Revisando notas e arquivos recolhidos a escaninhos de memória e outros repositórios, vez por outra encontro registros como este, que lança...

poeta caixa dagua manoel jose lima
Revisando notas e arquivos recolhidos a escaninhos de memória e outros repositórios, vez por outra encontro registros como este, que lançados, por razões diversas, no baú de esquecimentos, foram submetidas a uma hibernação da qual refluem em momentos impensados, como o que me trouxe, agora, esta recordação.

A quebra da Bolsa de 1929 fez a América mergulhar em recessão seguida de depressão, pela qual viu o capital das empresas derreter-se rapid...

economia capitalismo comunismo keynes roosevelt fmi banco mundial
A quebra da Bolsa de 1929 fez a América mergulhar em recessão seguida de depressão, pela qual viu o capital das empresas derreter-se rapidamente; o dólar se volatilizar ao extremo sem que tivesse como, nem a quem recorrer diante da abissal situação em que fora jogado pela roleta especulativa do mercado acionário. Em um dado momento da crise, a título de consultoria, o então presidente Roosevelt resolvera receber o jovem economista inglês John Maynard Keynes, recomendado como um novo talento da academia, criador de uma nova terceira via econômica. Tratava-se essa via de uma linha intermediária que, se por um lado não se curvava integralmente ao marxismo,

É assim mesmo, para certas situações não há explicação. Por mais que tenhamos razão, de nada adiantará nossas justificativas, pois as evi...

traicao mulherengo conto anedota
É assim mesmo, para certas situações não há explicação. Por mais que tenhamos razão, de nada adiantará nossas justificativas, pois as evidências estão contra nós, muito embora a verdade possa estar do nosso lado. Como no ‘causo’ que vou contar. Antes devo esclarecer que o enredo não é da minha lavra. Ouvi a trama nessas conversas com meus amigos de mesa e de copo. Aqui só dei, ao meu modo, uma temperada no mexerico que escutei dessa gente que anda encangada comigo pelos botequins da vida. Vou contar.

I Pra resolver um problema de pele, nos anos 70, saí da agência centro do BB em João Pessoa, onde trabalhava, e subi a Rodrigues de Aqui...

flavio tavares artes plasticas paraibanas
I

Pra resolver um problema de pele, nos anos 70, saí da agência centro do BB em João Pessoa, onde trabalhava, e subi a Rodrigues de Aquino, direto ao consultório do Dr. Arnaldo Tavares, que – depois – soube ser pai do artista plástico Flávio Tavares. Parei no início do longo corredor da casa antiga, deslumbrado com o mundo de livros que cobriam as paredes até o teto! Por volta de 2007, quando fui descrever a biblioteca do protagonista de meu romance Relato de Prócula, que seria no sítio Mundo Novo, em Pombal, de meu colega de elenco d’O Salário da Morte, Horácio de Freitas, juntei as duas lembranças e descrevi:

Tem um banquinho aqui no sítio chamado Banco da Contemplação. Fica de frente para um vale e no horizonte a gente avista o mar. Nesse momen...

paisagem serrana animais plantas natureza
Tem um banquinho aqui no sítio chamado Banco da Contemplação. Fica de frente para um vale e no horizonte a gente avista o mar. Nesse momento, olhando para o sul, vejo o céu levemente alaranjado, mas ao norte ele está azul e as silhuetas dos montes contrastam com as últimas luzes do dia. Depois vem o Atlântico, o horizonte e uma linha separando os azuis do céu e do mar.

Revi, há pouco, na TV Cultura, o filme de Sergio Rezende sobre a saga de Zuzu Angel, a estilista brasileira assassinada durante o governo...

ditadura zuzu stuart angel
Revi, há pouco, na TV Cultura, o filme de Sergio Rezende sobre a saga de Zuzu Angel, a estilista brasileira assassinada durante o governo militar, a quem incomodava por suas denúncias e pela insistência na cobrança do corpo do filho, Stuart Angel, para o devido e decente sepultamento. Estudante de economia e militante político, o moço morrera em sessão de tortura, numa Base Militar do Rio de Janeiro.

