Os Espíritos orientadores da Codificação Espírita informam que a vida em sociedade é lei da Natureza, pois “Deus fez o homem para viver em...

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Os Espíritos orientadores da Codificação Espírita informam que a vida em sociedade é lei da Natureza, pois “Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”1

São muitos os que resgataram o Titanic do fundo para a superfície do mar e tornaram a devolvê-lo às funduras abissais do oceano. São rotei...

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São muitos os que resgataram o Titanic do fundo para a superfície do mar e tornaram a devolvê-lo às funduras abissais do oceano. São roteiristas de cinema, cineastas, poetas, ficcionistas, historiadores, jornalistas, cada qual querendo reconstituir os momentos de grandeza e de vilania dos passageiros e da tripulação.

Ao pregar por meio de parábolas, Jesus possivelmente consolidava como gênero literário esta forma tão didática de ensinar. Utilizada por p...

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Ao pregar por meio de parábolas, Jesus possivelmente consolidava como gênero literário esta forma tão didática de ensinar. Utilizada por povos antigos, como os helênicos, e na literatura rabínica, conhecida como “mashal”, a parábola pode ser considerada prima do tradicional apólogo, da fábula clássica, linguagens que se revestem de alegorias, metáforas, maneiras proverbiais com intenção de erudir algo não tão acessível ao entendimento comum.

Surpreenderia a você se te dissesse que lá, há 45 anos, estivesse conversando com você e te falado que escreveria uma carta endereçada...

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Surpreenderia a você se te dissesse que lá, há 45 anos, estivesse conversando com você e te falado que escreveria uma carta endereçada à ti, quando já me encontrasse nos meus 60 anos de idade. É isso o que agora ocorre. Te escrevo agora, já passados todos estes anos.

Primeiramente te agradeceria pela coragem de ter enfrentado os teus medos, todos vencidos com muita teimosia e que tanto te ajudariam a entender que o preço de uma “desistência” não te levariam a nenhum lugar. Cada pessoa vê as coisas com os olhos do próprio amadurecimento. Hoje descobri que não há limites para nenhuma pessoa; que a vontade de “realizar” é uma energia muito forte e positiva.

Sonhos, reminiscências e muita satisfação me fazem te escrever. Sonhos sim, mas decepções e dificuldades também fazem parte da vida. Porém não é ao que se destina esta mensagem. O meu interesse é pelo que foi agradável e feliz. Te confesso que aprendi que existe uma grande diferença entre o que sonhamos e os projetos de Deus para conosco. Conquistamos o que está no nosso merecimento.

Deverias ter sido menos assustada, menos preocupada do que fostes; de natureza fraterna e ao mesmo tempo muito competitiva. Em minha memória revejo os desafios, as provas importantes como o dia da prova prática de direção, ou mesmo o primeiro dia de trabalho no banco. Mas a melhor de todas as lembranças foi certamente o primeiro dia de aula no Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, com apenas 6 aninhos de idade.. .mamãe já havia se adiantado e te ensinado as primeiras letras, a emoção diante do novo; aquela linda sala repleta de mesinhas pequenas com 4 cadeiras em cada uma; novos amiguinhos, a professora Dona Flúvia, tão delicada e meiga. Lembra-te do dia em que Eliane do Egito te ensinou a gravar qualquer música que desejásseis? Tuas músicas prediletas!!! O gosto pela música e pela dança que até hoje perduram e me trazem tanta tranquilidade em horas de lazer.

Não ouvias conselhos e sempre teimosa e reticente em tuas convicções; Te diria que a idade me trouxe ponderação, apesar de ainda hoje continuar teimosa... talvez ainda mais do que antes. Os inesquecíveis dias de ir à praia com a família...de adormecer ao calor do sol dormente nas costas, o mergulho no frescor das águas do mar no rosto, no corpo...Ah!!! dias inesquecíveis.

Para a minha felicidade a maioria dos amigos da adolescência ainda permanecem, e qual não é a minha satisfação em vê-los; Amigos a quem sou grata por terem contribuído para o meu crescimento pessoal. Um sentimento de gratidão também permeia o meu coração ao me recordar das boas vizinhas que usavam de tanto amor e de delicadeza, fossem em forma de conselhos ou me ensinando a bordar uma almofada.

Aí, onde permaneces, nos teus verdes anos, é importante dizer que tudo valeu a pena; a natural curiosidade em aprender bem como os sonhos sonhados, realizados ou não, permanecerão em mim, para sempre.

O livro “Carta para meu jovem EU” foi comprado por mim com muita curiosidade. As autoras Candice Soldatelli e Jane Graham realmente me surpreenderam quando tiveram a ideia de unir várias cartas de pessoas famosas de forma desafiadora e comovente em um só livro. Foram também convidados brasileiros como Marcelo Gleiser e a Filósofa Maria Helena Galvão. Convidaria à todos para esta viagem interior de catarse e emoção. Uma verdadeira viagem no tempo.

Foi em fevereiro de 1991 que comecei como jornalista de fato, em 1991. Naquela época, o menino tímido bateu às portas do extinto jornal...

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Foi em fevereiro de 1991 que comecei como jornalista de fato, em 1991.

Naquela época, o menino tímido bateu às portas do extinto jornal O Momento, com a hoje jornalista e amiga Michelle Sousa, para pedir emprego ao então editor Walter Santos.

Completei, portanto, trinta anos de jornalismo.

Confesso sem remorso ter abandonado a leitura das “Confissões” de Santo Agostinho em diversas oportunidades e continuo arrependido pelas l...

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Confesso sem remorso ter abandonado a leitura das “Confissões” de Santo Agostinho em diversas oportunidades e continuo arrependido pelas leituras descuidadas da autobiografia do bispo de Hipona, porque seus ensinamentos são alimento à alma, e nos municiam para os passos da nossa caminhada.

