Não tive a honra e o prazer de ser aluno do Prof. Flóscolo da Nóbrega. Cheguei a conhecê-lo abatido, magérrimo, mumificado em vida. Logo d...

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Não tive a honra e o prazer de ser aluno do Prof. Flóscolo da Nóbrega. Cheguei a conhecê-lo abatido, magérrimo, mumificado em vida. Logo depois, partiu e deixou um vácuo no ensino da “Introdução ao Direito”.

Saída da calourada, nossa turma foi recebida pelo inesquecível Prof. Edigardo Soares que andava ereto, postura elegante. Conforme ele mesmo dizia, era por conta de um desvio na coluna. Foi o próprio saudoso Prof. Edigardo Soares que nos contou, num desses saborosos amenos, no recreio, duas passagens antológicas do velho e respeitado Flóscolo da Nóbrega. Este sisudo, reservado, ateu e admirador de Santo Agostinho.

Continuamos nesta semana o assunto das edições anotadas, cuja discussão foi iniciada com o texto da semana passada – “Edições anotadas (Pa...

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Continuamos nesta semana o assunto das edições anotadas, cuja discussão foi iniciada com o texto da semana passada – “Edições anotadas (Parte I)”. Diferentemente de uma edição crítica, que se destina a levar a público um texto que se aproxime do animus auctoralis, de modo que o estudioso se sinta mais à vontade pela sua fidelidade, as edições anotadas ou comentadas devem ficar atentas não só ao que precisa de esclarecimento, mas também, na medida do possível, deve apontar, no seu comentário, algum lapso que o autor tenha cometido. Fiquemos com uma passagem de “O Homem”, em que Euclides da Cunha confunde equinócio de primavera com o equinócio de outono:

AVESSO Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte opos...


AVESSO
Quem é que se esconde no outro lado da porta, na ponta do fino fio, na base da tela opaca? O que é que há na parte oposta da ponte, no extremo do arco-íris, na vértice inversa da corda?

Dona Creusa Pires , de quem tenho o privilégio de ser filho, dizia que o melhor da festa é esperar por ela. Tinha razão. Quando jovens, ...

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Dona Creusa Pires, de quem tenho o privilégio de ser filho, dizia que o melhor da festa é esperar por ela. Tinha razão. Quando jovens, na expectativa de qualquer evento, programamos com deleite a roupa que usaremos, com quem encontraremos e muita coisa mais. Só que, caminhando para os 80 anos, o melhor da festa para mim é não ir a nenhuma festa, ficar em casa. Porém esta é outra história. A história de uma viagem. A viagem do meu coração.

Alguém aí já teve medo de virar tamanduá? Eu já tive, sim. Tanto eu quanto os meninos da minha geração dados à leitura da revistinha da ...

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Alguém aí já teve medo de virar tamanduá? Eu já tive, sim. Tanto eu quanto os meninos da minha geração dados à leitura da revistinha da Eucalol, a publicação lançada em 1956 para expansão dessa que foi por bom tempo, com endereço no Rio de Janeiro, a fabricante de produtos de higiene pessoal mais famosa do País.

Há um lugar em Paris, à beira do Sena, que logo atrai quem o avista, de perto, de longe ou de carro. Fica próximo ao Louvre, precisament...


Há um lugar em Paris, à beira do Sena, que logo atrai quem o avista, de perto, de longe ou de carro. Fica próximo ao Louvre, precisamente na calçada do Quai des Gesvres, com diversas lojas de plantas, flores, sementes e material de jardinagem. O aconchego das frondosas árvores que abrigam aquele recanto empresta-lhe ainda mais poesia. Do outro lado da rua, o contraste entre o trottoir turístico e a modorra dos bouquinistes, guardiões de históricas preciosidades, completam a cena.

Reaberta a biblioteca, dobro a última curva dos vagares pela praça coberta do Espaço Cultural e desço a rampa que nos introduz no univ...

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Reaberta a biblioteca, dobro a última curva dos vagares pela praça coberta do Espaço Cultural e desço a rampa que nos introduz no universo sempre insuperável dos livros.

