Queria poder escrever sobre o Amazonas ou a Amazônia. Quem, no ramo, não curte essa vontade? O rio imenso, primeiro orgulho interno e fama...
O contrassenso pasmoso
Queria poder escrever sobre o Amazonas ou a Amazônia. Quem, no ramo, não curte essa vontade? O rio imenso, primeiro orgulho interno e fama universal do Brasil, irrigando o maior bioma do mundo, a Amazônia. Mas bem cedo, menino ainda (e ainda mais por ser menino), o mapa que mandaram o menino pintar de verde de mangueira foi perdendo a alegria, ficando sempre mais escuro e impenetrável.
Fiz do mar morada. A cada mergulho menino, a cada olhar sob o Sol veraneio, cada visita em qualquer estação ou mesmo direção. Embarquei par...
Ao mar
Fiz do mar morada. A cada mergulho menino, a cada olhar sob o Sol veraneio, cada visita em qualquer estação ou mesmo direção. Embarquei para amar o mar ao encontrá-lo aqui e alhures, sob o céu azul, ou sob nuvens, pronto para ser banhado pela chuva. Sal adocicado pelo vento, pela água do céu, pelos coqueiros curvos em deferência ao mestre mar.
Fugindo de Javert, Jean Valjean invade o terreno do convento do Petit-Picpus-Saint-Antoine , na pequena rua Picpus, onde viviam enclausura...
Quem foge não tosse, nem espirra
Fugindo de Javert, Jean Valjean invade o terreno do convento do Petit-Picpus-Saint-Antoine, na pequena rua Picpus, onde viviam enclausuradas as bernardinas da adoração perpétua. Lá, ele encontra Fauchelevant, por ele ajudado em uma ocasião anterior (Parte I, Livro V), trabalhando como jardineiro (Parte II, Livros V-VI).
Salvo momentaneamente da perseguição, Jean Valjean precisa arranjar um jeito de sair do convento, para entrar novamente, passando-se por irmão de Fauchelavant, deixar Cosette como interna e ali trabalhar como ajudante de jardineiro. A única forma é sair dentro de um caixão de defunto, que deveria levar o corpo da madre Crucifixion, morta ao raiar do dia.
A madre Innocente, superiora do convento, quer enterrá-la por baixo do altar, contrariando a lei. Para isso, ela pede a ajuda de Fauchelevant que, além de jardineiro, é também coveiro. Para que a morta pareça estar dentro do caixão, o plano é enchê-lo de terra. Assim, ficcionalmente, cria-se uma situação que permite Jean Valjean se evadir do convento. Se a madre Innocente decide burlar a lei, Fauchelevant decide burlar a madre, preenchendo o caixão, não com terra, mas com o nosso herói.
Há risco de Jean Valjean morrer sufocado, pois ele deve ser enterrado, com a ajuda do coveiro do cemitério Vaugirard, e depois desenterrado. Não há outra solução, no entanto. Fauchelevant, preocupado com a situação, pergunta a Jean Valjean o que aconteceria se ele tossisse ou espirrasse, quando estivesse dentro do caixão. Nosso herói, sempre determinado, responde-lhe com segurança e clareza: “Quem foge não tosse, nem espirra” (“Celui qui s’évade ne tousse pas et n’éternue pas.”, Parte II, Livro VIII, Capítulo IV).
Esta contextualização é necessária para que entendamos a nossa crítica à série, em 4 capítulos, Les Misérables (França, Itália, Estados Unidos, Alemanha e Espanha, 2000), adaptada do romance de Victor Hugo por Didier Decoin e dirigida por Josée Dayan, tendo no elenco Gérard Depardieu (Jean Valjean), John Malkovich (Javert) e Christian Clavier (Thénardier).
Consideramos essa série uma das melhores adaptações da obra, tendo em vista que o tempo de duração, 6 horas, dá uma boa margem para se contar a história de um romance copioso, como é o caso de Os Miseráveis. Reconhecemos a dificuldade das adaptações e, mais ainda, o fato de que as linguagens romanesca e cinematográfica são diferentes.
Por outro lado, seria purismo de nossa parte esperar uma fidelidade total na adaptação. No entanto, consideramos também que há adaptações de situações que só complicam a trama. A caracterização da personagem Toussaint como homem, na série, é um bom exemplo disso. No romance, Toussaint é uma moça velha, salva por Jean Valjean do hospital e da miséria. Na série, Toussaint é um homem mudo, que esteve na prisão com o nosso conhecido personagem.
Pode parecer implicância criticar essa transformação de uma personagem feminina em uma masculina. Não é. Isto fere a estrutura da narrativa de Hugo. Não esqueçamos nunca que todo texto é uma estrutura e se alguma peça da estrutura é trocada, acaba comprometendo a verossimilhança interna.
