Se tivesse nascido na Grécia, poderia ter sido o precursor do teatro grego. Certamente, o protagonista das homenagens ao deus Dionísio , n...
Ednaldo do Brasil
Se tivesse nascido na Grécia, poderia ter sido o precursor do teatro grego. Certamente, o protagonista das homenagens ao deus Dionísio, nas mirabolantes tragédias e comédias que marcaram os lucilantes canhões a gás dos palcos da grande época. Em Roma, teriam visto ao lado de Plauto e Terêncio e, noutras plagas, fazendo odes ao Shakespeare ou Molière, tudo dentro das magias teatrais, dos malabarismos que sempre marcaram o papel no design de sua apaixonante arte cênica.
Cabisbaixa, a moça se afasta do caixa da farmácia sem se sentir autorizada a apanhar e poder sair com a pequena sacola de compras. Recolhe l...
O mais curto dos romances
Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin , no seu prim...
Gavroche, um espírito libertário
Gavroche é o espírito parisiense em forma de criança. Mas não uma criança qualquer. Gavroche é o que o francês chama de gamin, no seu primeiro sentido, de viver a brincadeira e as licenciosidades das ruas, com espírito crítico, gozador e libertino. Para a época de Hugo, introdutor da palavra na língua francesa literária, com Notre-Dame de Paris (1831) e Claude_Gueux (1834), gamin era termo da língua popular não digno de frequentar o vocabulário dos grandes escritores. Hugo associa definitivamente o vocábulo a Gavroche, personagem memorável de Les Misérables (1862). Tão memorável que repercutiu em nosso Cruz e Souza, no célebre soneto “Acrobata da dor” – “Salta, Gavroche, salta, clown, varado/Pelo estertor dessa agonia lenta...”
Em março de 1808, a Corte portuguesa desembarcava no Rio de Janeiro. Deixara Lisboa, fugindo dos exércitos de Napoleão que haviam invadido...
A vovó pianeira
Em março de 1808, a Corte portuguesa desembarcava no Rio de Janeiro. Deixara Lisboa, fugindo dos exércitos de Napoleão que haviam invadido Portugal. Na bagagem, arrumada às pressas, não foram esquecidos alguns pianos. Começava aí a história do piano no Brasil.
Com a família real e os pianos vieram, também, as danças europeias. Inicialmente, as valsas e as quadrilhas. Em seguida, chegavam os gêneros musicais que predominavam, em cada momento, nos salões da Europa: polca, mazurca, schottisch, habanera e tango.
Somos a todo momento alcançados pelo poder das palavras. Porque elas refletem pensamentos e sentimentos. Tanto podemos ser impactados posit...
O cuidado com as palavras
Somos a todo momento alcançados pelo poder das palavras. Porque elas refletem pensamentos e sentimentos. Tanto podemos ser impactados positivamente, quanto podemos sofrer consequências negativas de palavras que pronunciamos ou que ouvimos. Há quem diga que as palavras mostram o coração.
Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um fla...
Três sombrinhas
Primeiro foi uma sombrinha amarela largada ao chão. Deitada ali, sob árvores de um bosque, desprezada ou, quem sabe, a dona clicando um flash artístico para expor. Certamente, uma fotógrafa de alta sensibilidade.
Semana passada, a mesma sombrinha emergiu; sobressaída de uma multidão de guarda-chuvas abertos. Não chovia. Pensei: eis onde foi parar o motivo da foto! E, creiam, recentemente, uma vermelha conduzida por alguém, tempo frio, invernoso; a ou o condutor enfrentava a temperatura enfiado num cachecol e roupas de enganar frio.
Nesse momento de turbulência moral e ética pelo qual passa nosso país, estão fazendo falta os irmãos Souza, aqueles que deram sangue pelo Br...
Os irmãos Souza
Eram três irmãos, todos prenhes de brasilidade conduzindo-a por toda a vida, cada qual em seu mister. Não sem emoção, os revi no bem produzido documentário “Irmãos de Sangue”, dirigido pela cineasta Ângela Patrícia Reiniger e que está sendo veiculado em horários alternados pelo canal Curta!, da TV por assinatura.