O presidente Jair Bolsonaro deveria seguir a maioria que já passou pela sua cadeira: pensar e cuidar do geral, cuidar de todos, e deixar ...

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O presidente Jair Bolsonaro deveria seguir a maioria que já passou pela sua cadeira: pensar e cuidar do geral, cuidar de todos, e deixar a gestão dos ministérios com os seus ministros. O que os ministros devem saber em particular resulta no saber do presidente. É lição da República de 1903, com Rodrigues Alves deixando a varíola, a bubônica, o cólera, a febre amarela com quem entendia disso. Fosse ele interferir no que não lhe competia não teria realizado um dos mais lembrados governos da República, vitorioso na campanha sanitária que impôs ao Rio, na urbanização da cidade de cortiços

Volta do outono Um enlutado dia cai dos sinos como teia tremente de uma vaga viúva, é uma cor, um sonho de cerejas afundadas na terra, é u...

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Volta do outono Um enlutado dia cai dos sinos como teia tremente de uma vaga viúva, é uma cor, um sonho de cerejas afundadas na terra, é uma cauda de fumo que chega sem descanso para mudar a cor da água e dos beijos.
Pablo Neruda

As chuvas, que ainda deveriam ser raras nesta época do ano, andaram chegando desobedientes e pareceram estar antecipando a estação das águas. Será o tempo de cobrir o sertão de verde, esperar colheita generosa e mesa farta. São José haverá de ser dadivoso e permitirá que o aguaceiro surja abundante autorizando o plantio e permitindo à enxada que trabalhe nos roçados. Haverá sim, o santo-carpinteiro, de derramar em forma de chuva, esperança nos corações sertanejos.

O equinócio de outono se deu no último dia vinte e um. Dia em que a luz solar incidiu com mesma intensidade sobre os dois hemisférios do planeta. A Terra e o Sol, por uns meses, irão se afastar um do outro como dois parentes intrigados. Para nós, os dias serão mais curtos do que as noites. Nessas latitudes, só um pouquinho.

Consta-me, salvo engano, que a palavra outono tenha origem latina: “autumnus”, que significa “mudança”. Lá em terras europeias de onde surgiu, o termo justificava o fim do colorido da primavera e do verão para se esperar os tempos cinzentos do inverno. Mal sabiam eles, os europeus, que para o nosso matuto também caberia a força do vocábulo. Pois aqui começa o tempo das grandes metamorfoses. A caatinga vai ganhar vida, os açudes haverão de sangrar. O passaredo, até então, tímido, escondido irá reaparecer numa louca e desorganizada sinfonia. Voltarão, o azulão, o coleirinho, o sabiá, o bigodinho, o pintassilgo, o galo-de-campina, o assum preto, o currupião, o sanhaçu, e até o desajeitado nambu aparecerá para ciscar à sombra dos pés de jurema. E que tenham muito cuidado com o acauã, com o carcará, com o gavião carijó, com a coruja rasga-mortalha, todos famélicos e exímios caçadores estarão rondando os céus e podem interromper a cantoria dos nossos seresteiros empenados.

A caatinga ganha cores com as inflorescências do sete cascas, do quipá, da jurema, da baraúna, da coroa de frade, da favela e até a atrevida arapuá irá se deliciar com o néctar do mulungu. É como que se o arco-íris fosse capaz de se esparramar em milhões de pedaços pelo sertão. Oh amigos que deixei lá pelas bandas do sul, vocês nem são capazes de imaginar como é bonito o inverno sertanejo.

No litoral não é bem assim, com as chuvas o mar que passara meses pintado em cores de turmalina; vai, como dizem os pescadores, ficando mexido, perde sua coloração esverdeada, fica bege e sem encantos. As calçadinhas da orla se farão pobres de gente, sem o alvoroço de meninos, sem nossos “apolos” e “afrodites” de peles douradas e silhuetas de escultura que passam apressados exibindo sorrisos e saúde. Os namorados não passearão de mãos dadas trocando beijos e promessas. Os velhinhos não aparecerão para repousar seus cansaços sentados na muretinha das calçadas. Nem lançarão olhares atrevidos às saias morenas que as brisas costumam levantar. Até as folhas dos coqueirais se agredirão instigadas pela aragem, numa desavença que parece interminável. Serão por aqui tempos de espera e recolhimento. Esperemos; pois, por uns meses a nossa vez, agora é a do sertanejo. É justo, mais que justo.

Eu, se pudesse, hoje te daria um beijo. Estalado, roubado, risonho, vermelho. E te abraçaria com força, te espremendo as costelas, até...

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Eu, se pudesse, hoje te daria um beijo. Estalado, roubado, risonho, vermelho.

E te abraçaria com força, te espremendo as costelas, até te ouvir dizer: “Para! Tá todo mundo olhando!”.

OUSADIA Disse-me o velho marinheiro: Felicidade, para mim, é navegar, É seguir para o fim do horizonte, Na ousadia de enc...

