​​ Abrindo a janela do Paraíso, Deus avistou o homem e a mulher juntos, mas percebeu que faltava algo entre os dois. ​​E Deus, então, cri...

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Abrindo a janela do Paraíso, Deus avistou o homem e a mulher juntos, mas percebeu que faltava algo entre os dois.

​​E Deus, então, criou o amor, dizendo mais ou menos assim:

Que o amor não feche portas.

E mesmo quando as encontre fechadas, por um motivo qualquer, não se importe nem um pouco em varar as madrugadas nos jardins, atirando pedrinhas na vidraça, na esperança de que se abram pelo menos as janelas.

Que o amor não prometa, nem muito menos permita que se use do seu santo nome em vão.

Que se cumpra o amor.

Se prometer, não tarde em cumprir.

​Que o amor não caminhe aos saltos, como quem sobe escada. Que o amor simplesmente flutue sobre o bem-amado.

​Em flutuando, não machuque.

Em adejando, em nada se segure, senão em asas de acarinhar.

​E, por isso, que só ao amor seja dado conhecer o caminho das nuvens e o destino dos céus.

Por mais que sonhe, o amor nunca faça de conta.

​Tão somente faça.

Só assim, não carecerá fazer conta, senão de si mesmo, já que é infinito, porquanto há de durar apenas pelas contas dos poetas.

Que não exista amor inconsolável. Nem mesmo quando perca de vista um grande amor.

Portanto, que o amor console o amor.

E, sendo assim, que seja essa a única razão pela qual nunca se deverá chorar por toda a vida um grande amor.
Aliás, o amor, em si, jamais deverá doer.

​É certo que, não raro, o coração padecerá. Mas não será por mal de amor, como pode parecer ao juízo dos incautos e, principalmente, dos mal-amados.

O amor para sempre será bem que se entrega de corpo inteiro e, por mais que se use nunca deve se acabar.

Em troca, só exigirá não ter dono.

A nenhum pretexto surtirá efeito o amor.

Será sempre causa.

A bem da verdade, de tudo há de causar um pouco:

Na presença, causará frio, mas também calor – conforme a roupa. Na ausência, tão somente cause saudade.

E como não estabelecerá precedência, o amor abrirá portas, cederá o passo e, mesmo chegando primeiro, será sempre o último a se despedir da vida.

Faça-se o amor.


Luiz Augusto Crispim

Foi Pedro quem gritou por cima do ombro da namorada: “Canta Esmoque Guetes Ior Ai”. E Zezinho da Serventia, obediente, atacou, depois da in...

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Foi Pedro quem gritou por cima do ombro da namorada: “Canta Esmoque Guetes Ior Ai”. E Zezinho da Serventia, obediente, atacou, depois da introdução da clarineta de Zé Borges: “Dei, ei, esque rau ai niu”...

O Ambiente de Leitura Carlos Romero sorteou hoje, dia 22 de agosto, 3 CDs do álbum “Keys to Rio”, da pianista clássica Grace Smith-Alves. O...

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O Ambiente de Leitura Carlos Romero sorteou hoje, dia 22 de agosto, 3 CDs do álbum “Keys to Rio”, da pianista clássica Grace Smith-Alves. O sorteio ocorreu entre os leitores que comentaram a publicação “No caminho da música", do professor Sam Cavalcanti.

Todo ser humano sonha com a liberdade, seja no campo político e social, quanto no que diz respeito à individualidade. Entretanto a liberdad...

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Todo ser humano sonha com a liberdade, seja no campo político e social, quanto no que diz respeito à individualidade. Entretanto a liberdade nunca poderá ser vivida de forma absoluta, porque está sempre condicionada à observância de limites morais e racionais impostos para que se possa viver bem em sociedade.

Volto à marca em que havia deixado, há duas semanas, a leitura de “Os olhos no exílio” de Francisco Barreto Filho.