De cara, na entrada, a inscrição com o nome de Juarez da Gama Batista. Merecidíssima. Poucos se dedicaram, se serviram e se deram tanto ao livro. E fora D. Lygia, a esposa, e as filhas e filhos, ninguém dos ainda vivos testemunha mais remotamente essa paixão do que o caboclo que ele veio conhecer num incidente de revisão.

De minha janela vejo apodrecer a juventude... De aqui miro, em foco, o cair do corpo sem alma. Sem o ouvir do Belo, o organismo fenec...

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De minha janela vejo apodrecer a juventude... De aqui miro, em foco, o cair do corpo sem alma. Sem o ouvir do Belo, o organismo fenece: Há tiros, gritos, desesperança diante da morte em vão... Em plena Arte, levantar-nos-íamos do torpor, do chão! ...

Há tempos não ouço e vejo um filme tão envolvente quanto este: Boychoir – cujo subtítulo de divulgação (Hear my song) aponta para o canto individual, íntimo, pessoal – é um apanhado de excelentes peças corais justificado por um argumento bem humano, e bem possível de acontecer.

Nonato Guedes é um jornalista completo. Ele não treme diante do papel em branco. Tem um texto primoroso e escreve como quem toma água, se...

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Nonato Guedes é um jornalista completo. Ele não treme diante do papel em branco. Tem um texto primoroso e escreve como quem toma água, sem precisar reler para fazer correção. Falando, é um rio descendo a cachoeira: fluência sem arrodeios.

Às vésperas das eleições gerais mais importantes das últimas décadas, relembro momentos em que atuamos juntos, em clima de alta pressão.

Vinte e quatro de abril de 1984, votação da PEC 05/83, a conhecida Emenda Dante de Oliveira, que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República.

1992: eu disse à Ione que estava na hora de visitar meu pai: - Está com 87. E o encontrei de cama. Não aceitou que o levasse a um mé...

1992:
eu disse à Ione que estava na hora de visitar meu pai:

- Está com 87.

E o encontrei de cama. Não aceitou que o levasse a um médico, nem que lhe trouxesse um.
Morreria uma semana depois.
Mas conversamos bastante, naquela derradeira ocasião. Em certo momento, pediu-me que lesse em voz alta, para ele, o poema “Se”, o “If” de Rudyard Kipling, que havia na tradução de Guilherme de Almeida, ... do Tesouro da Juventude – coleção que fora minha e deixara para ele.

O livro O Homem que Plantava Árvores do escritor francês Jean Giono , uma fábula sobre a preservação do meio ambiente, é compos...

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O livro O Homem que Plantava Árvores do escritor francês Jean Giono, uma fábula sobre a preservação do meio ambiente, é composto de mensagens que inspiram a lutar pela paisagem, mesmo onde não existam vidas. Não resumirei os componentes da narrativa, mas sugiro ir atrás da obra para conhecer a bela estória que, para mim, revelado minhas habilidades de agricultor, é uma lição de vida. Apenas confesso se tratar de um solitário homem que transforma uma área desértica em aprazível reserva florestal, anos depois a floresta traz água e chega o desenvolvimento.

Colírio que tece o dia Olhos cítricos, preguiçosos, em pelo de mel, um deixar-se estar na paz dos meninos de Liverpool (o que não s...


Colírio que tece o dia
Olhos cítricos, preguiçosos, em pelo de mel, um deixar-se estar na paz dos meninos de Liverpool (o que não se percebe é a arte dos felinos) ((Na redoma do que se denomina casa, tem um humano que me serve e eu lhe devolvo a percepção do sublime arbítrio )) E os Beatles, são um retrato dentro da vida que se persegue no tardar dos dias, Um algo que pulsa e cintila os tons do que se propõe eterno.
(poema inédito)

As calçadas engarrafadas parecem que nunca terminam em dias de meio de semana. Pernas, placas, carros, passos aglomeram-se, esbarram-se...