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OUSADIA
Disse-me o velho marinheiro: Felicidade, para mim, é navegar, É seguir para o fim do horizonte, Na ousadia de encontrar Onde se encontram céu e mar! Disse-me o sonhador: Felicidade, para mim, É o eterno sonhar, Na ousadia de ir Aonde nascem os arco-íris E o seu tesouro encontrar! Disse o apaixonado: Felicidade, para mim, É ao meu amor me entregar, Na ousadia de tê-la em meus braços, E o seu amor conquistar. E eu, poeta, Ousei navegar do horizonte os confins, Na linha do arco-íris fui até o fim, Dei todo amor que havia em mim, Na ousadia de encontrar a mais bela poesia, E viver a felicidade, Mesmo que por um dia... ESPERANÇA
Quem és tu, anjo divino, Que, no anoitecer da vida, Trazes contigo um lume A clarear a nossa estrada? Quem és tu, delicada fada, Que, nas horas amargas, Sopras um beijo terno em nossa fronte, Fazendo-nos perceber novo horizonte? Quem és tu, ó doce ninfa, Que sobrevoas ao meu lado, Quando trilho com enfado, Colorindo essa árida estrada? Ah! Se soubesses! Como é bela a tua luz, Como é doce o teu beijo, Como é singela a tua cor! Ah! Se soubesses! Que por ti o meu verso é estuante, Que é sempre tua a minha mais doce lembrança, És apenas um sonho, uma fada, Que em meu imaginário tem o nome de Esperança! PORQUE AS ESTRELAS
Por que busco as estrelas? Nas noites de solidão as busco E esquadrinho o pálio infinito Buscando reconhecê-las todas Quais fossem velhas amigas. Conheci alguém que as contava Pensando assim possuí-las. Eu, porém, não as conto; As contemplo, com olhos de viajante. São tantas, infinitas, incontáveis, Multicores, tão distantes E ao mesmo tempo presentes, Brilhando como minúsculos faróis A iluminar a nossa jornada. São milenares,quais deuses, Quais numes no espaço distante, Observam-nos e testemunham Os dramas e conquistas da história Da Humanidade. Quando as contemplo imagino, Quantos mundos tão distantes E diferentes, temos ainda a conhecer... Que cores terão seus céus? Como serão os seus mares? Serão suas montanhas azuis? Quando as observo me perco Em longas elucubrações: Como serão suas flores? Que cores e odores terão? E a sua fauna, será também Bela e diversificada? Imagino-lhes cavalos alados, Animais que conosco falam, Pequenos companheiros a dividir Conosco as nossas dores e sonhos. Quando as miro meu pensamento viaja, Percorrendo as suas intermináveis distâncias, E imagino os habitantes desses distantes lugares. Sua aparência, seus modos,o que fazem , o que pensam? Certeza , porém eu tenho de um detalhe comum: Comum a mim, a você, ao irmão extraterreno, Morador dos mundos diversos e distantes, Por certo tão diferentes do nosso mundo Pequeno, chamado Terra, perdido também, Em uma galáxia distante. A certeza que me vem, é que em todos existem Corações que batem, corações que amam. Existem mentes que sonham. E toda vez que paro, para contemplar as estrelas, Nas noites solitárias. E levanto meus olhos ao infinito pálio azul, Pintalgado de luzes piscantes, todas de mim Tão distantes. Sinto o pulsar dos corações, Que pulsam nos outros mundos infinitos, Sinto que sonho o mesmo sonho, Dos meus irmãos estelares e também, Daqueles que comigo viajam nessa Nave mãe. E que erguem os olhos aos céus, Em busca de comunhão, de amor, De paz. Em busca de Deus. MULHERES DE MARÇO
Mulheres de março, Marcianas todas são, Seriam de outro planeta? Diferentes, especiais, Sei que todas são guerreiras, De Marte são, pois, as tais? O que têm de especial, As mulheres marcianas? Da vida são exigentes, No olhar, um brilho diferente, No peito, um coração apaixonado, Que pulsa, descompassado, No ritmo de suas batalhas. Trazem em seu Espírito, As armas da guerreira, São fortes, bravas, altaneiras. Tudo fazem de forma plena, Amam, trabalham, vivem, Em tudo se jogam de forma inteira. As marcianas são de peixes, Acho que todas são sereias, Mágicas, belas, inteligentes, Encantam a todos com seu Canto. Na verdade, o seu encanto, Está em serem verdadeiras. OUTRA VEZ
O Sol traz a manhã desejada, A chuva refloresce o campo, O ninho repleto de novos rebentos. O mar que vai e vem Ao sabor das marés, Sopra o vento, sopra... Traz de volta o barco ao cais. O tempo passa, O céu sobre nossa cabeça é um só, Vemos as mesmas estrelas, Distância é questão de perspectiva. Lá vem o tempo a passar, Lá vem o vento que soprou Lá vem de volta o amor. PARA SER AMOR
Para ser amor, Há que ter grandeza, Mas sem que perca a simplicidade. Há que haver imaginação, Sem que se esqueça da realidade. Para ser amor, Há que se ter ternura, Há que se ter o olho no olho, Há que se ter a mão na mão, Há que se deixar ouvir A música do coração. Para ser amor, Há que se haver o encontro, Há que se haver a presença, Mas, vez em quando, a partida, Porque é bom um pouco de saudade. Para ser amor, Há que haver o riso fácil, Mas, também um pouco de tristeza, Há que haver um quê de dramaticidade, Mas sem esquecer-se da leveza. Para ser amor, Há que se deixar cativar, E ao outro libertar, Há que ter histórias a contar, E ser ouvido paciente, Para ao outro escutar. Para ser amor, É preciso que haja sonho, É preciso haver poesia, É preciso que se acredite no eterno, Mesmo que esse dure apenas um dia. Para ser amor, Há que haver a intensidade E a loucura dos sedentos; Porém, que se tenha a delicadeza da flor, E que não se perca a ternura jamais. POEMA RÁPIDO
Por um pequeno instante, Entre um bater e outro Da asa da libélula, Entre o piscar de teus olhos, Eu sonhei que me amavas. Mas, passou a longa eternidade Dos segundos, E um raio de Sol incidiu sobre A realidade, E a libélula voou, Levando com ela o sonho, E, com ele, o amor.

Otacílio era o ferreiro. A oficina ficava entre uma marcenaria e o armazém do meu pai. Era um tipo simples, calmo, religioso, de poucas pa...

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Otacílio era o ferreiro. A oficina ficava entre uma marcenaria e o armazém do meu pai. Era um tipo simples, calmo, religioso, de poucas palavras.

Clarice Lispector escreveu que “Deus é de quem conseguir pegá-Lo”. Já o diabo, acrescento, é de quem ele pegar. Daí que nesta vida seja ma...