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Volto à marca em que havia deixado, há duas semanas, a leitura de “Os olhos no exílio” de Francisco Barreto Filho.

Queria comprar a calça que vira na vitrine. Era cara, a mesmíssima usada pela atriz da novela na televisão. Tudo atrasado: água, luz, merce...

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Queria comprar a calça que vira na vitrine. Era cara, a mesmíssima usada pela atriz da novela na televisão. Tudo atrasado: água, luz, mercearia. Sequer possuíam cartão de crédito, uma raridade não tê-lo, numa época consagrada ao fetiche de plástico.

Fala-se da melancolia como um novo mal do século, mas ela é tão antiga quanto o próprio homem. Pode-se dizer que o que nos inaugura, em ter...

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Fala-se da melancolia como um novo mal do século, mas ela é tão antiga quanto o próprio homem. Pode-se dizer que o que nos inaugura, em termos simbólicos, é a tristeza consequente à “primeira transgressão”. Essa tristeza nos estrutura e nos reinventa.

Sucumbimos ao apetite pelo fruto proibido e em troca ganhamos o arrependimento, o selo de nostalgia que nos faz encarar continuamente a face do abismo, o outro lado de nós mesmos, a sombra da morte (contra a qual se recorta a vida em seu provisório esplendor).

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Perder é o nosso destino e em nenhum momento nos alheamos disso. Vestimos os disfarces da alegria mas somos substancialmente tristes, herdeiros de Belerofonte, o patrono da grei dos melancólicos na cultura ocidental. Ele teve a ousadia de desafiar os deuses e acabou ficando sozinho, “cantando sobre os ossos do caminho/ a poesia de tudo quanto é morto” – conforme dirá séculos depois Augusto dos Anjos.

Aristóteles destacou o refinamento perceptivo do melancólico, que teria mais aptidão do que os outros homens para as atividades do pensamento e da arte. O que o acomete é um desequilíbrio humoral (discrasia); nele o humor negro (melaina kole) prepondera sobre os outros humores. Mas, para o estagirita, ser dosadamente triste é vantajoso.

Foram os românticos que descobriram (e valorizaram) o charme da melancolia. Com eles a tristeza e o tédio viraram pose e se transformaram numa escolha de vida (e também de morte). Divinizavam a mulher para colocá-la fora do seu alcance. Embora dessem a entender o contrário, eles fugiam do prazer erótico, ao qual se associava a angústia decorrente do sentimento de culpa. O amor romântico era uma maldisfarçada vitória de Tânatos.

Veio a modernidade e, com ela, Freud. Entre as muitas intuições que teve o mestre vienense, destaca-se a de que o melancólico está de luto. Tão simples, mas só ele viu.

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Ou, se outros também viram, foi ele quem melhor formulou a ideia da melancolia como resultante de um luto por si mesmo (uma defecção do ser, como diz Julia Kristeva em “Sol negro”).

O mecanismo é distinto do que ocorre no luto normal: ao perder o objeto (que pode ser uma pessoa, um ideal, um valor), o sujeito se identifica com ele. E passa a tratar a si mesmo com o ressentimento que deveria ser destinado a quem o abandonou. Desprezado, o sujeito julga que não merece o afeto ou o interesse de ninguém. Perde a autoestima e se abisma numa tristeza que pode culminar no suicídio – uma forma de matar, enfim, esse outro cuja sombra caiu sobre ele.

Seja na perspectiva da teologia, seja na da filosofia ou na da psicanálise, que vê o melancólico como vítima de um jogo de forças no qual o objeto triunfa sobre o eu, ressalta-se a concepção da melancolia como uma crise do indivíduo, da subjetividade, enfim, do próprio ser. Mas é ela que orienta a nossa busca para um absoluto que desejamos, fantasiamos, e que também está em nós. Para além da triste máscara de Narciso.