As calçadas engarrafadas parecem que nunca terminam em dias de meio de semana. Pernas, placas, carros, passos aglomeram-se, esbarram-se, confrontam-se, esticam-se, atraem-se e desconectam-se a todo momento. São microencontros pela cidade a perder-se sem sentidos em manhãs e tardes quentes. São desencontros à procura do que nem sabe ao certo em noites de temperatura amena.

Na década de 1990 tive a oportunidade de entrar no Espaço Cultural José Lins do Rêgo e dar de cara com enormes fotografias de artistas ...

Na década de 1990 tive a oportunidade de entrar no Espaço Cultural José Lins do Rêgo e dar de cara com enormes fotografias de artistas mascarados, fotografados por Rodolfo Athayde, já conhecido artista visual da cidade. Estava começando minhas aproximações com as artes visuais, sem saber que, com o passar dos anos, algumas pessoas ali retratadas fariam parte da cena da minha vida cotidiana, inclusive o próprio Athayde.

Uma revista “Visão” velha de 1978, num quartinho que poderíamos chamar de hemeroteca da Academia. Nada se perde naquela Casa! Pena que se...

guarany marques viana cagepa engenharia amizade
Uma revista “Visão” velha de 1978, num quartinho que poderíamos chamar de hemeroteca da Academia. Nada se perde naquela Casa! Pena que seus letrados sócios não façam de suas salas e demais cômodos de feição sempre familiar o que os saudosos sócios do Cabo Branco faziam da sua sede central.

Clarice e Lisete pareciam ter vindo ao mundo para ser amigas. Conheceram-se ainda meninas; mal uma bateu os olhos na outra, senti...

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Clarice e Lisete pareciam ter vindo ao mundo para ser amigas. Conheceram-se ainda meninas; mal uma bateu os olhos na outra, sentiu o que se poderia chamar “lampejo de afinidade”.

Assistiam às aulas em cadeiras vizinhas, e nos intervalos não se despregavam. Tinham a mesma opinião sobre os professores e os colegas, que pareciam tão diferentes delas! A amizade as colocava num mundo à parte, onde não havia rusgas nem ressentimentos.

Já escrevi sobre ele umas poucas linhas tempos atrás. E agora ele volta, provando sua permanência, sua eternidade, até diria. Refiro-me ...

cronica machado esau jaco confeitaria imperio
Já escrevi sobre ele umas poucas linhas tempos atrás. E agora ele volta, provando sua permanência, sua eternidade, até diria. Refiro-me a Custódio, personagem do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, dono de uma confeitaria no Catete do século XIX, que foi consultar seu vizinho, o Conselheiro Aires, diplomata aposentado, sobre assunto grave e urgente: uma tabuleta que mandara pintar para colocar na fachada de seu estabelecimento. A trama é conhecida, mas vale a pena rememorá-la mais uma vez.

Paraíba, 1º de maio de 2022

Paraíba, 1º de maio de 2022

Dona Aparecidinha morava nos arredores num daqueles vilarejos com pose de cidade, um povoamento com menos de cinco mil almas. Vocês sabem...

Dona Aparecidinha morava nos arredores num daqueles vilarejos com pose de cidade, um povoamento com menos de cinco mil almas. Vocês sabem como são essas vilas que ganharam autonomia e já botam a maior banca por terem CEP, agência da Caixa, pracinha com coreto que serve de palanque em ano de eleição, Posto de Saúde, três ruas paralelas (uma que vai, outra que vem e a principal que faz as duas coisas) e como não podia faltar uma Delegacia de Polícia. Ia me esquecendo: uma Escola de Ensino Fundamental Fulano de Tal. E para por aí vai. Foi nessa localidade que se deu o causo. Mas para isso vamos falar um pouco de Dona Aparecidinha.

Tenho um diário. São minhas “anotações existenciais”. Volta e meia, ele me “surpreende” com histórias que mexem com a minha emoção. Vejam ...