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Clarice Lispector escreveu que “Deus é de quem conseguir pegá-Lo”. Já o diabo, acrescento, é de quem ele pegar. Daí que nesta vida seja mais importante fugir do diabo, que conhece a presa e tem o propósito deliberado de fisgá-la. O mal não faz questão de que nos arrependamos, desde que em algum momento tenhamos sucumbido aos seus ardis. Rousseau sabia disso quando escreveu, nas “Confissões”, que devíamos “evitar a primeira vez”.

Mas como aceitar esse conselho numa época que vê na experiência o único critério para o aprendizado e o melhor guia para as ações? Um dos bordões mais entoados hoje é o de que “caminhando se faz o caminho”. Só se deveria então escolher alguma coisa depois de experimentá-la.

Ao propor que evitemos a primeira vez Rousseu não estaria postulando uma moralidade apriorística e abstrata, que nos privaria de um juízo fundamentado e preciso porque seria alheia ao nosso eu? Se evito a primeira vez, o faço com base na experiência dos outros... Seria irônico isso num autor que incutiu no ser humano a noção de subjetividade.

Uma das passagens marcantes das “Confissões” é aquela em que Rousseau recebe um castigo ao descumprir determinada regra e se sente injustiçado por “ser outro”, ou seja, ter uma individualidade. “Se não sou melhor, sou outro” – é mais ou menos isso que ele escreve. Assim, não poderia agir como todo o mundo. Isso que hoje está banalizado em comerciais e certos livros de autoajuda – o encorajamento a que cada um “seja o que é” e faça a diferença – começou com o iluminista suíço.

Rousseau me serviu há anos de inspiração numa conversa que tive com a minha filha mais velha. Falávamos de drogas; se bem confiasse nela, eu queria mais argumentos para convencê-la de que, particularmente nesse domínio, era preciso evitar a primeira vez.

Ponderei-lhe, didático: “Imagine que você queira experimentar drogas por curiosidade. Duas coisas podem acontecer: ou você gosta, acha que vale a pena; ou não gosta e se dispõe a jamais fazer de novo. Comecemos pelo segundo caso: como você não gostou, perdeu tempo experimentando. O melhor mesmo era ter evitado. Vejamos agora o primeiro, ou seja, o caso em que você ache a droga um barato. Isso seria terrível, pois você ia querer repetir a dose.” Fiz uma pausa e resumi: “Esse é o tipo de experiência que não vale a pena tentar”.

É falsa a ideia de que devemos “experimentar tudo”; a algumas coisas devemos renunciar até por instinto de conservação. Um dos segredos de bem viver é discernir entre o que vale a pena ser experimentado e o que deve, de antemão, ser objeto de renúncia. Para isso não existe fórmula, a não ser a do bom-senso.

E aí... cutucou a conviva — E aí aconteceu o que era de se esperar — Emendou Cori. Antes de dar continuidade, porém, o sagaz editor ...

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E aí... cutucou a conviva — E aí aconteceu o que era de se esperar — Emendou Cori. Antes de dar continuidade, porém, o sagaz editor percebe a expectativa em torno. Interrompe propositadamente o que diz e dá umas balançadas no copo com uísque para agitar as pedras de gelo.

A amargura de que fala o título é a “de não ser bonito, quando jovem”. E quem a cita é Paulo Francis, em artigo publicado no jornal O Esta...

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A amargura de que fala o título é a “de não ser bonito, quando jovem”. E quem a cita é Paulo Francis, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 19/5/1991. No texto, ele está se referindo ao escritor Milan Kundera, célebre autor de A insustentável leveza do ser, romance que marcou época em fins do século passado. Escreve Francis: “Como é feio Milan Kundera. Parece um macaco. Imagino Kundera, garoto, num baile de formatura, tentando tirar uma menina para dançar e sendo recusado, delicadamente, se ela era educada, e com riso zombeteiro, se não.

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” Fernando Pessoa Foi no "Bar e Restaurante do Damião", em Alagoa Grande, num ...

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“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”
Fernando Pessoa

Foi no "Bar e Restaurante do Damião", em Alagoa Grande, num dia nebuloso, que ouvi a sutileza de uma sinfonia de sapos e pererecas, sublinhada pelo canto dos grilos, coadjuvantes da noite de um dia frio.

Impasse E quase não há mais como dizer do novo. Que o tempo subtrai a juventude do instante E a beleza em seu estado puro.

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Impasse
E quase não há mais como dizer do novo. Que o tempo subtrai a juventude do instante E a beleza em seu estado puro.

Para o poeta pernambucano Manuel Bandeira: “Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade fina e culta às c...

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Para o poeta pernambucano Manuel Bandeira: “Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade fina e culta às camadas profundas da ralé urbana. Daí a fascinação que despertava em toda a gente quando levado a um salão".

Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “ Uma vida de herói ”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do po...

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Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “Uma vida de herói”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do poema sinfônico de Richard Strauss, que Germano descreveu, Mnemosine, a deusa da memória e mãe das Musas, veio em meu auxílio e, de imediato, a minha mente só chamava para a Eneida de Virgílio:
I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Explico-me. É impossível ler a crônica poético-musical de Germano Romero e não associar ao poema épico de Virgílio. Era como se cada palavra dita, correspondesse, na sua essência, à narrativa da Eneida.

Senão, vejamos: o herói Eneias é apresentado, desde o Livro I da Eneida, embora só venhamos a saber os detalhes de sua origem, de sua viagem e o porquê de ele ter sido escolhido pelos deuses, para ser o herói da nação troiana, no Livro II. Eneias, filho de Vênus, é um predestinado ao heroísmo e deve fugir, para fundar uma nova Troia, pois a sua Troia foi destruída pelos gregos. Assim, decidiram os deuses súperos (I. O herói – Der Held).