O narrador deixa bem claro o porquê da escolha de Toussaint como doméstica: “une fille [...] qui était vieille, provinciale et bègue, trois qualités qui avaient déterminé Jean Valjen à la prendre avec lui” (“uma moça [...] que era idosa, provinciana e tinha dificuldades no falar, três qualidades que determinaram Jean Valjean a tomá-la consigo.”, Parte IV, Livro III, Capítulo I). Estas qualidades são fundamentais para quem está se escondendo e busca discrição.
No caso de Toussaint como homem, o comprometimento da condição de fugitivo de Jean Valjean é claro. Mesmo que o personagem seja mudo, a sua condição de ex-presidiário e ex-colega de Jean Valjean falam por ele. Além disso ele é forte e careca. O que chamaria mais atenção em Paris, ainda que no resguardo da casa da rue Plumet, uma moça bem madura, com deficiência na fala, e provinciana, ou um homem mudo, forte e careca?
Há, portanto, uma questão estrutural dentro do romance, que não deve ser esquecida: a necessidade de discrição e de anonimato. Jean Valjean se esfuma no ar, encurralado por Javert e seus esbirros, numa rua sem saída, em Paris, galgando um muro enorme, levando consigo Cosette, pulando para dentro do convento Picpus, onde permanece anos sem sair.
É essa fidelidade à estrutura que nos leva a outro episódio dentro da série. Durante uma festividade, uma alta autoridade da magistratura visita o convento e Jean Valjean tem uma altercação sobre justiça, com esse senhor. A cena não ocorre no romance, pois o nosso personagem, como ajudante do jardineiro Fauchelevant, de quem se faz um falso irmão, evita que as pessoas o vejam. Tudo o que Jean Valjean deseja é a obscuridade, o anonimato, nos anos em que Cosette está como interna do convento. Não ser visto ou notado é fundamental para ele, que tem em seu encalço o inspetor Javert, a persegui-lo obsessivamente.
O que nos parece é que o adaptador e o diretor da série projetam no personagem o seu próprio ativismo social. Hugo era um homem reconhecidamente engajado na luta pela justiça, ainda que não fosse necessariamente de esquerda, ele sabia que ter consciência da justiça social não é prioridade de partidos políticos.
Ao longo do romance, o escritor vai disseminando suas ideias contra as injustiças sociais, a ponto de Os Miseráveis ser um dos maiores romances de toda a literatura mundial sobre o assunto, mas não as coloca na boca de Jean Valjean. O personagem é de pouco falar e de muito agir; ele procura ser justo não por palavras, mas pela ação, como faz quando se entrega para salvar alguém de uma injustiça. É o caso do pobre miserável, conhecido como “le père Champmathieu”, confundido com Jean Valjean e que está prestes a ser condenado à prisão em Toulon, o lugar horrível onde nosso herói passara 19 anos, pela tentativa frustrada do roubo de um pedaço de pão.
Valjean, nessa ocasião, encontrava-se na cômoda posição de prefeito de Montreuil-sur-Mer, atendendo pelo nome de Monsieur Madeleine. Ele se desloca até Arras, a tempo de revelar sua identidade perante o júri de Champmathieu, por não ter como ficar em paz consigo próprio, caso um inocente fosse condenado em seu lugar (Parte I, Livro VII). Se ele tivesse se omitido, estaria livre de Javert para sempre, mas não estaria livre de si mesmo, de sua consciência. Atento, talvez, às lições platônicas, Victor Hugo sabia que a Justiça começa quando a buscamos e a encontramos dentro de nós mesmos.
O pensamento em busca de justiça contido em Os Miseráveis tem três fontes: o amor ao próximo, de Jean Valjean; a obsessão doentia de Javert pelo cumprimento estrito da lei; a ação violenta dos revolucionários da Turma do ABC, simbolizada nas barricadas de 1832, contra o rei Louis-Philippe. Os revolucionários são mortos pelas forças da monarquia; Javert se suicida, diante do conflito de não poder mais perseguir quem lhe salvou a vida. A única busca que resulta em algo é a de Jean Valjean, que aprendeu, desde cedo, a partir da transformação operada em si pelo Monseigneur Myriel, o bispo de Digne, que palavras não tornam uma pessoa justa, mas as suas ações:
“Ele sentia que tocava o outro momento decisivo de sua consciência e de seu destino; que o bispo marcara a primeira fase de sua nova vida e que este Champmathieu marcava a segunda. Após a grande crise, a grande provação.”
Ações coerentes com o que se pensa e se prega, ainda que em prejuízo de si mesmo. Discursos belos, eloquentes, inflamados e idealistas caem bem em estudantes revolucionários, como Enjolras. Jean Valjean fala pouco, como já dissemos, pouco discursa, mas age o suficiente para livrar uma cidade da miséria, um inocente da cadeia, uma órfã da exploração e um jovem da morte.
Nosso herói relutara em ser prefeito de Montreuil-sur-Mer, para não chamar a atenção sobre si. Por insistência da população, que o tinha como um bom administrador aceitou, com reservas, o cargo. De imediato, atraiu a atenção de Javert, prontamente desviada pelo caso do père Champmathieu. Jean Valjean deu a sua lição de coragem e justiça ao se revelar, mas também aprendeu que não deveria mais chamar a atenção sobre si, se quisesse ficar longe das garras inflexíveis de Javert. Jamais, portanto, ele iria altercar com um magistrado.
