Quanta presunção! De repente, o pai inventa de fazer uma espécie de “decálogo” para as quatro filhas. Os pais deveriam compreender que têm...
Coisa de pai
Ao concluir a leitura do livro “⅙ de laranjas mecânicas, bananas de dinamite”, do poeta, dramturgo e artista plástico Waldemar José Solha...
A essência do belo
É um livro solto e gostoso de ler. O autor não deixa dúvidas de que leu e conhece bem os clássicos, a exemplo de Camões, Virgílio, Goethe, e que está por dentro de música, cinema, filosofia, teatro, arquitetura, literatura, e consegue trazer a história da humanidade para os dias atuais, unificando-a em um poema.
Waldemar José Solha está de parabéns, não apenas por este seu último livro, mas sobretudo porque é um homem sensível, que transpira cultura. A Paraíba há de reverenciá-lo sempre, pois ele realmente é uma enciclopédia de carne e osso.
Não tenho o dom da escrita. Se tivesse, eu escreveria um ensaio sobre ele. Entretanto, considero que quaisquer palavras limitariam o que eu teria a dizer sobre este livro-poema.
Quando menciono a certeza de que ele leu Virgílio, Camões (ah, os "mares nunca dantes navegados", é porque, através dos versos, o leitor atento sente que há grandes obras por trás de seu texto. Obras dos clássicos que, em torno delas, ele traça inteligentes paralelos com rimas leves, objetivas, simplificando-as em um magnífico “bolo literário”. Coisa de quem sabe mesmo do que está falando.
Nas artes plásticas, assunto que domina, é que ele dá um banho de cultura e sensibilidade, passeando dos jardins de Manet (Le Déjeuner sur l'herbe), à fotografia de Margaret Bourke-White e à arquitetura de Dubai, e, quando se refere, por exemplo, de maneira lúdica, à "transparência dos tecidos" na Vitória de Samotrácia.
Adorei a leitura deste livro que é a essência do belo. Como gostei de lê-lo! Enfim, como Solha costuma dizer ao elogiar quem merece, desta vez é a Paraíba toda que deve “tirar o chapelão e arrastar suas plumas pelo chão”, em reverência ao escritor que nos brinda com mais um de seus notáveis trabalhos.
Parabéns, Solha! Você transpira erudição.
A História tem ética e estética, poética frenética da Bíblia , Ilíada, do itálico De Bello Gallico , d´ Os Sertões , Camões ...
A História
A Paraíba, que tem uma considerável tradição literária, quando se trata de ficção narrativa, ganha novo destaque nacional, através da roma...
Aglaia, impenetrável solidão
Duas de suas coletâneas, A Menina de Cipango e Os Campos Noturnos do Coração receberam, respectivamente, o Prêmio José Vieira de Melo, da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, e o Prêmio Novos Autores, da UFPB.
Ao estrear no romance, com Suíte de Silêncios, Marília já trazia a marca do estilo, traço inconfundível de sua identidade narrativa.
Quero repetir e reiterar, agora, o entusiasmo de minha saudação a seu primeiro romance:
Despertando silêncios abismais com a música das palavras, a romancista recupera para o grande amor sua verdade essencial, que transcende as convenções e aparências para encontrar, na inteireza e na densidade de ser, a sua eternidade. Um romance ousado e verdadeiro, que veio para ficar na história.
Em 2016, Marilia encanta outra vez seus leitores, com Liturgia do Fim. Um romance de suprema dor, a vida transfigurada num afogar-se, num morrer interminável. A palavra, em absoluto poder de criação, a palavra exata em cada filigrana que desvela e reconstitui a existência de Inácio, devastada pelo ressentimento, pela culpa e pela solidão.
O tempo do romance corresponde à volta de Inácio que, desterrado, sentira-se por todos os anos “em lugar nenhum”. Esse retorno patético de um “estrangeiro”, que deixa o vazio em busca de Perdição, constitui o eixo condutor da narrativa. Na partida para a obscura viagem é que o leitor vai encontrar o protagonista narrador, seguindo sem saber por qual razão, expurgando a cruz das palavras “desde sempre represadas” e, há mais de três décadas, “amoladas na pedra da memória”. Palavras-lâminas que, do tempo estilhaçado, vão recortando os silêncios, escavando as lacunas, revolvendo os mistérios, exumando os segredos, retalhando a dor. Um modo de narrar que qualifica e consagra a romancista. Ela escolhe Inácio na situação-limite que se equipara à última estação de uma “via crucis”, para tingir as palavras com todos os tons e matizes da agonia.
Quando Marília terminou O Pássaro Secreto, seu terceiro romance, e me segredou a intenção de concorrer à 5º edição do Prêmio Kindle, 2021, eu lhe respondi que, se o julgamento fosse sério, ela teria condição de vencer. E fiz questão de justificar essa previsão, lembrando-lhe as qualidades raras que se acumulam, em sua experiência criadora.
