O anacoluto é a interrupção brusca de uma frase inicial a que se segue outra à qual aqu...
O anacoluto
Em conversa com alguns amigos, perguntei-lhes qual o contrário de diabo. A resposta veio pronta: Deus . Não é isto mesmo, caríssimo L...
Símbolos
Por uns instantes apenas, queridos leitores, imaginem-se Juízes numa comarca localizada em cidadezinha do interior do Estado. Eis que...
A angústia do Juiz
Um menino com aparentes cinco anos a reclamar do acalanto materno, em vídeo no YouTube, trouxe-me à memória a Cuca e o Boi da Cara P...
Desacalanto
Longos monstros de braços gigantes espiam sobre a serra. Alertas, atravessam enormes pás ciclopes para além do horizonte na...
Rumo ao Sertão
No final do século XVIII o pastor, teólogo e filósofo alemão, Johann Kaspar Lavater sur...
Dom Geraldo Lyrio, os olhos, as mãos, a amizade
A busca incessante pelo progresso econômico e pela acumulação de riquezas tem gerado profundas consequências na sociedade e no meio am...
Precisamos de uma nova ética
Essa garotada aí é parte da turma de 1969, que se encontrou neste último sábado – 19/12/2024 - para comemorar os 55 anos de formatura ...
E eu nem pude ir...
Intermináveis desejos Triste de quem guarda Sonhos para si mesmo De quem esconde a alma Para dizer que não chora De q...
Intermináveis desejos
Triste de quem guarda Sonhos para si mesmo De quem esconde a alma Para dizer que não chora De quem demora Para confessar amor E quando confessa Logo transforma em mágoa.
Nas manhãs de sábado, quase sempre acontece, ao redor de mesas na Livraria do Luiz, na Galeria Poeta Augusto d...
Em busca da poesia escondida
Natália pensou em chamar Paulo para celebrar seu casamento. Não sabia por que de rep...
A carta
Horas depois, entrava no recinto contíguo ao altar. Sentou-se e, enquanto esperava o ex-namorado (achou esquisito pensar nessa palavra), correu os olhos pelo ambiente. Os móveis escuros, pesados, sugeriam renúncia e gravidade. Do conjunto emanava uma paz que devia ser o que ele procurava quando a deixou. Chegava a compreender que a tivesse trocado por uma vida solitária e sem maiores inquietações.
Paulo entrou. Quando a reconheceu, ficou levemente pálido e deu um sorriso.
– Você?!
Ela também sorriu, buscando afetar naturalidade. O rapaz mudara pouco; perdeu alguns cabelos e ganhou um ar meio espiritualizado, comum nos que desistem dos prazeres deste mundo. Sentaram-se um de frente para o outro, e Natália explicou o motivo de estar ali. Falou do casamento próximo, com Saulo.
– Saulo?!
– Sim. Sei que você não gostava dele, mas faz tanto tempo, não é? Além do mais, você (hesitou um pouco, e corrigiu)... o senhor foi quem desapareceu.
– Mas como eu não podia desaparecer depois daquela carta?
– Que carta?
– A carta que você me escreveu terminando tudo – esclareceu com um sorriso amargo, revivendo por instantes a emoção de anos atrás.
Natália sentiu uma pequena tontura e mal ouvia as palavras de Paulo. Ele disse que a carta tinha sido um marco; após ler aquelas palavras, caiu numa melancolia que só encontrou alívio em Deus. “Fechou-se” por um tempo, sem falar com ninguém, depois entrou no seminário.
– Sua carta doeu tanto, que não consegui mais ser o mesmo. Ainda assim guardei ela comigo, junto da Bíblia. Afinal de contas, uma entrou na minha vida por causa da outra.
Depois de dizer isso foi a um recinto lateral, de onde voltou com um envelope amarelado. Entregou-o a Natália, que àquela altura compreendera o que tinha acontecido.
– A carta... não era para você.
– Como não era? Olhe aqui: “Para Paulo”, no envelope. E depois o vocativo: “Caro Paulo”.
– Isso não é um “P”. É um “S”. A carta era para Saulo. Quando eu pedi a uma colega da escola que entregasse a ele, não pronunciei o nome do destinatário. Ela também deve ter confundido as letras. Meus professores de redação sempre disseram que eu devia corrigir isso, mas nunca dei importância.
Paulo se levantou, atordoado.
– Se a carta era para Saulo, por que o casamento agora?
– Depois que você me deixou sem dar notícias, comecei a me sentir muito só. Saulo agia como se nada tivesse acontecido (e não aconteceu mesmo!). Imaginei que ele se comportava assim por ser persistente e não aceitar me perder, então não toquei no assunto da carta. Comparada com a sua atitude, a dele me parecia muito superior. Terminei aceitando-o como uma forma de lhe esquecer.
Ficaram em silêncio por um bom tempo. Quem primeiro falou foi Natália:
– E então? Faz o casamento?
– Faço, é claro. E sei que vou me emocionar mais do que das outras vezes. Afinal, o noivo era para ser eu.
– Mas não vai dizer isso no sermão...
– Não vou. Apenas eu e você vamos ficar sabendo. No sermão, o máximo que eu vou fazer é retificar o ditado. Em vez de “Deus escreve certo por linhas tortas”, “Deus às vezes escreve certo por letras trocadas”.
É comum se querer apontar a moral de uma história. Se o texto acima tem alguma, pode se resumir nesta prosaica lição, que costumo passar aos alunos: “Ao redigir, escreva com legra legível. A falta de clareza pode mudar um destino.”
Algumas pessoas tem a capacidade de ler os outros sem que esses percebam que seus atos entregaram suas personalidades através do olhar...
Olhar aguçado
Charles-Louis de Secondat (1689–1755), mais conhecido por Montesquieu, foi um filósofo, escritor e teórico político iluminista. Ele con...
Liberalismo político
Só mesmo uma oriental para comemorar a conquista do Nobel de literatura tomando chá, em silêncio. Pois foi isto que fez a escritora...
Tomando chá, em silêncio
“Como foi bom te ver...” Operava-se nesta exclamação um milagre de supermercado, abelheiro em que nem sempre as vistas se dispõem a s...
No supermercado
Operava-se nesta exclamação um milagre de supermercado, abelheiro em que nem sempre as vistas se dispõem a sair da lista de compras ou do chamariz das gôndolas.
Apesar da prolação generalizada pego (com /e/ (= ), de preferência, e não com /ε/ (= ), há razões para crer que o verbo pegar só a...