Algumas pessoas que leram a crônica “ O vendedor de milho ” perguntaram-me, preocupadas, por onde andava o vendedor de milho. Aderindo ao ...
Ficção e vida
Na década de 1940 e até meados dos anos 1950, a música nordestina tinha grande predominância no mercado fonográfico brasileiro e Luiz Gonz...
Danado de bom
Eis que junho sorri para o inverno e esquenta o coração nordestino. As temperaturas timidamente caem na marcação do termômetro e alivia da ...
Festejar junho
Saudações para o poeta e cantador popular que traz junho. Pois é mês de passagem pelo meio do tempo, figura que pelas bandas nordestinas é dividida entre duas únicas estações explícitas: verão e inverno, terra seca e molhada, vegetação de tons marrons acinzentados e verdinho vivo ressuscitado na campina. O meio do ano é só no encontro de junho/julho, mas o sexto mês dá a sensação que a temporada já virou pela metade.
É verdade. Para o sertanejo a invernada chega ainda em janeiro com o aguaceiro tão esperado e esperançoso, mas para os litorâneos ela avisa que está vindo em maio e despenca em junho. Ou seria apenas impressão que não é feita no papel ou no tecido? Talvez sim, talvez não, pois chuva exprime lágrimas de todas as formas em gotículas de água e fica impressa na roupa molhada, no papel desbotado e na pele tocada com mais sensibilidade no período junino.
Junho, mês que tem gosto. Sabor de lembranças, de pamonha e canjica, de meninice. E vem junto o inverno, tornando o junino mês da nação Nordeste colorido de bandeirolas e balões no céu das casas, terraços, ruas e arraiais. É pôr vida em todo canto ao som dos tocadores de hinos com sanfonas, triângulos, zabumbas e pandeiros. Tempo de vestir roupa boa para seguir para a festança e esquentar o corpo na fogueirinha no terreiro ou na calçada.
Tantos junhos colecionados nas marcações do tempo, que o corpo pressente sua chegada, a alma alegra-se com trombeteio dos céus que se desarma sobre tenras terras molhadas. Mês de dengo, preguiçoso, de aconchego, deitar na rede, de cheiro perfumado, amanhecer orvalhado, friozinho encabulado.
Ser junino, é assim. Junho é rever nascimento, contentamento, fartura, assombramento, descobrimento. Reencontrar-se no meio do ano para perder-se em pensamentos. Ou seria o inverso?
Por enquanto Quando poderei brincar agora de viver sem receios nesses intervalos de tempo que dizem de recreios? A vida dolori...
Saudades vivas
Quando poderei brincar agora de viver sem receios nesses intervalos de tempo que dizem de recreios? A vida dolorida desbotou o matiz de quase todas intensidades!
Os poemas de Élvio Vargas parecem recém-saídos do sono e do sonho; parecem esfregar os olhos, abri-los e bocejar, para, só então, serem t...
Os poemas de Élvio Vargas
Os começos são inesquecíveis até o momento em que os esquecemos. Eles viveram isso de forma intensa, como é dado aos amantes. A cara-...
O amor e a falta
Eles viveram isso de forma intensa, como é dado aos amantes. A cara-metade, o amor que se completa como a lua e a estrela, as bandas que se unem num só todo. Embora a Natureza insistisse no contrário, eles acreditavam no amor romântico, na glória do eterno, aquele eterno que é mesmo o infinito, o sempiterno. Mãos e bocas entrelaçadas, o sexo como encaixe e ajuste perfeito.
É de Piero della Francesca o afresco que a vila de Sansepolcro caia, sem reação, como indigno da terra de tão bello e sinistro nome , que ...
Ressureição
O que há de ser, no entanto, tem muita força, como se lê n´A Bagaceira, em que se reformula, queira ou não queira, o que diz o vidente do Édipo Rei: o mesmo Que será, será, sucesso da Doris Day. A cal pura conserva a pintura.
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Um homem que chora com os adágios da 8ª sinfonia de Bruckner e da “Nona” de Beethoven. Um homem que exulta com o canto da cotovia da Sinfo...
Há 98 anos...
Um homem que mareja os olhos ao ouvir o Cisne de Saint-Saëns e a Ave Maria de Schubert. Que brinca com a ideia dos esqueletos bailando e rangendo os ossos, à meia noite, num cemitério sombrio, da Dança Macabra.
Em tempos tão lentos, arrastados, aparentemente sem perspectivas, precisamos ter consciência de que somos seres capazes de criar! Precisam...
Só colhe quem planta
Num tempo em que a cultura brasileira, a da elite ou acadêmica, trata Marx como despojo da URSS, como coisa de um remotíssimo passado, as ...
Máximas de Marx
O que se ouviu foi um estalido trêmulo. Audível apenas no exato ponto de não passar despercebido. O som delicado e já extinto de uma alter...
O feito
Muitos anos depois daquela noite, não sabe como, teria ela então uma lembrança mais diversificada, como se com o passar do tempo uma sensação mais acurada lhe fosse progressivamente sendo devolvida, espécie de progressão senil e às avessas, e que faria algum esquecimento parcial ser aos poucos substituído por lembrança mais e mais precisa, e que, no entanto, porém, remetesse sempre a um intrigante detalhe: o de que uma fração do percebido dera-se através de sensores na pele, havendo decorrido talvez de uma vibração magnética do ar em volta. Resultaria a impressão de um fenômeno qualquer de natureza híbrida, ou assim repercutindo, falando a dois sentidos. Ou ainda, talvez, ao ilógico de que algo se adiantara à luz.
