Luzia Acho lindo o nome Luzia Um nome que veio lá da Espanha Mas reluz no sertão Na feira de rua Na mão de uma santa
Três (ou quatro) nomes de mulher
Luzia
Acho lindo o nome Luzia
Um nome que veio lá da Espanha
Mas reluz no sertão
Na feira de rua
Na mão de uma santa
Uma das versões da tela “O grito”, de Edvard Munch, foi arrematada em leilão por cento e vinte milhões de dólares. Li que nunca se pagou ta...
Uma ponte entre Munch e Augusto
Uma das versões da tela “O grito”, de Edvard Munch, foi arrematada em leilão por cento e vinte milhões de dólares. Li que nunca se pagou tanto por um quadro. “O grito” mostra um homenzinho que caminha sobre uma ponte e é surpreendido por algo que o aterroriza. Não se sabe o que ele vê, nem mesmo se está vendo alguma coisa. A força da imagem vem sobretudo desse enigma.
Jesus, segundo João (Katà Iōannēn): Jesus é o Bom Pastor. Ele não pula o cercado do aprisco, ele entra pela porta. Ele é a porta das ov...
Jesus, o belo Pastor da Vida
Jesus, segundo João (Katà Iōannēn):
Jesus é o Bom Pastor.
Ele não pula o cercado do aprisco, ele entra pela porta.
Ele é a porta das ovelhas.
Suas ovelhas o conhecem pela voz, afinal ele é o verbo
como luz verdadeira.
O tio velho, 97 anos, está resistindo sem muita queixa ou como Deus é servido, na rua da ponte, em Alagoa Grande. Ouve melhor do que o sobr...
Avelinada
O tio velho, 97 anos, está resistindo sem muita queixa ou como Deus é servido, na rua da ponte, em Alagoa Grande. Ouve melhor do que o sobrinho.
— E essa peste, tio, como vai por aí?
Decerto o inquieto e producente Arthur Kösztler viveu o conceito que emulou e a que denominou “the oceanic feeling” (o oceano de sentiment...
O estudo do Mistério
Decerto o inquieto e producente Arthur Kösztler viveu o conceito que emulou e a que denominou “the oceanic feeling” (o oceano de sentimentos). Köstler (como grafava sua mãe vienense) era judeu, tendo incorporado toda a mística hebraica, e experienciado estados alterados de consciência seja no uso de drogas como LSD, seja pelo que relata em seu trabalho autobiográfico "The Invisible Writing", onde a mística o alcançou no cárcere. Esses homens, dados à vivência intensa e à experimentação, fazendo de suas mentes e corpos cobaias do sentir e do pensar, são forte influência para os artistas, sobretudo quando publicam com tamanha riqueza de detalhes e arte mesmo no escrever.
Que inveja tenho de Eça de Queiroz que podia dizer – e disse – “Sou apenas um pobre homem de Póvoa do Varzim”. E o engraçado é que gosto de...
Um lugar para chamar de meu
Que inveja tenho de Eça de Queiroz que podia dizer – e disse – “Sou apenas um pobre homem de Póvoa do Varzim”. E o engraçado é que gosto de cidade grande. Ou, pelo menos, de cidade razoavelmente desenvolvida, que conte com algumas boas livrarias e alguns bons restaurantes. Desses dois prazeres, o dos livros e o da gastronomia, sentiria falta numa cidade onde não pudesse achá-los.
Nós cinco passávamos uma temporada na cidade do Porto porque a esposa estava cursando o doutorado. Antes de prosseguir, necessito explicar ...
Dois peixes
Nós cinco passávamos uma temporada na cidade do Porto porque a esposa estava cursando o doutorado. Antes de prosseguir, necessito explicar o número que menciono, pois, visivelmente, éramos somente três. Estávamos por lá ela, eu e Eduardo, com sete anos, e os gêmeos, ocultos no ventre da doutoranda, com seus oito meses de gestação.
Não entendo como um ser vivente possa dispor de tal moradia. Nem vejo serventia melhor para um bicho desses, senão aquela posta em prática ...
Coisas do progresso
Não entendo como um ser vivente possa dispor de tal moradia. Nem vejo serventia melhor para um bicho desses, senão aquela posta em prática por moradores ribeirinhos durante as cheias do Rio Paraíba, no Pilar da minha infância. A Natureza, porém, sabe das coisas melhor do que eu, evidentemente.
A vida é um Poema grandioso aflorando no protoplasma, embrião de todas as organizações da vida. No escoar incessante do tempo, essa substân...
Vida, poema de beleza
A vida é um Poema grandioso aflorando no protoplasma, embrião de todas as organizações da vida. No escoar incessante do tempo, essa substância primordial viaja no rumo dos seus destinos, sob a inspiração do Divino Artista.
