“Um homem médico é, pois, igual em valor, a muitos outros,
para retirar dardos e aplicar fármacos calmantes.”
(Idomeneu a Nestor, em plena batalha entre gregos e troianos. Ilíada, Canto XI, versos 514-5)
As palavras medicina e mezinha têm a mesma raiz etimológica. A primeira forma é erudita, proveniente de medicina, medicīnae, cuja origem, no latim, está ligada ao verbo depoente medeor, por sua vez, originário do verbo médio grego μέδομαι (médomai), ambos com o sentido de cuidar e tratar, alongando o significado em grego para também proteger. A segunda forma, mezinha, é uma corruptela da primeira, sendo, hoje, um arcaísmo, com sua datação em textos remontando ao século XIII, mas ainda muito empregada nas regiões mais distantes do mundo urbano. Registra-se, ainda, a forma meizinha, produto de uma ditongação natural, para a oralidade. O importante a guardar, independente da forma, é que, em princípio, o médico e a medicina encontram-se na esfera do cuidado, do tratamento e da proteção.
Sempre que vai um ano e vem outro, é comum refletir sobre o que se viveu e fazer planos para o futuro. O tempo, afinal, existe para isto: levar-nos a esquecer as frustrações pelo que não deu certo e nos estimular a fazer novos planos. Não há dúvida de que no atual momento, com o vírus circulando por aí, as metas vão encolher bastante. Como projetar viagens não sabendo se será possível realizá-las? Como programar festas, de aniversário ou do que for, se os epidemiologistas continuamente nos alertam sobre o risco das aglomerações?
A luta contra a pandemia está sendo difícil porque nem todos estão interessados em colaborar. Se estivessem, abdicariam um pouco dos próprios interesses em benefício do bem comum. Por que não fazem isso? Talvez por se acharem “imortais”, ou pensarem que estatisticamente têm poucas probabilidades de ser acometidos pela doença. Como se ela só atingisse os outros... É o velho egoísmo triunfando sobre as nossas ralas propensões altruístas.
2021 vai ser o ano da vacina. Ou das vacinas, pois haverá muitas, com diferentes níveis de eficiência para as distintas faixas da população. O vírus não se extinguirá sem que em nosso organismo proliferem os anticorpos capazes de devorá-los. Curiosamente, ainda assim há quem se oponha a esse inestimável recurso da ciência – por ignorância, birra ou (o que parece mais comum) posicionamento ideológico. Chega-se ao ponto de desejar o fracasso de quem se empenhe em importar um tipo de vacina que tenha mais eficácia na cura da doença.
O réveillon é também sinônimo de Carnaval, mas fica difícil antecipar uma folia que não vai se prolongar em fevereiro. Principalmente se a gente se lembrar de que, no período carnavalesco passado, foi o vírus quem fez a festa. A tendência (pelo menos para os prudentes) é ficar em casa abraçando os parentes próximos, com os quais se tem a certeza de não correr riscos. Haverá em tudo isso algo de sombrio, claro. É grave e penoso meditar sobre o tempo quando paira no horizonte a ameaça de um vírus letal. Ele é uma sombra que só irá se desfazer quando a vacina começar a produzir os seus efeitos.
A vida é um processo de ajustamento contínuo às circunstâncias. Chegamos aonde chegamos na escala evolucionária devido à nossa ilimitada capacidade de adaptação. O ser humano se adapta a tudo, pois o instinto de conservação o impulsiona a ir em frente. Mas “ir em frente” não significa necessariamente evoluir. Pode significar, como no atual momento, apenas sobreviver. À meia-noite do dia 31, brindaremos sobretudo à nossa sobrevivência num ano em que tantos se foram.
Há que se entender ou não o "ornitorrinco do pau oco"?
Eu, por exemplo, vivo em busca de algum autoentendimento. Só recentemente, relendo uma definição do Breviário da decomposição, de Emil Cioran, é que me descobri um pessimista entusiasmado.
Mas, antes de uma definição psicológica, quem ler esta coletânea de meus três primeiros livros já publicados, em que incluí poemas inéditos, terá primeiro uma impressão de estranhamento e de curiosidade: o porquê de meu nome.
Todas as vezes que via essa data, 2020, imaginava algo estranho. Gostava mais do 1982, 1986, 1995... até 2019, ainda ia. Eu me sentia em casa. Mas 2020 sempre me pareceu diferente. Mesmo nunca tendo simpatizado com ele, minhas esquisitices nunca poderiam me fazer imaginar como seria esse ano.