As revências que alimentam seu imaginário; o poder de conduzir seus temas e personagens, tecendo a verdade ficcional com sutileza e ousadia; além disso, a capacidade poética de lidar com a palavra, impregnando sua construção romanesca de um lirismo pungente e libertário.
Marília concorreu com 2.400 (dois mil e quatrocentos) candidatos inscritos. E O Pássaro Secreto, julgado por jornalistas, escritores e editores de indiscutível competência, trouxe para o Nordeste, numa conquista pioneira, o Prêmio Kindle de Literatura. Nossa romancista enche de orgulho a Paraíba e o Brasil.
O Pássaro Secreto é um romance de dor e dilaceramento. O conflito central se estrutura a partir de traços de personalidade da jovem protagonista, incapaz de suportar o acúmulo de perdas impostas pela vida. Depois de alguns desatinos, resta-lhe uma sobrevida de solidão, sem nenhuma esperança.
Os recursos de expressão, tecidos pela precisão da linguagem pela inventividade do processo narrativo, sedimentam a unidade inseparável entre forma e conteúdo, que prendem e encantam o leitor.
Aglaia é a narradora de sua história de amor e desatino. Amor “azul-escuro, quase preto, o amor feroz”, conforme verbaliza em síntese conclusiva.
Revela-se a grande competência da romancista nessa escolha de dar voz a uma subjetividade desafiadora, extremamente complexa, que nem os psiquiatras fizeram aflorar em longos anos de consultório e indagações. O perfil dessa protagonista-narradora reforça um traço do romance de Marília que já se pode considerar característico. De fugir ao convencional e ao estabelecido para desvelar e reconfigurar expressões subjetivas silenciadas, ou até banidas, pelo preconceito estratificado e dominante, no jogo de aparência das relações sociais.
Foi assim com Duína, em sua carta-testamento. Com Inácio, que se consome bem mais pela culpa de ter abandonado Ifigênia, e não, de ter amado. E, agora, com Aglaia, que os irmãos e Dermian classificaram de anormal, aprendiz de marginal e monstro. Rótulos traduzidos e sintetizados por Dr. Xisto, no internato da Clínica, através da impactante expressão, “perturbações psicossomáticas”. Duas palavras que, elucidadas, levaram a personagem a exclamar:
Aglaia, inteligente, perspicaz, culta, sensível, capaz de enxergar com olhar crítico as reações a seu respeito, incluindo os procedimentos médicos; e, com suficiente lucidez, para refletir sobre a tragédia da própria existência. “A vida me empurrou para a escuridão ou eu nasci com a escuridão dentro de mim?”
Essa é a “persona” a quem Marília, concedendo voz, propicia a catarse, que expurga a culpa, e conduz à redenção, inscrita nas palavras finais do romance. “Ainda estou aqui. Sou uma Fênix. Ardi no fogo e ressurgi na pureza das minhas próprias cinzas”.
Aglaia se universaliza como representação metafórica da condição humana, no enfrentamento da suprema dor de existir em impenetrável solidão Chama a atenção do leitor, a forma como se apresentam os capítulos do romance, à primeira vista, diferenciados pela característica dos tipos gráficos em que estão impressos.
Os ímpares se destacam, no itálico, e fazem pensar em anotações de um diário íntimo que se integrassem à narrativa. Neles, o tom é de monólogo interior, de fluxo da consciência. Uma forma de narrar que se impõe pela natureza do conteúdo e, nessa escolha, a romanista exerce toda sua habilidade criadora.
O espaço desses capítulos é o hospital, para onde Aglaia foi socorrida, depois de violentada pelo “garoto de olhos de fogo”. Aglaia, “uma ferida aberta”.
Metáfora retomada e ampliada no fecho do capitulo 13, como reflexão consciente da protagonista. “Feridas abertas não falam. Feridas abertas sagram”.
Estabelecendo as conexões, o leitor é levado a perceber que este sangrar escorre, lentamente, na sensação de morte que traz, para Aglaia, o mundo dissolvido em borrões; no pesadelo que a faz despertar e estremecer, ante a realidade das recentes lembranças; na escuridão em que desaba a personagem, açoitada pela dor e pelo frio; na silenciosa resposta das lágrimas; no desengano das conclusões sobre o amor; na mágoa, sem remédio, de recordar “a vida que ficou para trás”.
Um modo de narrar que transcende a técnica ou o processo narrativo e se converte em sentido. A linguagem romanesca, incluindo recursos poéticos de elaboração. O romance de Marília é assim. Instigante. Em cada aspecto observado, um desafio de leitura. Por isso, termino essa apresentação com uma proposta.