Reviveria na memória aquele soar como de algo brandamente plangente, metálico e insignificante, e cujo efeito, entretanto, houvera se estendido ligeiramente além do próprio som. Ficaria a recordação de um plac súbito, demasiadamente peremptório e alarmante, e ainda que tênue, irrevogável.
O que resultou de única, avassaladora sinapse, e já varreu - desimpedida - toda a extensão do vasto sistema a percorrer.
Um sistema intrincado, aéreo e perfeitamente errático.
Aquilo não tomara nenhum conhecimento do vale extenso e cáustico à sua frente. Nem da serra abrupta que lhe era destino. Melhor fosse dizer que ocorreu e se completou no tempo que uma vertigem cerra os olhos. Ou talvez naquele que seria suficiente para um sonho espocar o brevíssimo instante de algum enigma cheio, lúcido e indecifrável, exposto, porém, em panorama de quadro irretocável.
A pouco, mais ou menos, 30 quilômetros dali, o giro de uma chave comunicara-se pelas tranças do metal, no mesmo instante ativado ao longo da própria surpresa em que é apanhado e percorrido, e impossibilitado de outra reação que não viesse a ser um arrepio no final, na ponta - fixada no centro da cloaca de vidro -, que executará então movimento quase imperceptível, dado que muito mal é livre para tanto.
O equivalente talvez a uma minúscula vibração dentro da cloaca incubadora de luz, quase que uma pequena ereção na haste metálica (a lembrar um guizo de serpente em arranjo de ordenação óssea, firme e repentino), e com apenas o bastante para que se descole da inação. Noutra inexplicável imagem – essa talvez mais branda: aquele primeiro e involuntário, anônimo e solitário movimento de um vibrião imerso na cuba.
Embora sem estar programada para emitir qualquer tipo de som, a bolha de vidro acabou funcionando como minúscula caixa acústica, e esse efeito, uma vez multiplicado fez vibrar a notinha estrênua.
O alarme ou a senha para que se violasse o lacre sigiloso da escuridão.
Naquele momento, porém, soou aos ouvidos de Maria Otília como aviso tardio de algo que já tinha acontecido em toda plenitude: com a leveza sincrônica de um balé bem ensaiado, naquele exato instante e sem qualquer defecção, os 212 postes acenderam suas lâmpadas de uma única vez.
No mais, foi a brilhante consumação de quatro anos de esforço, escuridão e espera. Desde aquela surpresa do caminhão irrompendo na entrada da cidade.
Um lote de homens apinhava-se sobre a carga, na tarde escura de inverno.
Querido Miguel. Eu te saúdo, cubro de beijos e torço para que possas aguentar este avô pegajoso por muito tempo além destes teus primeiros...
Carta ao neto
O motivo desta prende-se ao desejo de te contar umas tantas coisas. Pois bem, houve um tempo em que eu e os de minha geração fazíamos amigos, trocávamos recados e notícias, namorávamos e rompíamos namoro por cartas.
É comum. E muito se fala hoje em dia a palavra “gratidão”. Banalizou-se o real significado da palavra nos meios sociais antecedida de um...
A gratidão
A gratidão proveniente de um esforço bem sucedido, como uma promoção no trabalho, êxito em uma prova de concurso etc se justifica porque mostra a realização de um sonho que transforma a vida da pessoa.
Dá-me um olhar que te direi quem és. Assim como o corpo é um continente, o olhar é o conteúdo. O olhar expressa o ser e o sentir de cada ...
O olhar: a beleza e a grandeza humana
Os olhos com generosidade e pureza exalam os sentimentos mais nobres da grandeza e da profundidade da condição humana. Permitem, sem restrições e preconceitos, nos conceder-nos um privilégio muito além da palavra, aproximar-nos da alma humana. Edificam com emoção a cumplicidade da vida em comum. Nos olhos encontram-se as narrativas dos mais profundos
A poesia de Olavo Bilac caracteriza-se pelo rigor formal e pelo despojamento na expressão dos estados emocionais. É comum acusá-lo de cere...
Melancolia e erotismo em Olavo Bilac
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Noturno
A parte metade, de todo inteira, (esse canto chão de meu ócio) é a música que visto, meu quarto de despir mentiras. Parte partida, fosca pela sujeira do repisar o pó; fosso cavado para assentar a paz. (metade é medida sem desespero, recanto de passagem, cobertor dos atropelos.)
Quem diria, acredite, uma flor gostar da Lua. Passa o dia adormecida e à tardinha, com preguiça, calmamente se desnuda aos encantos da aur...
A poesia da Toscana
Quem sabe a sua tez, delicada como é, se ressinta do clarão que lhe faz o Sol a pino. Tão distinta de outras flores que da luz se alimentam logo que o céu prepara o cortejo da alvorada…
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Encontrou, na saída do cinema, uma carteirinha feminina. Lembrou-se de haver namorado, em fantasia, Romy (a Sissi). Quem seria a dona? Q...
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Eu não persigo a beleza, ela tem que aparecer junto comigo. Walter Carvalho Um dia fui assistir a uma palestra do cineasta Walter L...
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A Maíra, Iam, Tao e Jade. Ravi, Maya, Ben e Joaquim. Flores do meu jardim. Andrea, Fidoca, Ítalo e Aline.