Chico Viana é doutor em teoria literária, professor e escritor

O leitor ávido por peripécias talvez conclua, equivocadamente, que “Liturgia do fim” tem palavras de mais em um enredo de menos. Mas o fato...

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O leitor ávido por peripécias talvez conclua, equivocadamente, que “Liturgia do fim” tem palavras de mais em um enredo de menos. Mas o fato é que esse é um livro cujo principal protagonista é a linguagem, responsável pela condução de um enredo simples, frugal, mas que ganha em densidade na medida em que o narrador Inácio Boaventura mergulha de ponta-cabeça no seu universo psicológico.

Aprendi a gostar de palavra com minha mãe, que era professora e me ensinou a ler, em casa mesmo. Depois eu ganhei uma coleção bem bonitin...

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Aprendi a gostar de palavra com minha mãe, que era professora e me ensinou a ler, em casa mesmo.

Depois eu ganhei uma coleção bem bonitinha de livros, que se chamava "Meu Primeiro Dicionário". Por causa dessa coleção, eu pegava o "Aurélio" da casa (eu digo assim porque achava que em toda casa tinha um), e folheava para aprender palavras novas. "Apropinquar, panacéia, arrulhos, escaravelho, ósculo..." e ficava imaginando uma oportunidade de usá-las. Finalmente esse dia chegou.

O dia amanhece bem próximo ao mar, no encantado olhar do tempo, em formidável caminhar pelas deliciosas areias da praia do Cabo Branco. A s...

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O dia amanhece bem próximo ao mar, no encantado olhar do tempo, em formidável caminhar pelas deliciosas areias da praia do Cabo Branco. A sorver o gesto das ondas, que tocam e voltam sobre as esquinas da memória. A dividir a maresia com o doce prateado de suas espumas, para, depois, fincar definitiva moradia, bem ali, ao lado do extremo das Américas.

Noel Rosa tinha voz miúda. Não era propriamente uma voz e nem poderia ser, num momento em que reinavam grandes intérpretes como Chico Alves...

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Noel Rosa tinha voz miúda. Não era propriamente uma voz e nem poderia ser, num momento em que reinavam grandes intérpretes como Chico Alves, que gravou muitas de suas músicas. A parceria entre os dois foi ao ponto de Noel pagar com músicas um carro, que Chico Alves lhe vendeu.

São de encantadora poesia as plantinhas, sobretudo com flores, que brotam por aí, ao léu, sob o céu que nos protege.Nascem do nada, ou do t...

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São de encantadora poesia as plantinhas, sobretudo com flores, que brotam por aí, ao léu, sob o céu que nos protege.Nascem do nada, ou do tudo, espontaneamente, sem que ninguém cuide, sequer as veja. Ou olhe sem ver. Sem rega e sem poda, carinho só do Sol. Assim mesmo surgem lindas, em fileiras ou touceiras, às margens das pistas, calçadas e ruas.

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Cada estação tem as suas. De todas as cores e nomes. Beneditas, damianas, maravilhas, onze-horas e chananas, há até damas da noite, que também enfeitam o dia, uma assombrosa variedade.

Por vezes, desprezadas, pisadas ou arrancadas. De outras, bem amadas, tratadas ou furtadas. Se roubadas com carinho, para terem outro ninho, é bom que assim seja. Decerto se multiplicarão na medida da emoção.

Dá até para se pensar por que a Natureza investiu tanta beleza e diversidade nestes serezinhos minúsculos, frágeis e insignificantes. Inúteis não são. Sem dúvida deve haver, em todas elas, propriedades benéficas, medicinais, sabe-se lá. E haveria virtude maior do que a beleza natural, concedida pelas bênçãos da Criação? Porque até na Arquitetura, produto da criatividade humana, a “beleza é uma função”, como disse Niemeyer.

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Para os insensíveis, florezinhas silvestres que nascem por aí nada significam, e ainda são chamadas de mato. Há quem mande arrancá-las sob o pretexto de limpeza. Mas, de limpeza quem precisa é a alma dos que assim pensam.

Pedalando, caminhando, principalmente pelas relvas nativas, vez por outra somos surpreendidos com recantos que inspirariam Renoir ou Monet, cujo fascínio por esses pingos bordados com que Deus salpicou o planeta se retrata magnificamente em suas obras.

São zinias, boas-noites e cravinhos-da-serra. O que mais impressiona é a exuberância que resiste ao fulgurante e luminoso calor dos trópicos. Regadas apenas com a graça das chuvas, no fim do verão secam, desaparecem e hibernam por um longo período, revitalizando-se imperceptíveis à espera de explodir novamente na próxima estação. Um fenômeno calado, invisível, que, mesmo após renascer, ainda passa despercebido por olhos que não enxergam beleza alguma na simplicidade.

Dizem que a indiferença é o sentimento mais desprezível. Por flores ou por pessoas. Mas será que a violência não é pior? A pretexto de “limpá-las”, ou mesmo por insensibilidade, há quem as destrua ou arranque e jogue fora.

Então é melhor que sejam ocultas no meio do mato, pelas bordas de falésia ou trilhas da encosta. Pelo menos vivem plenas, do jeito que nasceram, e assim são protegidas.

Certo dia, aqui do lado, avistei pela janela um montinho bem colorido. Eram todas beldroegas, que parecem as “onze horas”. Sem a menor ideia de como ali foram nascer, por detrás de um muro tosco, num terreno abandonado, encantaram ainda mais. Surpreso comentei sobre o “esconderijo” delas. E o amigo tão astuto, logo logo, respondeu: “É assim que elas se salvam”...


Germano Romero é arquiteto e bacharel em música

Foi um fato que me chamou tanto a atenção que até hoje vive na lembrança. Vez em quando ainda me aguça a curiosidade. Aconteceu por ocasião...

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Foi um fato que me chamou tanto a atenção que até hoje vive na lembrança. Vez em quando ainda me aguça a curiosidade. Aconteceu por ocasião da festa de inauguração do busto do poeta Augusto dos Anjos, na galeria que tem o seu nome, no centro da capital paraibana.

Leonardo da Vinci, em uma de suas listas de tarefas, incluiu como tópico de pesquisa a anatomia da língua do pica-pau”. Como é possível que...

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Leonardo da Vinci, em uma de suas listas de tarefas, incluiu como tópico de pesquisa a anatomia da língua do pica-pau”. Como é possível que um gênio, um homem excepcional, dotado de inteligência quase divina e faculdades fora do comum, pudesse se preocupar com um assunto que na vida prática parece não ter nenhuma utilidade?

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Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452 em Anchino, Florença, próxima de Vinci. Faleceu na França no dia 2 de maio de 1519 com a idade de 67 anos. Incursionou por campos tão diversos como a pintura, arquitetura, escultura, astronomia, matemática, anatomia humana e animal, hidráulica, óptica, aerodinâmica, cartografia e topografia.

Ficou conhecido internacionalmente com a pintura “Mona Lisa" (La Gioconda), pertencente, hoje, ao acervo do Museu do Louvre (Paris). Entre suas obras não menos famosas podemos citar: "Ginevra de’ Benci" (Galeria Nacional de Arte, Washington DC); "A Madona com o Cravo" (Munique, Alemanha); "A Anunciação" e "A Adoração dos Magos" (ambos expostos na Galleria degli Uffizi Florença, Itália); "Cecila Gallerani - Dama com Arminho" (Museu Narodawe, Cracóvia, Polônia"; "Retrato de uma Desconhecida - La Belle Ferronnière" (Museu do Louvre); "A Virgem dos Rochedos" (Galeria Nacional, Londres); "A Última Ceia”...

