“Le jeune fit un geste, le geste de César passant le Rubicon” (o jovem fez um gesto, o gesto de César passando o Rubicão), é o que nos cont...

ambiente de leitura carlos romero milton marques junior Academia paraibana de letras forca do latim eterno latim travessia do rubicao os dados sejam lancados a sorte esta lancada julio cesar roma napoleao iii golpe de estado rubicon

“Le jeune fit un geste, le geste de César passant le Rubicon” (o jovem fez um gesto, o gesto de César passando o Rubicão), é o que nos conta o narrador de "A Fortuna dos Rougon" (La fortune des Rougon), romance de Émile Zola (Capítulo VI). Ainda que não queiramos, vivemos impregnados do latim e da cultura latina. Quem nunca ouviu a frase alea iacta est ? E quem nunca se lembrou dela numa situação limite?

O Poder, ah, o Poder ... O Poder e sua força irresistível, seu fascínio desarrazoado e alucinante. O labirinto psicológico que o envolve, ...

ambiente de leitura carlos romero francisco gil messias getulio vargas negociata jogo de interesse academia de letras juscelino sem merito


O Poder, ah, o Poder ... O Poder e sua força irresistível, seu fascínio desarrazoado e alucinante. O labirinto psicológico que o envolve, os sentimentos que suscita e que Shakespeare genialmente dissecou tão bem – e para sempre – em Hamlet, Macbeth, Rei Lear e Otelo, por exemplo.

Vejo uma reportagem na TV sobre compulsão. A repórter entrevista alguns compulsivos, que falam sem pudor de suas manias. Uma mulher só se s...

ambiente de leitura carlos romero chico viana compulsao impuslo consumismo medo da morte impulsivo

Vejo uma reportagem na TV sobre compulsão. A repórter entrevista alguns compulsivos, que falam sem pudor de suas manias. Uma mulher só se sente feliz quando faz compras. Mostra no guarda-roupa uma porção de vestidos, blusas, sapatos que jamais vai usar.

O mundo contemporâneo impõe a todos nós um grande desafio: conviver com a alteridade. Está cada vez mais difícil compreender o lugar do out...

ambiente de leitura carlos romero rui leitao conviver com as diferencas diversidade harmonia dos opostos respeito liberdade opiniao expressao

O mundo contemporâneo impõe a todos nós um grande desafio: conviver com a alteridade. Está cada vez mais difícil compreender o lugar do outro, aceitar as divergências, respeitar os pensamentos e opiniões discordantes. Principalmente quando o debate se estabelece na manifestação das convicções e ideias políticas.

Coisinhas me encantam. Aquelas que se desapegam do conjunto. Uma xícara sem o pires, uma concha trazida da praia, uma flor que coloco entre...

ambiente de leitura carlos romero cristina porcaro cronica olhar poetico simplicidade ver as coisas simples detalhes da vida

Coisinhas me encantam. Aquelas que se desapegam do conjunto. Uma xícara sem o pires, uma concha trazida da praia, uma flor que coloco entre as páginas dos livros. É um sentimento de gratidão pela existência das coisas simples, as que me fazem recordar momentos, pessoas, situações.

Um ensaio de pesquisa social do mestre Carlos Alberto Azevedo (Os reinventores do cotidiano: feirantes & fregueses do Mercado Central -...

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues feira livre feirante supermercado

Um ensaio de pesquisa social do mestre Carlos Alberto Azevedo (Os reinventores do cotidiano: feirantes & fregueses do Mercado Central - 2020) logo de entrada levou-me a recordar o primeiro contato com a novidade do supermercado. Até então, a feira, os mercados públicos, adoçavam a divisão de classes sociais nas suas fontes primárias de abastecimento. Funcionava para quem enchia o balaio e para quem o levava.