Quem se evade não tosse e nem espirra...
Buscar assunto na falta de assunto é uma das maiores artimanhas de quem escreve. Certa madrugada lembrei de um tempo em que assinava coluna...
E por falta de assunto…
Buscar assunto na falta de assunto é uma das maiores artimanhas de quem escreve. Certa madrugada lembrei de um tempo em que assinava coluna fixa no caderno de cultura do jornal A União.
Ano de 1962. Do ambiente colegial do Liceu Paraibano, ingressava eu no Curso de Letras da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da...
Virginius, um lord professor
Ano de 1962. Do ambiente colegial do Liceu Paraibano, ingressava eu no Curso de Letras da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Paraíba. O Liceu já era um colégio aberto, diferente dos demais, geralmente de orientação religiosa, mas entrar na FAFI, como a chamavam os estudantes, abria uma fonte de expectativas para mim. Estava curiosa de tudo, ainda que a timidez me mantivesse quieta à espreita dos novos momentos.
O pensador francês Guy Debord classificou de “sociedade do espetáculo”, a forma como nos comportamos na atualidade. Vivemos o fenômeno da es...
A espetacularização
Há quem não acredite, mas é prazeroso provar dos ventos das amenidades. Não tememos perigos das viagens siderais, não precisamos dos observ...
Minha rede aeroporto
Há quem não acredite, mas é prazeroso provar dos ventos das amenidades. Não tememos perigos das viagens siderais, não precisamos dos observatórios de trânsito espacial, dos radares, por sinal sempre deficientes e inseguros nos nossos céus. Com esses ventos, voa-se com segurança, sem riscos nem turbulências.
Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por e...
Vagalumes, luas, flores...
Nunca mais os pirilampos ou vagalumes infestaram de meigas luzes, pisca-piscas naturais, as nossas noites. Falta a muitos o interesse por eles que ainda faíscam em lugares ermos, salpicando suas pobres emanações de humildes claridades.
Uma lenda é sussurrada há quase um século pelas ruas e casas de Paris. Até agora, só as mulheres a conheciam. Contavam para as filhas e net...
A canção das palavras bordadas
Uma lenda é sussurrada há quase um século pelas ruas e casas de Paris. Até agora, só as mulheres a conheciam. Contavam para as filhas e netas, fazendo-as jurar segredo. Conto-lhe agora, mas não a repasse para os descrentes ou os que duvidam das coisas puras que ainda existem no mundo. A dúvida quebra o encanto e a história se perde. Pois bem, agora que está avisado, sente-se aqui ao meu lado e ouça.
Cecília Por mim passam tantas vozes tantos silêncios tantas canções e essa menina que há em cada coração de leão. Por...
Os melhores silêncios
No abril de meus dez anos,
minha rua foi devastada
por um horizonte marítimo.
Era Mariana.
A errar, o cosmos começava,
e eu, da gravidade, me soltava.
Até então, meu coração
era um beco sem saída;
agora, a vida se rompia:
irrompia o outro
– vertigem e voragem.
No início da Noite de Natal,
sem avisar,
Mariana abandonou-me a cidade,
despediu-me a infância.
Toda vez que ouço o “Noite-feliz”,
acena-me oblíquo Noel,
e desembrulho por dentro
o pretérito presente...
Performance
Escolheu seu melhor ângulo.
Com pudicícia,
Evitou os parcos versos seus.
Disse Bandeira, Cecília, Drummond
– estrelas da vida inteira e sua Pasárgada.
Pronunciou os melhores silêncios.
Conseguiu. Seduziu.
Uma mulher, uma noite.
Acordou.
Sóbrio, inútil, verdadeiro.
Ressaca de tanta traição a si mesmo.
Certeza de que nenhuma Estela
Seria a Estrela da vida inteira.
Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummo...
O modo como Ângela lê
Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummond de Andrade que fala de “um certo modo de ver”, para definir o perfil dela como leitora, escritora, poetisa e estudiosa da literatura brasileira.
Uma paisagem nunca foi tão decantada pela arte como “A Ilha dos Mortos". Inspirado na visão de Pontikonisi, o belo conjunto de rochedos...
A Ilha dos Mortos
Uma paisagem nunca foi tão decantada pela arte como “A Ilha dos Mortos". Inspirado na visão de Pontikonisi, o belo conjunto de rochedos que emerge do Mar Mediterrâneo, perto de Corfu, na Grécia, o pintor suíço Arnold Böcklin criou-lhe 5 versões, ao longo de 6 anos, no final do século 19. As pinturas impressionaram o mundo artístico, entre especialistas, empresários e colecionadores. A última criação foi encomendada em 1886 pelo Museu de Belas Artes de Leipzig, onde ainda se encontra.
