Sabe aquela resistência em entender que as pessoas mudam? Em aceitar que as amizades se desfazem que amigos traem, fami...

 
 
 
Sabe aquela resistência em entender que as pessoas mudam? Em aceitar que as amizades se desfazem que amigos traem, familiares abandonam que algumas mães matam os próprios filhos para agradar os seus amantes? Ela luta com todas as forças que lhe restam para compreender que nada é eterno que nem sempre as coisas são o que parecem e que alguns humanos, não se comportam como humanos

Quarenta anos atrás – vez que o jornal O Norte ainda funcionava imbatível na veneranda rua dos padres, a Duque de Caxias – entra o edi...

Quarenta anos atrás – vez que o jornal O Norte ainda funcionava imbatível na veneranda rua dos padres, a Duque de Caxias – entra o editorialista e cronista Nathanael Alves no frege da redação, dessa vez com ar alvissareiro. Põe a mão no meu ombro e, falando a dois, felicita-me por “passar a ser autor estudado em sala de aula.” E ressalta em sua ironia benigna: “...no lugar de Raquel, de Rubem Braga, de Henrique Pongetti e outros monstros sagrados”.

Assistindo a um vídeo de uma senhora beirando 90 anos, sobre a velhice e o envelhecer, ela constata que, nessa fase da vida, as referê...

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Assistindo a um vídeo de uma senhora beirando 90 anos, sobre a velhice e o envelhecer, ela constata que, nessa fase da vida, as referências já foram perdidas, todo mundo já morreu e os vivos estão ocupados. Perde-se também os grupos sociais, diz ela, citando o seu intitulado grupo “semi-novas”. A senhora ressalta que as pessoas vão morrendo, mas que é preciso renovar as amizades e expandir os vários conteúdos: literatura, bate papo, natação. Há de se ter conhecimento, também, e de estar sempre lendo, estudando e participando dos eventos. Estar atualizada. Conhecimentos abrangentes.

Há mais de 65 anos, meados e final dos anos cinquenta, me vejo ainda hoje mergulhando num cenário infantil da Praça D. Adauto em frente...

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Há mais de 65 anos, meados e final dos anos cinquenta, me vejo ainda hoje mergulhando num cenário infantil da Praça D. Adauto em frente do Palácio do Arcebispo onde reinava D. Moisés Coelho. Na Praça do Bispo, dividida em três seções ajardinadas, eu e um grupo de meninos usávamos intensivamente a primeira fração defronte ao abrigo pastoral de benemerência do Padre Zé Coutinho para nos reunirmos, jogar bola e exercitar nossas habilidades com bolas de gudes. As adquiríamos no Armarinho do mal humorado Seu Viana, na Rua Direita. Éramos muitos, e todos moravam na Visconde Pelotas, Rua Direita, na Conselheiro Henriques, e na Rua Nova, a da Catedral.

Embora não achasse ruim a tal da infância, boa também não achava. Acho lindo quando vejo crianças alegres, espontâneas, divertidas...

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Embora não achasse ruim a tal da infância, boa também não achava.

Acho lindo quando vejo crianças alegres, espontâneas, divertidas, fazendo criancices. Mas não fui assim. Eu observava, percebia...

Aprendi a ler antes de ir pra escola.

Gostava de livros e de música. E tinha desprezo por bolas e bicicletas (hoje, amo bicicletas!).

Cultivo o silêncio. Aquele em que converso com meus pensamentos. Apreender o silêncio é complexo e preciso de um ritual para exercê-...

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Cultivo o silêncio. Aquele em que converso com meus pensamentos.

Apreender o silêncio é complexo e preciso de um ritual para exercê-lo. Não é somente a ausência da fala, dos sons banais do cotidiano, da música. É mais profundo, está ligado à importância com que compreendo o mundo e entendo o que sinalizam minhas interrogações.

O silêncio acontece em momentos inusitados, quando estou desenhando, lavando pratos, observando o nascer do sol, ou nas madrugadas insones. Há uma força intricada

A Teoria da Estética, do filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), tem o objetivo de significar uma perfeição para um ...

