Ser o primeiro, no sentido de ser o titular, o superior, o chefe, nunca foi fácil, em qualquer circunstância. Mas ser o segundo, no sentid...
A sutil arte de ser segundo
Numa manhã sem graça, há mais de vinte anos, quando minha irmã comunicou pelo telefone que nossa mãe havia morrido, após deixá-la no hosp...
Duas cadeiras vazias
Tomé era um homem preguiçoso. Ninguém sabe o porquê, mas já faz uns anos que bateu uma imensa preguiça nesse cidadão. Preguiça daquelas, b...
Um corpo rio abaixo
O último dia 20 de abril marcou mais um aniversário de Augusto dos Anjos. Há 137 anos, ele veio ao mundo; há 109, a força de sua poesia fo...
E para Augusto, nada?
A passagem de efemérides, principalmente de datas cheias, leva ao reavivamento de fatos passados relacionados com as comemorações. E não...
O Negro Gato e outros esquecidos
Era fim de ano de 1953, uma manhã de redação só animada pelos sinais de radiotelegrafia do noticiário. Eu estava sozinho antecipando o not...
O fenômeno
"O que tem de acontecer tem muita força" José Américo de Almeida é conhecido como admirável escritor e político, do século pa...
Zé Américo: o intérprete da Vida
Para um amigo sertanejo Eu morava com meus pais e mais doze irmãos. Te digo que a vida hoje é mole demais, mas naqueles tempos, o sofr...
Agruras sertanejas
Veio e se sentou no banco do calçadão. Emplumado em cetins e lantejoulas, os sapatos bicudos, a cara mastigada pela idade avançada. Retir...
Cheio de graça
Fui ao supermercado fazer as compras da semana. Notei tudo mais caro uns 15%. Peguei um Uber na volta.
O Brasil voltou a ser assim
Conheceram-se na universidade. Além da mesma idade, gostavam das teorias da Física e compartiam incurável urticária pela Química, exceto p...
O pessimista
Ritual de abril Em dia de chuva, somos pingos soltos sem para-quedas, libertos rumo ao abraço, concreto na atração do beijo, do ...
Cotidiano das coisas
Em dia de chuva, somos pingos soltos sem para-quedas, libertos rumo ao abraço, concreto na atração do beijo, do cheiro da terra molhada, do espelho no uniforme ballet sem ensaio apenas céu em despejo sobre o nada e o tudo somos multidão de água dividida em indivíduos da nuvem à poça, ao copo, ao corpo ritual de abril, de novo
Há mais de um século, o cinema atua como um universo paralelo onde os seres humanos se espelham e que por sua vez — espelha a odisseia da ...
O homoerotismo no cinema
O mito é o nada que é tudo O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo O corpo morto de Deus Vivo e desnudo. Fernando Pessoa ...
A essência dos mitos
Fernando Pessoa
Se o poema é triste, tal circunstância não quer dizer que o autor também o seja. O eu-lírico pode até ter escrito o poema movido pela mais...
'Nem sempre é como lhe parece'
Sem encontrar palavras para expressar minha saudade e meu agradecimento ao conterrâneo, amigo e mestre Nathanael Alves, nos quarenta ...
Nathanael, 40 anos depois
Newton Leite, que nos deixou na última segunda-feira, aos 84 anos, foi uma das minhas surpresas quando fez de um projeto difícil, com a co...
Plantões de ontem e de hoje
Um ano de COVID, de descaso e crueldade psicopática em nosso país, um gozo extremo em milhares de mortes, e os vivos que se perdem em lágr...
A pandemia e suas sequelas
Uma amiga tem chorado e dormido mal nos últimos dias. Não, o motivo não é a covid-19, que provoca temor e ansiedade mas já não arranca lág...
A parte mais fraca
O texto que apresento a seguir, sobre o soneto “Último Credo”, de Augusto dos Anjos, é fruto do diálogo sistemático que tenho em sala de aul...
A equação da espiritualidade
Certamente, alguns devem estar incomodados com o título atribuído a este ensaio – “A equação da espiritualidade”. O incômodo é proveniente de se ver, habitualmente, Augusto dos Anjos como o poeta da morte, sentido que ganhou uma dimensão inercial, de tanto repetido. Digamos que, de um modo didático, podemos caracterizar a sua poesia da seguinte maneira: os poemas constituem um sistema de vasos comunicantes, devendo ser lidos em conjunto, cuja linguagem científica
Em 2017 fui a um show do Roberto Carlos. Planejei ir e cheguei a desistir por causa dos preços. No último minuto, incentivada por um fã a...
Roberto Carlos, 80 anos de emoções
Tive oportunidade de ver Roberto na minha meninice. Primeiro no Astrea, escalando muros e obrigando a minha mãe (jovem na época) a fazer o mesmo. Até hoje ela relembra: “o que não se faz por uma filha!” Mas sei que adorou a desculpa e ama Roberto Carlos até hoje. E quando escuta “Como é grande o meu amor por você”, diz que se lembra dos namorados das quatro filhas...
Todos esses anos, assisto ao programa Especial de Roberto Carlos na TV, em final de ano. Quase um ritual para passar a limpo aquelas músicas que fizeram a trilha da minha adolescência e que até hoje me emocionam. Gosto muito da voz de Roberto e do seu repertório. Claro que sua fase religiosa não é a minha preferida, e muitas outras músicas também não gosto. Admiro muito o tempo que se mantém como Rei, com toda sua legião de fãs que não arredam o pé. Há muitos anos que não compro um CD seu, mas a maioria das suas músicas, vivi, fiquei na fossa, me encantei, namorei e me embalei nos sonhos de uma jovem menina-moça.
