Como aquilo me atraía. O reflexo dourado, a profusão de bolhas, o exagero de espuma. Perto dos 15 anos, atração igual eu apenas sentia pela...
A primeira vez
Como aquilo me atraía. O reflexo dourado, a profusão de bolhas, o exagero de espuma. Perto dos 15 anos, atração igual eu apenas sentia pela filha do melhor freguês do meu pai, moça já feita. Mal percebia que não era capaz de dar conta de uma coisa nem de outra.
É quando nos sentimos enlaçados, é quando nos sentimos à beira de um salto nos espaços abissais dos desejos, é quando os avisos de parar j...
Carta de cem mil amores
Reticências e respiros. O nunca preencher-se. O sempre esborrar-se. O desencanto que chega repleto de encantamentos. O sono dos que nunca dormem. O sonho dos que nunca acordam.
Talvez o amor seja simplesmente uma dobra de nós mesmos em relação ao outro. Talvez o amor seja apenas um alento para nossa imensa incompletude. Talvez o amor seja um desejo jamais satisfeito, algo imponderável e secreto, infinitamente secreto.
Mas nada disto importa. O que realmente nos faz sonhar, rir à toa e também lacrimejar é saber que o amor é a emoção que não nos permite o sentir-se só. O amor não é ajuste, é completude que não se completa. O amor não é um só, posto que isto é preencher-se da própria individualidade.
Amor não é justaposição. É tão somente um reflexo, um lampejo. Tal como a lua obscura e triste se enfeita de luares quando o sol nela irradia seus solares, a tornando prateadamente encantada.
E se o amor não é perene é porque nos diz da nossa finitude toda vez que se esvai. E se o amor não é eterno, amar nos eterniza. Desta forma, isto nos permite amar sempre, diferentes pessoas, de diferentes maneiras, em espaços e tempos distintos.
Assim, hoje, cultive seu amor. Não é preciso que se tenha namorado ou namorada pra isso. É só preciso que se tenha amor. E as artes de cuidar. Diga ao seu amor o quanto ele importa, o quanto ele é parte, o quanto ele lhe torna melhor.
Pense também nos seus ex-amores e recite baixinho um agradecimento por eles terem um dia escrito algo no seu livro da vida. Mas veja que as palavras não são sempre os melhores instrumentos. Um olhar, um toque.
Deixe vir seu amor. Não aquele romântico que tem final feliz e dias solitários. Deixe vir aquele amor que é só seu. Mas que é tanto que escorre pra outros. Sim, o amor é fluidez. Ribeirinho que escorre manso e verdeja as margens que toca. Amor é porta aberta, mourão sem porteira. De catracas livres se sustenta o amor. Entra pela sala do olhar, arrepia os pelos do desejo, vibra as células da pulsação da vida, se espraia qual vírus nos hálitos dos amantes, se mistura qual cascata em lábios de saliva doce.
Com átomos de amor somos feitos. Órbitas da atração que não se traduz. Mas há algo que traduz a maior das artes do amor: o tornar-se mais humano, demasiadamente humano, porque me reconheço em cada um daqueles que meu amor tocou.
Ontem foi aniversário dele. Há noventa e sete anos, Carlos Romero desembarcava para mais uma jornada, desta vez em Alagoa Nova. Ninguém pod...
Mais vivo do que nunca
Ontem foi aniversário dele. Há noventa e sete anos, Carlos Romero desembarcava para mais uma jornada, desta vez em Alagoa Nova. Ninguém podia imaginar que aquele bebê, que só se demorou no brejo por 4 anos, se mudaria para a capital e depois voltaria, já com 30, casado com a bela Carmen, para exercer o cargo de juiz da cidade pacata, de clima bom, e de gente simpática. Seus pais, José Augusto e Maria Pia, já haviam deixado naquela terra os bons fluidos da ilibada conduta. Era meio caminho andado para o retorno do rebento.
Umas simples estrelinhas de São João. Vocês sabem do que se trata. Elas são o mais inofensivo, o mais humilde e o mais sem graça dos fogos ...
As estrelinhas de Cony e as minhas
Umas simples estrelinhas de São João. Vocês sabem do que se trata. Elas são o mais inofensivo, o mais humilde e o mais sem graça dos fogos juninos. Normalmente são compradas para as crianças menores e mais bobinhas, as que não podem ainda se arriscar nas bombas e foguetões. Se os seus destinatários não fossem mesmo tolinhos, por conta da pouca idade, certamente sentir-se-iam discriminados por receberem, para celebrar a festa do mês de junho, os fogos mais simplórios, ao contrário dos outros, os mais velhos, com seus artefatos barulhentos e brilhantes. As estrelinhas não emitem qualquer som e a pouca luz que produzem, quando acesas, é menor que a de um vagalume.
Acalanto Por força do destino tornei-me tecelã, Mas não reclamo. Exerço meu ofício e amo. Como acalanto de cada manhã, Mistur...
