem do termo. A história faz crer em que elas dariam de bom grado um doce daqueles aos filhos da escravidão e da miséria, caso o pedissem.
Os raios do Sol batem úmidos no cimento frio. A escadaria agora está desobstruída, limpa. Já não há mais corpos das folhas das castanholas ressecados e gélidos em decomposição formando uma barricada pousada nos degraus, compactadas pelas chuvas do inverno. A posição mórbida após soltarem e planarem das copas das árvores durante o outono. Semanas esquecidas, largadas sem verde, grudadas umas às outras num abraço post mortem.
Outro dia uma pessoa querida comemorou aqui o fato de “eu não ser intelectual”, ao confessar que gostava do antigo seriado A Feiticeira.
O comentário me levou a tempos outros, quando, ainda adolescente, me trancava no quarto para ouvir Chico Buarque e algumas pessoas diziam, em tom de crítica, que eu era “intelectual”.
Engraçado que sempre li muito, sempre escrevi muito, mas nunca me senti um “intelectual”, não no sentido que geralmente as pessoas falam.
Por indicação de um amigo comum, tomei-me de curiosidade e fui procurar nas redes sociais que hoje fazem parte de nosso dia-a-dia, a entrevista que o engenheiro Paulo Bezerril Júnior, um dos muitos nordestinos migrados para o sul, dera, há pouco dias, a um site especializado que se edita em São Paulo, cidade que o acolheu e onde ele fez valer sua competência e capacidade de trabalho, tornando-se figura exponencial no meio profissional em que milita.
Os acontecimentos me espreitam nas dobras destes dias longos. E com seus dedos compridos andam a fazer de marionete os sentimentos meus. Ontem, vi um passarinho morrer. Sem aviso, a morte o pôs sob seu manto de grama verde. Parecia muito calma, quase indiferente, mas notei que recolheu o corpo do pássaro com gestos gentis e murmúrios doces. Lembrei de um poema de Schiller, Nänie, cujo primeiro verso, “Auch das Schöne muß sterben”, se traduz como “Mesmo o belo deve morrer”. Embora real e filosófica, a frase não elimina o luto. Sob este, tem-se a impressão de que há mais silêncio, mais deserto. Como se toda luz adormecesse.
Nänie é uma palavra que significa “pesar” e se refere à deusa romana dos ritos funerários, Nenia. O poema é uma lamentação sobre a inevitabilidade da morte que alcança a todos,
A madrugada silenciosa de 31 de julho de 2017 carregou Goretti Zenaide para a eternidade. Deixou vazias as manhãs que eram preenchidas com a leitura de sua página no jornal, sem a conversa amena e sem a acolhida do seu sorriso a cada abraço no reencontro. Ela foi integrar uma nova constelação de estrelas em Universo de muita luz, e deixou saudade.
Com o coração contrito lembramos da passagem dela, reunimos lembranças de amigos para partilhar o mesmo sentimento de perda, para manter viva sua memória. Essa memória do registro de pequenos gestos guardados como recordação. O sorriso aberto, o olhar de meiguice a conduzir paz e a palavra afetuosa que acalmava a alma. De tudo isso dela estaremos sempre necessitados.
O mar não se distinguia do céu, exceto por estar um pouco encrespado, como um tecido que se enrugasse. Gradualmente, conforme o céu alvejava, uma linha escura assentou-se no horizonte, dividindo o mar e o céu, e o tecido cinza listrou-se de grossas pulsações movendo-se uma após a outra, sob a superfície, perseguindo-se num ritmo sem fim.
As Ondas, Virginia Woolf
O nosso inconsciente é um mistério mesmo. Ou nem tanto.
Conforme a sabedoria do Benfeitor Emmanuel, Jesus é o Caminho a Verdade e a Vida. Sua Luz Imperecível brilha sobre os milênios terrestres, como o verbo do Princípio.
As tempestades de sombra e lágrimas nada mais fizeram que lhes avivar, a sua grandeza, no entanto, sempre tardios no aproveitamento das oportunidades preciosas, muitas vezes, no curso das existências renovadas, temos desprezado o Caminho, indiferentes ante os patrimônios da verdade e da vida.