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues feira livre feirante supermercado
Já vivíamos os anos 1970, se posso precisar, quando me vi de cara com uma mercearia sem balcão, a mercadoria se despachando confiada aos escrúpulos do freguês. E achei um barato. Até duvidei, como o fizera antes, na velha A União, ouvindo Dulcídio Moreira contar que na Suíça o leitor apanhava o jornal, ele mesmo se despachava e se dava o troco, se fosse o caso. Menino que passara a mão nas moedas do pai, cubei por baixo, dei desconto nessa prosa do jornalista que fora marujo viajado e lido, de excelentes e cobiçados textos exclusivos do “Estadão”, de que era correspondente.

Num contraste, logo às primeiras linhas revivo a experiência alvissareira que senti ao entrar no primeiro Comprebem, na 1817, surpreso com um comportamento de gente adiantada, coisa de cinema ou de ouvir dizer. Longe de imaginar, com o passar do tempo, o exílio que a relação direta com o mundo disponibilizado da mercadoria haveria de me reservar.

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues feira livre feirante supermercado

Carlos Alberto Azevedo aborda com adesão de pesquisador social (e creio mesmo que como freguês de feira) a sobrevivência das relações mais que sociais, humanas, que se cruzam através das compras nos mercados públicos. Não aborda apenas com a sua experiência, que seria o bastante, mas com referências de outros mundos, por onde se vê que a nossa feira ou mercado público, como de qualquer cidade brasileira ou estrangeira, continua aproximando as pessoas, qual troca de hormônios que guia as formigas, favorecendo a comunicação e a sociabilidade. Funciona a confiança dos que compram nos que vendem.

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues feira livre feirante supermercado
Diz um autor citado por Azevedo que há gente que vai ao mercado mais para encontrar o conhecido que a mercadoria. Antes da peste que parece não terminar, um dos Trócollis ia diariamente à Torre, ao seu tamborete, apenas para manter nos olhos o colírio das pessoas. Nau, meu amigo Nau, do antigo Paraiban, tinha lá seu ponto. Eu também tinha os meus tamboretes, de preferência nas bancas de bicho, de mais preferência ainda no palpite dos olhos de Lindalva, que as faces de hoje começam a encobrir.

É pena entrar num tema destes, seriamente estudado por um paraibano que valoriza a nossa identidade cultural, e terminar trocando em miúdos, dando razão a Agripino Grieco, que via no cronista um nadador de piscina. Mais que sério, oportuníssimo, por poder capturar a boa vontade do prefeito a ser aplicada no asseio e organização disciplinada dos nossos mercados, sobretudo o do Bairro dos Estados, degradado em seu projeto original do tempo de Dorgival Terceiro Neto.


Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL

Brinca-se de cabra-cega ou de esconde-esconde. A panela não contém bombom. Talvez ou quase certo, esteja vazia. Uma festa ao avesso do povo...

ambiente de leitura carlos romero jose leite guerra desesperanca vida moderna redes sociais mecanicismo desgoverno mundial rumo do brasil

Brinca-se de cabra-cega ou de esconde-esconde. A panela não contém bombom. Talvez ou quase certo, esteja vazia. Uma festa ao avesso do povo sacolejado pelos desmandos de um roteiro escuro. Às apalpadelas se procura a saída. Tecnologicamente, os padrões se desenham em mapas e projeções com os frios números, numa lógica de desesperação, dentro de um recinto de paredes negras e chão esburacado. Para onde vamos? Nós e o mundo? Nós e as brasílicas potencialidades apanhadas em botijas rasas? Há riquezas de argumentos e afirmações que correm o risco de serem desmanchadas pela crudelíssima realidade.