Quem se interessar pela vida do artista-cientista-arquiteto-astrônomo-matemático, um livro escrito pelo proeminente biógrafo Walter Isaacson foi publicado, em 1997, pela editora Intrínseca com o título “Leonardo da Vinci”.

Para que saciem sua curiosidade, a língua do pica-pau pode se alongar por mais que o triplo do comprimento de seu bico. Ela se retrai para dentro do crânio quando não está sendo usada. Suas estruturas similares a cartilagens se estendem para além da mandíbula, envolvendo a cabeça da ave em uma curva para baixo, na direção das narinas. Isso é muito importante para proteger seu cérebro do impacto quando bica uma árvore, além de facilitar na busca de alimentação durante a caça às larvas. A batida com repetição contra a casca de uma árvore equivale a dez vezes à força necessária para causar a morte de um ser humano. A língua comprida e sua estrutura de suporte funcionam como uma espécie de amortecedor protegendo dos choques o cérebro do pássaro.

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Os estudos de Leonardo sobre fenômenos hidráulicos se anteciparam a conceitos que, hoje são considerados próprios de estudos avançados nessa área da engenharia. Desde sua chegada à corte milanesa em 1482 até 1499, quando deixou a cidade, ele elaborou projetos de medição de vazões, canalizações, canais e irrigações e controlou instalações hidráulicas. Com o muito que aprendeu em Milão, sonhou em transformar a Toscana mediante a derivação de um canal para Florença com o desvio do rio Arno, passando por Prato, Pistoia, Serravalle e Pisa. A ideia era fertilizar essas áreas e possibilitar o estabelecimento de novos moinhos com os quais se poderia obter um lucro de 200 mil ducados anuais (um ducado era uma moeda de ouro pesando 3,5 gramas, correspondendo hoje a aproximadamente mil duzentos reais).

Seus estudos, com o apoio do amigo Nicolau Maquiavel, previam a escavação de uma enorme vala, com cerca de dez metros de profundidade, em um trecho do rio Arno localizado antes de Pisa desviando essa água para Florença com o uso de barragens.

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Uma barragem seria construída dentro do rio, depois outra mais adiante na correnteza, um pouco à frente da anterior e, de forma similar, uma terceira, quarta e quinta barragens, permitindo que o rio desembocasse no canal. As obras para a construção dessa estrutura começaram em 1504 com vazão média prevista por Leonardo da ordem de 36 metros cúbicos por segundo. A título comparativo, o Canal Adutor Acauã-Araçagi, a principal obra hídrica que está em fase de construção na Paraíba e que receberá água da transposição do rio São Francisco, terá vazão máxima de 10 metros cúbicos por segundo, em um trecho com extensão de 150 quilômetros. Entretanto, o projeto de Leonardo não foi obedecido. Foram construídas duas valas em paralelo, cada qual com quatro metros de profundidade. Não deu certo e a obra foi abandonada.

O professor venezuelano Santos Eduardo Michelena na publicação da Hidroven “Apuntes sobre los dibujos hidráulicos de Leonardo da Vinci” em 1997, apresentou os cálculos de vazão com os dados das dimensões desse canal trapezoidal projetado por da Vinci obtidos com computadores sofisticados. A diferença do resultado obtido pelo engenheiro Michelena com o dele foi de apenas oito por cento, mesmo sem Leonardo possuir nenhum conhecimento de hidráulica superior, nem contar com nenhum recurso de informática.

Imaginem se Leonardo da Vinci vivesse nos tempos atuais?


Sérgio Rolim Mendonça é Engenheiro Sanitarista e Ambiental

Domingo, comecei pelo meu cronista e terminei com o meu poeta, distintos no estro, nos modos e no tempo. Dando as cartas, comecei pela crôn...

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Domingo, comecei pelo meu cronista e terminei com o meu poeta, distintos no estro, nos modos e no tempo. Dando as cartas, comecei pela crônica de Martinho Moreira Franco e cheguei à linha final sob o clarão da memória na nevrose de Augusto dos Anjos face à “ultrajante invenção do telefone”.