Editado em 1960, pela Livraria Freitas Bastos do Rio de Janeiro, "Vingança, não" foi um livro marcante. Recuperava um episódio da história do cangaceirismo por uma ótica duplamente original: pela mensagem de perdão e pelo envolvimento emocional do autor, na sequência dos fatos.
Com a beleza de sua palavra, com a coragem de expor as entranhas de um drama que poucos ousariam passar a limpo, com a severa imparcialidade que se impôs, padre Chico Pereira Nóbrega conquistou o público. Principalmente a juventude estudantil, tanto secundarista quanto universitária, de quem ele se tornou um líder.
Éramos todos seus leitores e corríamos para ouvi-lo em conferências inesquecíveis. Trazia uma pregação inovadora, questionamentos que vinham ao encontro de nossas inquietações. Não falava de céu, nem de inferno, nem de castigos ameaçadores. Falava da construção do ser, da vida e do amor, tema de sua predileção. E nos ensinava a pensar, a duvidar das verdades sacramentadas, das verdades ditas inquestionáveis.
O sucesso do livro trouxe logo a segunda edição, no ano seguinte ao lançamento. E, depois, as reedições permaneceram suspensas por quase três décadas. Era a consequência de revelações que alteravam substancialmente a história contada pelos vencedores. Por fim, a terceira edição veio em 1989 e a quarta, em 2002, patrocinada pela FUNESC.
A autodepreciação é tradicionalmente uma fonte de humor. Falar mal de si tem alguma coisa de engraçado, e os humoristas sabem disso (que o diga, por exemplo, Woody Allen). Daí explorarem ao máximo os juízos negativos sobre si mesmos.
Um dos mais famosos exemplos disso é a frase de Groucho Marx: “Não entro para um clube que me aceita como sócio.” O autor dá a entender que, recebendo alguém tão insignificante, esse clube não pode mesmo ter qualidade.
A discriminação e o preconceito social, contra pessoas com alguma deficiência, são vistos como normais em sociedades desinformadas ou mal-intencionadas, onde essas pessoas são entendidas como exceções; eles creem que a deficiência é algo a ser superado ou corrigido, se possível por intervenção médica.
Um exemplo de postura inadequada é dirigir-se ao acompanhante de uma pessoa com deficiência física, ao invés de diretamente à própria pessoa.
Há 63 anos, em 25 de Julho de 1959, consumou-se a morte de meu pai. Morrer aos 51 anos de uma forma dolorosa e impiedosa como a dele será sempre inaceitável e injusto. Sem rancor, a única coisa que ele repetia constantemente – "Minha Virgem Santa Mãe Deus, me conceda mais alguns anos para meus filhos, eles são tão pequenos ainda". Não fora atendido ao tão desejado e doloroso desejo. A ele foi concedida apenas a graça de interromper o sofrimento. Como o previsto, o seu generoso coração não resistiu ao excesso de morfinas que contribuiu decisivamente para encerrar o seu ciclo infernal de dores lancinantes provocadas por metástases ósseas.
O amor pode, sim, acabar, como praticamente tudo na vida, inclusive a própria, como sabemos. Esse fim do amor, porém, não é uma fatalidade, mas uma possibilidade, de tal modo que é sob esse ponto de vista que a célebre crônica de Paulo Mendes Campos, intitulada exatamente de O amor acaba, deve ser lida e interpretada, penso eu.
DIÁRIO DE BORDO
Vida é viagem
Eu passageiro
Verso a bagagem
Dele o roteiro...