Para que Eneias cumpra a sua missão e possa realmente ser merecedor da condição de herói assinalado pelos deuses, ele precisa enfrentar muitas adversidades e, claro, adversários, na sua complexa viagem, terra marique, por terra e por mar, à nova Troia, que de verá ser fundada no Lácio, na península Itálica, berço da futura Roma. Ele é que assentará as bases dessa gloriosa cidade, destinada a ser a Caput Mundi, a Cabeça do Mundo. Os adversários iniciais são tanto os gregos, que invadem Troia e a destroem, quanto monstros, como o ciclope Polifemo, as Harpias voadoras, além de pestes, naufrágios, errâncias e más interpretações dos oráculos para que ele encontre o caminho assegurado pelos deuses. Até a própria Juno, a deusa-mãe, o persegue, por razões que estão além da alçada de Eneias, como o julgamento de Páris e o rapto de Ganimedes, troianos, como Eneias, que a ofenderam (II. Os adversários do herói – Des Helden Widersacher).

No Lácio, Eneias vai encontrar a companheira também destinada pelos deuses. Trata-se de Lavínia, a filha do rei Latino, com quem o herói há de casar. Mas não pensemos que o casamento será sem dificuldades, tendo em vista que o herói vai ter que enfrentar novas adversidades para a conquista de Lavínia. A terra fundada será chamada de reino Lavínio, em homenagem à esposa. Fica claro, portanto, que à conquista da mulher, precede a conquista da terra (III. A companheira – Des Helden Gefährtin).

As novas adversidades, pois um herói não é só afeito às adversidades, como também elas nunca acabam, apenas mudam o seu grau de dificuldade, serão as batalhas desenroladas no Lácio, para a conquista da terra; batalhas que ocupam um terço da narrativa, do Livro IX ao XII da Eneida. Destaque-se, principalmente, batalhas contra os Rútulos do rei Turno, o principal oponente do herói, pois Lavínia já estivera prometida a ele, antes da chegada de Eneias. Como já dissemos, conquistar a terra é conquistar a mulher (IV. As batalhas – Des Helden Walstatt).

O auge dessas batalhas é o combate singular entre Eneias e Turno, culminando com a morte deste último. Como a Eneida é um poema inacabado, o poema se fecha abruptamente com a morte de Turno. Virgílio, acometido por uma doença, na volta da Grécia para Roma, morre em Brundisium, atual Bríndisi, em 19 a. C., após dez anos de trabalho no poema, que começou com um pedido pessoal de Otávio César Augusto. Após a sua morte, Augusto designa os poetas Tucca e Varius, para editar o poema como ele se encontra, com cerca de 50 versos hexâmetros inacabados e sem o epílogo, característico dos poemas épicos.

Diante da morte prematura de Virgílio e da edição póstuma do poema, em 17 a. C., preservado como o poeta o deixou, não vemos a construção da nova Troia, o novo reino tão sublimado, que levará o nome de Lavínio, nem as obras de paz do herói. Estas viriam, consequentemente, vez que Eneias é o modelo do rei indo-europeu, em suas três fases de rei-guerreiro, rei-sacerdote e rei-empreendedor. Infelizmente, a parte que seria para celebrar os empreendimentos que levam ao progresso e à paz, como um tributo a Augusto e a sua decantada Pax Romana, não se encontra no poema (V. As obras de paz do herói – Des Helden Friedenswerke).

Do mesmo modo, não veremos a transcendência do herói, mas a tradição nos diz e isto é, de certo modo, antecipado no Livro I da Eneida, quando da profecia de Júpiter a Vênus. Eneias, depois de fundada a nova Troia, reinará por três anos, sendo arrebatado pelos deuses, num fenômeno que se chama de apoteose (ἀποθέωσις), saindo do mundo, transcendendo a matéria, para ir viver junto aos deuses, porque soube conquistar o status de herói que lhe foi conferido (VI. Saída do mundo, consumação e transcendência – Des Helden Weltflucht und Vollendung).

Em linhas gerais, podemos constatar como a estrutura de Richard Strauss para o seu poema sinfônico “Uma vida de herói” se aplica, na sua essência, ao poema épico e, mais estritamente, ao épico de Virgílio, com a tessitura de uma narrativa heroica. Não esqueçamos, ainda, de um detalhe: apesar de não ser um poema sinfônico, a Eneida, como os demais poemas, sobretudo, os épicos, foi feita para ser cantada, não para ser contada, acompanhada de instrumentos de percussão como a lira e o tambor, no ritmo do verso hexâmetro dactílico, com os seus seis pés bem marcados.

Tinha razão Gérard Genette, em dizer que a literatura é um sistema de vasos comunicantes. Vou mais além: a arte é um sistema de vasos comunicantes, estendendo a sua capilaridade ilimitada e instigando que se escreva sobre ela e se escreva sobre o que se escreveu sobre ela ad infinitum.

Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulh...

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Nos mais de 20 anos que escrevo sobre e para as mulheres, foram tantos assuntos! Opressão feminina, domesticidade, invisibilidade das mulheres. Solidão feminina. Construção de identidades e problemas de gênero. As solteiras, as casadas, as separadas, as viúvas e todas, ou quase todas, as suas circunstâncias. Vida sexual, conquistas e tabus enfrentados. Meninas x Meninos! Menstruação e menopausa, e suas curvas de cólicas e insônias.

Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelo...

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Dou com Tristão de Ataíde em confissão de grande dívida para com a influência de Chesterton. Como sou grato a Tristão, desde muito, pelos fundamentos e segredos que os cristais do seu ensaio traziam à rudeza de minha percepção , ponho-me agora a correr atrás de Chesterton. Impressionou-me a veemência da confissão. Como poderei bicar esse escritor e pensador de tamanha influência?

Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e corre...