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Na crônica, Martinho extravasa a queixa de quem é invadido em seu tugúrio pela chamada cortante, perturbadora. Augusto, que não teve a abstração usurpada pela novidade de privilegiados do seu meio, erigiu-o, qual Internet na globalização de hoje, como simbolização da dependência ou achincalhamento do mazombo e do morubixaba ao jugo do colonizador. No seu tempo era o inglês, de onde vinham todas as máquinas com seu preço e para onde iam todo o algodão e todo açúcar ao preço deles.

O telefone não entra no poema (Os doentes) a pretexto da rima. Augusto não era disso. A Paraíba, com a sua capital, estava ainda muito longe de se perturbar com a vibração ruidosa da invenção do dr. Graham Bell. A julgar pelos anúncios no Almanach de 2010 (que ganhei de Fernando Moura), era rara a casa do alto comércio de João Pessoa com telefone. Mesmo as importadoras de nomes estrangeiros ou indústrias como a Tibiry. O irmão de Augusto, Arthur de C. R dos Anjos, com escritório na Maciel Pinheiro e morando num palacete de Tambiá, não insere telefone em seu anúncio de advogado.

Seguramente, o que acontece com Martinho, confrades e afins, aqui e ali obrigados a largar o texto ou a meditação, perder o fio da meada para atender à chamada invasora, estava longe, muito longe de perturbar física e mentalmente o poeta do Pau d’Arco.

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Sem nenhuma dúvida, o telefone, que simbolizava, ao lado do automóvel, mais um império a nos impor a língua, os negócios, a moral e a religião, fazia-nos sentir “pior que um vagabundo (...) desterrado na sua própria terra, diminuído na crônica do mundo”.

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"A hereditariedade dessa pecha
Seguiria seus filhos. Dora em diante
Seu povo tombaria agonizante
Na luta da espingarda com a flecha!”

Poeta da morte e da melancolia? Poeta do hediondo? Lorota. Dispensemos o receio de transcrever:

“Aturdia-me a tétrica miragem
De que, naquele instante, no Amazonas,
Fedia, entregue a vísceras glutonas,
A carcaça esquecida de um selvagem”.

E vem o remate:

“A civilização entrou na taba
Em que ele estava. O gênio de Colombo
Manchou de opróbrios a alma do mazombo
Cuspiu na cova do morubixaba.

E o índio, por fim, adstrito à étnica escória,
Recebeu (...) esse achincalhamento do progresso
Que o anulava na crítica da História”.

Em crônica no Correio da Manhã, Drummond, já na idade das poucas ilusões, e sem pretensões maiores, atribui ao leitor “descobrir e usar suas razões de viver. Suas razões e não as que lhe sejam inculcadas como exemplares”. Nesse sentido, mais adiante, ele confessa o soco recebido no estômago ao primeiro contato com a poesia de Augusto. Não o da terminologia cientifica a bater forte nas teclas musicais. Mas a do visionário de “Numa Forja” ou da aguda consciência social de “O lázaro da pátria” e “Os doentes”, vindo por tabela, agora, pelo telefone de Martinho.


Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL

Pirografia I Vou na areia, subindo
 Como uma onda, descendo
 E subindo. Vejo-a bem próxima:

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Pirografia


I

Vou na areia, subindo

Como uma onda, descendo

E subindo. Vejo-a bem próxima:

Isso mesmo. Estou com a idade mental dos meus 15 anos. Ando a rir em kkk e a colar figurinhas em fotos, vídeos e mensagens que hoje chegam,...

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Isso mesmo. Estou com a idade mental dos meus 15 anos. Ando a rir em kkk e a colar figurinhas em fotos, vídeos e mensagens que hoje chegam, todo santo dia, às telas do computador e do smartphone.

