Na primeira parte do livro “O Homem que viu o disco voador”, de Rubens Teixeira Scavone, uma frase do novelista norte-americano Carl S...

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Na primeira parte do livro “O Homem que viu o disco voador”, de Rubens Teixeira Scavone, uma frase do novelista norte-americano Carl Sandburg é citada como epígrafe:

Vitória Lima, que entre outros dotes e conquistas de justo orgulho se confessa plena com o de professora (foi como se deixou ver ao ...

amizade
Vitória Lima, que entre outros dotes e conquistas de justo orgulho se confessa plena com o de professora (foi como se deixou ver ao ser homenageada pela UBE local, em ato extensivo a Solha e ao autor carunchado destas notas), acaba de dedicar suas duas últimas crônicas à Amizade.

André Vidal de Negreiros foi um dos personagens que mais se destacaram, no século 17, na História do Brasil, o que pode se deduzir pela...

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André Vidal de Negreiros foi um dos personagens que mais se destacaram, no século 17, na História do Brasil, o que pode se deduzir pelas palavras dos seus contemporâneos. O Padre Antônio Vieira, que “o conhecia pouco mais que de vista e fama”, escreveu que o rei português tinha como ele “mui poucos nos seus reinos”. O neerlandês Gaspar Barléu, que escreveu uma obra encomendada por Maurício de Nassau sobre o período nassoviano no Nordeste brasileiro, considerava Vidal “homem audaz, astuto e, conforme o negócio em que se empenhava, perverso ou enérgico”.

O amanhecer instala a cantoria de sonoridades diversas, disparadas de pequenos corpos com coloração e tamanhos diferentes. Galhos de á...

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O amanhecer instala a cantoria de sonoridades diversas, disparadas de pequenos corpos com coloração e tamanhos diferentes. Galhos de árvores distantes, fios, alto de muros se transformam em palco para o canto de rolinhas, sibitos, bem-te-vis, sabiás, beija-flor e outros pássaros que residem naquela área urbana. Apesar da calmaria daquelas paragens, do sossego quebrado pelos piados em tons múltiplos, são poucos os que param para prestar atenção ao concerto da passarada.

Mas que desventura foi a nossa! Estávamos no paraíso das delícias corporais, e perdemo-lo; e, ao mesmo tempo, perdemos o paraíso das de...

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Mas que desventura foi a nossa! Estávamos no paraíso das delícias corporais, e perdemo-lo; e, ao mesmo tempo, perdemos o paraíso das delícias espirituais, que éramos nós mesmos. Fomos expulsos para as solidões da terra, e tornamo-nos nós próprios uma solidão e um autêntico deserto escuro e esquálido. Com efeito, fomos ingratos para com aqueles bens, dos quais, no paraíso, Deus nos havia cumulado com abundância relativamente à alma e ao corpo; merecidamente, portanto, fomos despojados de uns e de outros, e a nossa alma e o nosso corpo tornaram-se o alvo das desgraças...
Iohannis Amos Comenius (1592-1670)


O saudoso professor Pierluigi Piazzi exerceu o sacerdócio professoral por décadas. Nascido na Itália, veio ao Brasil ainda adolescente e por aqui fez sua carreira docente, a professar profundas e verdadeiras reflexões sobre as relações sociais dentro do fracassado sistema educacional brasileiro. Em palestras da maturidade, o professor Piazzi falava
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Pierluigi Piazzi ▪ 1943—2015 / fbook
sobre a dificuldade dos pais ou mesmo incompetência no exercício da autoridade com seus filhos resultando em gerações mimadas, fúteis e sem propósito. Faleceu aos 22 de março de 2015 e até os últimos anos denunciava o uso excessivo de telas, assunto hoje em voga mas sem muita efetividade. Com um alto senso de humor, ele dizia: “os alunos sabem decodificar letras e sílabas em sons mas não entendem o que articulam”; e ele explica isto quando apresenta, claramente, a distinção entre entender e aprender (ou apreender). Ele é assertivo quando diz que o Brasil tornou-se, hoje, num país de mal-educados. O som dos televisores grandes, quadrados, que ficavam na sala de estar desde seu surgimento, foi dando lugar a aparelhos cada vez mais finos em espessura mas cada vez mais opressivamente maiores e quase onipresentes por todo lado.

Em meio a realidade da Inteligência Artificial — que, como diz o professor e pesquisador Miguel Nicolelis, uma mente admirada pelo professor Piazzi, nem é inteligência e nem é artificial... — a dispersividade, muito alta nos adultos e crescente, a cada ano, nas crianças, é transtorno social e uma inimiga declarada da educação e instrução de gerações.
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PHere
Neste duro contexto o professor Piazzi dá soluções sistêmicas, remédios para mudança de paradigmas ou restauração de certos valores que a política educacional no mundo, e mais especificamente no Brasil destruiu, principalmente da década de 1960 para frente. O prestígio do professor, a sua inconteste autoridade é um dos pilares senão o mais importante deles. Hoje o professor é refém do capricho de pais que usam seus filhos como repetidores de um viciante e opressor hedonismo. Seja no ambiente público tanto como no privado, o professor (incluindo aqueles que têm tentado o meio digital) é como uma espécie de ferramenta que se aperta o botão ‘ligar’ quando se “necessita” e o de ‘pausar’ ou ‘desligar’ quando se “cansa”, ou quando o que se ouve não é conveniente ao politicamente correto do espectador.