A Ilha dos Mortos também influenciou outros pintores, como Salvador Dalí, notadamente em seu trabalho “Lado Oeste da Ilha dos Mortos”. E o alemão Michael Sowa pintou o que seria a “sexta versão", de Böcklin, uma espécie de paródia. Outros se sucederam e até o final do século XX surgem mais duas versões: A do arquiteto, pintor e cenógrafo Fabrizio Clerici, uma tela de mesmo nome (1974) e outra chamada "Homenagem a Böcklin", em 1977, concebida por seu conterrâneo, Hans Giger.
A Ilha continuou a produzir inspirações. No teatro, a peça "The Ghost Sonata" (August Strindberg ,1907), foi concluída com a singular paisagem. No cinema, o produtor Val Lewton usou-a em cenários dos filmes “I Walked with a Zombie” e “Isle of the Dead" (1945). Além de outras produções cinematográficas, a tela esteve presente até na TV, em um dos episódios da série “Pretty Little Liars”, escrita por Sara Shepard.
Na literatura, versões da pintura emergiram em romances como “O Mundo de Cristal” de J. G. Ballard, “Port Matarre”, de Roger Zelazny, e “The Warlord Chronicles”, de Bernard Cornwell.
Foi na Música que A Ilha dos Mortos se glorificou em belos poemas sinfônicos. Primeiramente com o romântico Heinrich Schülz-Beuthen celebrando-a em composição homônima. Em seguida, vieram o romeno-sueco Andreas Hallén, com "Die Toteninsel", em 1898, e Dezso d'Antalffy, músico húngaro, com mais um poema, de mesmo título, em 1907.
Em Rachmaninoff, a criação de Böcklin definitivamente se consagra no mais grandioso poema: A Ilha dos Mortos, Opus 29, de 1909, no qual está transcrita visionária travessia em direção ao monumento no meio do mar.
A morte encontrou nas artes plásticas um paraíso de estética e harmonia. As cinco versões de Böcklin, influenciadas pelas paisagens bordadas de rochas entre túmulos e ciprestes que resplandecem no Mediterrâneo, estão longe de remontar a qualquer ideia de sofrimento. A ilha é de tal formosura que os mistérios de sua primeira versão, em preto-e-branco, encantaram profundamente o músico Rachmaninoff.
Compositores célebres moldaram contornos de extrema beleza no que interpretaram como o fim da vida.Pensar ser possível haver beleza na morte não parece algo simpático. Mas há no fenômeno inexorável, destino de todos, inevitavelmente imbuído de conotações dramáticas, um lado a ser visto e refletido a exemplo do fabuloso rastro de luz que uma estrela deixa fulgurar até nossos olhos, mesmo depois de morta, há milhões de anos...
Ainda que seja biologicamente natural, a extinção da vida corpórea não é encarada com a alegria e a ternura que emocionam o “vir a mundo” de um novo ser. Muito menos quando se parte de forma “precoce”, uma vez que nem todas filosofias explicam o motivo da vida material ser tão curta até mesmo em recém-nascidos…
No entanto, a inspiração humana não encontrou limites para extravasar seu sonho em torno da morte por meio da arte ao longo da história. Decerto poeta algum conteve-se diante da crisálida ou do casulo que abriga a transformação da lagarta para voar em nova vida.Nenhum fenômeno representa tão bem os ciclos de renovação vital da existência como a metamorfose protagonizada por mariposas e borboletas.
Na poesia, na literatura, na música, na pintura, a morte foi recriada e decantada sob múltipla expressividade. Com tristeza, emoção, dramaticidade, júbilo ou desolação houve notável eloquência em torno do ocaso nas obras de muitos artistas e escritores. Embora tenha pintado a morte com devassa e feérica alegoria, a beleza da construção literária no “Eu” de Augusto dos Anjos, por exemplo, emerge do velado sentido de transcendência à matéria inevitavelmente fadada a se decompor. O que nos faz entender que havia mais fé do que desesperança à sombra do tamarindo...
Talvez na música a morte haja obtido o seu mais abrangente espaço. Compositores célebres não pouparam a imaginação e a criatividade para moldar contornos de extrema beleza no que interpretaram como o fim da vida. Ravel colocou tanta poesia na “Pavana para uma infanta defunta” que a obra soa mais como ode do que elegia. Nos réquiens, composições baseadas na liturgia do funeral, Mozart e Fauré imprimiram momentos de rara delicadeza romântica. Verdi, Berlioz e Brahms impuseram perfil mais solene, envolvendo suas missas com grandiloquente beleza. Já Duruflé foi capaz de mesclar os traços antigos do canto gregoriano com romantismo e majestade em seu formoso réquiem.
Esta forma musical destinada a enriquecer o ritual fúnebre evoluiu durante séculos, celebrando a morte com música, prece, escrituras sagradas, na intenção de que através do enlevo melódico as almas fossem merecidamente recebidas no paraíso. Também serviram para homenagear os mortos e datas relativas à sua memória. Até se libertarem da liturgia estruturando-se entre os textos em latim e poemas contra a guerra, como no Réquiem de Britten, que se configura, para alguns, como funeral à insensatez humana.
