Ele ama uma esperança sem corpo, pensa que é um corpo o que é apenas sombra.”Ovidio. Metamorfoses. Livro III.
A vaidade é antiga como o mundo. Rompe a barreira do tempo e nos traz o velho mito grego de Narciso contemplando-se no espelho do mundo moderno e das redes sociais, onde sentimentos muito primitivos afloram e velhas histórias encontram lugar para explicar certos comportamentos extremados.
Está chegando o Dia dos Pais, e deverei receber presentes de vocês. Não posso fazer exigências, pois reconheço que não sou um pai exemplar (mas quem o é?). Às vezes fico muito tempo ausente e não posso lhes dar a atenção devida; noutras ocasiões me torno excessivo, ralhando e até batendo (uns tapinhas moderados, é verdade, que procuram mais corrigir do que castigar. Nunca ninguém aqui precisou apelar para a Lei da Palmada). Enfim, esse é o meu papel. Espero que me compreendam e perdoem.
No fue un sueño,
lo vi:
la nieve ardía.Ángel González
Compondo o sítio arqueológico
A vastidão
é uma pedra
redonda e fria.
Grande esfera
onde deslizam
e desabam as criaturas.
O horizonte ‒ gelo
intransponível.
Daí esse tatear – essa procura.
A obscura arqueologia de esconder-se.
Quem gosta de viver com a sombra dos outros é o cacau, cultivado em regiões com temperaturas superiores a 21 °C. O clima frio prejudica a qualidade das sementes. Por isso o plantio é recomendado em regiões mais úmidas e quentes. O cacaueiro necessita de arborização para ficar protegido dos raios solares. Seu brilho e sua vida dependem muito da sombra que o protege.
Edgar Morin é um filósofo, sociólogo, antropólogo francês, nascido em Paris em 1921. Ele é conhecido por desenvolver a epistemologia da complexidade, que teve seu início na década de 1960. Esse tipo de pensamento desafia o paradigma tradicional da razão e da ciência como as únicas formas de interpretar a realidade, buscando interconectar conhecimentos dispersos e
promover uma integração entre a cultura científica e a humanística. Na perspectiva da complexidade, “tudo está interligado”. Essa abordagem emerge como uma maneira de evidenciar a multidimensionalidade do mundo real, incentivando todos a estabelecer uma epistemologia que promova o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, visando uma compreensão mais abrangente do mundo. Compreender o contexto global de maneira unidimensional já não é viável, considerando que as relações humanas são múltiplas e incompreensíveis. Tanto uma visão analítica quanto uma visão holística têm se mostrado cada vez mais insuficientes para entender a condição humana.
O envelhecimento de tudo que é vivo marca a gradativa vitória de Tânatos sobre os viventes. É inevitável, sabemos nós, eternos aprendizes da finitude. Aceitar isso com alguma naturalidade é sabedoria, pois de que adianta qualquer revolta e irresignação? Entretanto, dentro do possível, e mesmo sem se mostrar, Eros luta contra Tânatos até onde pode. É inevitável também, pois é da natureza de tudo que vive querer permanecer vivo, pelo menos até onde der. Eros e Tânatos, pulsão de vida e pulsão de morte, como dizem os psicanalistas, as duas forças vitais que nos regem e se combatem mutuamente.
Reclamar pode se tornar um hábito nocivo que vai erodindo o chão abaixo de nós. Quem sempre realça o lado mais difícil da vida, acaba por cavar um abismo sob os próprios pés, cultivando a desesperança que obstrui a visão de soluções e saídas que, de outro modo, estariam claras.
As ruas da Cidade Velha de Jerusalém, palco de passagens bíblicas, revelam histórias verdadeiramente incríveis, desde logo, naturalmente, nos locais sagrados para as três religiões monoteístas, passando pelos enigmas mais profundos que se inalam, ao percorrer dos séculos, em cada degrau calcorreado ou dédalo estreito de rua por onde se caminhe.
Nesta véspera de aniversário da cidade, palmas primeiro para o fotógrafo Leonardo Ariel ao flagrar dois jovens restauradores em passarada com os pelicanos do Cruzeiro num banho de restauração e simbolismo que pela primeira vez me surpreende nestes 73 anos de vida pessoense. A foto, um flagrante antológico tanto pela surpresa da arte quanto pelo significado, saiu publicada na 1ª página da nossa A União da última sexta-feira (2).
Logo no início do seu poema dramático Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto retrata um costume antigo de distinguir nomes iguais pela filiação e também pelo local de nascimento:
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia,
como há muitos Severinos
Coisas estranhas. Quando, no Museo Reina Sofia, Madri, 1994, parei ante o Guernica (3,49 m X 7,77 m), fiquei impactado... comigo, pois nem separado da obra do século apenas pelo vidro à prova de balas, me empolguei. Isso, durante bom tempo, me azucrinou. “Por que? Por que? Por que?”