Na era da pós-modernidade em que cada um liquefaz-se em sua “verdade” própria, ouvir veementes reprimendas ou asserções é percebido por pais como se eles e seus filhos estivessem sendo agredidos quando, em verdade, se trata mais de um diagnóstico de quem realmente se importa e propõe modulações de hábitos. As famílias têm-se tornado redutos chucros, e quando um professor levanta a voz para corrigir soa-lhes como uma intromissão imperdoável, virando aquele que se dispõe professar numa espécie de persona non grata.

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PHere
Diante deste absurdo panorama, as Artes sempre hão de emergir como inequívoco poder de constranger o âmago — e, por meio do mover os resquícios de vida sensível, suscitar novos e bons hábitos — a, verdadeiramente, educar os indivíduos. É como, na prática, podemos constatar o que Comenius, grande teólogo protestante e notável pedagogo, aludia sobre a saída do Eden: esta desventura nossa que nos impele a buscar, em meio a desertos de mundos sensíveis, oásis de entendimento e lucidez. Paradoxalmente, os que se encontram nos prazeres imediatistas estão longe, muito longe, das delícias da fruição, alcançadas somente com duríssimo esforço, e fazendo-se o que se deve em detrimento do que se “quer” ou do que se “gosta”.

Dos mais de 70 livros publicados por Hector-Henri Malot, Sans Famille (publicado em 1878 por Édouard Dentu) é, indubitavelmente, o mais popular e que nos chega, hoje, com uma mensagem valiosíssima e urgente. O argumento do livro virou roteiro para inúmeras produções televisivas como as montagens de Georges Monca em 1914, e a de 1934 com a mise en scène de Marc Allegret; o longa de 1958, dirigido por André Michel; a produção de 1981, com realização de Jacques Ertaud; a minissérie em dois capítulos exibida em dezembro de 2000, dirigida por Jean-Daniel Verhaeghe; ou a série de animação japonesa com mais de cinquenta episódios e desenho de Osamu Dezaki (Matsudo Kan) de 1977, com versão em vários idiomas, incluindo francês.

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Hector-Henri Malot ▪ 1830—1907
O romance é dividido, simetricamente, em dois tomos, cada qual com 21 capítulos. Há em ambos a alegoria heroica do sofrimento que precede o amadurecer e a bonança: Rémi, um infante enjeitado, protagoniza uma vida de altos e baixos pela descoberta de quem realmente é. Especialistas dividem a infância humana em três ou quatro etapas de desenvolvimento. O livro inicia-se com o protagonista aos oito anos de idade, segundo dos três estágios relatados pelo psicólogo australiano Steve Biddulph em seu livro Criando Meninos (publicado em português em 2004), um dos mais famosos no assunto. O autor tem uma escrita direta e simples para que famílias no mundo inteiro possam assimilar princípios educacionais e relacionais na criação de seus filhos:

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“Os meninos não crescem todos de maneira suave e uniforme. Não basta dar cereais à vontade, camiseta limpa todo dia, para vê-los numa certa manhã acordarem homens-feitos. Existe um programa a seguir. Qualquer que conviva com meninos se surpreende com suas mudanças e com a variação de humor e energia que apresentam em ocasiões diferentes. A questão é entender o que fazer — e quando.”

A segunda das etapas da infância de um menino, segundo Biddulph, é quando há um impulso interno pelo querer a ser homem e quando a figura materna deixa de ter proeminência. O objetivo biológico e psíquico neste estágio é o desenvolvimento de competências e habilidades, incluindo a elaboração da afetividade e do bom humor a fim de que venha a se tornar uma pessoa equilibrada. Ocorre que, fora das linhas gerais apontadas pelos estudiosos como Biddulph, a vida traz inúmeras variantes e suscita a história individual fora da uniformidade. Para Malot o que interessou foi contar a trajetória de um menino cuja perda familiar, ao nascer, deu-lhe a chance de crescer, em meio a muito sofrimento, e ser literalmente salvo pela Música e seu inegável dom. A trama se desenrola a partir de lembranças da maturidade de Rémi (Renato) que, até os oito anos,
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fora criado por Madame Barberin (Maria Barbarino pela tradução de Virgínia Lefèvre que renomeia, aportuguesando os personagens, para melhor identificação com o leitor vernáculo), a quem muito queria bem, embora oscile não a chamando de mãe em todas as suas memórias. O texto é narrado em primeira pessoa como reminiscência viva de uma jornada de amadurecimento inesquecível:

“Quando ia dormir, era ainda ela quem me agasalhava com cuidado para que eu não sentisse frio e nunca se afastava da minha cabeceira sem antes me dar seu beijo de boa noite. Se o vento uivava lá fora sacudindo as janelas, Maria Barbarino permanecia a meu lado até que eu estivesse profundamente adormecido, dando-me, com sua simples presença, uma profunda sensação de segurança e proteção. E, no rigor do inverno, aquecia muitas vezes meus pés com suas mãos grossas de camponesa, esfregando-os com força ao ritmo de uma alegre canção popular.”