Em muitas outras composições eruditas a morte teve seu canto de beleza. Foram missas, marchas fúnebres, sinfonias, cantatas, poemas sinfônicos e outras maneiras de representar o sentimento que ecoa com mais profundidade nos âmagos da razão. Na sinfonia “Eroica”, Beethoven deu ao segundo movimento um caráter de exéquias, decerto dirigidas ao fim de sua admiração por Napoleão, com quem tristemente se decepcionou. Chopin inseriu na segunda sonata para piano a marcha fúnebre que se tornou a mais conhecida entre tantas outras peças que nos motivam a ver beleza na morte.
Felizmente, temos com que aliviar os receios diante de uma “viagem” que foi retratada com excelência capaz de nos fazer acreditar que há algo de belo em sua essência.
O Brasil, já não sei, mas a cada dia tenho dado micropassos em busca de uma autolibertação. E um dos primeiros movimentos é refletir sobre ...
O Brasil, já não sei…
O Brasil, já não sei, mas a cada dia tenho dado micropassos em busca de uma autolibertação. E um dos primeiros movimentos é refletir sobre meu alinhamento: o que penso, o que sinto e o que faço. Tem sido profundamente libertador permitir-me ser honesta quanto a isso. Quantas vezes passamos por uma coisa, sentimos outra e ainda fazemos outra?
Certo dia, um amigo me ofereceu um pedaço de doce de goiaba, pois queria esvaziar logo o recipiente para reutilizá-lo. Não gosto muito de goiabada, e o pedaço que ele me oferecia era bem grande.
Eu poderia simplesmente ter sido honesta, agradecido e ter dito não. Mas, em vez disso, aceitei aquela fatia imensa que eu não iria comer com satisfação, e sim por obrigação de haver aceito.
PENSEI em aceitar porque não queria desapontar a pessoa que me fez a oferta. Mas eu não SENTIA vontade de comer a guloseima. Mesmo assim, minha AÇÃO foi a de pegar para mim o que eu não desejava.
Foi então que me veio a lição! Resolvi oferecer o doce a uma criança, Ariel (8 anos). Comilona que é, perguntei se ela queria aquela goiabada. Ela, que ia passando, parou, virou-se para mim e me perguntou por que eu estava lhe oferecendo o doce? Eu expliquei que havia aceitado de um amigo "por educação", mas que, na verdade, não gostava. E sabe o que ela me disse imediatamente?
— Por que você aceitou uma coisa que não gosta e que não quer? Quando a gente não quer algo, a gente fala assim: "não quero, obrigada"!
Um exemplo simples de como nos desorganizamos internamente, e de como colecionamos pequenas prisões dentro de nós mesmos.
Eu não sei o Brasil, mas a minha libertação é diária, contínua e minuciosa. Todos os dias eu procuro declarar a mim mesma minha independência e libertação.
Libert(ação)
Libertador
Liberta(dor)
Dor liberta
Jaya"
Precisas ter coragem de confiar na tua sabedoria interna, e prestar mais atenção no que ela te diz. Tens um “deus interior” que tenta, sem ...
Novos caminhos e oportunidades
Precisas ter coragem de confiar na tua sabedoria interna, e prestar mais atenção no que ela te diz. Tens um “deus interior” que tenta, sem descanso, se comunicar contigo.
Teu dia a dia é turbulento?
Outro dia, vi o anúncio de um lindo prédio. Sim, digo lindo porque estava todo iluminado com fachadas imponentes que impressionavam. As jan...
Aquela música
Outro dia, vi o anúncio de um lindo prédio. Sim, digo lindo porque estava todo iluminado com fachadas imponentes que impressionavam. As janelas de esquadrias de alumínio galvanizado, com vidros por toda parte, pareciam blocos de gelo.
O jardim era ornamentado com cactos e seixos brancos. Tudo muito clean, minimalista, para dar a sensação de amplitude ao espaço. Os apartamentos mais altos eram os mais caros, porque estavam mais próximos do céu. Lembravam gaiolas aéreas.
No hall de entrada, os elevadores pareciam naves espaciais. Não vou mais contar porque já estou me sentindo mal, só de pensar nas alturas.
Fui para o nosso pequeno jardim respirar um pouco de ar puro, com cheiro de terra molhada. Conversei com as flores, às quais agradeço todas as manhãs. Tirei as sandálias e, com os pés na grama, abracei o Flamboyant que plantamos juntos, Carlos e eu. A grande árvore estava toda vestida de vermelho, contrastando com as boas-noites brancas que floresciam por entre a grama. Tudo de graça para nos presentear.
Que maravilha da natureza! Não precisei de elevadores para subir tão alto e desfrutar este céu tão lindo e imenso que estava dentro de mim. Olhei para cima e agradeci a Deus.
