A sós
Eu e o tempo
Aqui no meu quarto
Conversamos um pouco
Pergunto se ele sabe
O quanto ele passou por mim
E ele me diz que não foi ele
E que fui eu quem passou
Deixo-o quieto então
E revejo a minha bagagem
Muitas coisas imprestáveis
Muito pó acumulado
E um rasgão no fundo da mala
Por onde caíram e ficaram pela estrada
Tantas preciosidades
(Ainda bem que guardo cópias perfeitas
Na memória e no meu coração)
De novo olho pra ele em silêncio
Sei que não é sua culpa passar
Mas também não precisava
Deixar Tanta saudade...
Por fim me convenço
Que passamos juntos
Com a mesma velocidade
E agora carrego só
As tralhas de um velho jovem!
No que o acaso
Esquece
Florece ou morre
Gira mundo
Brota flor
Vibra Acorde
Morre homem
Choram olhos
Vida segue
O verde das campinas
O milharal pendoado
O ventre cheio e nutrido
As cores de florir
Vale a falta de sorrir na dor
Porque logo o arco-íris se abre
O amor...
Acaso
A cor
Os ocasos
A dor
A luz
Relâmpago
Apego ao instante
A infância
Acorde perfeito
A dor
Lua no céu
Mar a arrebentar
Bola de gude no bule
O som do mar
Gaveta de conchas sagradas
Meu pé raiz
A minha cor
O meu respeito
O meu amor
E o Mar
Bola de gude feliz
No bule
E o mar cheio de Yemanjá
Tendo ficado para trás o tempo em que a mulher escrevia usando pseudônimo para poder publicar seus textos, quando se atrevia a fazê-lo, percebemos a fartura de obras e expressões acerca de tantos temas que surgiram, aqui e em outras partes de nosso país.
No livro Notas de Teoria Literária, Afrânio Coutinho elenca vários tipos de cônicas, e cita a “crônica-poema em prosa”, de conteúdo lírico, que é um mero extravasamento da alma do artista diante o espetáculo da vida, das paisagens ou dos episódios. Na literatura brasileira, Cecília Meireles escreveu muitas crônicas que se enquadram nessa modalidade. O título de alguns de seus livros nos levam a esse gênero, como: Crônicas de viagem, Crônicas de educação. Acrescento a esses títulos
Hoje se completam 110 anos da morte de Augusto dos Anjos (Ver, neste portal, o texto “Última revelação”, em que registramos os derradeiros momentos do poeta). A propósito da data, vale a pena relembrar aqui alguns aspectos da sua inovadora poesia.
O “Eu”, de fato, representou um divisor de águas em nossas letras. Com ele, a literatura brasileira despedia-se do século 19 e entrava na modernidade. O livro apareceu num contexto em que, segundo o crítico Ferreira Gullar,
Fé, dúvida, razão e religião. Nesta tetralogia, os quatro termos são simultaneamente complementares e antagônicos. A fé traz em si a incerteza que provém da dúvida, e desse modo fazemos da crença em Deus um desafio, utilizando também o cálculo racional para justificar o que permanece marcado pelo que ele ultrapassa.
O narcisismo doentio, muitas vezes associado ao Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), caracteriza-se por um padrão de grandiosidade, pela necessidade de admiração excessiva e a falta de empatia, que impacta negativamente as relações interpessoais e o bem-estar emocional do próprio indivíduo. O narcisista patológico possui uma autoestima vulnerável, que necessita constantemente de validação externa para se sentir acolhido e valorizado. Essa doença se manifesta em comportamentos e crenças que expõem uma visão distorcida de
si e dos outros. A pessoa com TPN que apresenta a voracidade pela grandiosidade exprime um sintoma compulsivo de sentir-se especial e única, de forma a se colocar acima dos outros e esperar uma evidência diferenciada. A necessidade de admiração constante depende da validação externa, a qual busca ser o centro das atenções a fim de receber elogios e reconhecimento. Um dos seus sintomas é acreditar na certeza de merecer tratamento especial, e - em muitos casos – manifestar uma agressividade quando suas expectativas não são atendidas. A exploração interpessoal utiliza as pessoas na sua convivência social como meio para alcançar seus interesses egoístas e suas metas profissionais sem respeitar os próprios sentimentos. A falta de empatia gera dificuldade em se relacionar com as emoções alheias, a qual impossibilita a construção de relacionamentos saudáveis. O narcisista doentio acredita que os outros o invejam ou sente-se ameaçado pelo sucesso de outras pessoas.