Depois dessa noite
Por força do destino tornei-me tecelã,
Mas não reclamo.
Exerço meu ofício e amo.
Como acalanto de cada manhã,
Misturar traços, linhas e matizes,
Para alegrar-me na terra
Ave fugidia Ave tão fugidia Avezinha selvagem, Pousa na minha janela Para depois se evadir Deixando a solidão nela.
Duas asas
Ave tão fugidia
Avezinha selvagem,
Pousa na minha janela
Para depois se evadir
Deixando a solidão nela.
Como iniciou teu dia? O sol da tua existência acordou coberto pela colcha de nuvens bordada com pétalas das nuvens de tuas lágrimas?
Não percas a fé
Como iniciou teu dia?
O sol da tua existência acordou coberto pela colcha de nuvens bordada com pétalas das nuvens de tuas lágrimas?
Como era mesmo o título: “Recados da Província”? As letras meio góticas, desenhadas certamente por Elcir Dias, encimavam a crônica que mais...
Recados da Província
Como era mesmo o título: “Recados da Província”? As letras meio góticas, desenhadas certamente por Elcir Dias, encimavam a crônica que mais me fazia inveja na imprensa local.
10 de junho de 2020. No 97º ano de nascimento de seu patrono, o Ambiente de Leitura Carlos Romero, espaço virtual criado em 2008, presta-lh...
Homenagem de Aniversário
10 de junho de 2020. No 97º ano de nascimento de seu patrono, o Ambiente de Leitura Carlos Romero, espaço virtual criado em 2008, presta-lhe uma homenagem trazendo a lume alguns comentários de amigos e leitores referentes à trajetória do cronista. Recentemente, o ALCR passou a abrigar publicações de outros autores, especialmente selecionados no intuito de continuar a contribuir com o mundo das Letras, universo tão presente em sua memória.
homem feliz. Soube amar e ser amado. Além de nortear a existência por princípios que deram sentido e densidade a todos os seus dias. Podia descobrir, no menor fato do cotidiano, um grande acontecimento e assim alimentar constantemente sua alegria de viver. Sem dúvida, encontrou “a paz do coração” que, segundo Platão, “é o paraíso dos homens”. Desde que o conheci, admirei nele essa postura sábia diante da vida. Refletida sempre no rosto iluminado por um suave sorriso de acolhimento, a sintetizar o propósito maior da transcendência de ser, no minimalismo de cada gesto.
Existem pessoas que não nasceram para viver no anonimato. Nem procuram ganhar notoriedade, destacam-se naturalmente por suas qualidades sin...
Apito de Ouro
Existem pessoas que não nasceram para viver no anonimato. Nem procuram ganhar notoriedade, destacam-se naturalmente por suas qualidades singulares, por serem diferentes, por se destacarem no que fazem. A característica maior é o amor com que abraçam o exercício de seus atributos.
Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar. Nesses dias quando...
A pintura como acalanto
Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar.
Nesses dias quando a escuridão das mentes que nos governam e a pandemia que constrói noites escuras, a Arte se junta à nossa fé como antídoto para aliviar a dor que nos sucumbe, e fatalmente deixará rastro de espinhos nos corações.
Acho que, bem ou mal, o sujeito que eu sou, a percepção que tenho de tudo, a profissão que abracei decorrem do fato de que vi meu mundo pel...
Eu, espectador
Acho que, bem ou mal, o sujeito que eu sou, a percepção que tenho de tudo, a profissão que abracei decorrem do fato de que vi meu mundo pela janela do trem.
Haveria um padrão de formosura nato, consciente ou inconscientemente consolidado no gosto da maioria das pessoas? Parece que sim, embora es...
Que não se afaste do amor
Haveria um padrão de formosura nato, consciente ou inconscientemente consolidado no gosto da maioria das pessoas? Parece que sim, embora essa tendência tenha sofrido variações ao longo da história.
Claro que não foi apenas a terra fértil, mas dois milênios de História que deram a Londres a sua grandeza. Não vimos – eu e Ione – nenhum m...
O esplendor britânico
Claro que não foi apenas a terra fértil, mas dois milênios de História que deram a Londres a sua grandeza. Não vimos – eu e Ione – nenhum monumento ao apóstolo das epístolas no adro da Saint Paul’s Cathedral. Em lugar dele, deparamo-nos com uma estátua da Rainha Anne, a primeira soberana do chamado Reino da Grã-Bretanha, quando Irlanda e Escócia foram anexadas à Inglaterra.
E na hora sufocante a garganta seca, os dedos tornam-se insensíveis, o olhar embaça. No meio da noite, do deserto, a agonia indecifrável a...
Garganta seca
E na hora sufocante a garganta seca, os dedos tornam-se insensíveis, o olhar embaça. No meio da noite, do deserto, a agonia indecifrável a remoer versos das entranhas, a vomitar palavras do estômago, desnudar-se das vestes e encarar o espelho de si, autorretrato, ser o seu próprio "Dorian Grey".