Nesse exato momento, ouvi a voz de Carlos: "Lauinha, meu anjo, vamos entrar. Lá dentro também temos o nosso paraíso".
Entramos. Carlos, em seu gabinete, começou a digitar aquela crônica. E eu, em nosso quarto, apanhei meu violino e toquei aquela música!
As palavras, como as pessoas, nascem e morrem. A diferença entre elas e nós é que podem ressuscitar. Um dia, quando menos esperamos, depara...
Antigamente
As palavras, como as pessoas, nascem e morrem. A diferença entre elas e nós é que podem ressuscitar. Um dia, quando menos esperamos, deparamo-nos com um arcaísmo que nos faz voltar à infância (esse “deparamo-nos”, com o pronome enclítico, não seria um?).
Quem ama os livros não se separa deles mesmo nas situações mais inusitadas da vida. Essa certeza eu tive quando comecei a acompanhar uma se...
Vida andada, girada, não importa!
Quem ama os livros não se separa deles mesmo nas situações mais inusitadas da vida. Essa certeza eu tive quando comecei a acompanhar uma senhora, moradora de rua, elegante, com roupas de uma outra época e de um outro lugar. Ela parecia um personagem de romance que transitava pelas quadras e super quadras de Brasília. Enigmática, chamava atenção daqueles mais atentos à paisagem e ao que dela fazem parte.
Mesmo morando na rua, nunca estava deselegante. Magra, esbelta, saia longa de cintura alta, larga, com botas e cabelo longo encaracolado, o louro já indo embora para dar lugar ao grisalho, carregava uma maleta de couro pequena parecendo Mary Poppins, (filme da minha infância, um dos clássicos com Julie Andrews)
Nestes tempos em que se viaja tanto e tão facilmente, às vezes alguém pergunta se conheço esta ou aquela cidade. Em muitos casos, sei que o...
De ignorância faz-se o mundo
Nestes tempos em que se viaja tanto e tão facilmente, às vezes alguém pergunta se conheço esta ou aquela cidade. Em muitos casos, sei que o que o outro pretende é apenas uma oportunidade de citar a lista completa dos cento e trinta e sete países que afirma ter conhecido até o momento, já que sua meta, se Deus permitir, é conhecer todo o planeta, das ilhas Malvinas ao interior da Finlândia. Bom proveito, é o que eu digo. Aliás, boa viagem.
Mais um episódio da ALCR-TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente...
Pauta Cultural (Ep 03)
Mais um episódio da ALCR-TV entra no ar com atualidades do mundo cultural, participação dos autores, leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
Nesta pauta, comentários sobre publicações de Gonzaga Rodrigues, Sérgio de Castro Pinto e a poesia de Aline Cardoso. Não deixem de assistir até o final.
Gonçalo Mendes Ramires é o fidalgo da Torre de Santa Ireneia , uma fidalguia que remonta a um período anterior ao reino e, portanto, anteri...
Tudo pelo País!
Gonçalo Mendes Ramires é o fidalgo da Torre de Santa Ireneia, uma fidalguia que remonta a um período anterior ao reino e, portanto, anterior a Portugal. Falido no presente, Gonçalo vive do passado heroico dessa nobreza, que ele tenta reconstruir através de uma novela medieval, cujo único intento é, por intermédio da fama conseguida nas Letras, chegar à política, ser deputado. Eis aí, de modo muito sintético, o assunto desta obra-prima da língua portuguesa, A ilustre casa de Ramires (1900), de Eça de Queirós.
O espinho Um espinho solto no grito apertado beirava o caminho a espreita do dedo O espinho pouco obstáculo doloso gigante diminut...
Cotidiano em poesia
Um espinho solto
no grito apertado
beirava o caminho
a espreita do dedo
O espinho pouco
obstáculo doloso
gigante diminuto
golpe absoluto
Que espinho torto
a alma em susto
e esfola o corpo
geme como louco
Espinho de desgosto
pontinho vermelho
pintura em dolorido
sinal do encontro
Um espinho indigesto
largado ao terreiro
carne, ponta e pronto
segundos de desespero
O casario
Casario conta o tempo
calculador de relógios
avança por séculos
pelos cantos sem esmero
No mármore frio
repousa em tijolos
argamassa de que foi ido
de um mundo decaído
Desfalece aos ruídos
das ruínas, em desapego
solta reboco a reboco
decompõe a si mesmo
Casario outrora acesso
de bailes, risos, acenos
foi alegre testemunho
agora é rio sem leito
O carnaval
Qual o melhor carnaval?
o da fantasia realizada
com a máscara na cara
e alma desnuda
Era a tribo perfeita
desconhecida cantoria
encontros em alegria
cerveja, suor, folia
Pelas subidas, descidas
Idas e vindas, ladeiras
cenário que se repetia
vida solta em Olinda
As rosas nos encantam por sua beleza e por seu perfume. Esquecemos que nelas existem espinhos. Ficamos, inclusive, sem entender o porque de...