Quando tinha 10 anos (era o ano de 1974), meu pai me deu dinheiro para que comprasse meu presente de Natal. Desci correndo e fui ao Jairo Ma...
Sobre Chico Buarque de Hollanda
Por que digo isso? Ao lembrar dos ataques dirigidos a Chico Buarque de Hollanda nos últimos anos. Gregório Duvivier, em crônica publicada na Folha, chegou a dizer que, para ele, os eventos contra o compositor e escritor causavam indignação de tal monta que era “como se chutassem uma santa ou rasgassem a Torá”.
Amo ter sido uma garotinha de laço de fita no cabelo e segredos na caixinha, como a da relíquia que vi conservada por minha mãe, num antigo...
Em algum lugar do tempo
Amo ter sido uma garotinha de laço de fita no cabelo e segredos na caixinha, como a da relíquia que vi conservada por minha mãe, num antigo álbum de fotografias.
Uma redescoberta do ontem, durante visita à irmã querida e guardiã das nossas memórias afetivas. Zoya vem atuando, com maestria, como a aglutinadora do bem-querer da família Maia Duarte.
A convocação para a guerra era esperada e inevitável. Imagine a preocupação da família… Mas, ele não. Estava pronto e às ordens. Nunca es...
O cronista foi para a guerra
A convocação para a guerra era esperada e inevitável. Imagine a preocupação da família… Mas, ele não. Estava pronto e às ordens.
Nunca esqueceu a visão de despedida que teve pela janela do trem, na estação ferroviária de João Pessoa, dos pais e da irmã caçula com uns 10 anos de idade. A garotinha tinha uma mão segurada pela mãe e a outra solta no adeus. O semblante tríplice era de cortar coração. O caçula dos homens estava indo para a guerra!
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse ...
Felicidade tem idade?
Todos nós procuramos ser felizes, mas a expectativa da velhice causa um certo temor, um receio do que nos proporcionará a felicidade nesse último período da vida.
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro , depois da sua aula-conferência tendo...
A travessia de Diadorim
Quando à porta da Academia Paraibana de Letras eu me despedia da professora Ângela Bezerra de Castro, depois da sua aula-conferência tendo como tema central a personagem Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, respondendo a uma indagação dela de que muitos começam e nunca terminam a leitura deste livro emblemático, penitenciei-me. Disse-lhe que em três ocasiões coloquei de lado o monumental romance, um dos cem principais livros até agora escritos no Brasil.
Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou. O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queima...
Estarei vendo coisas?
Alguma coisa mudou, realmente. Falta apurar por conta de quem ou de quê, mas que mudou, mudou.
O Pantanal pegando fogo; a Amazônia queimada, revirada e pelada; a capital do Império, da República, de todas as culturas, o Rio, virou antro sem trégua de ladrões públicos...
Finalmente assisti ao filme "A Livraria" (2017), adaptação do livro homônimo da escritora inglesa Penélope Fitzgerald, dirigido p...
'A Livraria' e o amor pelos livros
Marruá era o apelido de João. No breve tempo em que participou de nossas brincadeiras diárias, nós o chamávamos de João. Sobrenomes não exis...
O prêmio Nobel de Marruá
Sem direito a escola, seus colegas carregadores, alguns adultos, outros quase maduros, se encarregaram da docência, e João, que a partir desse convívio seria Marruá até o fim, com idade de ser iniciado em Monteiro Lobato e nas coisas do coração, foi iniciado em Carlos Zéfiro, no bordel e na cachaça.
Os professores de João não precisaram de muita didática: a pedagogia do cansaço, dia após dia, e a ausência de qualquer possibilidade de sonho arrastaram definitivamente o ingênuo João para o oblíquo acalanto das garrafas e para o submundo dos pobres corpos que se alugam. Mas o dinheiro era curto. Muito curto. Quase todo ia parar nas mãos do pai de João, que ganhava outra migalha, e tinha a mãe e mais três crianças em casa para sustentar. E Marruá, que passou a brincar com Baco e Vênus, deu adeus à Sovaqueira, abraçou as cargas até no domingo e passou a sorver, todos os dias, toda a aguardente vagabunda que cabia em seu curto bolso.
