Era um Compromisso Espiritual. Acordei relativamente cedo e organizei algumas coisas. Ao abrir a janela da cozinha para preparar o café, deparei-me com uma fileira de pombos que, curiosamente, me olhavam. Com carinho, abracei aquilo como afago de alma do universo, me dando bom dia ao seu modo, ao que retribui dizendo: "Bom dia a vocês também! Nossa! Que forma mais gostosa de receber o dia!"
Fiz análise durante um tempo para me libertar da dependência do Rivotril. Eu tinha na época cerca de 26 anos e desenvolvi um brutal processo de ansiedade devido ao conflito que vivenciava no curso de Medicina. Não nascera para ser médico, e me via obrigado a lidar com pacientes em aulas de disciplinas como Semiologia e Técnica Cirúrgica. Segurei o quanto pude, até que veio a reação: síndrome do pânico, taquicardia, sensação de morte e um quadro depressivo-ansioso que durou cerca de dois anos.
No dia 5 de maio, o médium baiano, com projeção internacional, Divaldo Pereira Franco, completou 97 anos de vida e 77 de trabalho, em prol do bem. Raríssimas são as pessoas que chegam a este auge e, principalmente, com lucidez plena.
Inicialmente, creio ser de bom alvitre considerar que para mim, o título de mestre tem uma conotação bem mais ampla do que aquela atribuída pelas academias. Aqui, do outro lado das fronteiras de um campus universitário, a patente de “mestre” é bem mais do aquele título que precede ao de doutor. Nesta outra banda da divisa; por exemplo, um mestre carpinteiro, é aquele que domina não só o manuseio da plaina e da enxó e outras ferramentas da carpintaria, mas é quem transforma madeira em arte como ao dar forma às tesouras
Jacques Lacan, o célebre psicanalista francês, não foi um bom pai, no sentido convencional da expressão. Essa a conclusão a que cheguei após a leitura do livro Um pai: puzzle (Aller Editora, São Paulo, 2023), de autoria de Sibylle Lacan, filha do dito cujo. Vou além: se aplicarmos os critérios brasileiros de avaliação, creio que até podemos afirmar que ele foi um péssimo pai. Vejam só, quem diria.
SONETO EM CRISE
O perdido traz a marca na testa,
esboço do nome, falso retrato,
um corno - caligrafia da besta -,
revolta e um perfil de semblante amargo.
A fala que se esforça em verso, ofensa,
um desmentir inútil do absurdo
que transpassa o ser fútil e enlaça
a criatura com seu silvo agudo,
Fui a uma agência da Caixa Econômica Federal, comecei a viajar no mundo das lembranças quando uma moça se aproximou e perguntou “você é a viúva de Shuka? Irmão de Maika?”. Meio que aterrissando respondi que sim, foram minutos de conversas sobre os dois.
Um livro de referência a grandes escritores, que se espragata do alto da estante aberto em página dedicada a Elias Canetti, foi o que lucrei trepado em perseguição a uma aranha avistada da rede a se enfiar por entre os dorsos. O livro não foi o que lhe deu consagração, o Auto de fé, do qual, numa leitura precária, ainda pude guardar a terrível impressão que lhe causaram as multidões enraivecidas, mordidas de nazifascismo nas ruas da Viena de 1935. Dele não consigo me livrar de uma sentença que anotei com força de praga: “Tudo o que foi esquecido brada por socorro nos sonhos”.
Refletir sobre como os arquitetos e urbanistas estão se preparando para atender às crescentes exigências de um mundo cuja população está vivendo mais tempo tem sido uma preocupação atual e oportuna.
“Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.
Tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar a planta.
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de destruir, e tempo de construir.
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de gemer, e tempo de bailar.
Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar, e tempo de se separar.
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de jogar fora.
Tempo de rasgar, e tempo de costurar; tempo de calar, e tempo de falar.
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."
Palavras sábias atribuídas a Salomão pela tradição rabínica, ainda que o autor do livro Eclesiastes prefira manter-se no anonimato, identificando-se como qohelet, que significava “pregador” ou “mestre”, na melhor das hipóteses. [2] O texto revela, porém, que o homem só dispõe do tempo presente para agir, considerando-se que, se efetivamente há um tempo determinado para as coisas serem executadas, esse tempo extrapola as previsões e planejamentos, medidas e cronometragens, por estar subordinado à vontade de Deus. O tempo de Deus caracteriza-se, pois, como o tempo oportuno para cumprimento do Seu propósito ou vontade.
Há uma certa tendência talvez elitista a se evitar “chefa” como feminino regular de “chefe”. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Academia Brasileira de Letras, 1999) recomenda “chefe” para os dois gêneros. O Aurélio segue essa orientação. Os dicionários de Moraes Silva (Diccionario da língua portuguesa. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813, s.v.), Laudelino Freire (Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957, s.v.) e Caldas Aulete (Dicionário contemporâneo da língua portuguesa, 3.ed. Rio de Janeiro: Delta, 1980, s.v.), registram “chefe” apenas como substantivo masculino, excluindo talvez a possibilidade de se considerar a forma como comum de dois. O Aurélio registra “chefa” como forma popular.
“O padre triste perguntou-me o meu nome, que eu pronunciava Tedrico. O outro, amável, mostrando os dentes frescos, aconselhou-me que separasse as sílabas e dissesse Te-o-do-ri-co.”
O parágrafo que abre este artigo foi retirado de A Relíquia (Edição crítica de Carlos Reis e Maria Eduarda Borges dos Santos, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2021, p. 84), uma das mais importantes obras de Eça de Queirós (1845-1900).
DA INUTILIDADE DA POESIA
Uma flor
qualquer
no chão
encontrada
pode ser motivo
de um poema,
de uma quadra.
A poesia tem
dessas coisas
inusitadas,
com cara
Logo após meus pais contratarem a construção do que seria o maior pesadelo de nossas vidas, a construtora conseguiu ganhar uma concorrência para construir três prédios da então poderosíssima IBM, gigante americana, e solenemente abandonou a nossa obra, tocando-a com a barriga.
Claro que não poderia dar certo, porque os prazos estavam totalmente furados. Para completar a desgraça, a construtora havia descontado as promissórias que meu pai assinara para financiar a construção e com o dinheiro tocara as obras da IBM, que só pagaria pelos seus 3 prédios na entrega dos mesmos. Descobrimos depois que esse detalhe teria sido fundamental para uma construtora de médio porte ganhar a concorrência dos prédios da IBM contra as grandes construtoras brasileiras. Até hoje quando penso no assunto não posso deixar de rir... a grana de enxeridos paraibanos financiando a expansão da poderosa IBM.
Quando morei em Paris adaptei-me ao estilo cotidiano dos Cafés. Eles representavam para mim o próprio caráter da cidade cosmopolita. Quanto mais uma cidade possui Cafés, mais cidadona ela é para mim.
“O que leva um contestador da Academia a nela ingressar?”, perguntava eu, nos idos de setembro de 1990, a Humberto Cavalcante de Melo. Resposta do homem: “O acréscimo dos anos não nos aumenta a sabedoria”. Na ocasião, eu o entrevistava para a Revista A CARTA, publicação semanal do editor Josélio Gondim.