Não há rosas sem espinhos
As rosas nos encantam por sua beleza e por seu perfume. Esquecemos que nelas existem espinhos. Ficamos, inclusive, sem entender o porque deles existirem. O contraste do prazer e da dor. Enquanto oferecem a suavidade e o aroma que a todos nos enchem de alegria, apresentam também o risco de nos ferirmos com seus espinhos. Deus, na sua infinita sabedoria, deve ter criado a rosa com espinhos para nos advertir de que nem sempre tudo que é encantador, deva ser visto sem a percepção das suas fragilidades, dos defeitos, das imperfeições.
No início de 1935, os Estados Unidos viviam o apogeu da Era do Rádio. Nas noites dos sábados, a rádio NBC, de Nova York, transmitia "L...
A orquestra mais popular do mundo
No início de 1935, os Estados Unidos viviam o apogeu da Era do Rádio. Nas noites dos sábados, a rádio NBC, de Nova York, transmitia "Let's Dance", um programa de alcance nacional, de três horas de duração, em que várias orquestras de dança se apresentavam, ao vivo, no auditório da emissora. Uma das orquestras, que era liderada por um jovem clarinetista de 26 anos chamado Benny Goodman, se destacava das demais pelo som contagiante que produzia.
Poucos meses depois, a banda de Benny Goodman saía em excursão. George T. Simon, na época crítico musical na revista Metronome, relatou, em um extenso livro sobre as orquestras do período (a edição brasileira tem quase mil páginas), o impacto que as apresentações de Goodman causavam:
Iniciava-se a Era do Swing. Para o historiador marxista Eric Hobsbawm, que escreveu uma “História Social do Jazz”, “o produto característico da era do swing foram as big bands, fazendo concertos ou performances variadas, além de tocar em locais de dança: uma fórmula que perdurou”.
Por todos os Estados Unidos começaram a proliferar orquestras de dança na mesma linha da big band de Benny Goodman. Segundo George Simon, em concurso promovido pela revista Metronome, foram relacionadas quase trezentas orquestras “em cada um dos quatros anos, de 1937 a 1940”. Além de Benny Goodman, tornaram-se famosas as bandas dos irmãos Jimmy e Tommy Dorsey, Artie Shaw, Les Brown, Harry James, Count Basie, Woody Herman e muitas outras.
Apesar da guerra que fora deflagrada na Europa, as orquestras continuaram fornecendo, sem nenhum contratempo, o seu swing para as danças dos jovens norte-americanos. Nos dois primeiros anos da guerra, os Estados Unidos não se envolveram diretamente no conflito, embora dele participassem, indiretamente, com o fornecimento de suprimentos e armamentos às nações aliadas.
Em dezembro de 1941, tudo mudou. Os japoneses atacaram a base norte-americana de Pearl Harbor, localizada no Havaí, e os Estados Unidos tiveram que entrar, efetivamente, nos combates. A convocação para as forças armadas alcançava trabalhadores de todos os tipos de atividades e as orquestras foram, também, afetadas.
Muitos voluntários se apresentavam para servir nas forças do país. Um dos primeiros a se alistar era um homem franzino, que já passara da idade para convocação, tinha 38 anos, era míope, músico de profissão e nem havia feito o serviço militar. Fora recusado pela Marinha, mas conseguiu ser aceito pelo Exército, muito mais por uma especialíssima particularidade que ele possuía. Na ocasião, ele era o mais popular chefe de orquestra, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
O maestro que se apresentara como voluntário chamava-se Alton Glenn Miller, e o som da sua banda era inconfundível e reconhecido em todos os lugares, com as músicas “In the Mood”, “At Last”, “String of Pearls”, “Moonlight Serenade” e várias outras. A posição em que Glenn Miller conseguira chegar não fora tarefa fácil naquela Era do Swing em que inúmeras orquestras, muitas de altíssima qualidade, disputavam o mercado de discos, shows, bailes e apresentações no rádio.
Os sons das big bands, dentre as quais se destacava a orquestra de Glenn Miller, não ficavam circunscritos ao território norte-americano. Alcançavam todo o mundo, através dos discos e, principalmente, pelas ondas curtas das transmissões radiofônicas que eram recebidas, por exemplo, no Nordeste do Brasil. Era, durante o período noturno, que o “som de Glenn Miller” transmitido pelo rádio, chegava à Paraíba, conforme depoimento do maestro Severino Araújo, então jovem chefe da orquestra da Rádio Tabajara da capital paraibana que, na época, se chamava “Jazz Tabajara”. Um dos maiores sucessos do repertório da futura Orquestra Tabajara, indispensável em todas as suas apresentações na sua longeva vida, seria o swing “In the Mood”, que a Tabajara executava com um arranjo praticamente igual àquele com o qual a música fora gravada pela orquestra de Glenn Miller.