Eu não vim pra falar da reles droga Que campeia o sonho adolescente Nem da dor quando à sarjeta joga A escória humana de minha gente
Meus heróis morreram de overdose
Eu não vim pra falar da reles droga
Que campeia o sonho adolescente
Nem da dor quando à sarjeta joga
A escória humana de minha gente
Desde muito cedo concebi o trabalho como o meio supremo de realização humana. Nunca coonestei a ociosidade que, na minha concepção, é a fon...
O ódio e o ócio
Desde muito cedo concebi o trabalho como o meio supremo de realização humana. Nunca coonestei a ociosidade que, na minha concepção, é a fonte de todas as degenerescências. Não acredito que alguém possa crescer na preguiça, justificada pela falta de iniciativa que faz tudo certo para dar errado.
Os fenômenos psíquicos (do grego psyché: alma, espírito), estudados pelo Espiritismo, pela Metapsíquica e pela Parapsicologia têm como agen...
Mediunidade, Metapsíquica e Parapsicologia
Os fenômenos psíquicos (do grego psyché: alma, espírito), estudados pelo Espiritismo, pela Metapsíquica e pela Parapsicologia têm como agente o Espírito, ser humano sensível e inteligente.
Andarilho das manhãs na areia fina e esfriada pelas lambidas do mar, ele viu boiando já na quebra das ondas uma garrafa azul. Estava tampad...
Garrafa de náufrago
Andarilho das manhãs na areia fina e esfriada pelas lambidas do mar, ele viu boiando já na quebra das ondas uma garrafa azul. Estava tampada com uma rolha. Pegou-a e viu que dentro dela havia um papel. Uma mensagem:
Comecei a aprender matemática em casa, com as primeiras letras. Logo entrei para o Primeiro Ano A, na escola de Dona Carmita, na Praça da I...
Mania de calcular
Comecei a aprender matemática em casa, com as primeiras letras. Logo entrei para o Primeiro Ano A, na escola de Dona Carmita, na Praça da Independência, quando a tabuada entrou definitivamente em minha vida.
Enigma Enquanto penso, teço enredos, crio imagens Debruço-me sobre algo que não sei Para engendrar-lhe um rosto. Nenhuma ideia! Fals...
Enigmas
Enigma
Enquanto penso, teço enredos, crio imagens
Debruço-me sobre algo que não sei
Para engendrar-lhe um rosto.
Nenhuma ideia! Falsa fluidez, teia oblíqua.
Loucura, ânsia de flagrar no outro
O que tanto busco em mim.
Sempre que vejo a placa de sinalização do trânsito que indica animal na pista, cujo ícone é uma vaca, eu faço uma brincadeira, dizendo que ...
A vaca e o Bósforo
Sempre que vejo a placa de sinalização do trânsito que indica animal na pista, cujo ícone é uma vaca, eu faço uma brincadeira, dizendo que o Bósforo é aqui. Refiro-me, claro, ao estreito de Bósforo, que separa a Europa da Ásia Menor, como os antigos chamavam a atual Turquia.
Os meios de comunicação de fácil acesso têm desestimulado a prática da leitura de livros. E isso é muito ruim. Alguns culpam exclusivamente...
O hábito da leitura
Os meios de comunicação de fácil acesso têm desestimulado a prática da leitura de livros. E isso é muito ruim. Alguns culpam exclusivamente o avanço da tecnologia. Eu, particularmente, entendo que é resultante de um processo cultural que vem sendo adotado nas escolas e no exemplo familiar.
Uma zoada muda, abafada, distante. Chega mais perto, cresce, até irromper na esquina. Quem estava em casa corre para ver. O palhaço Perna...
O dia em que o palhaço chorou
Uma zoada muda, abafada, distante. Chega mais perto, cresce, até irromper na esquina. Quem estava em casa corre para ver.
O palhaço Perna-de-pau é um homem jovem, animado e falante. Acena para quem está nas calçadas. As pessoas correspondem, fascinadas.
Canção enluarada Espero a noite que não tarda, E com as rimas da saudade Componho-te um poema branco. Deixei a rima em algum canto esq...
Canção enluarada
Espero a noite que não tarda,
E com as rimas da saudade
Componho-te um poema branco.
Deixei a rima em algum canto esquecida.
Vagava pela madrugada... Conhecia bem a cidade escura, as sombras ao caminhar pelas calçadas que cruzavam na direção contrária, os olhos ac...
Pela madrugada
Vagava pela madrugada... Conhecia bem a cidade escura, as sombras ao caminhar pelas calçadas que cruzavam na direção contrária, os olhos acesos dos carros perdidos a esmo, a busca de companhia pelas avenidas e ruas, as janelas por onde pedaços de luzes piscavam meias vidas, verdades incompletas. Vultos deitados em marquises lhe soavam naturais, faziam-lhe temer menos que corpos apressados desmascarados que andam livremente nas noites de céu claro e quente.
Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras,...
Praça e coreto
Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras, que deixavam o ambiente ainda mais aconchegante. Quando eu ia lá, gostava de ficar sentado no banco, observando o movimento da rua, sem desviar o olhar do relógio da matriz para não esquecer a hora de retornar ao sítio.
A praça é o espelho da cidade. Lugar onde se passam agradáveis momentos de lazer e animadas conversas com amigos.
Na praça constroem-se sonhos que nem sempre são realizados. Por isso aquela praça anda comigo, é parte de minhas quimeras de adolescente. Mas destruíram a praça, reduzindo a paisagem de nossos olhares.
Na praça é possível descobrir a cordialidade entre os habitantes da cidade. Lugar onde se planta esperança, onde se colhe sonhos.
Há milênios a praça tem papel importante na vida das pessoas e continuará, mesmo que a insegurança arrede as famílias.
No tempo de Jesus, quando se desejava contratar alguém para o trabalho, recorria-se às praças. O Mestre até usou-a em uma parábola, para falar de seu reino aos trabalhadores.
Quando destruíram o coreto da praça de nossa infância, arrancaram um pedaço de nós. Os destroços e a poeira levaram consigo a história de nossos ancestrais, restando o retrato na parede onde as folhas das palmeiras ainda tremulam.
A cidade que não cuida de suas praças está fadada ao esquecimento. Quanto encantamento no olhar havia quando, ao final das tardes e primeiras horas das noites, as pessoas conversavam nesse local.
A antiga praça de Serraria faz parte das saudades que compõem a paisagem que habita toda a minha poesia. Em tudo que presenciei na tenra idade, hoje, olhando para o passado, percebo que a natureza e os antigos casarões de minha terra são habitantes de minha poesia.
Foram as intermitências deste sonho que permitiram suportar a ausência e a dor do trabalho árduo durante mais de seis décadas. Quando conduzido para outras paisagens, alimentando-me das imagens que carregava de Serraria, sejam as que estavam gravadas na memória ou estampadas na fotografia, sempre estavam o coreto da praça e seu entorno, guardados como reminiscências.
Como diria Neruda, este poeta chinelo que nos consola com sua poesia, “minha vida é uma vida feita de todas as vidas: a vida do poeta”. Minha travessia começou ali, com personagens de todas as épocas misturando-se às de hoje, que estão ao nosso lado.
O silêncio da praça sucumbiu na poeira e nos destroços, mas ressurgirá nas folhagens verdes da esperança, espalhadas pelo vento. Um vento que sussurra como música entre as palmeiras que circundam nossa cidade.
A reconstrução deste coreto teria um forte simbolismo cultural, fazendo recordar com emoção os dias de uma Serraria ainda em construção. Fica a sugestão.
“Deixe tudo, menos a hidroginástica!” Foi a recomendação do traumatologista, especializado em coluna, para o cronista Carlos Romero, após u...
Gratidão e felicidade
“Deixe tudo, menos a hidroginástica!” Foi a recomendação do traumatologista, especializado em coluna, para o cronista Carlos Romero, após uma cirurgia de estenose lombar aguda. Já com quase 90, ele fora acometido subitamente de uma dor que “descia para as pernas” impedindo-o de dar sequer um passo.
Ele mais uma vez dormira mal. Com tanta gente sendo presa, tinha medo de não sair ileso. Envolveu-se em algumas tramoias, é certo, mas como...
A vidente
Ele mais uma vez dormira mal. Com tanta gente sendo presa, tinha medo de não sair ileso. Envolveu-se em algumas tramoias, é certo, mas como poderia resistir? Agiu por influência de amigos e porque isso era “da cultura”, todo mundo estava fazendo. Do grupo participavam cerca de dez, todos com codinomes; o dele era “Menestrel”. Nunca entendeu por que resolveram chamá-lo assim, já que não gostava de música e tinha a voz péssima. Talvez tenha sido justamente por isso; a turma gostava de ironizar.
Mal comparando, o meu livro “O Leitor que escreve” (Editora Arribaçã, Cajazeiras, Paraíba, 2020) guarda alguma semelhança com o centão, re...
'O leitor que escreve'
Mal comparando, o meu livro “O Leitor que escreve” (Editora Arribaçã, Cajazeiras, Paraíba, 2020) guarda alguma semelhança com o centão, recurso poético do qual se vale o autor para, extraindo versos de vários poemas de sua própria lavra, conceber um novo (?) poema, como o fez Manuel Bandeira com “Antologia”, cujo título, etimologicamente, significa recolho das melhores flores, ou, no caso, dos melhores poemas.