Já ao final do segundo parágrafo, há esta primeira referência da relação do protagonista com a Música. As cantigas de ninar são imprescindíveis para o saudável desenvolvimento cognitivo de uma criança. Dão, somadas as cantigas de roda e as trovas, um forte senso de forma e de orientação motora, mas quem hoje as canta ou recita para seus filhos? E, mais, quem sabe cantá-las ou declamá-las como se deve, afinada e articuladamente? Este divórcio completo da sociedade com o mundo sensível, este apartamento danoso é fonte de muitos males contemporâneos que, no romance, vê-se como chave da malignidade contrária ao afável Rémi e ao sábio Mestre que o prepara para o lidar com o mundo mal.

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Bayard, 1880 / PD
Uma das adaptações cinematográficas de melhor recorte do enredo deste célebre romance é a lançada em dezembro de 2018 e dirigida por Antoine Blossier, com Daniel Auteuil no papel do Mestre e Maleaume Paquin no papel-título, além da participação especial de Jacques André Simonet (Jacques Perrin) que interpreta o protagonista maduro em suas memórias narradas e Ludivine Sagnier, no papel da mãe postiça. A música é assinada pelo francês Romaric Laurence, parceiro de Blossier também no filme À Toute Épreuve, que soube dar o peculiar tom da trilha que acompanha a jornada pelo interior da França, além de trazer a melancolia nos intervalos melódicos e no balanço, ao piano, suscitando a ambiência sensível do rememorar
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de Rémi às suas mais caras imagens infantis. O filme se inicia com uma introdução que não consta no livro: bem à medida norte-americana de suspense, a própria imagem do velho Rémi, numa noite chuvosa é um recurso manjado e escolhido pelo diretor para capturar a atenção dos personagens infantis no orfanato onde Rémi vive com sua amada e para iniciar, de facto, a narrativa fílmica.

Há personagens-símbolo na criação de Malot que são preservados por Blossier e outros que se mantém apenas enquanto arquétipos, sendo trocados, no entanto, por outras invenções para enxugar a narrativa e dar o recorte audiovisual pretendido. Também a vegetação descrita por Malot, as cidades narradas e alguns espaços-chave são mantidos, dando o ar do interior francês do século XIX cuja a fotografia encanta os olhos. Como os filmes nos chegam mais diretamente que muitos romances, sobretudo no frágil contexto educacional de hoje, é possível tê-los como pontes para os livros que nos abrem portais muito mais imagéticos e desafiadores que os recortes nas narrativas audiovisuais. E, assim, não se perdem nem a produção cinematográfica nem a literária, mais rica e diversa.

Os personagens do livro que foram mantidos por Blossier, além do próprio Rémi (que é tido no roteiro já com 10 anos) e de Vitalis, são a mãe-postiça, Maria Barbarino, mulher carinhosa que desejara ter filhos biológicos e não pôde, que criou com amor sincero o seu franzino e delicado Renato, com todos os cuidados de que dispunha; a vaca Roussette (Ruivinha, ou Vermelha, para Lefèvre), verdadeiro xodó, “quase considerado um membro da família, cujo leite puro e abundante representava uma parcela considerável – talvez a mais importante – da subsistência da família”. Jérôme Barberin (Jerônimo Barbarino), pedreiro vivendo longe da esposa para garantir o pão, trabalha em Paris até seu grave acidente num andaime; Madame Milligan, mãe de Rémi; e os Driscolls, uma família de embusteiros contratada para ludibriá-lo a mando de Jaime Milligan, tio de Rémi e autor da trama para o seu rapto.

Sobre a concepção dos personagens, de pronto é possível analisar cada nome: Vitalis, o cantor de grande sucesso e musicalidade, significa em Latim a força concernente à vida, força da vida, força criadora, portanto. Já o protagonista aponta para rêmige (ou remígio) que, no Latim, alude para remador, aquele que toma o remo nas mãos. Já no português o verbo remir tem tanto no indicativo, quanto no subjuntivo e no imperativo, o vocábulo ‘remi’,
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
cuja origem latina aponta para redimir e o significado não está distante da saga enfrentada pela criança em cruzar, por duas vezes, boa parte do território francês a, literalmente, tornar a obter uma família. Em sítios eletrônicos de curiosidades jornalísticas sobre nomes, Rémi, certamente influenciado pela notabilidade que alcançou o romance no século passado, aponta para “associação com características de coragem e determinação, refletindo a imagem de alguém que supera obstáculos e alcança seus objetivos. Além disso, o nome Rémi também pode evocar uma conexão com a natureza, lembrando o movimento das águas e a atividade de remar”. Na versão de Lefèvre, ‘Renato’ é nenascido, em renovadas chances e salvo pela Música; a escolha não é má. E é isto que se exprime da longa jornada do menino sem família que vai, aos poucos, amadurecendo, vivendo uma dura vida de fome, de frio, de perseguições e sofrimentos até o encontro com sua mãe e irmão, mesmo quando, na primeira vez, ainda não os reconhece.