Nunca se pensava no ex-concertista sentado, sempre a acender o cachimbo, olhando a imensidão de seu universo musical. Era um ex-violoncelis...
Violoncelista vencido
Nunca se pensava no ex-concertista sentado, sempre a acender o cachimbo, olhando a imensidão de seu universo musical. Era um ex-violoncelista da Orquestra Sinfônica.
Gosto da palavra “namorar”. É um dos verbos mais puros da língua portuguesa. Mesmo quando por eufemismo designa outra coisa (a ligação entr...
Namorar
Gosto da palavra “namorar”. É um dos verbos mais puros da língua portuguesa. Mesmo quando por eufemismo designa outra coisa (a ligação entre amantes, por exemplo), “namorar” sugere mais ternura do que desejo. É uma palavra tão embebida em frescor adolescente, que deveria ser proibida aos que se relacionam num nível mais avançado.
1 ou 2 Gregórios agregavam Todas as ilhas gregas 1 atarefado Zé Crispim Em 2 versões, rica e pobre Às vezes trocava de mão Mas luz...
O nome dos homens
Todas as ilhas gregas
1 atarefado Zé Crispim
Em 2 versões, rica e pobre
Às vezes trocava de mão
Mas luziavia aquele único
Luzinércio
A GATA Enroscou-se no meu pé e tomei aquele susto Eu concentrado ao café De novo, roçou-me o busto Pena! Nem era a Teresa Era...
A gata e o apocalipse
A GATA
Enroscou-se no meu pé
e tomei aquele susto
Eu concentrado ao café
De novo, roçou-me o busto
Pena! Nem era a Teresa
Era a minha siamesa
Pra eu levá-la ao arbusto...
“De certa forma, o trabalho de um crítico é fácil. Arriscamo-nos pouco; sim, gozamos com superioridade a posição sobre aqueles que nos subm...
Flautas e flores
“De certa forma, o trabalho de um crítico é fácil. Arriscamo-nos pouco; sim, gozamos com superioridade a posição sobre aqueles que nos submetem seu trabalho e reputação”. Assim inicia Monsieur Anton Ego, pitoresco personagem crítico-gastronômico, seu esperado editorial sobre o restaurante Gusteau’s no filme de animação – bem mais interessante do que se imagina... – Ratatouille, lançado pela Pixar Animation Studios, em 2007. Estas palavras não me saem da lembrança, não só porque esse filme é carregado de arquétipos e lições subjacentes aos símbolos do ‘gosto’ (ou do “augusto gosto”, que dá nome ao chefe do restaurante), e do ‘ego’, representado pelo crítico, narrado na inconfundível voz do consagrado e saudoso Peter O'Toole (1932 — 2013); mas também, porque este final me afeta profunda e diretamente.
Para que servem as pontes? Consultando o significado de ponte no dicionário Houaiss, encontramos no seu sentido figurado, “qualquer eleme...
Criar pontes e não muros
Para que servem as pontes?
Consultando o significado de ponte no dicionário Houaiss, encontramos no seu sentido figurado, “qualquer elemento que estabelece ligação entre pessoas ou coisas”. Trazemos o enfoque da nossa análise a questão do preconceito religioso na atualidade, sob o olhar espírita.
Ainda ontem era janeiro, um pouco antes eu completava vinte anos, há alguns dias, estávamos nós dois andando por ruas conhecidas, de mãos d...
Sobre o tempo que mente
Ainda ontem era janeiro, um pouco antes eu completava vinte anos, há alguns dias, estávamos nós dois andando por ruas conhecidas, de mãos dadas.
Hoje, vejo que o tempo mentiu, que não é janeiro, que meus vinte anos se transformaram em muitos números mais e que você passeia nas calçadas do céu.
Afinal, quem, dentre os meus, pegou e não devolveu o dvd com “American Graffiti”, o filme há muito exibido no circuito nacional de cinemas ...
Quero meu filme
Afinal, quem, dentre os meus, pegou e não devolveu o dvd com “American Graffiti”, o filme há muito exibido no circuito nacional de cinemas como “Loucuras de Verão”?
A propósito, por que as casas exibidoras teimam em buscar bilheterias com títulos idiotas? Duvidam da inteligência do distinto público? “Grafite Americano” falaria menos ao interesse e sentimento dos compradores de ingresso?
Nos anos 1980 a cidade de Varginha, em Minas Gerais, tornou-se celebridade nacional ao anunciar o encontro de um ser extraterrestre no muni...
O ET de Guarabira
Nos anos 1980 a cidade de Varginha, em Minas Gerais, tornou-se celebridade nacional ao anunciar o encontro de um ser extraterrestre no município. Nunca ficou comprovada tal existência.
A partir daí, tudo que é cidade interiorana do Brasil buscou alcançar a mesma notoriedade, e outras civilizações passaram a ser o sonho de consumo de seus habitantes. Guarabira foi uma delas.