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Tenho um diário. São minhas “anotações existenciais”. Volta e meia, ele me “surpreende” com histórias que mexem com a minha emoção. Vejam o que escrevi no dia 16 de maio do ano 2000:

A velha Gameleira do Róger, que ficava na confluência das avenidas Juiz Gama e Melo e Dom Vital, tombou ontem, numa tarde chuvosa de maio. Numa última gentileza com os vizinhos, tombou para o vazio, para o eixo da Rua D. Vital, não causando dano a nenhuma residência.

nostalgia diario amigos
Durante os mais de 20 anos que morei com minha família no bairro, a gameleira foi a minha segunda casa. No seu imenso tronco, que dava bons assentos, e na sua copa, vivi belos momentos de minha existência.

Na gameleira fiz poemas, leituras e amizades. Ela foi testemunha de alguns dos meus amores secretos. Do alto da árvore, escondido de tudo e de todos, usando mímica, “namorava” com uma garota das imediações, meu primeiro amor.

Roberto Coutinho, um dos frequentadores assíduos da gameleira, me deu a notícia aos prantos.

nostalgia diario amigos
Na foto, feita em 1997, três anos antes da gameleira desabar, estamos eu, o saudoso Mário Teixeira (já meio adoentado, de cabeça baixa, com um pequeno cipó e boné na mão) e o amigo Roberto Coutinho (à direita), ambos já falecidos. O primeiro à esquerda, nas minhas costas, é um morador mais recente do bairro, cujo nome, infelizmente, não me recordo.

Para Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes “realizou o sonho de todo poeta: chegar ao povo sem mediação”. Carlos Drummond de Andrade pensava...

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Para Ferreira Gullar, Vinícius de Moraes “realizou o sonho de todo poeta: chegar ao povo sem mediação”. Carlos Drummond de Andrade pensava da mesma forma:

“Vinícius realizou a figura mais exata de poeta que já vi na minha vida [...] poeta em livro, música e poeta na vida […] foi aquele que conseguiu chegar mais perto do povo, a canção que toca todo mundo, seja classe média ou povão”.

A quinta sinfonia de Gustav Mahler bem expressa a turbulenta alma de um artista. Tudo nela fala dos paradoxos emocionais de Mahler e da ...

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A quinta sinfonia de Gustav Mahler bem expressa a turbulenta alma de um artista. Tudo nela fala dos paradoxos emocionais de Mahler e da maioria de nós, os que fazemos da arte o nosso pão e o nosso refúgio.

Mahler escreveu sua quinta sinfonia durante os verões de 1901 e 1902. Em fevereiro de 1901, ele havia sofrido uma grande hemorragia que quase lhe custou a vida. O compositor passou um longo tempo se recuperando em sua vila à beira de um lago no sul da Áustria.

Quando pensei em você, lhe conhecendo tão pouco, imaginei a quantidade de pessoas que compunha a sua soma. Nós nunca somos um só, um todo...

Quando pensei em você, lhe conhecendo tão pouco, imaginei a quantidade de pessoas que compunha a sua soma.

Nós nunca somos um só, um todo, algo bem definido. E te vi uma multiplicidade de eventos, de acontecimentos que a moldaram e assim sendo distante de algo monolítico, coeso, apesar de sua rica e inegável inteligência, o que portanto, estaria mais próxima de ser você.

Sou dos maiores defensores das edições anotadas. Livros, os importantes, sobretudo, devem merecer notas de comentadores, que sirvam ao lei...

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Sou dos maiores defensores das edições anotadas. Livros, os importantes, sobretudo, devem merecer notas de comentadores, que sirvam ao leitor e ao estudioso. Tenho visto, contudo, muitas edições anotadas que parecem não conhecer o sentido do que devem esclarecer, relegando o que deve ser a essência das notas: uma mão dupla, em que o esclarecimento do termo ou da expressão teria um movimento externo, em direção ao leitor, e a sua contextualização, num movimento que a leva de volta para dentro do texto. Infelizmente, nem sempre funciona dessa maneira. Em muitos dos casos, há um movimento único, de explicação do termo, esquecendo da importância que é o retorno da nota ao texto. Constato, além disso, que nem sempre há um critério que norteie a necessidade das notas.