A efemeridade e a eternidade da vida em pingos. Na porção unitária acumulada em pontas de folhas, em beiral de tetos, na frieza de ferros ...
Em pingos
A velhice costuma se apressar para os mergulhados na penúria, e nem mesmo um punhado de crianças ainda na pré-adolescência, como aquele, v...
Os Pródigos
Nas imediações da cidade de Conceição, num recanto sossegado na beira das serras que separam Paraíba e Ceará, próximo de Pernambuco, de so...
As mesmas mãos calejadas
O indivíduo identificado como bravateiro deixa de ser considerado como alguém que mereça ser respeitado. É viciado em produzir declarações...
O bravateiro
O menino e o velho A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda des...
Ensaios poéticos
A soma dos contrários rege a vida e a tudo imprime o seu variado aspecto. Assim é que, a toda despedida, corresponde também um recomeço. E a todo olhar brilhante de alegria subjaz uma nota de tristeza; como ao feio, que às vezes horroriza, deve mesclar-se um fundo de beleza.
Aconteceu, mas não foi, claro, no divã de Freud, salvo simbolicamente. Foi no mais modesto divã de minha psicanalista (ou psicoterapeuta)...
Calado no divã de Freud
Para equilibrar, já que escrevi sobre os “ pequenos sofrimentos do cotidiano ”, vai um texto sobre os pequenos prazeres do cotidiano.
Pequenos prazeres do cotidiano
Luizinho tem 10 anos, completou faz seis meses, perto do Natal. Como acontecia todas as manhãs, no dia do seu aniversário um beijo doce d...
A mãe de Luizinho
Para Lucas A voz do ventre? Mas só hoje começamos a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar ...
Elisabeth Badinter e o mito do Amor Materno
A voz do ventre? Mas só hoje começamos a perceber como o desejo de ter um filho é complexo, difícil de precisar e de isolar de toda uma rede de fatores psicológicos e sociais... O amor materno pode ser incerto, frágil e imperfeito.
Elisabeth Badinter, em "Um Amor Conquistado – o Mito do Amor Materno"
Dia das mães é aquele em que se desperta o afeto que reside na essência de cada um de nós. É onde buscamos lembranças da mãe trazidos da i...
Mães
Sobre o Movimento de Maio de 1968, na França, Jomar Souto, poeta paraibano pertencente à Geração 59, escreveu: “ (...) Lembro bem se m...
'Os vivos (?) e os mortos', de Fernando Monteiro
Eu mesmo, por ocasião do autoexílio de Caetano e Gil, quando ambos se viram forçados a migrar para Londres, letreei uma composição de Cleodato Porto, “Monstros soltos por aqui”:
Para o pesquisador José Ramos Tinhorão “o aproveitamento, por parte de compositores das cidades, de gêneros de música da zona rural, de c...
O admirável Ratinho da Paraíba
Um trem desgovernado rasga a noite, furando barreiras, carregado de soldados que partem para o campo de batalha, na recém-iniciada guerra ...
Besta desgovernada
Passar do choro para o riso em pouco tempo demonstra que emoções presumivelmente antagônicas podem estar bem mais próximas do que supomos....
Valsa Triste
Mais de nove décadas, se levantava cedo e ia cortejar o pomar. Eram fruteiras sadias e variadas entrelaçando galhos no quintal. Havia diál...
Traços de Silvestre
POEMA ÀS MÃES Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo P...
Amemos as nossas mães
Quem é essa mulher, Que, em ato de pura abnegação, A fim de que existamos, Empresta-nos o próprio corpo Para servir de abrigo Ao nosso corpo em formação? Ela, em interessante estado, Vê seu corpo transformado, Através de uma tempestade hormonal, Crescem-lhe o ventre e os seios, Transformam-se as emoções e os anseios, E a sua vida passa a ser de espera, Aguardando-nos por nove meses, Para nos conhecer e recolher em seus braços, A sua aguardada quimera.
O quadro " Intervalo" - de Edward Hopper -, que ilustra este texto, capta o vazio que já senti tantas vezes entre duas sessões ...