Salvo engano, a Parábola do Filho Pródigo está no Evangelho de Lucas. Se não me falha a memória, é o capítulo 15, versículos 11 e seguint...

amor paterno filial
Salvo engano, a Parábola do Filho Pródigo está no Evangelho de Lucas. Se não me falha a memória, é o capítulo 15, versículos 11 e seguintes. Embora sem ser religioso de carteirinha, meu pai sempre destacava essa passagem bíblica.

Nem todos ainda conseguiram engolir o slogan da Skol. O uso do masculino em “A cerveja que desce redondo” continua entrando quadrado na ca...

cerveja linguagem lingua portuguesa metafora
Nem todos ainda conseguiram engolir o slogan da Skol. O uso do masculino em “A cerveja que desce redondo” continua entrando quadrado na cachola até de estudiosos da língua. Um deles publicou há algum tempo um artigo defendendo que o adjetivo se flexione no feminino. Acha que “redondo” não se refere ao verbo “descer”, mas sim ao estado do líquido. Ele justifica seu ponto de vista com o argumento de que “a redondeza é a da cerveja que, líquida, se adapta ao recipiente que a contém e acompanha a anatomia circular da garganta”.

A partir da atual pandemia a morte parece ter se banalizado tanto, tantas têm sido as perdas recentes, por conta da covid ou não. Parece t...

saudade perdas giacomina magliano morais mazureik
A partir da atual pandemia a morte parece ter se banalizado tanto, tantas têm sido as perdas recentes, por conta da covid ou não. Parece ter a “indesejada das gentes” se instalado em nosso cotidiano como coisa corriqueira, despida do impacto que costumava acompanhá-la, pelo menos no nosso caso de ocidentais pouco educados para enfrentá-la como o fenômeno natural que é, e a despeito da milenar pregação cristã sobre a ressurreição e a vida eterna. Parece, apenas parece. Porque quando o desaparecimento de alguém próximo nos atinge, seja qual for a causa da partida, nos quedamos sem palavras – ou quase isso -, como se toda a racionalidade e todo o hábito cedessem lugar, completamente, ao puro sentimento da perda imensa.

Paraíba, 13 de fevereiro de 2022

livro rosa luizari rodrigo faour
Paraíba, 13 de fevereiro de 2022

No fim de outubro, Bernard von Bredow, um sexagenário violinista e luthier alemão, e sua filha adolescente foram vítimas de um brutal assa...

violencia desonestidade roubo instrumento musical falsificacao violino
No fim de outubro, Bernard von Bredow, um sexagenário violinista e luthier alemão, e sua filha adolescente foram vítimas de um brutal assassinato na pacata Areguá, às margens lago de Ypacaraí, no Paraguai. O crime, que chocou a comunidade musicista internacional, foi motivado pelo roubo de quatro valiosos violinos Stradivarius, de propriedade do alemão. Infelizmente, esse não foi um caso isolado e o episódio se soma a outros roubos famosos, como os dos Stradivarius Totenberg-Ames, Lipinski, Oistrakh, Karpilowsky, Colossus,

Era uma vez um homem, com longa experiência em prestação de serviços ao seu país, que iria responder a uma CPI por, supostamente, ter come...

verdade injustica poder liberdade retratacao
Era uma vez um homem, com longa experiência em prestação de serviços ao seu país, que iria responder a uma CPI por, supostamente, ter cometido atos ilícitos e participado de uma organização criminosa, que, segundo os denunciantes, havia causado danos ao erário público.