Poemas soltos e livres, os de Vitória Lima. Por isso mesmo, podem dar a falsa impressão de que a autora procede com desleixo no que tange a...

ambiente de leitura carlos romero sergio de castro pinto poesia paraibana vitoria lima

Poemas soltos e livres, os de Vitória Lima. Por isso mesmo, podem dar a falsa impressão de que a autora procede com desleixo no que tange ao aspecto formal de cada um deles. Ledo engano, pois, fosse assim, Vitória não teria publicado apenas dois livros – “Anos bissextos” e “Fúcsia” –, ambos magrinhos, enxutos, esbeltos, como magrinhos, enxutos e esbeltos são a maioria quase absoluta dos poemas que os compõem. Quero dizer: a produção quase bissexta de Vitória já confirma e chancela o seu rigor e a sua disciplina na elaboração do poema.

Por onde anda o vendedor de milho, aquele que, todos os dias, às cinco em ponto, suspendendo o movimento do mundo, surgia, em frente ao edi...

ambiente de leitura carlos romero antonio morais carvalho vendedor de milho filosofia cotidiano heraclito dialetica

Por onde anda o vendedor de milho, aquele que, todos os dias, às cinco em ponto, suspendendo o movimento do mundo, surgia, em frente ao edifício onde moro? Todos os dias, apesar da inconstância universal dos seres, dos eventos e das coisas, lá estava ele, exatamente às cinco, como se nunca houvesse saído dali.

"Existe um ser com dois pés sobre a terra, também com quatro pés, de si uma voz, quanto com três pés. Sozinho modifica a natureza tant...

ambiente de leitura carlos romero alcione albertim édipo enigma esfinge ingres complexo de edipo oedipus

"Existe um ser com dois pés sobre a terra, também com quatro pés, de si uma voz, quanto com três pés. Sozinho modifica a natureza tanto dos que rastejam sobre a terra, quanto dos que surgem acima no éter e abaixo no mar. Mas quando anda apoiando-se em vários pés, então, a sua força torna-se mais fraca para os seus membros.(Tradução nossa)"

Não foi à toa que o Concilio Vaticano II realizou significativa (e oportuna) revolução religiosa, por volta da década de 60. Estudava eu ai...

ambiente de leitura carlos romero saulo mendonca abuso do latim expressoes latim latinizacao rebuscamento

Não foi à toa que o Concilio Vaticano II realizou significativa (e oportuna) revolução religiosa, por volta da década de 60. Estudava eu ainda no Seminário quando o Latim foi abolido nas missas em diversas partes do planeta. O objetivo básico consistiu em tornar acessível a cerimônia aos principais interessados, os chamados “fiéis”, facilitando-lhes a compreensão das palavras pronunciados pelo padre.

Falar sobre a crônica de Luiz Augusto , como forma de lembrar seu aniversário, representa muito mais que um esforço analítico para captar e...

ambiente de leitura carlos romero angela bezerra de castro luiz augusto crispim eu e outros arrecifes caminhos de mim cronica paraibana

Falar sobre a crônica de Luiz Augusto, como forma de lembrar seu aniversário, representa muito mais que um esforço analítico para captar e expor suas preferências temáticas e a composição dos processos criativos que predominam em sua prosa poética. Significa, antes de tudo, um reencontro com a sua forma de ser mais definitiva, esta que se eternizou através da linguagem.

Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar desastres previsíveis como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título que é o ...

ambiente de leitura carlos romero waldemar jose solha dostoievsky sodoma edipo sofocles  hercules mitologia ulisses odisseu tragedia anunciada davi golias pantagruel ditos populares

Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar desastres previsíveis como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título que é o Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez. Claro que isso não é de hoje. Todo sujeito ciumento é um “Otelo”, desde que Shakespeare escreveu a peça a respeito do suplício do Mouro de Veneza. Todo homem excepcionalmente forte é um “Hércules”, desde que Eurípedes encenou a tragédia Heracles entre os gregos, Sêneca levou ao palco o Hércules sobre o Eta, entre os romanos.

ambiente de leitura carlos romero waldemar jose solha dostoievsky sodoma edipo sofocles  hercules mitologia ulisses odisseu tragedia anunciada davi golias pantagruel ditos populares
Do mesmo modo, toda viagem ou percurso repleto de percalços passou a ser “uma odisséia”, desde que Homero escreveu a história de Ulisses, cujo nome grego era Odisseu. Daí 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o filme de Stanley Kubrik – daí Ulisses, o famoso romance de James Joyce, que consome cerca de 800 páginas pra contar o que foi um dia – 16 de junho de 1904 - na vida de um certo Leopold Bloom andando em Dublin.