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A Teoria da Estética, do filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), tem o objetivo de significar uma perfeição para um “conhecimento sensível”. Suas contribuições fundamentam as influências de um belo subjetivo, que surge de uma união das representações da própria sensibilidade. Suas teses estão no seu livro “A Estética” (1750), que apresenta um contexto teórico e outro prático e temas relacionados à arte e ao belo a partir do princípio que reconhece na natureza humana a causa necessária e suficiente para compreender e conviver em harmonia com um meio ambiente e o Universo.

      procissão de jangadas no dia de são pedro o sol acende as velas que iluminam a enseada. em fila, qual brancas formiga...

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procissão de jangadas no dia de são pedro
o sol acende as velas que iluminam a enseada. em fila, qual brancas formigas marítimas, lá se vão as jangadas contritas e beatas. (em 29/06/22, dia de São Pedro)

A notícia chegou em texto com pouquíssimas palavras na tela do iphone. A família pedia orações, o remédio ainda possível para sua cura....

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A notícia chegou em texto com pouquíssimas palavras na tela do iphone. A família pedia orações, o remédio ainda possível para sua cura. E eu fiquei em choque. Sequer sabia da sua hospitalização a 4 mil quilômetros das nossas origens. Poucas horas depois, contaram-me que ela se fora.

Gosto de imaginar que todos partimos desse mundo com abraços e risos. Não aqui, onde ficam a dor e o choro, mas do outro lado da vida, onde pai, mãe, os parentes diversos e os amigos que fizemos,

As festas de São João são memoráveis, mesmo com todos os defeitos da nova versão, mesmo com os desafios de uma estrada absurdamente em ...

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As festas de São João são memoráveis, mesmo com todos os defeitos da nova versão, mesmo com os desafios de uma estrada absurdamente em reforma, mesmo sendo multiculturais, mesmo que estejam mais caras e violentas do que os anos anteriores, mesmo que estejamos há dois anos afastados de festejos. Se nos faltavam festas, agora falta dinheiro para tanta coisa cara. Portanto, de antemão, pedimos que os governantes e empresas tenham mais zelo com o nosso bem imaterial maior e com o orçamento público.

Nas aulas de Oficina Literária, o professor mandava fazer atividades de escrita livre. Podia ser uma descrição, um comentário, a lembr...

Nas aulas de Oficina Literária, o professor mandava fazer atividades de escrita livre. Podia ser uma descrição, um comentário, a lembrança de um fato que nos marcou. Às vezes aparecia o bloqueio, não saía nada. Numa dessas ocasiões, ele me disse: “Conte alguma coisa. O mundo é tão grande, tem tanta coisa acontecendo. Não falta o que contar.”

Mas até para isso é preciso sentir “pulsar a veia”, disse comigo, já me lembrando do que tinha acontecido de manhã no meu prédio. Nada de extraordinário, mas poderia ter resultado num acidente sério.

Esta é uma pergunta medonha, daquelas para as quais ninguém tem uma resposta pronta, salvo os idiotas. É preciso refletir para respondê...

Esta é uma pergunta medonha, daquelas para as quais ninguém tem uma resposta pronta, salvo os idiotas. É preciso refletir para respondê-la porque a resposta necessariamente tem a ver com a vida que levamos, como somos, o que fizemos e deixamos de fazer. Fundamentalmente, creio, tem mais a ver com os outros que com nós mesmos, a maneira de tratá-los, de considerá-los, se os vemos como meios ou fins de nossas ações, se os valorizamos em sua dignidade intrínseca etc etc. Sim, porque “...ao fim, seremos vistos pelo que amamos ou deixamos de amar”. E “ao entardecer desta vida, te verão no amor”, como bem disse São João da Cruz. Significa dizer que seremos lembrados e julgados pelo que fomos e fizemos de bem, e não por outras gloríolas acidentais, por mais importantes que estas pareçam aos olhos dos tolos.