O Ano Novo estava para chegar. O rebuliço tomando a casa: a mesa se enfeitando de comidas variadas. Luz faiscando por toda a parte, cumprimentos e beijos. Abraços de quem não se encontrava há tempo. O relógio de parede no tic tac fastidioso, antigo, o mostrador em algarismos romanos.
Narinha e o marido Durvalino não perdiam um pagode nas tardes de sábado, lá no botequim do Alcides. Dos que freqüentavam aquele samba, Celestino era o protagonista, um danado no cavaquinho, além de que era também bom de gogó e sua cantoria era o que mais animava a gafieira. Sem Celestino o pagode perdia o fôlego, desafinados teimavam em cantar e ninguém se prontificava a arrastar as mesas para um rala-bucho.
No que pese a importância dos estruturalismos, houve quem utilizasse os gráficos, os esquemas, as chaves, os colchetes etc., como se fossem bisturis nas mãos de um médico legista que dissecasse o texto (o cadáver) à semelhança de um redivivo Jack, o Estripador. Ou seja, dividiam-no mecanicamente em partes, reduzindo-o a um monte de roldanas, porcas, parafusos, molas, prontos para serem vendidos no ferro velho da esquina.
Tenho verdadeiro fascínio por abadias. Antes havia lido muito sobre a primeira que iria conhecer: a Abadia de Fontenay (Borgonha). Ela foi fundada no século 12, mais exatamente em 1118, por São Bernardo de Claraval que pertencia à ordem dos monges cistercienses, criada em 1008. Eles abandonaram a vida de fausto em Cluny, e abraçaram a vida simples e reclusa.
Em seu 18º episódio, a Pauta Cultural da ALCR-TV homenageia 3 textos de autoras que se revelaram pela acolhida e recepção com relevante número de compartilhamentos, e 3 cronistas já consagrados no mundo das letras paraibanas, que compõem a galeria de autores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
A pretexto do Natal de luzes falsas, mais de venda que de louvor, sem que se apresente em tempo o ouro dos paus d’arco nem o fervor amoroso dos abraços (comentávamos isso), José Octávio de Arruda Melo telefona para acrescentar o luto dos visionários com a morte de Balduíno Lélis.
Sou do tempo (isto é apenas um fato, não um juízo de valor) em que experiência era algo que se fazia em laboratório, com pipetas e tubos de ensaio. Coisa de cientista ou candidato a. Agora tudo mudou. Tudo se tornou experiência.
O “Memorial do Convento” é um dos principais romances do escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura. O livro trata da construção, na primeira metade do século 18, de um Convento localizado em Mafra, nos arredores de Lisboa, numa época em que Portugal vivia um período de grande opulência, alimentada pelos fartos carregamentos de ouro e diamantes que chegavam do Brasil.
Por ser professor de pós-graduação em uma empresa com atuação nacional, com certa frequência estou em algum aeroporto. Geralmente, entre a sexta-feira e o domingo. Isso me faz passar longos períodos por aquelas salas de espera, aguardando o vôo.
Nestas esperas, fico observando o vai-e-vem das pessoas: aos grupos, sozinhas, com pressa, com crianças, enfim, cada uma de sua forma. Contudo, chama-me atenção dois diferentes tipos de pessoas: os idosos e os cadeirantes: eles não ficam presos às suas limitações, mesmo que, para isso, precisem da ajuda de alguém. Simplesmente vão! Não se rendem às dificuldades e encontram alguma forma de atingir seus objetivos. Tais exemplos, podemos trazer para nossas vidas.
Não nos curvarmos diante dos obstáculos que a vida nos traz, deve ser nossa atitude. O fardo, muitas vezes, é pesado, mas não se deve deixar que o amargor e o desânimo tomem conta de nós.
Assim, da mesma forma que existem pessoas que buscam a mobilidade física, também se deve buscar a mobilidade emocional! A leveza é que traz felicidade, e este deve ser o nosso o objetivo: alcançá-la, mesmo encontrando pedras no caminho. Em nosso DNA, está a resiliência.