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Juntar a turma, vestir a melhor roupa, contar os trocados para pagar a meia entrada de estudante, entrar na fila, passar na roleta e correr para conseguir um bom lugar, torcendo para não sentar desavisadamente em um chiclete. Ah! Como era bom um cineminha de domingo nos antigos cinemas de João Pessoa (não tão antigos como os pioneiros Metrópole, Santo Antônio ou Brasil). Cito especialmente Municipal e Plaza. Um programa com cheiro de adolescência.

o argueiro haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. ...

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o argueiro
haicai da paisagem em pó convertido. feudo loteado no olho. o argueiro é ainda o rochedo de sísifo. sem fórmula
não piso a embreagem, piso a paisagem e a ponho em primeira, segunda, terceira e quarta de segunda a sexta. (às vezes dou-lhe ré, mas ela sempre me escapa). aos sábados e domingos deixo-me ficar em ponto morto diante dessas fotos já sem cor: paisagens vistas de um retrovisor? circo mambembe
o drama projeta-se além do palco: hoje encenam a paixão de cristo, amanhã conduzem a cruz do mastro. rios, cidades, poetas À Moema Selma D’Andrea
o paraíba, o mamanguape, o tigre, o eufrates, o tejo, o sena, não desviam o curso do poema. o poema, nenhum rio ou cidade o fazem. só os poetas, à margem do lápis: caniço pensante na maré vazante da linguagem. o preto cosme, pintor de paredes
o preto cosme caiava como quem dispara tiros a esmo ou como quem bêbado erra o prumo e salpica-se de cal estrela-se de cal caiando-se a si mesmo qual fosse um muro branco de susto homiziando um preto seu isidoro
seu Isidoro era eletricista e a sua barba hirsuta hirta era um rolo de fios desencapados soltando faíscas seu isidoro era uma pilha um surto um curto um longo circuito atritando-se com a vida

Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Franc...

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Escritor, pacifista, professor de História da Arte na École Normale de Paris e de História da Música na Sorbonne, membro da Academia Francesa de Letras, biógrafo e músico, o francês Romain Rolland ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1915. Admirado e citado por Gramsci, Herman Hesse e Freud, com quem se correspondia, foi autor de quase 100 livros, entre romances, dramas, novelas e biografias como as de Tolstoi, Hugo Wolf, Beethoven, Haendel, Michelângelo, ensaios sobre Rousseau, Swami Vivekananda,
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Empédocles, Danton e robustas coletâneas em torno da literatura operística e musical.

Romain Rolland era grande apaixonado e conhecedor de música, arte que lhe provocava transcendência mística. Defendia a religiosidade como “sentimento oceânico”, expressão forjada em carta a Freud, com quem costumava debater sobre os transes extáticos relacionados com a “sensação de eternidade, de algo ilimitado, infinito, um vínculo indissolúvel com o universo”.

Rolland identificava este “sentimento oceânico” como fonte de energia espiritual que permeia todas as religiões, experimentando-o fervorosamente na música.

Quando o compositor alemão Richard Strauss (Baviera, 1864-1949), conhecido como o “Poeta Sinfônico” pela beleza de seus poemas tonais, estreou “Uma vida de herói”, em Frankfurt, no ano de 1899, Romain Rolland, amigo que estava presente, relatou:

“Vejo pessoas a tremer e quase se levantam em determinadas passagens. No fim, durante a ovação e a entrega de flores, soam os trompetes e as mulheres acenam os seus lenços”.

Que qualidades teria uma música para causar reações como esta, não apenas nas plateias, mas principalmente em alguém como Romain Rolland? Sem dúvida, sobretudo, a beleza!

Richard Strauss maravilhou o mundo com 10 magníficos poemas sinfônicos, forma musical caracterizada por aludir a  enredos vários, como lendas, astronomia, mitologia, sátiras, tragédias, obras de arte, paisagens, povos, nações, romances, poesia.
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Alguns se classificam como música descritiva ou programática, e diferem da chamada música absoluta, pura, sem uma intenção premeditada. Ainda que ambas sejam subjetivamente capazes de sugerir e provocar emoções tão variadas quanto criativas.

A relação entre a música e outras formas de arte é muito antiga. O balé reúne enredo, coreografia (dança), cenário e música orquestral. A ópera, peça expressivamente ainda mais rica, une literatura (libreto), dança, arte dramática (teatro), música sinfônica, canto lírico e cenografia. Há outros exemplos de ligação entre literatura, pintura, belezas e fenômenos da natureza que se intensificaram, do período romântico em diante, por compositores que quiseram narrar histórias, descrever paisagens, falar de um quadro, transformar imagens e acontecimentos reais ou imaginários em música. Peças como Les Boréades (tragédia lírica de Rameau), As quatro estações (Vivaldi), Amor em Bath (Haendel), A Pastoral (Beethoven), Sinfonia do Novo Mundo (Dvorak), Minha terra (Smetana), Enigma (Elgar), o Quebra Nozes (Tchaikovsky), grandiosas sinfonias de Mahler, Shostakovich, Sibelius, Bruckner e Scriabin são admiráveis transcrições capazes de refletir a riqueza e o poder da imaginação e do sentimento, íntimo ou cósmico.

No poema sinfônico, o caráter descritivo se notabiliza ao detalhar com mais unidade e riqueza de elementos o assunto que aborda. Há, entretanto, poemas cujas narrativas são fruto do imaginário pessoal do compositor, como “Uma vida de herói”, de Richard Strauss, que extasiou plateias do mundo ocidental e pessoas como Romain Rolland.

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De uma originalidade ímpar, construído em caráter audaciosamente moderno, sem se afastar da essência romântica, este poema eleva a música em primeiro plano e restringe a descrição narrativa a importância secundária. A história se resume ao perfil de um “herói”, personagem intensamente presente em inúmeras peças da literatura e dramaturgia clássicas antigas. Mas, neste caso, o protagonista é inédito, imaginado pelo próprio compositor, representando mais uma personalidade do que um personagem.