Paraíba, 3 de julho de 2022

Paraíba, 3 de julho de 2022

A Paraíba intelectual, artística, musical, há muito desafia o preconceito, falha de caráter oriunda da superficialidade leviana e da ig...

A Paraíba intelectual, artística, musical, há muito desafia o preconceito, falha de caráter oriunda da superficialidade leviana e da ignorância. O indiscutível valor de notáveis conterrâneos destrói por si só a arrogância dos que insistem em nos menosprezar. Não é à toa que o artista e escritor Waldemar Solha, um paulista bem nordestino, insiste em dizer, vez por outra, que a Paraíba vive surpreendendo-o.

Há noventa e dois anos, nos dias finais do mês de julho de 1930, fazia cinco meses que o sertão da Paraíba vivia em um estado de guerr...

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Há noventa e dois anos, nos dias finais do mês de julho de 1930, fazia cinco meses que o sertão da Paraíba vivia em um estado de guerra. No dia primeiro de março daquele ano, haviam sido realizadas as eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, deputados federais e uma vaga no Senado. Na véspera do pleito, por determinação do Presidente do Estado, João Pessoa, uma insensata operação da polícia estadual foi realizada na cidade de Teixeira.

Muitos anos atrás, lendo um desses livrinhos vendidos em bancas de jornal, cujos título e autor me escaparam da memória, dei de car...

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Muitos anos atrás, lendo um desses livrinhos vendidos em bancas de jornal, cujos título e autor me escaparam da memória, dei de cara com uma previsão absolutamente estapafúrdia, totalmente improvável. Estávamos no auge da Guerra Fria e a hecatombe universal viria com um ataque de armas nucleares dos EUA contra a União Soviética – e vice-versa. Era certeza absoluta naquele momento. Nada nos faria mudar de ideia. Morreríamos todos quando fosse acionado o terrível botão instalado em certo birô do Kremlin ou da Casa Branca, depois que o famoso telefone vermelho tocasse freneticamente, como um despertador antigo.

Será que já vinha seco e eu não prestara atenção? Falo do rio Mamanguape, que deu nome à cidade do poeta Carlos Dias Fernandes e fortun...

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Será que já vinha seco e eu não prestara atenção? Falo do rio Mamanguape, que deu nome à cidade do poeta Carlos Dias Fernandes e fortuna usineira aos irmãos Fernandes, remanescentes da aristocracia rural e do comércio atraídos pelas várzeas do rio, exportando açúcar e algodão pelo seu próprio porto, o Salema.

Rio Mamanguape, que supriu de águas constantes a agricultura e, particularmente, o poder político do meu circunspecto e saudoso amigo José Fernandes de Lima, um radical do seu partido que conteve a caneta diante de meu nome (“Esse, não!”)

Assim começa Positivismo, música das mais interessantes de Noel Rosa – “A verdade, meu Amor, mora num poço”. Atribui-se, na música, ...

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Assim começa Positivismo, música das mais interessantes de Noel Rosa – “A verdade, meu Amor, mora num poço”. Atribui-se, na música, esta afirmação a Pôncio Pilatos, mas na realidade, o governador da Judeia pergunta a Cristo o que é a verdade, sem obter respostas para o seu questionamento. Fica por conta das licenças da criação poética. Até porque Noel também afirma que o criador da guilhotina teria sido uma das vítimas de seu instrumento, o que a história não confirma. Joseph-Ignace Guillotin não inventou a guilhotina, apenas sugeriu a criação de um instrumento que provocasse uma morte rápida e indolor aos condenados. Médico, ele era contra a pena de morte e cria que a invenção de um mecanismo que provocasse uma decapitação rápida seria o primeiro passo para a abolição da pena de morte.

O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasil...

poesia livro ponteio bordado

O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasileira de Escritores da Paraíba - (UBE-PB), traz uma série de sessenta poemas escritos nos últimos dois anos, cujo eixo norteador é fazer uma conexão poética através de linguagens,
poesia livro ponteio bordado
como a música, dança, teatro e as artes visuais, numa costura feita pela literatura.