Li esta frase não sei onde e gostei. Ela me fez refletir sobre os estereótipos, os quais têm tanta força, como sabemos, e nem sempre retratam a verdade dos fatos, também sabemos. Mas quando eles “pegam”, acabou, não tem como se fugir deles; o trabalho para desmenti-los é grande – e não raro inútil. Vejamos alguns.
Certa vez plantei uma castanha em uma lata velha de tinta que restou da pintura da minha casa e fiquei emocionado ao ver, após seis meses, um caju vermelho brotar de um ambiente tão hostil. De cara, eu o apelidei de “Meu Pé de Caju Vermelho” em alusão ao enigmático livro nacional “Meu Pé de Laranja Lima”,
Por mais próximo que Bayeux estivesse ou sempre esteja, meu olhar nunca se deteve em algo que se distinguisse como seu cartão postal. Em décadas e décadas de chegadas e saídas, de idas e vindas, a antiga Barreiras pouco passou de entrada ou saída para outros destinos. O ônibus entrando em Bayeux, cortando a avenida central que já foi incriminada como Corredor da Morte, e a intenção lá na frente, na ponte do Baralho ou subida de Álvaro Jorge e Matarazzo, que continuo avistando ainda que em ruínas ou cobertas de melão até que a Prefeitura ou o Estado possa transformar toda essa área abandonada num amplo recreio cultural com escola especial, centro de arte e praça de esporte aberto a todo aquele mundo pobre lá de baixo certamente rico de crianças.
A primeira vez que ouvi falar sobre o Apocalipse, o mundo para mim era pequeno demais, resumia-se apenas ao quintal da casa dos meus pais. Pessoas morrendo, o planeta aquecendo, prédios desabando, tornados, ciclones, doenças, fome, nada disso cabia no meu universo infantil.
“Ainda que faças uma centena de nós, a corda continuará sendo uma só.”Parábola sufi
Os povos árabes acreditam no qaddar, uma palavra geralmente traduzida como "predestinação". Segundo este renque de pensamento, todo o ser humano terá já determinado pelo divino, à nascença, as suas características, bem assim tudo o que lhe acontece na vida. Esta crença, porém, não implica a rejeição do livre arbítrio.
Havia naquele fim de tarde um vento estranho. Forte, penetrava com intervalos inexplicáveis nas janelas, sacudia o interior das casinhas, balançava roupas e fantasmas das pessoas. Não trazia chuva, só uma fina poeira que se impregnava em tudo que tocava. Do rosto entristecido de um quadro na parede à superfície da mesa no canto da sala, do enfeite dependurado num armador de rede às garrafas de vinho enfileiradas como ornamentos ébrios num aparador...
Algumas gramáticas ensinam que {–zinho} é alomorfe, isto é, uma forma diferente do sufixo {–inho}, formador de diminutivos. Veremos mais à frente um conceito melhor de alomorfe. Outras gramáticas ensinam que {-zinho} é apenas o sufixo {-inho} com uma consoante de ligação. Chama-se “consoante de ligação” a consoante que se apõe entre a palavra primitiva e o sufixo, para facilitar a
O luto, no olhar humano, é o vazio que se instala após uma perda. Uma ausência que ecoa e se faz presente em cada instante de saudade. Mas, se o luto é tão humano, como explicar que o cão também sofra quando seu dono se vai?