O BUSÃO DA VIDA
Por aqui todos passam de passagem
Não conheço quem fique pra semente
Rico, pobre, o doutor e o indigente
Vão descer o que muda é a paragem
O bilhete é pra uma só viagem
Bagageiro não há pra acumular
Quem se apressa acaba por pular
Curta a vista, ame muito todo dia
Pra que tanta ganância e correria
Se ninguém veio aqui para ficar?…
Observar o rosto de um semelhante nos possibilita verificar expressões que carrega, se de paz, esgar, desprezo, raiva, dor, angústia, ódio, tristeza, alegria, indiferença, etc., o que não acontece quando o foco, por exemplo, cai sobre um gato, ou cavalo (apesar da inteligência e sensibilidade desses animais). Também não podemos assegurar que animais de outra espécie que a nossa acumulem interiormente a gama de sentimentos díspares que nos domina, e que muitas vezes sofre o domínio que exercemos sobre ela. Embora possamos perceber algumas mudanças súbitas de humor em macacos ou elefantes, por exemplo, quando acontece de macacos nos darem, às vezes, certeza absoluta de estarem rindo de alguma coisa, se divertindo, sim. Mas deixemos de lado o proselitismo e vamos ao que interessa: afinal, o que isto pode nos dizer de definitivo? A resposta mais inequívoca que a minha mente
Há anos observamos, na relva aqui do lado, um casal de corujas da espécie que chamam de “buraqueiras”. Entra estação, sai estação e elas permanecem. Só variam de buraco. Vez por outra, após se alternarem em curtos períodos de ausência, decerto chocando os ovos que protegem com permanente vigilância, eis que surge um filhote. Raramente, como já ocorreu, surgem dois. E como é prazeroso vê-los juntos, ao sol das manhãs, penteando-se com as brisas do mar, vizinho próximo que escolheram para sua morada. Uma união afetiva e familiar admirável.
— Não, não chegou ainda. Sente um pouco, ele não deve demorar.
— Obrigado, para o que vim não há pressa.
E me veio a ideia de atravessar a rua, da porta do cartório de estilo sempre preservado até a calçada em frente, sem me ocorrer que o semáforo dá vermelho para a Cardoso Vieira e, simultâneo, libera para o acelero de quem vem pela Rua da Areia.
Pintei muitos quadros com a figura de Cristo, assim como escrevi, sobre ele, os romances A VERDADEIRA ESTÓRIA DE JESUS - que adaptei para o teatro e montei -, e RELATO DE PRÓCULA, além do "tratado poético-filosófico" ESSE É O HOMEM, com algo muito forte, também, no novo "tratado" que vem por aí, 1/6 DE LAJANAS MECÃNICAS, BANANAS DE DINAMITE.
Aos meus ex-alunos, hoje, professores, com os quais aprendi, ao ensinar.
A leitura dos detalhes é essencial. Não se faz análise com leituras apressadas e visões generalizantes. Uma palavra deixada para trás, muitas vezes, é a chave de que precisávamos para abrir a porta do enigma, como diria o poeta Drummond. Pensando nessa lição, que repito incansavelmente, como um mantra, aos meus alunos, é que resolvi fazer a leitura de um pequeno trecho de Os sertões, de Euclides da Cunha, pertencente ao Capítulo VI, da parte II de “A Luta” — Travessia do Cambaio, extraído da edição crítica
Era um sábado ensolarado, digno de uma manhã na praia, mas também perfeito para lavar a roupa acumulada no cesto, durante toda a semana.
E assim seria. E assim foi.
Eu fiquei em casa com o pequeno Roberto Neto, meu primeiro filho, e nossa companheira Kely – Dálmata de ano e meio, enquanto Shuka iria, mais uma vez, levar seu tesouro – o “novo” velho Jipe, para a oficina. Programa que durava uma manhã inteira.
O sol se fazia presente em todo terreno da casa. Os lençóis e toalhas não demorariam dançando ao vento.
RETROSPECTIVA
Ando vasculhando
meu passado remoto.
Às vezes,
me reencontro;
em outras,
me desconheço.
Onde foi que eu errei?
Em qual esquina
me perdi?
No que fui certeira
e não me confundi?
De tudo, carrego
dúvidas e a sensação
de que os erros
não me resumem.
De nada, entretanto,
adianta eu me culpar,
já que, se eu pudesse
reviver, no presente,
minhas lutas,
tropeços, conquistas
e breves alegrias,
seria igual tudo
o que eu faria.