João Agripino foi, na segunda metade do século passado, uma das mais destacadas figuras políticas do País. Iniciou a sua vida pública em 1...

politica ditadura paraiba comunismo
João Agripino foi, na segunda metade do século passado, uma das mais destacadas figuras políticas do País. Iniciou a sua vida pública em 1945, quando da redemocratização do Brasil após a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, sendo eleito deputado federal à Assembleia Nacional Constituinte pela recém-fundada União Democrática Nacional – UDN. Foi, seguidamente, reeleito deputado federal em três legislaturas. Durante esse período na Câmara, Agripino integrou um grupo de parlamentares da UDN que ficou conhecido como “A Banda de Música da UDN” e que fustigou na tribuna da Casa, incansavelmente, os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Compunham a “Banda de Música da UDN”, além de João Agripino, respeitados juristas e oradores, entre outros, Afonso Arinos,

Nunca tive muita frescura com comida. Não tenho preferências. Comida para mim sempre foi um detalhe necessário. Tem que comer e pronto. Nu...

comidas cultura gastronomia nordestina vegano coalhada
Nunca tive muita frescura com comida. Não tenho preferências. Comida para mim sempre foi um detalhe necessário. Tem que comer e pronto. Num determinado período da vida, radicalizei. Virei macrobiótico. O problema era a pouca popularidade dessa dieta naquele tempo. Início dos anos oitenta em Porto Alegre. Eu caminhava para uma vida refinada, de maiores cuidados comigo mesmo. Almoçava na Associação Macrobiótica de Porto Alegre e seguia para a Discoteca Pública Natho Hen, ouvir quase sempre o mesmo disco: Oito Sonatas para Flauta e Cravo, de J. S. Bach.

      o lápis o lápis é um caniço pensante na maré vazante da linguagem

poesia paraibana sergio castro pinto
 
 
 
o lápis
o lápis é um caniço pensante na maré vazante da linguagem

Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cu...

arquiteto mario glauco di lascio arquitetura paraibana
Está aí um homem que encerra o curso dos seus dias sem nos sugerir a ideia de morte e sim a de completude. Viveu até onde lhe foi dado cultivar serenamente sua visão de mundo e entrar com o acréscimo do talento, do novo e do exemplo na formação de outros mários e na melhoria urbana da sua cidade.

Herdou a missão de um renovador da cidade da qual se fez natural, o arquiteto dos arquitetos Hermenegildo Di Lascio, e acrescentou a esse legado a parte que lhe coube, a do menino de Tambiá, cercado de belos frontais, de um casario identificado com a vaidade em voga, a arquitetura que o próprio Mário veio chamar depois de “arquitetura de almanaque”. A casa paterna era um modelo e ao mesmo tempo um display da arquitetura em voga.

Em Homero não há gregos. A única vez que o termo aparece, na Ilíada , é no Canto II, quando da referência às naus e aos heróis comandados ...

mitologia iliada gravuras zeus agamemnon
Em Homero não há gregos. A única vez que o termo aparece, na Ilíada, é no Canto II, quando da referência às naus e aos heróis comandados por Aquiles. Eles são os Mirmidões, tanto chamados de Helenos quanto de Acaios (Μυρμιδόνες δὲ καλεῦντο καὶ Ἕλληνες καὶ Ἀχαιοί, verso 684). Não existem gregos, porque não existe uma Hélade (Ἑλλάδα, verso 683), senão, como uma das terras, além da Ftia, pertencente aos Mirmidões. Existem cidades-estados, cujo rei (βασιλεύς) pode ou não se aliar a um grande senhor (ἄναξ), num exército de coalizão. O termo Ἕλληνες, portanto, não rivaliza com aqueles patronímicos escolhidos para designar os heróis provenientes de várias regiões –

A vida é mesmo um quebra-cabeça, como aqueles da infância. Cheio de pedacinhos que a gente vai montando com o tempo, com as lembranças, co...

A vida é mesmo um quebra-cabeça, como aqueles da infância. Cheio de pedacinhos que a gente vai montando com o tempo, com as lembranças, com os fatos. Mas não é um quebra-cabeça estático, que quando se completa, a gente exclama satisfeito: “consegui!”