Se esse caminho, porém, é de mais sofrimento do que aventura, o rótulo é o de “via-sacra”, “via-crúcis” ou “calvário”, por conta do peso do texto evangélico que transformou, também, todo traidor em “judas”, toda vítima em “cristo”, todo homem caridoso em “bom samaritano”, todo fim do mundo em “apocalipse”.

De igual modo, abrindo para o Velho Testamento, todo começo de qualquer coisa é “gênesis”, todo assassino é um “Caim”, todo lugar maravilhoso é um “paraíso”, toda debandada é um “êxodo”, toda enchente é um “dilúvio”, todo vidente é um “profeta”, toda figura com salvadora liderança é “messiânica”, toda decisão sábia é “salomônica”, todo embate desproporcional, tipo camundongo Jerry contra o gato Tom, Oliveiros contra Ferrabrás, Vietnã versus Estados Unidos, é uma luta de “Davi e Golias”.

ambiente de leitura carlos romero waldemar jose solha dostoievsky sodoma edipo sofocles  hercules mitologia ulisses odisseu tragedia anunciada davi golias pantagruel ditos populares
Quem nunca classificou alguma cena terrível de “dantesca”, por conta da Divina Comédia de Dante? Quem nunca chamou o herói de uma causa perdida – como Vitorino Papa Rabo, de Zé Lins; ou o Príncipe Michkin, de Dostoiévsky - de “quixotesco” devido à obra de Cervantes? Quem nunca disse que um sujeito em dúvida terrível é “hamletiano”? E não chamou um sofredor voluntário de “masoquista”, devido ao romance A Vênus de Peles , de Leopold Ritter von Sacher-Masoch, no qual um personagem somente chega ao orgasmo depois de surrado pelo amante da esposa? Claro que você acaba de se lembrar de que “sádico”, se deve ao Marquês de Sade e a seus romances – como Os 120 Dias de Sodoma.

Igualmente, “pantagruélico” é o comilão por excelência, desde que Rabelais escreveu seu romance Gargântua e Pantagruel, e “acaciana” é sempre uma figura pública tipo Conselheiro Acácio, pseudo-intelectual pomposo, desde que Eça de Queirós escreveu o romance O Primo Basílio.

ambiente de leitura carlos romero waldemar jose solha dostoievsky sodoma edipo sofocles  hercules mitologia ulisses odisseu tragedia anunciada davi golias pantagruel ditos populares
A quanto mulherengo já demos o nome de “casanova”, devido ao libertino escritor Giácomo Casanova, que – segundo afirma nos vinte e oito volumes de suas memórias – enumerou cento e vinte e duas mulheres que possuiu ao longo da vida! Ou de “Don Juan”, por causa do personagem fictício que, por suas inúmeras conquistas amorosas, compareceu em várias obras de arte, como a peça Don Juan Tenório, de José Zorrilla, e a ópera Don Giovanni, de Mozart! Quem já não disse que no meio do caminho há uma pedra e não se perguntou “e agora, José?”, graças a Drummond? Ou “que país é este?”, graças ao Affonso Romano de Sant'Anna?

Um dos casos mais famosos de apropriação desse tipo é o de Freud, que viu no personagem clássico de Sófocles – Édipo Rei – o protótipo do portador do complexo emocional que envolve amor e ódio na relação filho-mãe-pai, tendo Gustav Jung estabelecido a mesma relação filha-pai-mãe no Complexo de Electra, partindo das peças de Sófocles e Eurípedes que contam como essa personagem matou a mãe, Clitemnestra, pra vingar a morte do pai, Agamênon.