Encontrar pessoas prostradas pelos becos da vida, sem saber lidar com seus sofrimentos e limitações, que deixaram de sonhar, entregues à apatia, não é raro ou incomum. Ficar chorando as dores do passado só vai trazer peso à nossa alma. É necessário quebrar os grilhões que nos acorrentam a sentimentos dolorosos, armazenados no coração. Limpar a mente de pensamentos tóxicos, nocivos, que inundam o coração, que nos fazem enxergar os problemas com lente de aumento e embaçam o olhar para o horizonte, é uma forma de conquistar mobilidade. Retirar todo este “peso” extra, trará leveza para a vida, dará condições de passos mais largos, com sonhos bem traçados, sem âncoras a nos prender, para, finalmente, encontrar novos portos.
Minha mãe nasceu em Itabuna, Bahia. E desde então a Bahia faz parte da minha vida. Daquela cidade cacaueira saiu a belíssima e exótica Miss Brasil 1962, Maria Olívia Rebouças, prima minha.
Na antiga Vila de Batalhão, um cavaleiro andante iniciou uma viagem sem volta. Ancorado em seus oitenta e oito anos intensamente vividos, foi um baluarte da cultura, um semeador das coisas e das criaturas, uma genial mente pulsante que transcendia o mundo natural e o tempo. Um construtor de sonhos, um visionário dos saberes, dos fazeres. Um topógrafo das artes que sabia reconhecer e valorizar a riqueza das coisas mais simples na cartografia de nossos traços culturais, transformando-os em pedra de toque na criação de casas de memória, verdadeiros palcos sublimes eternizando nossas raízes.
Partida
quando eu estiver velhinho, cheio de rugas
só os galos estarão cantando o amanhã
e o pasto já terá incendiado todos os trigos
já não haverá mais porque procurar fugas, da varanda,
nem escolher entre a tarde e a manhã
Sempre achei que os estudos científicos sobre o comportamento humano são profundas viagens. Lembro-me de que na década de 1980, já lia os artigos do Eduardo Mascarenhas, (desencarnado aos 54 anos) e Xênia Bier (que se passou aos 80 anos de vida). Lia-os com uma curiosidade aguçada. Hoje, com muito mais interesse, coleciono as palestras do psicoterapeuta Roberto Crema, criador da UNIPAZ, Universidade Internacional da Paz no Brasil.
Difícil imaginar um pai perder sua única filha, vítima de doença súbita com apenas 5 anos de idade, logo após ser sentenciado com endocardite incurável e, mesmo diante de tamanha fatalidade, escrever o seguinte:
Choveu pela manhã... Uma água leve, pequenas gotas que se derramavam no asfalto, nem chegavam a ser suficientes para banhar a cidade. Era início do verão natalino, cheio de sóis, calores e luzes noturnas artificiais multicoloridas em prédios, plantas, varandas e variantes humanas que se multiplicavam na tentativa de sinalizar caminhos feito como o entrelaçamento de Saturno e Júpiter, tão próximos, tão distantes.
Fica longe e faz muito tempo. Não me lembro, portanto, quem tenha me animado a pegar o giz e sair garatujando em portas e janelas a alegria do Natal e novo ano.
À guisa de introdução. Desde muito tempo admiro as crônicas de José Augusto Romero, ou “Seu Romero”, como respeitosamente assim o chamo. Não o conheci em vida física, pois quando tornei-me espírita em 1984, ela já tinha retornado à Vida Maior. Mas o autor se revela pelas suas obras. Assim surgiu a empatia entre nós, ao conhecer seu legado literário e o trabalho a frente da nossa amada Federação Espírita Paraibana. Desafie-me a escrever essa crônica a quatro mãos e a duas mentes, tendo como inspiração a sua crônica intitulada, Jesus, publicada no Livro Lições da Vida Maior, compêndio de crônicas organizado pelo seu filho Carlos Romero.
A casa era de madeira e a mesa havia sido feita por meu pai, marceneiro amador. Sobre ela, a toalha de motivos natalinos, bordada em ponto-cruz por minha mãe.
Em tempo de pandemia parece que até a natureza sente sua ação devastadora, pois a devastação é perceptível. Basta olhar as praças e os arredores da cidade para se constatar árvores com menos flores, apesar do período que enceta o colorido dos paus-d’arco, das acácias e das roseiras.
Ele estava seriamente desconfiado de que Papai Noel não existia. Os pais protestavam, não queriam que se despedisse tão cedo da infância (como se não houvesse razões mais fortes que levavam a isso!), mas ele achava que o estavam tapeando. Enganavam-no além do tempo em que deveria ser enganado. De qualquer modo, com os seus onze anos, não tinha certeza.