Para descrevê-lo, Strauss dividiu “Uma vida de herói” em seis partes:

I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Na primeira, a figura central é emoldurada com traços completos do espírito heróico em enérgica construção musical que evoca suas virtudes e características mais marcantes da entidade a ser narrada .


E a música assim desfila pelas nuances da personalidade do herói entre ternas, gloriosas e agitadas passagens em torno do tema que se reapresenta sempre destemido e conclui-se com merecida vivacidade.

Na seção seguinte são mencionados os adversários do herói. Os invejosos, falsos, os rivais e obstáculos por eles criados simulam-se com diálogos irrequietos, entre sopros e tubas, sarcasmo e ironia nos contrastes jocosos de graves e agudos. Há quem suponha que Strauss também se refere aos críticos de arte maldosos que dificultam a carreira dos artistas. São considerações que o deixam pesaroso como se ouve no trecho a seguir . Em meio a tudo, o tema heroico inicial aparece constantemente ao fundo, nos baixos e cellos, infundindo respeito e reiterando sua soberana preponderância.

Na terceira parte, surge a figura da companheira que se introduz com a devida importância em sua vida. As nuances da relação soam, a princípio conflitantes, como acontece entre casais, com o violino representando o ente feminino, sutil, às vezes irritante, provocativo, dialogando com o companheiro
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na voz dos metais com cordas, em tons bem mais graves .

A conversa prossegue oscilando entre divergências e bom entendimento, mesclada com pitadas afetuosas que também revelam momentos de doçura da companheira. Embora logo se “desentendam” como se ouve no agitado temperamento feminino sempre ponderado pelas respostas graves e compreensivas do herói nas cordas e metais . Alguns amigos de Strauss identificaram nos temperos e destemperos femininos uma referência à própria esposa.

Nesta parte dedicada à companheira, assim como em outras, o violino é bem valorizado com instigantes passagens de complexidade virtuosística e algumas dissonâncias, em plena liberdade tonal. Os solos mais extensos podem até ser interpretados como uma verdadeira cadência .

Ao fim da exposição deste rico e intenso fraseado entre o herói e sua companheira, é o amor que prepondera como esteio importante para os desafios e conquistas de sua trajetória e se consagra com incrível beleza e paixão .

O colóquio assume ares de confidências amorosas e soam como declarações de afetuoso lirismo enunciadas no oboés, clarinetes, trompas, imantados na harmonia das cordas em uníssono . Curiosamente, “os adversários do herói” (da parte 2) “beliscam” a cena final ao se concluir em absoluto clima de paz .

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O leitmotiv, expressão atribuída ao elemento, tema, frase que se repete ao longo de uma peça sinfônica, faz-se presente nos poemas como característica da forma. Tal como na literatura, é traço muito constante no poema sinfônico. As reaparições conferem unidade ao tecido musical e moldam a personalidade do romance. Este modelo de recorrência temática muito usado por Wagner e outros compositores de ópera é inserido com maestria, nos instantes propícios mantendo os elos entre as diversas abordagens da narrativa. Em Uma vida de herói, o leitmotiv ganha destaque maior, porque além de variado se emula por todas as seções, alternando as matizes que as distinguem assiduamente, ao longo de cada fragmento, sobretudo no arremate. Este artifício oferece colorido especial ao poema, mantendo os assuntos não apenas lembrados permanentemente, mas integrando-os em “hibrida” homogeneidade.

O ápice orquestral se nota obviamente na ilustração dos campos de batalha do herói (4ª parte), que no enredo se referem às lutas por ideais e causas nobres. Os embates são inicialmente anunciados pelos metais distantes do palco, que se mesclam com a reexibição do tema principal, com relevância extraordinária neste borbulhante trecho.
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A frase exibe-se repetidamente com matizes e timbres diversos, ora fragmentada, ora inteira, com a imagem do herói surgindo em palras contrapontísticas artisticamente bem entrosadas .

Agora a atmosfera invoca o personagem a enfrentar o combate. Toda a orquestra conclama os cenários de luta, com ritmos freneticamente marciais, permeados por pequenos excertos dos temas de partes anteriores .

O espetáculo se intensifica para cumes de sonoridade feérica condizente com o panorama de duelos e contendas, ao som de tiros em uma pirotecnia de percussões poucas vezes vista no mundo sinfônico .

A densidade sonora se espirala em hemiciclos e culmina apoteoticamente com a mais esfuziante aparição do tema protagonista que descerra as cortinas do cenário de batalhas .

Sem intervalo, o quinto movimento começa por enunciar as conquistas de paz que advêm dos desafios destes embates, estrondosamente encenados. Desfilam sequenciados e cravados como emblemas apregoados pelos tímpanos em um mural de vitórias.

Um interlúdio súbito , inquieto e agitado separa o clima bucólico que se instaura pelas harpas, seguidas de suaves e poéticos fraseados melódicos nos sopros e cordas a se entrelaçarem, fazendo emergir sentimentos de consciência serenamente tranquila pelo dever cumprido em suas obras de paz .

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A exposição dos feitos heróicos se conclui com solos mais extensos, ainda com ares de elegia, e se conecta imediatamente à última parte.

Eis de volta o suspense, agora mais intimidador. É chegada a hora de, após o dever cumprido em uma vida agitada e plena de realizações, retirar-se de cena. A volta do interlúdio da seção anterior pressagia o que acontecerá e a angústia da fatalidade se estampa perante a iminente despedida .

Mas a resignação sobrepõe-se e a calma se instala nos solos crepusculares do corne inglês, que se revezam com cordas que anunciam a aurora grandiosamente sublimada. É o adeus de um herói resignado e convicto dos feitos exitosos da trajetória terrena. Silencia a orquestra e ouve-se um dos momentos de maior transcendência lírica na obra de Richard Strauss. O herói - que para muitos é auto-retratado pelo compositor - despede-se do mundo emocionado pela visão retrospectiva de uma existência proveitosa e profícua .