Quanta História por trás de cada palavra!


W. J. Solha é dramaturgo, artista plástico e poeta

O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novament...



O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novamente atingido pela inconveniência inesperada, profundamente desagradável, justamente num dos momentos mais pesarosos por que teve de passar na vida.

Há semanas ele achou um cantinho pra morar sem poder chamar de seu. Mesmo assim lá se aninhou decidindo adotá-lo.

ambiente de leitura carlos romero germano romero morador de rua abandono solidao pobreza indiferenca da humanidade

Há semanas ele achou
um cantinho pra morar
sem poder chamar de seu.
Mesmo assim lá se aninhou
decidindo adotá-lo.

Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não d...

ambiente de leitura carlos romero gonzaga rodrigues telefonema noticia triste perda morte coronavirus covid-19

Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não diz se é de gente ou do vento. Melhora um pouco, é de gente mulher, sim. A impaciência relaxa para uma escuta mais calma, até fagueira. Os que chegam a essa distância de vida compreendem.

Vamos dançar? Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar... Dançaríamos juntinhos, De rosto colado, E em teu ouvido, Eu cantaria baix...


ambiente de leitura carlos romero volia loureiro do amaral poesia tempo da inocencia vamos dancar passar do tempo declaracao amor


Vamos dançar?


Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar...
Dançaríamos juntinhos,
De rosto colado,
E em teu ouvido,
Eu cantaria baixinho.

“Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não...

ambiente leitura carlos romero milton marques dom casmurro machado assis capitu bento santiago escobar traição humilhação odisseia priamo aquiles troia duvida

“Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso, e até mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha; eu acabava de louvar as virtudes do homem que recebera, defunto, aqueles olhos... É impossível que algum Homero não tirasse da minha situação muito melhor efeito, ou, quando menos, igual. Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; não, senhor, faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o silêncio. As lágrimas, se as têm, são enxugadas atrás da porta, para que as caras apareçam limpas e serenas; os discursos são antes de alegria que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor.”

Cabo Branco e outros mares trago medos da barreira de cabo branco saudades de barracas e agueiros meu pai beliscando uma agulha o meni...

ambiente de leitura carlos romero linaldo guedes cabo branco e outros lugares amigos beijo poesia livro linaldo guedes

Cabo Branco e outros mares


trago medos da barreira de cabo branco
saudades de barracas e agueiros
meu pai beliscando uma agulha
o menino que corria nas areias do sol

trago memórias do sal de tambaú
e do imponente hotel, cartão postal da maresia
lembranças do mercado, dos bares, da lua
o menino lambendo os dedos afrodisíacos

trago a solidão escura de manaíra
e o descampado vazio de seu calçadão
cantigas de nada para os pescadores da vida
cantigas de espumas nos pescados dos pratos

trago outros mares que jogam suas ondas em minha lida
bessa, e seus bares da moda
a penha, com seus hábitos populares
o seixas, onde o sol nasce primeiro
jacarapé, onde os corpos morrem primeiro

trago alegrias do cabo branco da infância
e medos, do cabo branco amanhã
trago dores e os banhos de sargaços na alma
trago suas tatuagens, marcando minha pele no azul do mar.



O beijo


o instante que precedeu o beijo
estava cheio de relâmpagos e trovões
coração disparado e muitos senões
querendo botar gosto ruim em meu desejo

o momento em que aconteceu o beijo
não tinha trovões, só nuvens
mas tinhas raios que anunciavam
o sol que brilhava até no Alentejo

o que aconteceu depois não foi lampejo
e não tem dicionário que defina
nada explica porque só essa menina
me deixa sem querer outro beijo.