Angústia da Criação
O que gela O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala pe...
Glaciais
O que gela na madrugada a mão que contorna, na névoa densa, o círculo do Mundo? Assustada, a fala perde-se, alçada aos equívocos do Céu. E nela, a amada a pele, tardam os pelos rijos: orvalho e desespero. O que gela na madrugada é a corda rota, a derradeira gota de suor da morte interrompida. O que gela, e o amanhecer retarda: a paralisia da mandíbula, o couro macerado na fuga. Os livros
Os livros são meu celeiro de devaneios. Onde adormeço na dobradura do tempo pênsil -, no desfiladeiro de um cotidiano que nos semeia no nada. Os livros abraçam minha loucura atordoada pelo semblante de homens dignos, sóbrios e austeros, óbvios e dissonantes. Os livros me permitem compartilhar silêncios, dissolver urgências, contagiar os dias com angústias bem-vindas. Os livros me batem me chamam de homem e me despem, na cara, sádicos. Cronópio
Sou o fiel depositário de um torrão de açúcar. Guardei um tanto de giz entre as unhas (pó de palavras) e essa lasca de marfim do túmulo profanado dos paquidermes. Isso basta, na trégua precária, no gargalo desse vulcão que hiberna em estado de flor. Polvilho as relíquias, pois ignoro a espessura das trevas. O inverno é longo, o bastante para que a neve reaja a esses rudimentos de liberdade extinta. Haverá um tempo de degelo, águas e correntezas; de uma outra dimensão por detrás dessa moldura vazada. Caronte aguarda o sal da terra. Os demônios (e os cronópios) sempre souberam que para o sobrevivente a primeira qualidade do sonho é ser corruptível. Celebração
Rolam seixos, nuvens rasantes montes vazam da escuridão como uma promessa. antecipam os passos, Satélites tombam do céu em pane riscos rubros ao vento, incapazes de rastrear o corpo em transe, despido de sofrimento. (O disfarce da órbita é desviar-se do óbvio.) Latitudes e longitudes não reconhecem minha insignificância desapego. Encerraram-se as buscas e suas obtusas formalidades. Os cafés estão lotados, as ruas perversas distendidas, os corações famintos. Desço as encostas que permanecerão indiferentes; busco as cinzas contemporâneas e os cipós atlânticos. Do horizonte de um azul cambiante chega a esquadra de helicópteros de papel lançados do edifício antigo trazendo meus olhos. A serenidade possível, sem um deus, não está ao alcance dos eus idealizados, mas no sujeito cuspido e escarrado, despido de deslumbramento marcado. Tédio
Certa profundidade se demora nos olhos fechados. Sim, pesa o tempo, e cada pálpebra ressente o fulgor esquecido. O brilho repousa cada vez mais. - ontem - O nada é um cansaço que dá sono.
Vinte e cinco anos antes de morrer, Beethoven escreveu um pungente testamento. Um retrato de sua existência assinalada por sofrimentos ...
O testamento de Beethoven
Charles Estarréte, na gostosa pronúncia do interior. Mas também podem chamá-lo de Durango Kid. Naqueles finais da década de 1950, os pés d...
Durango Kid
A Fundação Joaquim Nabuco está se associando aos 80 anos que a nossa Academia de Letras comemora, este ano, precisamente no 14 de setembro...
A última ou a mais nova
Autorretrato De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras crua...
Moldada em maresia
De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras cruas, reviro os céus. Nem os anjos me acodem em tais momentos Minha sede pede mais que um copo d’água. Nada me marca com um simples arranhão Vou ao fundo do fundo.
Ele sai à noite, pelas ruas adormecidas ao encontro de passados abandonados, na tentativa de construir seu futuro. E no momento do desen...
Marcas doloridas da realidade noturna
E no momento do desencontro entre dia e noite, acha, acolhe e recolhe, o quê para uns já não tem serventia.
Sapatos que não andavam mais, aliviarão seus calos.
A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psico...