As caixas das lembranças perdidas no ar reabertas, as figurinhas coladas nas páginas do álbum reavivado, os jornais com o seu nome assinan...

recodacao reminiscencias nostalgia lembrancas passado
As caixas das lembranças perdidas no ar reabertas, as figurinhas coladas nas páginas do álbum reavivado, os jornais com o seu nome assinando alguma matéria esquecida e desimportante pelo tempo que já ocorreu e que ganha novo valor. É quase como uma ficha dos antigos orelhões a fazer uma ligação sensorial com o cheiro de uma flor que se joga através dos galhos pelo muro de um residência agora super vigiada por câmeras e cercas eletrificadas, com o cheiro do mar no inverno ou da batida da água da chuva na terra quente e seca.

Saudade dos velhos gibis. A propósito, o termo, sinônimo de moleque, advém do nome dado à publicação lançada em 1939 pelo dono do Jornal “...

nostagia quadrinhos gibi brucutu
Saudade dos velhos gibis. A propósito, o termo, sinônimo de moleque, advém do nome dado à publicação lançada em 1939 pelo dono do Jornal “O Globo”, Roberto Marinho, em competição com Adolfo Alzen, fundador da Ebal, a editora que dois anos antes havia posto na praça a revista Mirim.

Mário de Andrade visita o Sertão (para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem...

Mário de Andrade visita o Sertão
(para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem traga o cigarro o homem traga o insulto ao burguês o homem permanece sentado sem insultar o burguês (o copo na mão, o livro no chão o violão na outra, mário de andrade no chão) um garoto pedala sua bicicleta rumo ao futuro o garoto vai ser emboscado e não encontrará mário de andrade

Meu colega escritor Ariano Suassuna uma vez contou que em seu tempo de estudante existiam apenas 3 opções de cursos universitários. Quem g...

advocacia ariano suasssuna vocacao
Meu colega escritor Ariano Suassuna uma vez contou que em seu tempo de estudante existiam apenas 3 opções de cursos universitários. Quem gostava de abrir barriga de lagartixa ia estudar medicina. Os bons em matemática seguiam o curso de engenharia. Os que sobravam estudavam direito. No caso dele deu num péssimo advogado. Seu primeiro emprego foi no mais renomado escritório de advocacia de Recife, do Dr. Murilo Guimarães.

Ao ler a crônica do jornalista Petrônio Souto sobre o Cabo Branco — no Ambiente de Leitura Carlos Romero — e a degradação da enseada, me ...

praias paraiba nostalgia pandemia
Ao ler a crônica do jornalista Petrônio Souto sobre o Cabo Branco — no Ambiente de Leitura Carlos Romero — e a degradação da enseada, me bateu uma tristeza! Morei por dez anos à beira mar naquela praia, nos anos 70, e reafirmo que era um paraíso de beleza. Depois vim morar no Bessa e, desde 1984 (isso mesmo: a data de George Orwell e a distopia do mundo) que habito por entre cajueiros de conta e que se perderam na invasão dos prédios des-ordenados, dos pombos e das sujeiras de que fala Petrônio. Assim também assisti, incrédula, à deterioração dos paraísos que tive a sorte de conhecer no início dos anos 80: Pipa (RN), Praia do Francês (AL) e Canoa Quebrada (CE).

Seu Elias foi realmente um caso preocupante, como mostrou a sua evolução. Nasceu portador de uma síndrome pouco conhecida: Agenesia de Anj...

Seu Elias foi realmente um caso preocupante, como mostrou a sua evolução. Nasceu portador de uma síndrome pouco conhecida: Agenesia de Anjo da Guarda.

Pois é, Seu Elias nasceu desprovido daquela entidade mítica tão importante para as crianças, aquele que, distante da mãe, não deixa que o menino entre em situações de risco: banho de mar brabo, de açude ou de rio, pular muro para roubar goiabas, pegar “morcego” em ônibus ou caminhonetas, aperrear o doido da cidade. Ou se o menino entrar em frias, livrá-lo delas.