Amigos


meus amigos guiaram ruas em itinerários
das acácias

alguns estão longe na retina
no sabor de jambo em paralelepípedos vermelhos
de jaguaribe

outros levaram meus pés para jogar
sonhos nas areias de um mar impúbere

àqueles acendiam poemas baseados em motivos surreais
na sala vazia do altiplano,
(temperados com gororobas deliciosas de morrison)

estes, mal chegaram e já saíram
(ficou um ou outro teimando a poesia).


* (Do livro, ainda inédito, “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”)


Linaldo Guedes é mestre em ciências da religião, jornalista e poeta

Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro. Ambo...

ambiente de leitura carlos romero frutuoso chaves dor de cotovelo roedeira vanzolini canticos de salomao jacques brel ne me quitte pas

Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro.

Ambos cantaram os mesmos temas: a angústia e o desespero de um coração partido. Mais: a humilhação suprema da busca por um amor vagabundo, perdido nas noites. Mais, ainda: a renúncia ao mínimo resquício de amor próprio, bem necessário ao equilíbrio e à sobriedade, ao comedimento e à compostura.

O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a c...

ambiente de leitura carlos romero josinaldo malaquias pandemia autoestima medo covid-19 coronavirus autopiedade confinamento

O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a clausura como forma de se evitar o mal. O que se observa é que esse isolamento, na proporção que não faz o mal, igualmente não realiza o bem. Por acaso Deus quer eunucos?

ambiente de leitura carlos romero josinaldo malaquias pandemia autoestima medo covid-19 coronavirus autopiedade confinamento
Involuntariamente, o mundo confinou as pessoas diante do flagelo da Covid-19. Ao invés de auto revelação ou iluminação interior, o que se tem visto é uma espécie de delirium pandêmico indutor do desespero, do sentimento de culpa e, em muitos casos, da recontagem da validade da vida.

Com isso, evidencia-se a saturação da futilidade valorativa de falsas exterioridades, veiculadas nas redes sociais. A fórceps, a pandemia tem obrigado a um caliginoso encontro consigo mesmo, impactado pelo conflito interno provindo de sonhos, desejos, pulsões e a inaptidão em mudar alguma coisa.

É aí que se acentua a baixo autoestima, um dos maiores problemas de uma contemporaneidade marcada pela fluidez dos relacionamentos em todos os aspectos. A primeira consequência é a autopiedade, consequente da percepção de que a idealização de si, ou de outrem, não passa de uma fantasia mental.

Através da autopiedade instaura-se um sentimento de invalidez mental que, além de adoecer fisicamente, introjeta uma sensação de inferioridade e de perda do sentido da vida, intensificado pela tendência decorrente da solidão em se relembrar apenas dos fatos dolorosos de uma vida que deveria ter sido, mas não é, segundo pueris idealizações. É que nesse estado a pessoa não consegue vislumbrar que o passado – por mais traumático que tenha sido – só existe enquanto categoria mental. Não é real!

ambiente de leitura carlos romero josinaldo malaquias pandemia autoestima medo covid-19 coronavirus autopiedade confinamento

Em segundo lugar, decorrente da autopiedade, vem o sentimento de culpa, sentimento este reforçado por crenças religiosas limitantes que buscam na culpa a forma suprema para a introjeção do medo e da manipulação. Daí a preocupação com as classificadas vítimas do mundo, as quais devemos “salvá-las”, quando quem precisa de “salvação” é a nossa própria incolumidade psíquica.

E a “caridade” presunçosa que faz pelos outros o que eles sabem e podem fazer? E a caridade esmola, a mais fácil, sobretudo quando se chamam os meios de comunicação? O que é a verdadeira caridade quando a existência da verdade está reduzida à percepção que a pessoa tem desta?

ambiente de leitura carlos romero josinaldo malaquias pandemia autoestima medo covid-19 coronavirus autopiedade confinamento
Nunca se necessitou tanto da máxima de Protágoras, talvez a maior expressão dos Sofistas, de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Aristóteles também assevera que o homem é o que pensa. Desta maneira também pensava Marx, pensador que merece ser relido pela eterna “esquerda festiva”, no dizer do genial Nelson Rodrigues.