Como seria, traduzir a simbologia dessa Coisa inventada por Marília? Coisa-Pássaro que deu título a seu romance premiado. Elemento fantástico da narrativa, com o qual ela reconstitui a sensação de morte que toma conta de Aglaia, após o estupro. Cena antológica que passarei a ler, com orgulho e encantamento:
A esperança é um sentimento que transcende o ser humano, e também se manifesta entre os animais. É a sensação de possível realização de qu...
Juízo Final
É um nobre sentimento. Está representado em todas as culturas, sob a forma de estátuas, quadros, ícones. É tão nobre que se tornou antropônimo dado a muitas das nossas meninas ao nascerem.
Aos doze, treze anos, vive-se alheio à celeridade com que a mão invisível do tempo arranca folhinhas de calendário e as lança para longe. ...
Nefertiti
E eis aqui uma delas: outra vez é sábado. A hora é próxima ao meio-dia, e a Pick-Up Rural freia rente à calçada. Pela porta da frente quem desce é Dondonzinha Dantas. O motorista abre então uma porta mais recuada e por ela sai uma menina que irá servir de companhia à idosa senhora. Pelo outro lado do carro, desce outra mulher, na casa dos 30 anos. São mulheres Dantas. Gente rica.
Euclides da Cunha não faz concessões. Ele é erudito e quem quiser se esforce e se desdobre para acompanhá-lo. Não adiante reclamar. Estamo...
Euclides da Cunha, culto e erudito
Nossa escola não tem preparado nossos alunos nem para a leitura culta. Para a leitura erudita menos ainda, diante do esforço incomum que a erudição exige. Há, com certeza, autores mais difíceis de se ler do que outros e, diga-se de passagem, aí não reside qualquer juízo de valor. Há autores intragáveis, mesmo sendo fáceis de ler; há autores de leitura prazerosa, mesmo diante da dificuldade de seus textos, como o provam Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.
O entrave para a leitura desses dois escritores está não na falta de hábito de leitura, mas na falta do hábito de ler, reler e procurar enfiar-se nos meandros de sua escrita. São autores difíceis, não são insípidos. Eles têm o que dar ao leitor que busca mergulhar no universo da sua escrita densa. Como se diz comumente, eles têm sustança. Sim, são substancialmente significativos e para que cheguemos à sua significação, temos de nos aprofundar nos seus textos e tentar ver com mais clareza o que existe por trás de uma forma linguística, que parece nos repelir. Insistamos e ela nos atrairá, como o passarinho hipnotizado pela cobra. No entanto, quem está disposto a fazer leitura e, sobretudo, releituras de obras como Grande sertão: veredas e Os sertões? São as releituras que nos permitem passar a couraça da erudição e mergulhar na grandeza do texto.
Com relação a Euclides da Cunha, os termos eruditos se sucedem na sua escrita, com muitos termos latinos; outras referências eruditas são incontáveis tanto do ponto de vista científico, quanto do puramente literário. A guerra de Canudos, por exemplo, é sempre comparada a alguma guerra mítica ou real, em que se faz referência a lutas contra o elemento exógeno, como a guerra de Troia – lembremos que Canudos é uma “Troia de taipa dos jagunços” (“O Homem”, Capítulo II, p. 144) –, ou a lutas fratricidas, como a mítica luta entre os irmãos Polínices e Etéocles, em Tebas, daí a referência à Tebaida de Estácio, ou ainda à Vendeia, resistência monárquica e católica contra a Revolução Francesa, em 1793 (isto será assunto mais detalhado de outro ensaio), magistralmente ficcionada por Victor Hugo, no romance Quatre-vingt-treize (93) – “E Canudos era a Vendeia...” (“O Homem”, Capítulo V, p. 247), depois repetido em “A Luta”, Parte I – Preliminares, Capítulo V, p. 290 (Fizemos questão de colocar as citações de modo mais preciso, para os leitores que não tenham a mesma edição que a nossa. Todas as citações são da edição estabelecida por Andre Bittencourt – São Paulo, Penguin Classics Companhia das Letras, 2019).
O sertão, por sua vez, além de impérvio e terra ignota, nunca tem um perfil ou uma face, mas um facies, termo latino recorrente no texto; os cumes das montanhas e das escarpas são fastígios; os acontecimentos são subitâneos; as copas das árvores, os ramos e a vegetação raramente são verdes, mas virentes; os areais são exsicados; as águas ganglionadas; a flora decídua; o sertão adusto; os ciclos adurentes. Quando o traçado geográfico das serras separa o Vaza-Barris e o Itapicuru, dá-se o divortium aquarum; o sertão é desertus australis, por sua posição ao sul do hemisfério, e a sua flora extravagante é silva horrida; as areias são incedidas; os minúsculos ciclones que atingem o sertão exacerbam a sensação do calor, sentindo-se, então, “maior a exsicação do ambiente adusto”; o verão traz sempre um paroxismo estival; as ares são urentes; os cajueiros anões são chamados pelo seu nome científico de Anacardium humile; o sertão é uma selva desfolhada pelo fogo, mas o escritor prefere dizê-la silva aestu aphylla; os estios são flamívomos... E nós só nos ativemos, de um modo aleatório e não exaustivo, ao léxico mais evidente das 50 páginas que enfeixam a primeira parte, “A Terra”. Há mais 600 pela frente...
Os soldados doentes e feridos, na retirada da quarta expedição, “aguilhoados pela sede” buscam água “desarraigando tubérculos de umbuzeiros, sugando os cladódios túmidos dos cardos epinescentes” (“A Luta”, Parte IV – Quarta Expedição, Capítulo VI, p. 517). Imagine-se a dificuldade de uma frase destas ampliada num parágrafo ou multiplicada por milhares de vezes, ao longo da narrativa. É preciso mais do que hábito de leitura ou o conhecimento da língua culta, para cativar o leitor.
A quem conhece a Ilíada nos seus detalhes, pois as releituras ajudam a fixação na memória e ampliam o horizonte de expectativa, não é difícil de reconhecer nos textos abaixo, a saga de Aquiles retornando à guerra, no Canto XIX, e fazendo das águas do Simoente, um dos rios que banha Troia, um curso vermelho e impedido de desaguar no Egeu, pelo sangue e pelos corpos dos troianos por ele mortos (Canto XXI), o que leva o rio a recriminar o herói e, depois, levantar-se contra ele, querendo afogá-lo (versos 211-221; 240 e ss.):
Se alguém acha que é só coincidência, dê uma olhada no Catálogo dos Jagunços (“O Homem”, Capítulo V, p. 242-244), baseado no Catálogo dos Heróis e das Naus, do Canto II da Ilíada. Ideia que será retomada também por Guimarães Rosa, em Grande sertão: veredas.
Como entender o epíteto e genial oxímoro a definir o sertanejo, como “Hércules-Quasímodo” (“O Homem”, Capítulo III, p. 157)? Por que o fracasso da terceira expedição equipara “os batalhões de Moreira César” às “legiões de Varo” (“A Luta”, Parte IV – Quarta Expedição, Capítulo I, p. 408)? O que faz de Canudos, “uma tapera miserável, fora dos nossos mapas, perdida no deserto, aparecendo, indecifrável, como uma página truncadas e sem-número das nossas tradições” (idem, p. 404), ser uma “Capua invertida” (idem, Capítulo II, p. 415) ou um “Coliseu monstruoso” (idem, Capítulo III, p. 449)? Qual a explicação para a imagem de um exército faminto, a se contentar com “oito a dez cabeças” de gado por dia, “paliativo insuficiente ao Minotauro de 6 mil estômagos” (idem, Capítulo IV, p. 475)? O que dizer do plano ortodoxo do general Artur Oscar, comandante da quarta expedição, de não recuar e ganhar a guerra “desse por onde desse”, e a sua relação com um fato da história romana, apenas modificado ligeiramente:
Por que a insistência nos meandros do Vaza-Barris (“A Luta”, Parte IV – Quarta Expedição, Capítulo III, p. 450; Capítulo V, p. 493)?
Imagine-se o que é parar a leitura e buscar compreender minudentemente o que se encontra no texto. Quanto horas dedicadas a este labor, que alongaria a leitura e a tornaria mais pesada! Paradoxalmente, são as horas dedicadas à compreensão de um texto erudito, como este de Euclides da Cunha, que nos darão o prazer de sua leitura, porque vamos aprendendo aos poucos a refinar o paladar e a degustar cada palavra, cada expressão, cada frase, reverberando em nossa recepção, a ponto de não mais a sentirmos como uma couraça impenetrável. Não é suficiente saber ler, é necessário aprender a ler com paciência e persistência, buscar os significados escoimados do vulgo da linguagem – atenção! vulgo aqui com o significado erudito do latim, assim como Dante usou na sua De Vulgari Eloquentia –, e apreender seus sentidos mais nobres, catapultando a compreensão da língua.
Este exercício é essencial para que possamos fruir passagens belíssimas, como aquela em que “as primeiras bátegas” das chuvas de inverno, não chegam a tocar a terra seca e adusta, evaporando-se, mas a persistência e a frequência com que caem concentram-na “tumultuariamente em ribeirões correntosos”, que se adensam “em rios barrentos”, arrancando na força da correnteza “os esgalhos das árvores”, que rolam “no mesmo caos de águas revoltas e escuras” (“A Terra”, Capítulo IV, p. 78-79). Por sinal, excelente metáfora, para a aquisição do hábito da leitura pela persistência.
Em meio a uma narrativa desafiadora, há inúmeros encantos aguardando o leitor que se dispõe a enfrentá-la. O trecho a seguir é uma página digna de uma antologia – difícil é dizer que página não é... –, pela riqueza de sua construção estilística:
No texto, se mesclam a ironia, o símile, a metonímia, antecipadora da morte, ao mesmo tempo que revela o paradoxo entre vida e morte, de uma flora assustadora, que ressurge dos trapos dos soldados mortos... É na persistência da leitura e na busca de suas significações em segundo grau que passaremos a fruir por completo textos como o da ação maléfica do homem sobre a terra, de que desponta uma das marcas da estilística de Euclides da Cunha, a gradação:
Sem a ajuda da erudição não é possível ler Euclides da Cunha, como é impossível ler Guimarães Rosa ou Augusto dos Anjos. Ou todos podem ser lidos na sua horizontalidade, mas o resultado será, inevitavelmente, a inania verba, o lugar-comum dos clichês que parecem dizer algo inteligente. Só parecem.
Poucas coisas são mais irritantes que estar preso num grande engarrafamento, mas pode ser muito pior se o tempo de viagem estiver rigor...
Que vexame!
Sexta feira, 18h45, velocidade da via: um quilômetro por hora. E eu ali, totalmente cercado por carros, caminhões, buzinas, fumaças e roncos de motores.
Esse "causo" aconteceu no século passado. Em uma pequena cidade do alto sertão paraibano, a chuva era escassa quase o ano todo, ...
Uma chuva de gelo e o mundo quase acabou...
Mas houve um ano em que não choveu nem uma gota. Já entrava no segundo ano, quando o céu escureceu no meio da tarde, parecia o fim do mundo, de um lado o sol escaldante, e do outro o céu escuro, escuro, armando um temporal. Todos assustados correram para suas casas esperando saber o que ia acontecer. De repente, começou a soprar um vento. Foi uma ventania tão forte que levantou uma revoada de poeira, troços, galhos, até panela e tabuleiros voaram pelas ruas, e, quando começou a chover, não era água, eram pedras de gelo. Faziam um barulho que parecia uma panela de pipoca gigante. Árvores caídas, não ficou nada no lugar. Foi um corre-corre só, uns para debaixo das camas, outros para dentro dos guarda-roupas pensando que o fim do mundo tinha chegado mesmo. Era um tal de rezar e pedir perdão dos pecados, muitos começaram a correr para a igreja matriz e confessar os seus erros, mesmo que não houvesse padre algum para ouvir, que foi o primeiro a se esconder na sacristia. Confissões jogadas ao vento, um desespero. Quem tinha ouvidos, ouviu. Quando a chuva de gelo parou, começaram a juntar os troços, refazer os telhados, juntar os cacos.
No dia seguinte, muitos andavam desconfiados, principalmente os que confessaram seus pecados alto, famílias quase desfeitas, outros contavam vantagem dizendo que foram arrastados pelo vento tantos quilômetros; uns diziam que chegaram até a voar, histórias de todo tipo, muito marido arrependido por ter confessado seus pecados, amizades desfeitas e amores descobertos, o verdadeiro fim do mundo, pelo menos para eles.
Quando os ventos foram acalmando, o coronel falou:
- Arreie as calças!
Tião assustadíssimo:
- Valei-me Nossa Senhora, agora lascou mesmo, o coronel valente vai fazer o que comigo???
Com um medo danado, apertado como estava, fez xixi nas calças. O coronel, quando viu:
- Deixe de ser frouxo homem, quero é trocar de calça com você, tá me estranhando? A minha está toda borrada e eu não vou sair assim, vão acabar comigo.
- Mas coronel, a minha está mijada.
- É melhor do que cagada, cabra frouxo!
E saiu com sua valentia, vestido nas calças de Tião. Mas antes se certificou se Tião tinha mesmo vestido as dele, toda borrada. E nem procurou as moletas do pobre Tião...
A história pode parecer engraçada, mas retrata como a nossa cultura foi construída, calcada numa força criada no imaginário popular, na exploração e submissão de pessoas, nos falsos poderes que expropriam do povo as necessidades mais primárias. Gostaria nunca tivesse existido situações assim, mas se não foi essa, podem acreditar, que muitas semelhantes ou até piores, aconteceram e ainda acontecem nesse país, em especial na “ladeira abaixo” que estamos vivendo, com a miséria estampada nas ruas diariamente. É só observar os homens e mulheres de hoje, com seus carrões, jogando migalhas nos sinais de trânsitos, “limpando suas consciências com bondades” às custas da pobreza alheia, sem abrir mão de privilégios, como se fossem merecedores. Sabemos que não o são.
Será que um dia trocaremos privilégios por igualdades de direitos? Será que ainda cabe sonhar com um país com oportunidades para todas as pessoas? Fica a reflexão!
Gosto da brutalidade do solo onde piso, do cheiro do verde e da palavra. O solo me transmite a sensação de terra firme. Nela, aprecio a su...
Tudo em terra firme
Entre tantas ideias sobre a O.A.B., sempre pensei que o Presidente nacional da Ordem deveria ser eleito diretamente por todos os Advogad...
Eleição na OAB
Todos que militam sabem que uma audiência para ouvir testemunhas é um dos atos mais desnecessários que um Juiz pode praticar. No entanto perde-se muito tempo e o mais das vezes não há qualquer contribuição para o processo. Primeiramente porque se uma parte indica uma testemunha é de se esperar que, mesmo não mentindo, essa testemunha nada diga de esclarecedor que possa prejudicar quem o convidou a depor. Já se disse que a testemunha é a prostituta das provas. Mas o que nenhum político até hoje enxergou na feitura das leis que cuidam dos processos judiciais é que normalmente as duas partes em litígio têm seus advogados, pois não?
Inaugurado a 30 de março de 1919, o novo edifício se constitui na grande atração da cidade. Plenamente adequado aos fins a que o esteta-Pr...
O traço do drama
Beleza a que não podia faltar, como na vida mesma, o seu contraponto de tragédia. A de Sady Castor e Ágaba, trazida à luz por Deusdedit Leitão.
Tempos difíceis neste presente, que nos conduz a revisitar o presente passado, e, se possível, mergulhar no presente futuro, como nos en...
Olhos no exílio
Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero , o poeta Luiz Augusto Crispim fez um c...
'Pequeno sertão: veredas', o recado de Crispim
Desejo partilhar com os leitores deste privilegiado espaço de divulgação das artes e de saberes, o depoimento do cronista que, mesmo ausente, sua voz chega aos ouvidos com estímulo para continuar escrevendo.
Meus amigos Germano Romero e João Batista de Brito se queixaram, quase simultaneamente, expressando o seu descontentamento a respeito da ...
O que queremos?
de meu livro HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA , ed. Bertrand Brasil, 2005. Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da UBE – ...
Os contos mais curtos da História Universal da Angústia
Viajando para São Paulo em seu próprio carro - dez minutos depois de deixar a casa de uma tia em Moji das Cruzes, numa noite chuvosa de domingo - o equilibrado Luiz Augusto Andrade Keller, 21 anos, bancário, estudante de direito, começa a sentir uma ansiedade injustificável, uma estranha sensação no estômago e que evolui para a taquicardia, o sufocamento, a sede incontrolável, o desespero. A coisa é tão forte, que ele abandona o carro e sai correndo pelo acostamento da estrada. Resgatado por amigos, submete-se a uma bateria de exames clínicos que nada revela de anormal. Mas o fenômeno o afeta muito. E passa a se repetir. Só dois anos depois da crise inicial, entretanto - quando já não consegue mais sair de casa - descobre que aquilo tem um nome: Síndrome do Pânico.
- Ele era o único orgulho que eu tinha - revela - A minha vida não é para se orgulhar - acrescenta - A minha vida é muito dura.
Deitado em seu leito de hospital, o psiquiatra canceroso Richard Faw - 71 anos - em estado terminal - tem três agulhas espetadas no braço, ligadas a três garrafas de soro contendo substâncias mortíferas. Em seu colo, a tela de matriz ativa de um laptop exibe a mensagem:
“Se você teclar o botão com o SIM, uma injeção letal o matará em 30 segundos.
Quer prosseguir?”
É o vacorado.
O vulcão Ruapehu, numa das ilhas do norte da Nova Zelândia (entre as cidades de Auckland e Wellington) já há quatro dias arremessa rochas incandescentes, lava e vapor a até 3.000 metros de altura, com ameaçadoras colunas de cinza tingindo o céu de tons catastróficos, depois caindo em forma de chuva negra sobre um terremoto de 4.9 na escala Richter. Por isso os vôos estão suspensos, as estradas fechadas, decretado estado de alerta numa área de 100 quilômetros ao redor. Mas quando o Ministro da Defesa fica sabendo que a previsão é de que a erupção pode durar meses, ordena o fim das interdições:
- Temos de aprender a conviver com isso!
A radioterapia debilita Pedro Collor, em Nova York. Quatro tumores malignos no cérebro, um coágulo no pulmão. Ele emagrece, os seus cabelos caem, sua cabeça cobre-se de feridas, o lado esquerdo do corpo paralisa-se, ele usa um fraldão para evitar que se suje.
Quando lhe contam, por telefone, que Fernando foi absolvido pelo Supremo, repete, com voz pastosa:
- Ótimo... Ótimo... Ótimo... Ótimo...
O veterano da Segunda Guerra espancava os filhos. Sua mulher era viciada em remédios pra dormir. O menino mais velho tinha surtos psicóticos, era dependente de remédios e - depois de ver que tinha passado os 50 anos de sua vida trancafiado em casa sem sexo - suicidou-se. O mais novo gostava de molestar sexualmente as mulheres nas ruas de São Francisco e - quando estava em casa - meditava numa cama de pregos. O filho do meio - Robert Crumb - foi pra França, tornou-se o desenhista guru da contracultura, famoso nos anos 60 e 70 por suas histórias em quadrinhos de traços sujos, humor corrosivo, roteiros que falavam de sexo, drogas e incesto.
Levado ao cemitério de North Lauderdale, Flórida, pelo programa “Aconteceu Assim”, da Rede Telemundo - para um depoimento diante do túmulo de sua filha que se suicidara grávida aos 15 anos - Emílio Nuñez é surpreendido pela aparição da mãe da menina - Maritza Muñoz - de quem está separado. Aos gritos, ele corre para o carro, apanha a pistola, dispara 12 tiros na ex-mulher e foge. Tudo diante da câmara da TV.
- Não tenho.
Janeiro de 1994. A maioria dos americanos acompanha o julgamento de Lorena Bobbit - a manicure equatoriana que cortara o pênis do marido - transmitido ao vivo pela CNN . A certa altura, entretanto, suspende-se a reportagem para mostrar imagens - também ao vivo - do Presidente Clinton com o chefe de governo ucraniano Leonid Kravchuk, para uma notícia importante: a terceira potência nuclear do planeta concorda em abrir mão de seu arsenal atômico. Quase 600 telespectadores ligam para a emissora, protestando contra a interrupção.
O carpinteiro espanhol Albert Contijoch - testemunha de Jeová - nega-se a prestar serviço militar no regime de Franco e é condenado a um ano de prisão, com reapresentação obrigatória no próximo período. Aí ele repete a recusa e é condenado novamente, coisa que acontece outra vez no ano seguinte, pelo que acaba amargando um total de 11 anos atrás das grades, só sendo deixado em paz quando passa para a reserva.
Bosko Brckic - sérvio - e Admira Ismic - muçulmana - vivem juntos há 9 meses, em Sarajevo - capital da Bósnia. Com a eclosão da guerra entre seus clãs, decidem fugir. São derrubados por uma rajada de balas ao cruzarem a Ponte Vrbana - entre a área sérvia e a muçulmana. Bosko morre na hora, Admira arrasta-se até ele, abraça-o, falece logo depois. Os corpos ficam ali, enlaçados, durante 6 dias.
- Se estiver com meu aparelho de surdez, eu tiro.
O estudante Roberto Peukert, 25 anos, ao ser advertido pela mãe por ouvir música em alto volume, mata-a, mata o pai, os três irmãos, enfia os corpos num automóvel, cobre-os com um cobertor e abandona o veículo a dois quilômetros de sua casa.
Na manhã seguinte, naquele mesmo lugar, seu corpo é encontrado parcialmente coberto de terra, os cabelos cortados irregularmente, marcas de gilete e de unhas nas costas, mordidas no peito, manchas roxas no rosto.
Causas da morte, segundo o laudo do exame cadavérico: “Asfixia por sufocação, lesões vulvovaginais e retais causada por um objeto de borracha, e sevícias posteriores”.
No corpo da menina e nas imediações, três tipos de espermatozóides.
1995. Cresce a chuva ácida na Europa, mesmo depois de as emissões de enxofre pelas fábricas do continente caírem 30% desde 1980. As imagens captadas pelo sistema Lidar - um radar que lê ecos de raios laser em vez de ondas de rádio - revelam: há uma gigantesca nuvem de compostos de enxofre - de 2.400 quilômetros de extensão - espalhando-se sobre o Atlântico a partir da costa dos Estados Unidos, rumo ao Velho Mundo.
Noite de domingo, 1994, num sobrado do bairro do Tatuapé, São Paulo. O bancário Anderson Suganuma, 17 anos, mostra o Taurus 38 ao amigo Antonio Carlos Alves Iaquinto, e diz: - Veja como eu costumava assustar meu primo.
Descarrega cinco balas no outro, deixando a sexta na arma, que leva à cabeça, apertando o gatilho.
Fernanda, 12 anos, está indo para a escola da Fazenda Serrinha, a 38 quilômetros de Goiânia, Goiás, quando é atacada por Vicente e João Maria - dois conhecidos da família dela. Arrastada para o matagal, é estuprada, degolada, o sangue recolhido de seu pescoço conservado durante quatro dias numa geladeira e depois bebido com farinha, azeite-de-dendê e cachaça, num ritual realizado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, comandado pelo pai-de-santo Edmilson Barbosa da Silva, para livrar João Maria da impotência sexual.
Meus amigos seguiram caminho e eu me detive apoiando-me no corrimão, tremendo de medo”
Levou dois anos para conseguir transformá-lo no quadro “O Grito”.
15 anos, moreno, franzino, cabelos encaracolados, ele aperta a campainha da casa de Paulina Biernack - de 74 - em Curitiba. Ela atende, leva alguns tiros de calibre 22 e morre.
O rapaz é preso pela qüinquagésima-sexta vez quando, sem acompanhamento musical, dança freneticamente, sozinho, numa rua da turbulenta favela do Valetão.
Daniela Teixeira, 19 anos, estudante de publicidade, assiste ao documentário “Faces da Morte I” e se encanta tanto com a cena da cadeira elétrica, que a vê três vezes. O condenado tenta livrar-se das amarras quando lhe danam a descarga de 2.000 volts, uma secreção gelatinosa lhe escapa da boca e escorre um filete de sangue de seus olhos vendados.
- É nessa hora que vibro - diz Daniela - Quando jorra sangue é demais!
Radovan Karadzic - líder sérvio responsabilizado pela execução de milhares de croatas e pelo estupro utilizado como arma de guerra e pela expulsão de milhões de cidadãos de suas casas, na Guerra da Bósnia - leva um convidado até um posto de artilharia, numa colina acima de Sarajevo, e lhe oferece a oportunidade de dar alguns cachonaços na cidade.
O convidado atira até se fartar.
As primeiras vítimas do pistoleiro pernambucano Mário Pereira de Almeida, de 15 anos, são três rapazes que estupraram e assassinaram sua namorada Adriana, de 16 anos. Quando atira no primeiro, chega a se perguntar se isso está certo. Com os outros dois, é diferente: coloca um pneu na cintura de cada um, despeja um litro de gasolina na cabeça deles, toca fogo e fica olhando.
- Eles merecem.
Em certa madrugada de 1977, Maria Helena Ferreira dos Santos estrangula com um cinto duas outras internas do pronto-socorro psiquiátrico do Hospital Pinel, no Rio. Vai matar mais uma quando é surpreendida pela enfermeira.
O diretor da Divisão Nacional de Saúde Mental - o médico Roberto Guimarães - pergunta-lhe o que a levara a isso.
- Tenho uma missão na Terra - disse-lhe ela - matar 97 comunistas que querem destruir o Brasil.
Referia-se à lista atribuída ao ex-ministro Sylvio Frota com os nomes de 97 supostos subversivos infiltrados no governo.
- Agora só faltam 95 - contabiliza.
Haveria uma saída. Era obrigatório haver. Estava nos últimos tempos distante, muito mais distante do que deveria de coisas que o faziam be...
Sem olhar para trás
O azul foi se tornando cinza e algumas pessoas outrora queridas perderam o encanto e a sutileza em ser grácil, mas nunca simplório, que o tocava e promovia o bem ampliando e prometendo vida.
Sempre que ouço Avôrai, uma das mais belas canções de Zé Ramalho, que fala do seu avô, um tipo bonachão e ao mesmo tempo árido como a terr...
Horácio não era Jesus
Juarez Félix, repórter, redator e editor da Página Policial do saudoso jornal O NORTE, de João Pessoa, às vezes gostava de inventar "...
A Mulher de Branco da Lagoa
Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra...
Paixão e escrita
É a lei da natureza. O leão come o antílope, o lobo come a ovelha, a raposa come a lebre, e assim por diante. É a lei da selva, mas também...
A lei do mais forte
Gostaria muito de saber quem inventou essa história de melhor idade. Foi garimpar na imensidão de sua insensatez um eufemismo ridículo pa...
Melhor idade?
Como pode alguém em sã consciência apelidar o outono de nossas vidas de “melhor idade”? Ao que me consta, melhor idade é a da adolescência quando nossa saúde está em sua plenitude e nossos sonhos só aguardando a vez de serem realizados. Estou dizendo dos possíveis e dos que não são. Mas nessa fase da vida, tudo para nós é factível: para a rapaziada,
A angústia acompanha a história do homem desde a antiguidade. Impossível separar sua presença a partir da certeza da morte, e, a perspecti...
Serenidade
Para atingir a sabedoria de mesclar a dor existencial com um pouco de alegria, surge a pressa de viver intensamente cada segundo, de nada perder, de consumir emoções como se não houvesse um só amanhã. As viagens são as opções comuns, pois transportam o indivíduo para “outro” lugar diferente do lugar da questão, e fora do seu mísero controle. Nas malas maiores seguem os sonhos de idealização e nas menores, as fantasias do que será minimamente necessário para esquecer.
Vi, tempo atrás, num canal da tevê a cabo, um desses filmes em que a personagem central ganha vida quase eterna. A história tem seu começo...
Pé no saco
Conta a saga de uma moça envolvida num acidente de carro, em noite de tempestade. Caíra, ao volante, num lago extremamente frio e, como se isso já não bastasse, veio-lhe um raio na cabeça. Alguém que passava por perto acionou o socorro médico.