Para concluir o poema, após suspense introdutório do mesmo interlúdio já exibido nesta e na seção anterior, ora mais trágico e intenso, estabelece-se o enternecedor diálogo final. Como se o herói conversasse consigo, com suas memórias, com sua amada,
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com sua vida, na fusão de seu eu com o passado, presente e o futuro que se descortina inexorável.

As falas se abrem com o violino suave e romântico, quiçá referindo-se ao amor que desfrutou com sua esposa, respondido pela trompa, no mesmo tom, reiterada docemente por fagotes, oboés e clarinetes em colóquio comovente que progride se alternando entre os três timbres .

Chega, então, o epílogo, possivelmente uma das mais encantadoras conversas musicais da era romântica. Trompa e violino se comunicam divinamente a confessar toda a poesia imaginada pelo autor para descrever o magnífico trabalho. Entre eles não estão somente o herói e a companheira, como dantes o fizeram, mas a existência completa de um personagem ricamente imaginado .

Por fim, a consagração divinizada no extasiante desfecho ao estilo de Assim falou Zaratustra , outro grande poema sinfônico deste compositor que fez o gênero atingir o ponto culminante, glorificando-o como modelo mais requintado de narrativa musical, e a si próprio igualmente como um herói. Um herói capaz de nos fazer navegar em sua música com “sentimento oceânico”, a “sensação de eternidade” tão bem definidos por Romain Rolland como “vínculo indissolúvel com o universo”.

Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o inst...

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Todas as pessoas nascem dotadas de espírito gregário, e por isso costumam exercer a busca de umas pelas outras. Além disso, existe o instinto de perpetuação das espécies, o que as faz buscar um companheiro.

Quando uma pessoa é tímida, tem dificuldade de relacionamento, às vezes recorre a especialistas. Outrora existiam, nos jornais, os tais Correios Sentimentais, colunas onde essas pessoas encontravam correspondentes para se comunicar. Muitas vezes terminavam em casamento. Mas às vezes corria o risco de dar errado.

O mundo evoluiu, e os Correios Sentimentais deram lugar ao... FÊICIBÚQUI! Sim, o que vós modernosos hoje chamais de face book. Mas que ainda conserva os mesmos riscos do namoro à distância. Como é o caso que veremos adiante.


Alicia Patrícia era uma belíssima jovem moradora de Brusque, em Santa Catarina. Filha de alemão com cabocla era um morenaço nos seus 1,76 de altura, olhos verdes profundos, corpo bem esculpido. Um manequim!

Mas não conseguia casamento. E por um simples detalhe: tinha um estúpido mau-hálito, que ninguém suportava. Nem seus pais! Então resolveu freqüentar sítios de relacionamento no fêicibúqui.

Em pouco tempo aprofundou sua correspondência com um rapaz de Teresina, no Piauí, chamado Cauê Cauan, que demonstrou muuuito interesse por ela. Passavam horas trocando palavras no uotizápi, namorando pelo celular.

Acontece que Cauan era uma figura que chamava a atenção: louro de 1,86 de altura, olhos azuis cristalinos, presença que não passava despercebida. Um outdoor! Mas não conseguia casamento, pois nenhuma moça suportava o seu... CHULÉ!

Para seu desgosto até a sua mãe só conversava com ele tampando o nariz com os dois dedos... Tudo isso só fazia piorar o complexo do bichinho...

Sem ter a menor idéia dessas idiossincrasias recíprocas, o namoro dos dois evoluiu pela internet. Trocaram fotografias, emojis e correspondências, onde compartilhavam seus gostos por hábitos, leitura (mentiras dos dois, pois nenhum lê!), pratos prediletos, novelas preferidas, heróis da TV. Ela se descreveu conforme a fotografia que enviou para ele. E, naturalmente, omitiu o mau-hálito.

Ele, por sua vez, respondia a tudo o que ela indagava, e também se descreveu conforme a fotografia que lhe enviou. E, naturalmente, omitiu o chulé!

A correspondência evoluiu para romance. E o romance despejou no mar do casamento! Casaram-se por correspondência. Marcaram um encontro no hotel Quatro Rodas, de Olinda.

Para ir encontrar-se com ele, ela fez gargarejo com Periogard, e encheu a boca com vários tabletes de chiclete: hortelã, canela, framboesa, menta, baunilha, café... tutti-frutti!

Para ir ao encontro dela, ele recorreu a uma daquelas botinas de caipira, com um rabicho atrás e que, depois de fechadas, não sai nem um arzinho de dentro. Calçou meias grossas, embebidas no perfume Alfazema, da Garrão.

Encontraram-se no saguão do hotel, trocaram beijinhos tímidos, e subiram para o apartamento. Ela sempre mascando quase um quilo de chicletes e procurando falar pouco. Ele confiando na hermeticidade das botinas.

O apartamento, por ter sido reservado para uma lua de mel, estava sugestivamente decorado, perfumado com uma suave fragrância de água-de-colônia, e à meia-luz.

Chegados ao quarto ela foi direto para o banheiro tomar uma ducha e vestir uma camisola. Sozinha, sentindo-se mais confiante, pensou:

“Ele agora é meu marido, não tenho mais o que esconder!” E jogou o bolo de chicletes na privada e deu descarga.

Esperando no quarto por ela, sentado na cama king-size, ele pensou:

“Ela agora é a minha esposa, e eu não tenho mais o que esconder!” E jogou as meias na lixeira. Tirou a roupa e deitou-se na cama. No friozinho gostoso do ar-condicionado, à meia-luz... logo, logo ele adormeceu.

Acordou-se com ela deitada ao seu lado, colada em seu corpo, ciciando no seu ouvido:

“Meu bem, eu tenho um segredo para te contar...”

Ele rápido respondeu, saltando da cama:

“JÁ SEI! VOCÊ COMEU A MINHA MEIA!”