Em todo o bairro da Prata, Marruá era conhecido pela força e pela capacidade de trabalho. Entre uma saca de fubá e uma saca de arroz, ele dilatava o tempo e limpava um quintal, arrancava um tronco recalcitrante, ajudava a limpar uma fossa... Não escolhia trabalho. Admirado por seus braços, também o era pela quantidade de cachaça que sorvia em grandes goles, boca na garrafa, sem nunca perder um gole para o santo ou cuspir algumas gotas, nojento gesto habitual entre os cachaceiros, que sua sede dispensava.
Mas os professores de Marruá só puseram no quadro-negro o açúcar da cana e os encantos de Vênus. Marruá não decifrava o nome aguardente, e os 38 graus iam derretendo seus músculos e nervos. Marruá não conhecia os abismos de Vênus, e a ordinária deusa, ao lhe vender minutos de prazer, deixava-lhe tatuagens na pele e na veia, que a ignorância grande e o curto dinheiro não podiam apagar.
Marruá foi regressando a João. A princípio, a custo carregava a saca de 60 quilos, que já não erguia. Depois, os músculos, lassos, nem as carregavam mais; só aceitavam sacos menores, e isto, além da zombaria, encurtava os já pequenos ganhos. Marruá, embora continuasse sendo chamado assim, via a sua força se esconder e os sacos começarem a sumir. Restavam pequenos biscates, que mal financiavam seu vício. Marruá, que era a viga mestra da família, despencara sobre si mesmo, e agora a vida virava areia movediça.
Quase sempre sem um tostão no bolso, passou a fazer ponto à porta de Seu Cristino, de quem varria a calçada e a bodega, em troca de uma sobra do almoço e um pouco de cachaça, que o bodegueiro só lhe entregava no final do dia. Ao longo do dia, seguia pedindo a um e a outro cachaceiro que lhe pagasse uma lapada.
Alguns porcos (animal que costuma travestir-se de gente) com algum dinheiro na alma e nenhum escrúpulo no bolso diziam com um sorriso de hiena: “Só pago se for uma garrafa: e você tem de tomá-la todinha enquanto eu estiver aqui”. E Marruá, num lasso sorriso de sede, tragava inteiro o áspero vidro, embora algum tempo depois fosse delirar o resto do dia na calçada da bodega. Mas, depois de um certo tempo e muitas garrafas, os vis reptos dos porcos já não abriam o sorriso de Marruá – o juízo já não suportava aquela medida: três lapadas já o colocavam em órbita, e tudo que ele conseguia era ofender-se e, na sua lhanura, emudecer.
Marruá continuava a fazer ponto na bodega de Seu Cristino, onde, entre uma zombaria e outra, pedia que lhe pagassem uma, e passou a pedir comida nas casas. Sua fama de forte foi completamente apagada, mas, embora o nosso campeão da garrafa agora mal vencesse um copo, os recordes que batera na bodega de Seu Cristino, no auge de seu vigor, permaneciam como referência na mitologia do bairro, e o nosso pobre-diabo continuou sendo o padrão mensurador dos cachaceiros da Prata.
Uma das casas a que prestou muitos serviços e em que agora costumava pedir uma sobrinha de comida era a casa de Seu Antônio e Dona Cristiana. Este casal de idosos, com seu pequeno horizonte de informações, vivia disputando o troféu do saber. Os dois estavam vendo o jornal da noite. Uma das manchetes anunciava o ganhador do Prêmio Nobel da Paz. Dona Cristiana, do alto de sua ânsia de saber e de desafiar o marido, indaga-lhe: “E o que é esse Prêmio Nobel, Tonho?” E Seu Antônio, com o orgulho e a felicidade de poder ilustrar, com todo o seu saber, a mulher, responde-lhe: “Cristiana: tu não sabes que é um prêmio que se dá ao melhor do mundo?”. Dona Cristiana, não satisfeita ainda, insiste: “Dá um exemplo, Tonho.” Seu Antônio, na bucha: “Por exemplo: Marruá, na cachaça.” E dona Cristiana, por entre dentes: “Exemplo bom, este, viu?”
Ao menos como figuração, Marruá foi agraciado com o Nobel, e, sem que o soubesse, o nosso João “subiu ao céu, num avião de papel.”
Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissiona...
Folclores...
Quando tornei-me escritor profissional tomei um susto ao deparar-me com a palavra Paideuma! Devo explicar que para mim escritor profissional não é necessariamente quem ganha dinheiro com literatura (isso quase ninguém ganha no Brasil), mas quem vive em função do mundo e da vida literária.
Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões...
Mostruário Persa, de Letícia Palmeira
Eu não gosto da junção de palavras que, por força do uso, da repetição, dissemina o lugar-comum, o já lido e relido, os clichês, os chavões, o dejà vu. Antes, gosto dos paralelos insólitos, das palavras ou dos temas que só aparentemente se repelem. Enfim, gosto da poesia e da ficção que guardem uma certa semelhança com a loja de belchior do conto do “Bruxo de Cosme Velho”, onde convivem objetos heteróclitos, desencontrados, mas que se compõem e se complementam: panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, caixilhos, binóculos, um cão empalhado, dois cabides...*
O mito da mulher perfeita foi criado pelos trovadores. Como a sociedade feudal era extremamente machista, e lá a figura feminina não decid...
Sobre a mulher ideal
O mito da mulher perfeita foi criado pelos trovadores. Como a sociedade feudal era extremamente machista, e lá a figura feminina não decidia nada (a não ser, por exemplo, com que plantas aromáticas iria lavar os pés do marido), era necessário compensar essa inferioridade dando a ela contornos ideais. Nas cantigas, a mulher não é a escrava do cotidiano – é a senhora, ou a “mia senhor”. Esse tipo de culto se limitava ao plano da arte, claro; no dia a dia, a discriminação continuava a mesma.
Caminhada Anda Andarilho Adiante Anda Caminha Caminhante A caminho Avoa Avoante Avoa O pensamento
Caminhadas e andanças
Anda
Andarilho
Adiante
Anda
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Caminhante
A caminho
Avoa
Avoante
Avoa
O pensamento
Antes da pandemia, vi numa livraria uns títulos estranhos. Tinham a ver com 1001 sugestões de filmes e livros para ver e ler antes de... mor...
Antes de... morrer
Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente...
Pauta Cultural (Ep. 05)
Mais um episódio da ALCR TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
Nesta pauta, destaque para o lançamento do novo livro do ambientalista e sanitarista Sérgio Rolim Mendonça, "A saga do Chanceler Rolin e seus descendentes"; o "Dicionário de Eneida", do professor Milton Marques Júnior, e o Concurso de Poesia Sertaneja promovido pela Acauã.
Além dos comentários dos leitores Djane Santos, Sol Pordeus e Carlos Augusto Romero Filho. Não deixem de assistir até o final.
Um arrebatamento literário após uma peregrinação de sofrimentos ao desvendar o homem e da terra dos sertões brasileiros. Euclides da Cunha ...
Os sertões presentes de ontem e hoje
Um arrebatamento literário após uma peregrinação de sofrimentos ao desvendar o homem e da terra dos sertões brasileiros. Euclides da Cunha mergulhou no interior nordestino com uma visão e retornou com um novo olhar. Consegue, em que pese a proximidade histórica com os fatos narrados, criar com estilo literário, mas também como precisão documental, uma obra-prima sobre um capítulo sangrento da história brasileira.
Estou cansado. Chega uma hora em que a gente cansa, cansa de agradar, de fazer e de sorrir. Porque nada motiva a sorrir. E só se deixa de s...
O preço da solidão
Estou cansado. Chega uma hora em que a gente cansa, cansa de agradar, de fazer e de sorrir. Porque nada motiva a sorrir. E só se deixa de sorrir em duas situações, ou quando o corpo está enfermo ou quando se é esquecido.
No porão de um prédio localizado na Sheridan Square, no bairro novaiorquino de Greenwich Village, funcionou a boate Café Society, entre os a...