Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em primeira mão as rotineiras notícias do dia. Aqui e acolá há um movimento humano de domingo despreguiça o cenário. O Sol já se faz presente há algumas horas, chega para descortinar a madrugada friorenta do fim de junho e revela as formas dos bancos, calçadas e árvores da praça.
Afrodite possui muitas faces. Há um grande desconhecimento e menosprezo sobre Afrodite e seu poder de guerra, destruição do que não serve e de realizações, de superação de vida e de morte.
Esses dias eu estava rolando o feed do Instagram quando o algoritmo me sugeriu um post de Tsuyoshi Yamaguchi, também conhecido como Guti (@ola_guti), um influenciador japonês que é apaixonado pela cultura brasileira. No post em questão, Guti aparecia tocando triângulo acompanhando uma banda de forró nipônica. O grupo entoou as clássicas “Xote das Meninas”, de Zé Dantas, e “Asa Branca”, de Humberto Teixeira – ambas eternizadas na voz de Luiz Gonzaga.
A maioria dos estudantes sai da educação básica sem habilidade para elaborar um texto que contenha o mínimo de ordem, coesão e coerência. Não raro, isso ocorre até mesmo com estudantes universitários. O que falta? Dom? Talento? Não. Treino. Treino sistemático e frequente – que não se resume ao estudo massivo de normas da gramática normativa. Esse é apenas um dos diversos pilares na construção da escrita. A proficiência se dá, sobretudo, pelo conhecimento de diversos gêneros textuais – leitura e produção.
Retorno a um texto de 1981 sobre meu relacionamento com o conterrâneo Nathanael Alves, interrompido inesperadamente, em abril daquele ano após sua partida definitiva, porque sempre tivemos admiração de filho para com o pai. Em nosso caso, pai, porque colocou livros em minhas mãos, estimulou leituras e a refletir sobre a importância da função da arte no conjunto de nossa vida.
Estava ali, rosa desfolhada. Cuidava de suas ausências, entre o quartinho e o terraço, gestos e sons guturais. A custo se deitava na rede armada. Ali, estendia as recordações, no remanso de um passado variado em família, amigas de juventude, passeios, enfim, enquanto lúcida podia movimentar-se, ao trajeto da vida longa. Viu surgirem os cabelos brancos, a pele se tornando rugosa, o corpo
combalido e as rendas da flacidez nos braços. O calendário dos anos a trouxera através de nove décadas e meia. O máximo que fazia era folhear revistas, repassando figuras, que se tornavam embaçadas, gelatinosas em seu pouco ver. Aos domingos, cuidada pela funcionária, lhe era posto um vestido meio esgarçado na gola e gotas de perfume, após o sacrifício de um banho que lhe atiçavam as dores do reumatismo. Sentada na cadeira de balanço fingia esperar visitas da família. Repassava os rostos distantes. Fazia-os próximos como que a delirar. Chamava pelos nomes que não lhe davam respostas. Ela via os familiares em derredor. Somente ela.
Todos temos uma vocação real, definida, e outras que ficam pelo caminho. À prática destas últimas costuma-se dar o nome de diletantismo. Um pintor diletante é uma pessoa que tem um filete de dom para o pincel; consciente de que nunca será um grande artista, ela se contenta com pintar por prazer. Ou por nostalgia.
Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a
boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a
preparação da edição. Minha expectativa era grande, todos
em nosso meio sabem do soberbo editor de livros que Miguel
sempre foi.
Ontem à noite estive em Paris, porém não visitei muitos lugares porque meu passeio foi rápido. Estive na Rue de Sèvres, no número 149, perto da entrada do Hospital Necker. Lá encontrei uma placa de mármore onde pude ler: "Neste Hospital, Laennec descobriu auscultação".
João Batista cumpriu sua missão no “deserto da Judéia” (Mt 3:1), usando roupas feitas com “pêlos de camelo e um cinto de couro na cintura” (Mt 3:4), não sentava à mesa para comer figos e tomar vinho. Comia no chão batido ou em uma pedra, se servindo de “gafanhotos e mel silvestre” (Mt 3:4).
Vê-se que o nosso Machado de Assis teve melhor sorte do que Greta Garbo. A célebre atriz sueca, como se sabe, acabou no Irajá, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, segundo o criativo título da exitosa peça teatral de Fernando Mello, dos anos 1970. Acabar no Irajá realmente não é um fim glorioso para ninguém que tenha sido um dia contemplado pelo sucesso e pela fama, desculpem-me os moradores do referido bairro, que, aliás, não conheço. Vai ver, com certeza tudo não passa de preconceito dos “inocentes do Leblon”, uma gente (não todos, claro) para quem o umbigo do mundo civilizado e glamoroso se situa na Zona Sul carioca. Não duvido que o Irajá possa ser um lugar tranquilo e agradável, longe do “barulho do mundo”, bom para se encerrar a vida e/ou a carreira.
Realmente temos de sustentar uma opinião pessoal sobre qualquer assunto? Parece haver uma exigência social nesse sentido. As opiniões pessoais mudam e têm de mudar. Quem sustenta uma postura ideia fixa, não evolui.
Hoje falar-vos-ei de uma rua singular. A rua Al-Mutanabbi, conhecida como “A Rua dos Livreiros”, sita no centro histórico da capital do Iraque, cidade fundada no século VIII pelo segundo califa abássida Al-Mansur, Baghdad - cuja combinação de palavras de influência persa significa “Fundada por Deus” ou “Dádiva do Ídolo”, sendo que os árabes, em geral, conhecem-na por “Cidade da Paz”.
Existem duas ladeiras escarpadas desaguando para a Rua da Areia das quais nunca me senti livre: a Feliciano Coelho e a Peregrino de Carvalho, que exigiam o máximo de nosso fôlego para se chegar ao cume que era a Rua Nova com o belo portal de sua biblioteca universal e, do outro lado, à Rua Direita, o sonho do meu primeiro emprego, base e mirante ansioso de quase tudo a que pude chegar na vida.
Há exatos duzentos anos, ocorreu em algumas Províncias do Nordeste brasileiro uma insurreição contra o governo imperial que ficou conhecida como a Confederação do Equador. Para Tobias Monteiro, que abordou detidamente a revolta na sua História do Império, “além de Pernambuco, a Paraíba e o Ceará foram os únicos focos importantes da reação”.