Logo no início do show, Roberto nos brinda com Que vá tudo pro inferno. Li nos jornais e no blog do fã e crítico Sílvio Osias, que, devido à sua doença (TOC), ele não cantava essa música; a palavra inferno maltratava-o. Gracias a la vida, fez tratamento e já cantou na TV. Ouvir esse hit que adoro, com arranjos mais que incrementados, me passou o filme. Tinha meus 11 anos, veraneava em Areia Dourada (que chamávamos Praia do Osso), gostava de pensar na vida (sempre fui sonhadora e contemplativa ), quando ouvi essa música pela primeira vez. E desde então que fiquei tocada e tomada. A letra era transgressora. O ritmo também. E eu, uma pré-adolescente que queria mandar tudo pro inferno! E o meu compact disc realmente furou de tanto que ouvia e dançava pela casa, ou pelo coqueiral lindo daquela casa à beira mar que meu pai comprara, e um dia tive o luxo de veranear.
O show — como já disse Silvio — é impecável. Uma qualidade que supera todo e qualquer desconforto da casa de shows. Um som! Uma qualidade! Uma orquestra de músicos inigualáveis. As cordas, os metais e a voz bela de Roberto. Profissionalismo e respeito para com os fãs. Sem falar das dezenas de rosas jogadas às mulheres enlouquecidas à beira do caminho. Digo do palco! Claro que, se pudesse, meteria a mão naquele seu cabelo e assanhava todo. Mas acho que, com a sua doença da perfeição, aquele cabelo se parece com os cachos lindos ao vento das curvas da estrada de Santos. Tudo se perdoa! Inda mais um cabelo!
Enquanto assistia a "Lady Laura", chorei com saudades de uma mãe perdida no meu inconsciente. Por que que é eu rolo na cama? – sem comentários; Detalhes , "Nós dois", Amada Amante (Ah! Quem um dia já não foi?!), e principalmente Sua estupidez – uma nostalgia for the past! — fiquei com saudades eternas dos meus namorados ou amores pela vida. Alô Alô, pessoal! Lembrei de cada um de vocês, viu!. Dos beijinhos no portão escondido. Dos amassos proibidos. Dos olhares arregalados. Dos arrepios. Dos sonhos eróticos, mas não só. De beijo mais longo. Do mais estrelado. Dos toques. Da iniciação sexual. Dos jambeiros cúmplices/silenciosos da minha casa. Do escondido. Do velado. Do sagrado. E mais ainda do profano! E das pequenas transgressões da menina. E das grandes também.
É por isso que gosto de Roberto, que hoje completa 80 anos de idade! Sua música embalava um tempo da jovem guarda, que era um tempo meu. Assistia a todos os programas de TV. Só depois viria a ser mutante, tropicalista, revolucionária e mulher de Atenas! Comprei minha calça Saint-Tropez, vesti mini-blusa, me rebolei nas matinês do Cabo Branco. E peguei na mão daquele que um dia viria a ser o meu marido. E outras também... às escondidas e às claras. Roberto fala de tudo isso. E com uma melodia que nos transborda de alegrias, saudades, nostalgia e amor.
Naquele show de 2017 fiquei feliz. Muito. Adorei ver os casais jovens dançando. E pensei: “que amor!”, dançar ao som de Roberto, ao vivo. Ao meu lado havia um casal de meia idade (não sei bem o que isso significa...) e quando Roberto cantou seu mais novo sucesso, "Sereia" (trilha da novela A força do querer), a jovem senhora de cabelos brancos agarrou selvagemente seu companheiro e tascou-lhe um beijo na boca. Beijo em pé, como dizemos! Ele carinhosamente abraçou-a e retribuiu, e daí engataram uma dança de rosto bem colado, ardentes e botando o amor em dia. Pensei: “Ai Ai, meu Deus! O amor é mesmo lindo!”. Senti muitas saudades, não somente do meu querido Juca (amor eterno), mas dos outros amores também. De todos. Dos meus antigos namorados. Nem foram tantos! Mas um bocado para o gasto das lembranças queridas e para cantarolar Roberto Carlos e os botões da blusa...
Ainda estou a cantar pelo meio da casa: Chegaste , "Sereias", Esse cara sou eu , Outra vez , Como vai você , Olha , Desabafo , Se você pensa , e Como é grande o meu amor por você . Antes era a minha mãe que chorava, hoje sou eu, com uma saudade grande dos amores da vida, que na verdade é uma saudade de mim mesma, saudade da vida. Saudade do tempo! Roberto nos resgata essa vida, e mais ainda, esse tempo.
Roberto é bárbaro!
Teve sim, esse momento de não lhe ser tão difícil mover-se na escuridão quanto raciocinar dentro dela. Segundo disse, foi num quase su...
A net e a noite de Adolfo Rosa Velho
A história da família Rolim dá um romance. Mas essa não foi a opção do engenheiro e historiador paraibano Sérgio Rolim Mendonça ao escrev...
Rolin, Rolim: da França a Cajazeiras
Na província em que o garoto morava, ainda não havia televisão: o cinema e os gibis (as revistas em quadrinhos) formavam o imaginário de c...