Para cada poema, na página esquerda ao lado, há um “ponteio”, que pode ser entendido como um mote, uma epígrafe, um refrão, um pensamento, uma filosofia. Os temas desenvolvidos nos textos são os mais diversos, porém sobressaem angústias e reflexões diante do tempo, do envelhecer, da finitude da vida e da morte iminente. Com projeto gráfico do poeta Juca Pontes, fotografia de Antônio David Diniz e capa e elementos ilustrativos da arquiteta e artista visual Valéria Antunes, o livro traz apresentação da professora Neide Medeiros, que é membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e da União Brasileira de Escritores da Paraíba (UBE-PB).

Alguns poemas do livro PONTEIO:
 
 
PONTILHÃO
Teço e demarco, em linhas e traços, as partes extremas de mim: a do começo, com minhas expectativas pontuadas; e a do fim, uma história

Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roni...

rio roniquito boemia lapa scarlet moon
Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roniquito, fã de música clássica e de William Faulkner, falava fluentemente inglês e francês. Sóbrio ele era um gentleman. Mas quando bêbado (e isso acontecia quase diariamente) tornava-se bélico.

Vi, em página do Facebook, uma foto antiga daquilo que por muito tempo foi o único sobrado de Pilar. Nos meus dias de menino, ali morar...

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Vi, em página do Facebook, uma foto antiga daquilo que por muito tempo foi o único sobrado de Pilar. Nos meus dias de menino, ali moraram duas famílias de comerciantes. A do Seu Nequinho, ainda está bem viva na memória porquanto guardo amizade estreita com dois de seus filhos: Everaldo Pontes e Zezita Matos. Sim, estes mesmos que os amantes do teatro e do cinema conhecem como atores de grande talento. Também assim os conhece o público numeroso de algumas minisséries e novelas da Globo.

O artista plástico Flávio Tavares conta causos com a mesma elegância que pinta quadros. Herança do pai, Arnaldo Tavares, médico que ...

O artista plástico Flávio Tavares conta causos com a mesma elegância que pinta quadros. Herança do pai, Arnaldo Tavares, médico que trocava o bisturi pelo lápis e pincel para moldar no papel a paisagem da alma. Onde chegava, atraía as atenções pela elegância da narrativa, sempre com uma pitada de humor.

Na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 eu me achava de rádio ligado na Mayrink Veiga, à janela de fundos do velho sobrado onde fu...

Na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 eu me achava de rádio ligado na Mayrink Veiga, à janela de fundos do velho sobrado onde funcionava o jornal O NORTE, a aragem da noite cheirando a velhos e lodosos telhados, e a me envolver num adágio entremeado na 3ª Sinfonia de Brahms. Não aprendi a ler música, li pouco dos seus entendidos, mas lá por dentro, e por trilhos que me serão sempre misteriosos,

Ela é leve como as plumas que não tem, e seus olhos veem além dos nossos, através das superfícies que escondem as cores. Quem sabe, a m...

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Ela é leve como as plumas que não tem, e seus olhos veem além dos nossos, através das superfícies que escondem as cores. Quem sabe, a magia que chegou às suas mãos, na tarefa de bordar o enxoval da irmã caçula, todo dia, às dezessete horas... uma cadeira na calçada, ao lado da Catedral, certamente diante do pôr do sol e seus matizes! Cumpriu essa missão com habilidade e carinho. Na escolha das linhas, o mistério das tonalidades encantou a Fada. Quando estudava na Bica (Parque Arruda Câmara), conduzia a pequena, para que a mãe se dedicasse mais ao trabalho. Entre livros e cuidados, folhas em branco e grafite na mão, surgiam árvores, retas, curvas, entrelaçadas, folhagens, horizontes percebidos ente a terra e o céu... formas perfeitas para rivalizar com a natureza.