Vivemos um novo velho mundo sem volta. E, definitivamente, não há retorno à nossa aldeia global, para lembrar o filósofo canadense Marshall...

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Vivemos um novo velho mundo sem volta. E, definitivamente, não há retorno à nossa aldeia global, para lembrar o filósofo canadense Marshall McLuhan. Um passo atrás é mais que retrocesso, é abrir mão de tudo que a humanidade construiu durante séculos. Isso não é opção, é rendição. Seria o mesmo que se fechar numa concha, dar as costas à vida e voltar-se para dentro da caverna descrita pelo também filósofo, o grego Platão, com o agravante de já termos visto a realidade fora daquele lugar escuro.

Quando comecei a escrever crônicas, partia sempre de um assunto da minha vida. Falava de mim. Sem querer ser narcisista, era sempre com bas...

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Quando comecei a escrever crônicas, partia sempre de um assunto da minha vida. Falava de mim. Sem querer ser narcisista, era sempre com base em algo pessoal que levantava voos para comentar sobre as coisas mais diversas. Falei das perdas, das mortes, dos casamentos, dos amores, das saias, das casas, da família, da mãe, dos filhos, das praias, do tempo, dos estudos, do trabalho, dos amigos, das mulheres, das dores, do sofrimento, das alegrias,

A nossa primeira visita à Itália trouxe novas experiências, acompanhadas de emoções incríveis. Foi uma estreia, pois nunca havíamos pisado ...

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A nossa primeira visita à Itália trouxe novas experiências, acompanhadas de emoções incríveis. Foi uma estreia, pois nunca havíamos pisado o solo italiano antes. Ilma, minha esposa, eu e os companheiros de viagem, Karlisson e Socorro e Sérgio e Tereza, estávamos chegando de uma longa viagem pela França, onde havíamos percorrido, numa van alugada, a Rota dos Vinhos.

Qualquer aluno do ciclo básico de Sociologia compreende que as relações sociais e de trabalho mudaram radicalmente nos últimos anos e torna...

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Qualquer aluno do ciclo básico de Sociologia compreende que as relações sociais e de trabalho mudaram radicalmente nos últimos anos e tornaram-se mais flexíveis. Velhos paradigmas estão sendo quebrados através de novas formas de sociabilidade advindas do neoliberalismo, provocando profundas mudanças nos costumes, hábitos e valores.

Não é mesmo nada fácil escrever sobre amigos quando se pretende uma avaliação isenta. Por outro lado, sabemos que com os verdadeiros amigos...

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Não é mesmo nada fácil escrever sobre amigos quando se pretende uma avaliação isenta. Por outro lado, sabemos que com os verdadeiros amigos deve-se cultivar a sinceridade e a boa crítica, porque se trata de um olhar carinhoso com o único objetivo de melhorar, ou, pelo menos, contribuir com o aprimoramento de quem temos estima. Arvoro-me nessa empreitada a falar, desta vez, sobre álbum de grande amiga potiguar-estadunidense.

Em tempos de isolamento social, época de pandemia, é dúbio pensar: estou fora! Se a pessoa for idosa e do grupo de risco, o fora é dentro d...

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Em tempos de isolamento social, época de pandemia, é dúbio pensar: estou fora! Se a pessoa for idosa e do grupo de risco, o fora é dentro de casa. Essa constatação ficou bem óbvia quando acordei, olhei para as minhas roupas penduradas na arara e pensei: quanto tempo mais vou viver fora das minhas roupas? Cheguei até a sonhar que estava com meu vestido verde claro, com um tecido mesclado, que gosto tanto.

Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. ...

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Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. Esses instantes são para mim gratificantes, pois aconteceram no passado com os meus filhos e agora se repetem com os netos. Antes acompanhava minha filha adentrando o mundo da literatura e, agora adulta, ela mesma escrevendo e lendo seus textos para seu filho e sobrinhos. Sinto-me realizado.