Temos o retrato de uma situação terrificante que não pode ser mais olhada e analisada através da moldura. A Covid-19 é o acicate, não para a desesperança efêmera consequente da fragilidade emocional, mas para novos olhares sobre a condição humana enquanto vontade de potência, na concepção de Nietzsche, de que o ser humano nasceu para carregar o estandarte nas batalhas, pois da maneira que não existe felicidade eterna, inexiste desgraça que dure a vida inteira.


Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista

A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real! Aos 92 anos, o catalão m...

ambiente de leitura carlos romero thamara duarte dom pedro casaldaliga causa indigena teoria da libertacao

A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real!

Aos 92 anos, o catalão mais brasileiro de quem já ouvi falar, calou sua voz nesta Terra. Sim, agora e verdade! Dom Pedro Casaldáliga partiu hoje, em direção à sua nova morada!

Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos corações
Estou muda... Sem saber o que dizer, multo embora enviasse energias e torcesse para que acontecesse o que de melhor fosse para ele, diante de um quadro tão grave de problemas: principalmente os respiratórios.

Meu coração para por uns instantes...Estou profundamente triste…

Dom Pedro Casaldáliga agora é um anjo, que há de estar, eterna e suavemente, sobrevoando sobre nós e a nossa casa, a nossa Terra.

ambiente de leitura carlos romero thamara duarte dom pedro casaldaliga causa indigena teoria da libertacao
Dom Pedro Casaldáliga
No entanto, a falta do seu olhar, das ações e palavras que não teremos mais vão nos deixar ainda mais solitários e dispersos no amor ao próximo.

Fará imensurável falta a presença física de um dos seres mais belos e pulsantes que Deus colocou neste planeta: azul e de abundante água...

Como bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga esteve sempre junto com o povo, num longo, amoroso e profundo caminho...

Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos corações.

Estou destroçada... Mas serei forte e serena, como o senhor sempre foi! Sei que seus ensinamentos e ações serão seguidos, compartilhados e multiplicados!

Salve a Teologia da Libertação!

Gratidão eterna pela sua grandeza, querido Servo da Vida e de Cristo!!!


Thamara Duarte é mestre em direitos humanos, ambientalista, e jornalista

Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebr...

Ferreira Gullar Otto Lara Resende Hélio de Seixas Guimarães Ieda Lebensztayn Machado de Assis Dom Casmurro Capitu ambiente de leitura carlos romero francisco gil messias

Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Realmente. Tanto já se escreveu sobre esse tema, admitindo-se ou negando-se a tal infidelidade, que talvez não se justifique voltar ao assunto, tido por esgotado. E, no entanto, volta-se. Exatamente porque essa é uma das características dos clássicos: sua inesgotabilidade, sua permanente provocação aos leitores, suscitando eternamente novas leituras e enfoques, e rejuvenescendo o que já parecia, aos mais apressados, definitivamente velho e exaurido. E Dom Casmurro, ninguém pode negar, é verdadeiramente um clássico de nossa letras, com potencial de se tornar um clássico das letras universais, caso um dia o mundo resolva descobrir nossos autores.

Para meu pai, Romero [ in memoriam ], uma saudade imensa; Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso; Para Fred, um pai ...

dia dos pais paternidade saudade filhos ilegítimos feminismo reponsabilidade ambiente de leitura carlos romero

Para meu pai, Romero [in memoriam], uma saudade imensa;
Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso;
Para Fred, um pai presente, por entre as Pitangas;
Para Flávio, uma vez, um quase-pai.


Hoje, domingo, comemora-se o Dia dos Pais. Enquanto comprava lembrancinhas para os “meus pais” queridos, aproveitei para presentear a mamãe aqui com algumas leituras, as quais recomendo: