“Entre o sonho e a realidade, danço no desassossego.” (Fernando Pessoa)
A concepção do livro Diário dos desassossegos foi uma feliz ideia do escritor patense José Roberto Amorim. A narrativa difere do que se lê, normalmente, no universo literário. Trata-se de um misto de biografias e ficção. José Roberto apresenta dados e fatos reais da vida de celebridades, porém de maneira ficcional, com detalhismo nas descrições das cenas, levando o leitor a participar delas com vivo interesse. Ele consegue a proeza
Está decidido. O Natal vai ser no mato. Acontecerá entre galinhas, perus, guinés e bichos de quatro patas. Estaremos, eu e os meus, bem próximos de uma manjedoura, o que fará muito sentido.
Palavra francamente em desuso: caritó. Tem os seguintes significados: casinhola tosca, atribuída a quem fica sem casar ou prateleira rústica colocada em paredes. Isto em tempos atrás, quando a honra da donzela precisava receber a anuência civil e religiosa (até da delegacia). Seguia os traços da moralidade predominante ou era considerada pústula na sociedade; quando, no extremo, o pai, em nome da honra da família, a desterrava a algum cabaré, ignorando-a fatalmente.
Em um tempo não muito distante, as ruas se enfeitavam com bandeirinhas coloridas, e o aroma de comidas caseiras dançava no ar durante as festas de quermesse.
Estive recentemente na casa de meu neto de sete anos em São José do Rio Preto. Descobri que além, de colecionar miniaturas de carros de corrida, está atualmente juntando todo tipo de pedrinhas, principalmente as brilhosas.
Tenho mais medo de só ser que ser só. Como não me perder de vista diante de tanta pluralidade? Como me conjugar frente a tantos verbos? Ações múltiplas para um contexto amplo. E, mesmo tendo essa vastidão, corremos o risco de nos aprisionarmos. Perdidos em si, porque não soubemos escolher bem o outro. Ou por ter feito a escolha de só ser para o outro. Não é necessário muito tempo.
É fato: reduziu-se, consideravelmente, o vocabulário do povo brasileiro. Hoje ocorre uma espécie de desconstrução máxima da linguagem, que se vê literalmente dilapidada, através de diversos tipos de cortes, recortes, elipses, alterações, adaptações
e mutações alienígenas.
A sós
Eu e o tempo
Aqui no meu quarto
Conversamos um pouco
Pergunto se ele sabe
O quanto ele passou por mim
E ele me diz que não foi ele
E que fui eu quem passou
Deixo-o quieto então
E revejo a minha bagagem
Muitas coisas imprestáveis
Muito pó acumulado
E um rasgão no fundo da mala
Por onde caíram e ficaram pela estrada
Tantas preciosidades
(Ainda bem que guardo cópias perfeitas
Na memória e no meu coração)
De novo olho pra ele em silêncio
Sei que não é sua culpa passar
Mas também não precisava
Deixar Tanta saudade...
Por fim me convenço
Que passamos juntos
Com a mesma velocidade
E agora carrego só
As tralhas de um velho jovem!
No que o acaso
Esquece
Florece ou morre
Gira mundo
Brota flor
Vibra Acorde
Morre homem
Choram olhos
Vida segue
O verde das campinas
O milharal pendoado
O ventre cheio e nutrido
As cores de florir
Vale a falta de sorrir na dor
Porque logo o arco-íris se abre
O amor...
Acaso
A cor
Os ocasos
A dor
A luz
Relâmpago
Apego ao instante
A infância
Acorde perfeito
A dor
Lua no céu
Mar a arrebentar
Bola de gude no bule
O som do mar
Gaveta de conchas sagradas
Meu pé raiz
A minha cor
O meu respeito
O meu amor
E o Mar
Bola de gude feliz
No bule
E o mar cheio de Yemanjá
Tendo ficado para trás o tempo em que a mulher escrevia usando pseudônimo para poder publicar seus textos, quando se atrevia a fazê-lo, percebemos a fartura de obras e expressões acerca de tantos temas que surgiram, aqui e em outras partes de nosso país.
No livro Notas de Teoria Literária, Afrânio Coutinho elenca vários tipos de cônicas, e cita a “crônica-poema em prosa”, de conteúdo lírico, que é um mero extravasamento da alma do artista diante o espetáculo da vida, das paisagens ou dos episódios. Na literatura brasileira, Cecília Meireles escreveu muitas crônicas que se enquadram nessa modalidade. O título de alguns de seus livros nos levam a esse gênero, como: Crônicas de viagem, Crônicas de educação. Acrescento a esses títulos
Hoje se completam 110 anos da morte de Augusto dos Anjos (Ver, neste portal, o texto “Última revelação”, em que registramos os derradeiros momentos do poeta). A propósito da data, vale a pena relembrar aqui alguns aspectos da sua inovadora poesia.
O “Eu”, de fato, representou um divisor de águas em nossas letras. Com ele, a literatura brasileira despedia-se do século 19 e entrava na modernidade. O livro apareceu num contexto em que, segundo o crítico Ferreira Gullar,
Fé, dúvida, razão e religião. Nesta tetralogia, os quatro termos são simultaneamente complementares e antagônicos. A fé traz em si a incerteza que provém da dúvida, e desse modo fazemos da crença em Deus um desafio, utilizando também o cálculo racional para justificar o que permanece marcado pelo que ele ultrapassa.
O narcisismo doentio, muitas vezes associado ao Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), caracteriza-se por um padrão de grandiosidade, pela necessidade de admiração excessiva e a falta de empatia, que impacta negativamente as relações interpessoais e o bem-estar emocional do próprio indivíduo. O narcisista patológico possui uma autoestima vulnerável, que necessita constantemente de validação externa para se sentir acolhido e valorizado. Essa doença se manifesta em comportamentos e crenças que expõem uma visão distorcida de
si e dos outros. A pessoa com TPN que apresenta a voracidade pela grandiosidade exprime um sintoma compulsivo de sentir-se especial e única, de forma a se colocar acima dos outros e esperar uma evidência diferenciada. A necessidade de admiração constante depende da validação externa, a qual busca ser o centro das atenções a fim de receber elogios e reconhecimento. Um dos seus sintomas é acreditar na certeza de merecer tratamento especial, e - em muitos casos – manifestar uma agressividade quando suas expectativas não são atendidas. A exploração interpessoal utiliza as pessoas na sua convivência social como meio para alcançar seus interesses egoístas e suas metas profissionais sem respeitar os próprios sentimentos. A falta de empatia gera dificuldade em se relacionar com as emoções alheias, a qual impossibilita a construção de relacionamentos saudáveis. O narcisista doentio acredita que os outros o invejam ou sente-se ameaçado pelo sucesso de outras pessoas.
Li esta frase não sei onde e gostei. Ela me fez refletir sobre os estereótipos, os quais têm tanta força, como sabemos, e nem sempre retratam a verdade dos fatos, também sabemos. Mas quando eles “pegam”, acabou, não tem como se fugir deles; o trabalho para desmenti-los é grande – e não raro inútil. Vejamos alguns.