Glenn Miller ingressou no Exército já no posto de capitão. A sua primeira missão foi organizar bandas militares sediadas em vários centros de treinamento nos Estados Unidos. Em seguida, formou uma grande orquestra da Força Expedicionária, com quase 50 componentes, e partiu para a Europa para realizar apresentações para as tropas e fazer transmissões na rádio BBC de Londres, dirigidas às forças aliadas.
Os críticos musicais consideram que a Army Air Force Band, a orquestra militar dirigida por Glenn Miller, superava aquela big band que o maestro formara antes da guerra, porque ele tivera a possibilidade de recrutar para o grupo todos os grandes músicos profissionais do país que estavam servindo nas forças armadas. Além do mais, Glenn Miller inovara na sua orquestra militar, acrescentando à formação convencional das bandas, que tinham em média 16 componentes, uma seção de cordas, com violas, violinos e violoncelos, como se fosse uma sinfônica.
Em dezembro de 1944, a guerra na Europa já estava praticamente decidida em favor dos aliados. Fazia três meses que Paris havia sido libertada, após quatro anos sob o domínio alemão. O Alto Comando militar decidiu, na ocasião, que a Army Air Force Band, sob a batuta do agora major Glenn Miller, se deslocaria de Londres a Paris para fazer uma série de shows, no Natal e nas festividades de final de ano, para os soldados norte-americanos que se encontravam na capital francesa.
A viagem da orquestra foi programada para o dia 18 de dezembro. Glenn Miller resolveu ir três dias antes, aceitando o convite de um coronel para acompanhá-lo em voo para Paris. Os voos militares que faziam a ponte aérea entre as duas cidades haviam sido suspensos por cinco dias, devido às péssimas condições meteorológicas. Com o tempo mais estável, no início da tarde do dia 15, o maestro, o coronel e o piloto decolaram de um aeroporto militar próximo à capital inglesa, em pequeno avião monomotor. Não foram registradas comunicações de rádio da aeronave durante o voo. Nunca mais se soube do avião nem dos seus tripulantes.
O parecer oficial sobre o episódio, de que teria havido imprudência na realização do voo em virtude das condições do tempo, não se sustenta nos fatos. O monomotor decolou, com a devida autorização, do aeroporto de onde partiram, no mesmo dia, várias outras aeronaves. As inconsistências sobre o acontecimento levaram, desde então, ao surgimento de várias versões, absurdas ou plausíveis, sobre o que teria ocorrido.
Nada representa mais a música da Era do Swing do que a orquestra comandada pela batuta do maestro Glenn Miller.O que se sabe é que, durante esses quase setenta anos, foram localizados, encontrados ou resgatados, tanto na terra como no mar, vários destroços de aeronaves na rota do voo em que Glenn Miller embarcou para Paris, mas nenhum deles com indícios relacionados ao monomotor que transportava o maestro. O sumiço da aeronave é um dos maiores mistérios da aviação mundial.
O desaparecimento de Glenn Miller parece ter sido uma premonição daquilo que, em pouco tempo, ocorreria na música dos Estados Unidos. Com o fim da guerra, constatava-se a mudança no gosto popular. Na preferência dos jovens, as orquestras e seus líderes cederam lugar para os vocalistas, como então eram chamados os cantores e cantoras. No final de 1946, conforme a narrativa abalizada de George T. Simon, “em apenas algumas semanas, oito das principais orquestras da nação se desfizeram – Benny Goodman, Woody Herman, Harry James, Tommy Dorsey, Les Brown, Jack Teagarden, Benny Carter e Ina Ray Hutton”.
Iniciava-se a era dos grandes intérpretes vocais, muitos deles formados pelas próprias orquestras. Frank Sinatra, ex-crooner da orquestra de Tommy Dorsey, Peggy Lee, da big band de Benny Goodman, Doris Day, de Les Brown, e Ella Fitzgerald, de Chick Webb. A Era do Swing chegava ao fim.
Embora com a duração de apenas oito anos (incluindo os dois anos da banda militar), nada representa mais a música da Era do Swing, das grandes orquestras e do período da Segunda Guerra Mundial, do que a orquestra comandada pela batuta de Glenn Miller.
Um depoimento de George T. Simon, respeitado conhecedor do ambiente musical da época, ele próprio contemporâneo da Era do Swing, ressalta a importância da orquestra de Glenn Miller:
“De todas as mais populares e magníficas orquestras de dança que já existiram, a que evoca mais memórias de como tudo foi tão romântico e cuja música o povo deseja ouvir cada vez mais, incessantemente, é a orquestra do falecido Glenn Miller”.
Um dos maiores problemas que assola a realidade contemporânea é associar a felicidade com eterno clima de boate. Num contexto matrizado pel...
Flor da futilidade
Um dos maiores problemas que assola a realidade contemporânea é associar a felicidade com eterno clima de boate. Num contexto matrizado pela desenfreada busca pelo sucesso, seja a qual preço for, acentua-se um cotidiano marcado pela frustração advinda da transitoriedade de frágeis relacionamentos e dificuldades em conviver com as adversidades da vida.