O local: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, bem próxi mo a um famoso e tradicional hotel. Passava um pouco de 11h30. O andar apressado e indiferente reproduzia, por medo, por culpa, por indiferença, qualquer outro dia em que se manipulam valores e se esquecem de nossos verdadeiros pássaros.
Viralizou na internet uma trend — algo que é repetido por várias pessoas nas redes sociais. O trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, se espalhou rapidamente: "ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver", frase que ressalta a visão irônica do personagem-defunto do livro.
Essa trend aconteceu devido ao compartilhamento de um vídeo de uma influenciadora norte-americana que teceu elogios ao romance e afirmou que é a melhor obra de todos os tempos: "Por que vocês não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito?" Disse encantada.
Depois desse hit nas redes sociais, o livro liderou a vendas nas livrarias físicas e virtuais do Brasil. Confesso que não fiquei nada surpreso com a admiração de um gringo com a qualidade de uma obra brasileira, porque de fato temos artistas fabulosos. O que me surpreendeu foi uma "bolha da internet" ficar admirada com a grandeza dos artistas brasileiros.
Será mesmo que precisamos de uma "certificação" norte-americana para que possamos valorizar nossa cultura, nossa arte, nossos talentos? Será que ainda nos comportamos como colonizados que anseiam o aval dos colonizadores? Quantos YouTubers brasileiros já devem ter feito vídeos em redes sociais encantados com o romance machadiano, mas não viraram hit, por não terem o peso do aval de um gringo? Ou será tudo uma jogada mercadológica, uma estratégia de vendas, um publipost para aumentar a vendas de livros?
Deixando de lado os questionamentos e a trend — já que tende a ser passageira e possivelmente nas próximas semanas os caçadores de likes e views já terão esquecido até dos vermes do cadáver — passemos para um ponto altamente relevante desta reflexão: a atemporalidade de uma obra.
Para vocês terem noção, o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado pela primeira vez em 1881, é um dos livros mais traduzidos no mundo e há séculos é considerado um clássico da literatura brasileira, sendo estudado em escolas e universidades, e, ainda assim, segue sendo redescoberto por novas gerações. Esse é o lado positivo dessa trend: o acesso à literatura, uma vitrine democrática, apresentar os clássicos aos jovens leitores.
Recordei-me até do trecho de uma entrevista de Ariano Suassuna, em que ele faz a diferenciação entre êxito e sucesso. Faço questão de transcrevê-lo:
Ariano Suassuna
"Então, eu acho que a pessoa não deve procurar o gosto da moda. Eu faço muito a distinção entre êxito e sucesso. Pegue qualquer banda de rock atual que ela faz mais sucesso que Euclides da Cunha, mas Os Sertões é um livro que é um êxito muito maior, porque no século seguinte, no século XXII, ninguém vai mais se lembrar da banda de rock, mas se lembrarão de Os sertões”.
O Brasil tem o livro como esteio para seu povo e para sua identidade como nação. Memórias Póstumas de Brás Cubas não é só uma trend, uma visualização, não é só sucesso de vendas, é um êxito, é nosso esteio, a identidade do povo brasileiro e será sempre redescoberta por gerações e gerações, mundialmente. Como bem diz nosso dito popular brasileiro: para gringo ver.
Partamos de duas afirmações: a sátira só tem sentido se incomodar; todas as interpretações são bem-vindas, desde que se atenham ao objeto interpretado.
A sátira é um recurso estilístico, que amplia o seu fundamento, a ironia, saindo do cotidiano para a Arte. A ironia, dependendo do grau com que é criada, não fere, necessariamente. A sátira é ferina, é mordaz e só atingirá o seu objetivo se o satirizado se incomodar, se não houve incômodo ou desconforto, o esforço satírico resultou inútil. Sou partidário de ambos os recursos, a ironia e a sátira. Admiro os grandes escritores, de Marcial a Gregório de Matos, por exemplo, que a utilizaram
Lembrem; na última semana comecei a contar a história de Josias, que de policial em São Paulo passou a ladrão de automóveis, foi preso, fugiu da cadeia, falsificou um diploma de bacharel em Direito, foi aprovado num concurso para Juiz no Acre, encheu o saco, deixou a toga, fez concurso para Delegado de polícia em Santa Catarina e na cidade de Tubarão onde foi lotado esquentava carros roubados em São Paulo. Ufa; que resumo, hem?
Por alguma razão, lembra de um texto que escreveu, uns tempos atrás, sobre suicídio de escritores. Dentre eles, Ernest Hemingway. Tiro de espingarda na cabeça. Tinha saído de uma clínica de reabilitação. Mas, havia uma maldição em sua família. Anos antes, seu pai, Clarence, se suicidou, com um tiro de revólver. Seus irmãos Úrsula e Leicester também tiraram a própria vida. A maldição continuou. Décadas depois, sua neta, a atriz Margaux, morreu com uma overdose de soníferos. Parecia um carma de família. E, ao final, os sinos dobraram por quase toda a família.