Sobre a ligação de Rémi com a natureza há, no livro, outros personagens animais que têm marcante papel na simbologia do discurso além de Roussette. Os três cães Capitão (“chama-se assim mas atende por Capi, uma abreviatura de seu nome!” ...), Zerbino (“palavra italiana que quer dizer galã.
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
É realmente o galã da companhia.”) e Dulce (cadelinha fox-terrier) além de Joli-Cœur (“Boa-Vida” para Lefèvre), cujo carinhoso e bem-humorado nome dá a dimensão das peraltices desse macaquinho adestrado que, com o trio canino, compõem o “Conjunto Teatral Vitalis”. A descrição da paisagem da primeira infância de Rémi é outra demonstração de sua ligação afetiva com a flora:

“Nossa casa ficava perto desses ribeirões que descem da montanha e vão engrossar as águas do grande rio distante, privilégio de terras mais felizes, e nela minha mãe adotiva tinha sua horta e seu pomar. Dois ou três carvalhos nos davam sombra nos dias de calor”.

E, também, sua experiência com a agricultura familiar:

“Achei melhor ir trabalhar na horta, para passar o tempo. Maria Barbarino reservara-me um canto no roçado, onde eu podia plantar o que quisesse. Resolvera fazer-lhe uma surpresa e tinha plantado uns tubérculos de batata-doce que um vizinho me arranjara, garantindo ser mais gostosa do que a batata comum. Eu acompanhava o desenvolvimento de minhas batatas-doces, imaginando a surpresa de minha mãe adotiva quando as recebesse das minhas mãos”.
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
No recorte de Blossier somente Capi e Boa-Vida compõem a trupe de Vitalis e há, além disso, a troca de personagens ou um enxugamento que mantém os arquétipos. O primeiro tomo do livro caracteriza-se pelas conquistas do aprendizado de Vida e Música forjando o pequeno Rémi sob a direção de seu Mestre. Quando Vitalis morre, ganha proeminência, no segundo tomo, a figura de Mattia, criança italiana de grande talento musical. Blossier então funde os personagens para economizar o discurso fílmico e dá ao Mestre as atribuições musicais de Matias que era autodidata em vários instrumentos tornando-se num grande violinista. Já a carreira de sucesso como cantor de ópera é, no livro, a vida de Vitalis que Blossier entrega pra Rémi fechando nele o ímpeto criador da Música. Outra troca é a de Lise que existe tanto no original quanto nesta versão porém Lise, no filme, é filha de Madame Harper, personagem inventado em detrimento de Pedro Aquino, um florista doméstico que recebe Renato após a morte de Vitalis por hipotermia, à sua porta, quando ambos fugiam de uma nevasca. A cena, no filme, dessa madrugada tenebrosa, em que Rémi adormece, já exausto, nos braços de Vitalis morto, é tocante.

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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
A primeira imagem que surge de Rémi criança é ao campo, em colheita e contemplando a beleza floral enquanto entoa o tema central do filme, em bocca chiusa: na verdade, seu próprio tema, com Vermelha (nem tão vermelha assim...) ao fundo. É uma cantiga metalinguística e arquetípica que resume o romance. Na cena da aula de canto, ele é levado pelo Mestre a escarrar a alma, cantando em verdade, ainda sem palavras, a partir de uma reminiscência sinestésica. A voz vai-se colocando, projetando-se para a roça e aos campesinos, a afetar-lhes sobremaneira, como também a tocar a Capi e ao Mestre que vê aí sua ideia não ter sido em vão em tê-lo como pupilo. Rémi vai descobrindo a profundeza da Música, a profusão de sentimentos que ela evoca e a sensação de libertação pelo alimento da vida interior.

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Maleaume Paquin (Rémi) e Daniel Auteuil (Vitalis), em "O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
Para se estudar Música requer-se muito mais que uma ou duas horas por semana. A Música, e especialmente o canto, demanda domínio da respiração, de idiomas, uma consciência fonética e o apuramento do ouvido, a perceber os mais sutis intervalos e seus contextos harmônicos, além da precisão do tempo, dos pulsos, do ritmo que é corporal e organicamente afetivo. A cena da aula de canto tem fundamento no capítulo sétimo do livro, quando Vitalis também alfabetiza seu pupilo:

“...entusiasmado com meus progressos, perguntou: — Quer aprender as notas musicais? Interessado, indaguei: — Conhecendo as notas poderei cantar como o senhor? Vitalis fitou-me com um ar desconfiado. — Você quer cantar como eu? — Nunca poderei cantar tão bem como o senhor, mas tenho vontade de aprender. — Você gosta de me ouvir cantar? — Se gosto! Acho lindo o canto dos pássaros, mas o seu me emociona muito mais. Sua voz toca-me fundo o coração, dando-me às vezes vontade de rir e outras de chorar. Ouvindo-o, fico com mais saudade de mamãe. E me vejo de novo a seu lado, sentindo o calor de sua ternura e de sua dedicação. Não entendo as palavras – deve ser italiano – mas não preciso delas para compreender a melodia. Os olhos de Vitalis estavam cheios de lágrimas. Comovido, perguntei: — O senhor ficou triste comigo? Ele me afagou o rosto e respondeu: — Não, meu filho. Recordava meus tempos de rapaz... Bons tempos aqueles... Vou ensiná-lo a cantar. Você tem boa voz e parece possuir senso musical. Tudo indica que será um bom cantor e receberá muitos aplausos... Você vai ver!”
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
O texto da canção só acontece fora do filme, nos créditos finais, como na maioria das canções em que os versos retratam a narrativa mas não cabem, diretamente, no discurso. A partitura é criação de Romaric e, certamente a pedido de Blossier, evoca uma cantiga de ninar tradicional francesa. A forma encontrada no roteiro para representar a força da Música na vida humana, que perpassa gerações e estabelece laços, foi a de, através dessa canção, haver a chave para a identificação da senhora Milligan ao, finalmente, ter encontrado seu filho raptado. A métrica é ternária simples, como numa valsa infantil ou numa cantiga de roda; e a singela letra é assinada por Gaëlle Godard-Blossier. Os versos apontam tanto para a explicitação da ligação à distância entre mãe (biológica ou de criação) e filho,
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
pela batida do coração firmada pelo pulso musical, quanto pela associação latente da própria Música com o menino, este representando a jornada de aprendizado do ser que se entrega ao seu caminhar árduo e, ao fim, vitorioso. A ciência vem estudar e comprovar, já bem depois do que sabem os Mestre de Música, sobre a inflexão melódica dos idiomas, e sobre a consequente força que a canção exerce sobre o cérebro de fetos e bebês, antes mesmo da fala acontecer. O Instituto Max-Planck, através do Laboratório de Ciências Cognitivas da Escola Normal Superior de Paris, constatou que a melodia do choro de bebês franceses se difere, substancialmente, dos bebês alemães e isso se deve pela forma como eles captam a linguagem dos que estão à volta — ouso dizer não só o idioma mas a letra cantada, a força da distinção da grande música entre estas nações e a percepção dos cérebros infantis.

Guarda a Confiança foi guardada na mente de Rémi quando ele sequer falava, não sabendo portanto da letra mas não se esquecendo da melodia. É uma espécie de mandamento de fé, ordenança que lembra diretamente o apóstolo Paulo em sua segunda epístola ao amado filho Timóteo, resumindo a trajetória arquetípica de Rémi, enquanto herói: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”:

Aux soirs d'orage Ne crains rien Garde confiance Ma voix sera ton guide Même loin de toi Nos cœurs sont liés dans cette chanson Le vent te porte Déploie tes ailes Suis ton destin Garde confiance Même loin de moi Nos cœurs sont liés dans cette chanson Un jour, demain (un jour, demain) L'aventure Te mènera à moi (l'aventure te mènera à moi) Tu finiras ton voyage (tu finiras ton voyage) Tout près de moi (tout près de moi) Et nos cœurs liés dans cette chanson (et nos cœurs liés dans cette chanson)

Coube a gravação de Garde Confiance ao renomado coro de meninos Manécanterie des Petits Chanteurs à la croix de bois, fundado em 1907 por Paul Berthier e Pierre Martin, e durante muito tempo dirigido pelo padre Fernand Maillet. A metalinguagem na referência dos versos à própria canção é lastreada em Malot quando, ao fim do livro, Rémi narra que termina de compor uma autobiografia romanceada:

“Terminei o livro em que narrei minhas aventuras. Os felizes não têm história. Posso, pois dar-lhe um epílogo [...] hoje, à noite, devemos estar todos juntos. Só Vitalis faltará! Como eu seria feliz se tivesse conosco o meu querido e primeiro mestre! Pude, ao menos, dar-lhe um túmulo. Consegui fotografias do seu tempo de glória e fortuna e mandei esculpir-lhe o busto em bronze e colocá-lo no cemitério, em Paris. Tenho a miniatura sobre minha escrivaninha e costumo passar alguns momentos de olhos fechados, sentindo-lhe a presença gravada na minha eterna saudade.”

Outro ponto forte de louvor à Música é quando, já exauridos de forças e com a enfermidade se abatendo sobre Joli-Cœur tanto como sobre o próprio Vitalis, na luta pela sobrevivência, o velho Mestre decide deixar de lado por
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"O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
um tempo seu orgulho e revelar-se para a plateia do hotel. É quando há o trecho da única obra não composta por Romaric: o tema principal do primeiro movimento do opus 64, em mi menor (tonalidade escolhida por Romaric para Garde Confiance), de Felix Mendelssohn-Bartholdy. A virtuosidade ao violino é só trocada de personagem: no livro é Matias o violinista, não antes, como Vitalis foi enquanto cantor, mas depois da peregrinação e da peleja agreste, a ajudar, empenhadamente, seu mui amigo a encontrar a verdadeira família, e, também, depois, na busca pelo desenvolvimento mais profundo de seus talentos musicais e violinísticos. A narração de Rémi é entusiasmada a respeito de seu grande amigo:

“Matias é hoje conhecido no mundo inteiro. Tornou-se um grande concertista. Denominaram-no o ‘Chopin do Violino’. Muitas composições suas já se tornaram famosas. Sempre em ‘tournée’ artística, não foi fácil conseguirmos sua presença no batizado de meu filho, mas o jornal de hoje publicará, com destaque, a notícia de sua breve visita a Londres, para ser padrinho do mais novo rebento da família Milligan, que, aliás, tem seu nome.”

O filme termina com o amanhecer de um novo dia, a aurora da realidade tranquila após a chuvosa madrugada: “o choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã”. Rémi põe os órfãos que o haviam ouvido em suas aventuras para dormir,
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Jacques Perrin (Rémi, adulto) em "O pequeno órfão" ▪ 2018 Div. / Via Imdb
cumprimenta a cada um, e sobe para seu quarto. As crianças entram no amplo quarto em que a harpa, um fiel instrumento-companheiro de Rémi em sua jornada, está como que a inspirar o estudo, este sim virtuoso, dos infantes. O protagonista sobe as escadas para os seus aposentos e, do alto, se vira para a parede repleta de fotografias — as que no livro rememoram Vitalis — de sua carreira exitosa de cantor operístico com recortes de jornais e primeira capa de programas dos mais renomados templos à Música por toda Europa. O Orfanato Vitalis é alusão tanto ao busto forjado em bronze no livro quanto à criação da “Casa do Pequeno Músico Ambulante”, idealizada por Rémi após um último recital “à moda antiga”, com harpa e violino, em duo com seu parceiro de vida Matias e com a presença do velhinho Capi, a recolher as moedas após os aplausos da família.

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Bayard, 1880 / PD
Já a obra de Malot finaliza-se com uma lição de moral, uma lamborada nos sistemas educacionais contemporâneos (principalmente o brasileiro!) mostrando que Arte é, de facto, atemporal:

“Aos poucos convencia de que a verdadeira aristocracia é a da educação, inteligência e caráter [...] tinha razão meu velho Mestre Vitalis com a sentença que gostava de repetir nos seus momentos de dificuldade: ‘Quanto mais numerosos os espinhos, mais belas são as rosas’.”

Citar o Mestre para encerrar o livro é distinguir o apreço e prestígio devidos. É isto que precisa ser restituído segundo o professor Piazzi. Também, a descrição da hipocrisia da sociedade londrina endinheirada — nada diferente do vazio que assistimos de perto, hoje, no Brasil “instagramável” ... —, atestando o preconceito familiar, é outra crítica que Malot não deixa de usar para arrematar o seu precioso trabalho. Ao fim, louva-se o músico itinerante, o goliardo infantil que antes da publicação de Sans Famille,
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Bayard, 1880 / PD
já em 1853, havia sido igualmente louvado pela literata francesa Augustine Fouillee (nascida Augustine Tuillerie), conhecida pelo pseudônimo masculino de G. Bruno, em seu livro Le Tour de la France par deux enfants, ao narrar o percorrer do grupo italiano Les Viggianesi de Basilicate.

A humildade, a singeleza de coração, o reconhecer das vocações e o servir à Música são a base da sociedade saudável, da família emocionalmente sadia que sabe orientar seus filhos, que planeja o caminho e conduz a criança, pela mão, em cada situação adversa, dando-lhe segurança, orientando-a a guardar a confiança e seguir adiante. Por esta razão, raramente vê-se no Brasil incentivos, quer governamentais, quer privados, no desenvolvimento de coros de meninos ou mesmo coros mistos: porque nos núcleos familiares é ausente a busca pela fruição, o reconhecimento da importância impreterível das Artes, da Vida Interior, do nutrir dos afetos e o equilíbrio que só pela educação do mundo sensível se pode obter. Por isto, não raro, a vulnerabilidade às telas, literalmente chupetas digitais, que NÃO COMPENSAM a falta do contato do pai, sobretudo daquele que sabe que não deve meramente criar como fôra criado, mas que deve estudar para ampliar os horizontes familiares, inda mais os afetivos. Biddulph adverte:

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Arranje tempo. Preste atenção nesta que é talvez a frase mais importante de todo este livro: se você tem como rotina trabalhar de cinqüenta e cinco a sessenta horas por semana e ainda viaja a trabalho, simplesmente não vai dar conta de ser pai. Seus filhos vão ter problemas, e isso vai se refletir em você.”

As desculpas que as famílias dão para, por exemplo, não encarar a Música de modo sério são as mais esfarrapadas e demonstram o quão ausente é da sociedade atual a Arte e quão sufocante é a cultura de massa. É incalculável o tempo que se perde com o besteirol cultural em detrimento da falta dessa nutrição espiritual. Ainda assim, mesmo que compreensível a busca de pais inconformados, o que em si já é louvável, muitos caem em armadilhas, buscando em formatos equivocados uma confusão entre educação e instrução. Não adianta o pai dispensar a escola ordinária sem que consiga ensinar a seus filhos a boa etiqueta e os bons modos no trato com o outro. Como costuma dizer a jornalista e consultora de moda Glória Kalil “chique mesmo é ser educado: uma pessoa que só tem aparência e que não cuida de seu comportamento moral e conteúdo intelectual não é chique de verdade”.

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Bayard, 1880 / PD
A Arte nos promove, autenticamente, o sonho, e a criança é a expressão do suspirar, em plena simplicidade e energia, de que o sonho pode ser realizado. Se bem instruída a criança, o sonho artístico não tem como não se realizar, mesmo diante das quase que invencíveis adversidades que nos impõe a selva de pedra atual. Não obstante não nos esqueçamos que o pai “realista” e a mãe burocrata ou incrédula que desencorajam a criança ao caminho musical, desconfiando, porém, lá no fundo, que seus filhos são vocacionados, concorre para mais uma geração de maus médicos, de advogados usurários, de engenheiros corruptos, de seres humanos frustrados. Comenius exorta-nos há séculos:

As crianças não são apenas o objeto, mas também o exemplar da verdadeira regeneração. Mas que palavras são estas?! Ouvi-as bem e examinai-as atentamente todos, para ver que coisa queria dizer o Mestre e Senhor de todos. Como proclama que só as criancinhas são merecedoras do reino de Deus, admitindo a participar na herança apenas os homens que se tenham tornado semelhantes às criancinhas!
hector malot sem familia remi
Bayard, 1880 / PD
Oxalá vós, diletas criancinhas, possais entender este vosso celeste privilégio! Eis no que ele consiste: é vosso o resto de dignidade que ficou ainda no gênero humano, ou seja, o direito que ele tem ainda à pátria celeste! (Cristo é vosso, vossa é a santificação do Espírito, vossa a graça de Deus, vossa a herança da vida futura; sim, tudo isto é vosso, pertence-vos a vós particularmente e infalivelmente, pertence mesmo só a vós, a não ser que qualquer outro, convertendo-se, se torne como vós. Eis que nós, adultos, que julgamos que só nós somos homens e vós sois macaquinhos, só nós sábios e vós doidinhos, só nós faladores inteligentes e vós ainda não aptos para falar, eis que, enfim, somos obrigados a vir à vossa escola! Vós fostes-nos dados como mestres, e as vossas obras são dadas às nossas como espelho e exemplo!

De sorte que a Música, se percebida como ela realmente é, o indivíduo, a família e a sociedade darão conta de que não há solidão quando se ouve, mentalmente, uma melodia. Daremo-nos todos conta de que é na infância onde pode-se cantar livre, leve, agudo, solto e afinado, e que na fase adulta é só confirmação, profissional, daquilo que já se é em mais tenra idade. Pais, não esperem que os governantes resolvam investir em vossos filhos, este é mandamento bíblico e concernente só aos educadores de fato. Não deneguem o direito à expressão mais sincera que parte do timbre infantil, sendo este mesmo o espelho e o exemplo da eloquência mirim a que se refere o teólogo.

hector malot sem familia remi
Bayard, 1880 / PD
A canção Garde Confiance é referência à canção napolitana recorrente no livro, que simboliza Vitalis e Matias, a relação do protagonista com estas duas gerações de italianos devotados à Música; mas também é o ensinamento de que quem não canta não tem as suas emoções plenamente desenvoltas, não tem o senso de forma encorporado, não se afina com o mundo ou para além das aparências, vive, portanto, em sombras. Ao fim, a Música é o som que nos abraça, a canção familiar aos ouvidos e à memória, é a mais querida e verdadeira família: enquanto Rémi penou por resolver suas angústias de não saber sobre seu passado, ou quando passou por terríveis vicissitudes, como nos dias soterrado na mina, fase dramática que Blossier não dá conta no filme, ou quando chega nos dias de fartura e senta para tocar em sua velha harpa é a Música, a sua mais íntima companheira, que lhe dá senso de humor ao lado de Lise, e a que o inspira a prosseguir agindo pelo bem dos pequenos andarilhos musicistas.


Oxalá tenhamos uma revolução vocal em nosso meio: quiçá as crianças possam mesmo, sem impedimentos parentais, crer que terão em seus genitores sustentáculos para seguir neste caminho em que devem andar e, quando adultos, sejam como Matias que só serviu à Música com sinceridade do coração. Quiçá Malot seja reconhecido como alguém que realmente escreveu para e sobre a infância. Ele exemplificou literariamente o que o salmista — não por acaso o rei Davi e Rémi são harpistas... — entoou sobre a fidelidade de Deus: “O Senhor guarda o peregrino, ampara o órfão e a viúva, porém transtorna o caminho dos ímpios”. Oxalá o personagem central de Sans Famille seja modelo de quem remiu a muitos por deixarem de ser seguidores de “influencers” para serem propagadores de sonhos...

Não tenho mais idade para contemporizar com quem pensa diferente dos meus convencimentos. Querem ficar com raiva? Não façam cerimôni...

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Não tenho mais idade para contemporizar com quem pensa diferente dos meus convencimentos. Querem ficar com raiva? Não façam cerimônia. Só não vou deixar meu dolce far niente para estar discutindo o que considero um absurdo.

No final de semana passado, entre os dias 19 e 21 de janeiro, Alcione e eu deixamos a vida reclusa nas paredes austeras do vetusto Se...

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No final de semana passado, entre os dias 19 e 21 de janeiro, Alcione e eu deixamos a vida reclusa nas paredes austeras do vetusto Seminário Maior da Sagrada Família de Coimbra, e entregamo-nos a uma flânerie por Lisboa. Deixemos claro que foi uma entrega comedida que nem cedeu, nem pairou “acima dos mundanos tectos”, no dizer do poeta do Eu. Aproveitando os belíssimos dias de sol, encontramos amigos e visitamos o que foi possível visitar, numa cidade de tantos encantos. Eu, particularmente, pude reviver o meu último encontro com Lisboa, há 23 anos. Posso afirmar que a “velha cidade” está, ainda mais, “cheia de encanto e beleza”, como apregoa a famosa canção.

Perguntei à borboleta o que é o amor, e ouvi como resposta, sem pressa ou temor: "O amor, meu nobre amigo, é poder beijar a ...

Perguntei à borboleta o que é o amor, e ouvi como resposta, sem pressa ou temor:


Postava-se à balaustrada do largo terraço. A casa era folgada. Geralmente, usava um vestido amplamente enfeitado de laços, um diadema...

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Postava-se à balaustrada do largo terraço.

A casa era folgada.

Geralmente, usava um vestido amplamente enfeitado de laços, um diadema faiscante, enfim indumentária que nos levava a cigana perdida.

Quanto a nós que estamos batendo uma bolinha no time “sub 80”, e disputando esse campeonato da sobrevivência pelos gramados da vida, po...

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Quanto a nós que estamos batendo uma bolinha no time “sub 80”, e disputando esse campeonato da sobrevivência pelos gramados da vida, podemos dizer que as coisas não são nada fáceis.

Quem já não ouviu falar de Zé Limeira, o poeta popular, o repentista espantoso e divertido nascido em fins do Século 19? Foi descrito ...

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Quem já não ouviu falar de Zé Limeira, o poeta popular, o repentista espantoso e divertido nascido em fins do Século 19? Foi descrito pelos que o conheceram como um tipo excêntrico, um sujeito capaz de botar na chinela muito astro do rock moderno. Conta-se que andava em trajes berrantes, com os dedos cheios de anéis, óculos escuros, lenço para lá de colorido e bengala de aroeira.

A vida não é fácil mas se oferece a mim sedutora quando abro as janelas do 16º andar sobre a cidade espetada em prédios, ninada em bu...

sao paulo sampa metropole
A vida não é fácil mas se oferece a mim sedutora quando abro as janelas do 16º andar sobre a cidade espetada em prédios, ninada em buzinas, freadas, luminosos hipnóticos.

Muitas vezes nos pegamos questionando nossa existência e o propósito da vida. É natural refletir sobre o fato de que não somos donos d...

Muitas vezes nos pegamos questionando nossa existência e o propósito da vida. É natural refletir sobre o fato de que não somos donos de nada, apenas usufruímos do que a vida nos oferece. Essa consciência nos leva a pensar sobre a verdadeira essência da felicidade.

Protágoras de Abdera, famoso filósofo grego que viveu entre 480 a.C. e 410 a.C., expressa a seguinte afirmação em seu trabalho Acerca d...

filosofia grecia antiga
Protágoras de Abdera, famoso filósofo grego que viveu entre 480 a.C. e 410 a.C., expressa a seguinte afirmação em seu trabalho Acerca da verdade: “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Conforme essa tese, o único critério para determinar a verdade está na perspectiva individual. A ideia é explorada no diálogo Teeteto, escrito por Platão, filósofo e matemático grego que viveu entre 428/427 a.C. e 348/347 a.C. Protágoras destaca a importância da subjetividade e particularidade de cada indivíduo,

“Dizes: “Eu vou para outras terras, eu vou para outro mar. Hão de existir outras cidades melhores do que esta. De todo o esforço feit...

campina grande paraiba jose neumanne
“Dizes: “Eu vou para outras terras, eu vou para outro mar. Hão de existir outras cidades melhores do que esta. De todo o esforço feito – estava escrito: nada resta e sepultado qual um morto eu tenho o coração. Até quando vai minha alma ficar nesta inação? Onde quer que eu olhe, para onde quer que eu volte a vista, a negra ruína de minha vida é o que se avista, eu que anos a fio cuidei de a estragar e dissipar”.

Há tempos que eu, Axéssio, penso em registrar por escrito, o que seja talvez uma espécie de… ditirambo, sei lá, alguma coisa que jus...

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Há tempos que eu, Axéssio, penso em registrar por escrito, o que seja talvez uma espécie de… ditirambo, sei lá, alguma coisa que justifique, faça jus à vida do meu pobre amigo. Infelizmente, a oportunidade me chega em hora de pesar. Mas, é noite, acabo de jantar, sento-me à escrivaninha e começo a registrar o que começo a conceber como um apanhado geral da vida de Carlos MacCaco, que se pode resumir nos primeiros anos em que, órfão, foi acolhido na casa de Totó, a fuga ainda adolescente e os anos de aprendizagem.”