As memórias são plantadas em nossas mentes ao longo da vida. Boas lembranças regadas são como jardins floridos, quintais cheios de fru...
Memórias plantadas
MONÓLOGO Pode ser meia a dor que te consome? Viver, apreender palavras, guardá-las no silêncio. O mormaço já est...
As mãos postas
A vogal é par, a consoante é impar – azulejos – na casamata do poema.
Agradecer é uma virtude que muitas vezes esquecemos em meio aos desafios do dia a dia. É fácil cair na armadilha da reclamação e deixar...
Com gratidão construímos um caminho diferente
O Tema da redação do Enem 2023- 'Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Br...
Desafios do cuidar e o ''Maternalismo''
A arte está presente no ser humano a partir do seu nascimento. Ela se expressa na História da humanidade desde a origem da civilização...
Teorias e funções da Arte
No caminho para o Sertão, já nas proximidades do limite da Paraíba com o Rio Grande do Norte, nos deparamos com um bonito lugar, fasc...
No caminho de Jericó
Na cidade de Jericó, homônima da antiga Jericó bíblica, me deu vontade de ficar ali por mais tempo, esperar manhãs para colher o sol ao surgir por detrás de colinas, e no entardecer, recolher paisagens como mensagens espirituais.
Não estamos sós: a Terra, como nós, é setenta por cento água e parte dessa nossa parte está, sempre, irreal, a levitar,...
Quase que só vitrais...
Natal é tempo de dar e receber presentes. Sei que o espírito da festa se expressa melhor em dar do que em receber. Trata-se de uma...
A quem presentear
O poder político mantém certas ideias para gerir uma nação e desenha caminhos fartos de opções no cotidiano do povo, à espera de sua co...
Trama subjetiva nas mentes
O poder da biologia carrega em suas raízes a capacidade de escrever a data de seu velório. Já o poder espiritual sustenta a igreja com determinadas regras e posturas limitadas pela fé. Substancialmente diferenciado, com espírito e alma aos pés de sua prole,
O caderno de desenho sobre a carteira. Tempo de primário, lápis apontados, desenhos por colorir. Figuras diversas: bichos, gente, coisa...
Palhaço de caderno
Os chamados medalhões existem desde sempre. Mesmo nas cavernas já existiam aqueles que queriam parecer importantes, distintos e respe...
O bruxo e os medalhões
Não aprendi música. Nem realejo toquei, mas como devo a suas aparições nalguns momentos em que de mim próprio senti-me abandonado!
Ouvindo de memória
O problema do mal tem implicações práticas na experiência humana, provocando um diálogo interdisciplinar sobre o sofrimento e a busca p...
O mal
Era uma manhã de sol, não me lembro mais qual era o dia da semana, no vão central da pequena capela de Nossa Senhora da Conceição, que ...
Hortêncio e uma manhã de Sol
Nordeste A porta partida em duas Mode não entrar os bicho Lá dentro os dois no cuchicho O tempo contado em luas As alma...
A performance ao piano
A porta partida em duas Mode não entrar os bicho Lá dentro os dois no cuchicho O tempo contado em luas As almas se pondo nuas Rezar, conferir menino O labutar severino O pote uma vela acesa O cururu na frieza Um poema nordestino…
Muitos textos possuem esse título. Mas a violência patrimonial contra mulheres e pessoas idosas nunca deixou de acontecer e, atualmente...
O fio de Ariadne
O assunto está em alta. Até pouco tempo atrás, as mulheres tinham vergonha de expor violência patrimonial e o próprio Judiciário dava à questão um tratamento irrelevante. Por que muitos homens nas suas relações se apropriam e gerenciam o dinheiro de suas mulheres e filhas? É uma extensão do direito de posse e coisificação da mulher e o homem “colhe” os frutos de sua “posse”. Vamos falar novamente sobre aquela que teve um triste fim por não saber quando parar. Tratemos, então, desse tema: a apropriação pelo parceiro.
A história de Ariadne apresenta um significado espiritual e iniciático. Façamos uma análise a partir dos dados exotéricos (com x mesmo), lembrando como muitas de nós, por amor, damos mais do que recebemos.
A bela Ariadne, para conseguir o amor de Teseu, passou por cima dela mesma. Teseu deveria enfrentar o Minotauro, monstro que habitava o labirinto, na ilha de Creta. Buscava a vitória, a glória. Por essa razão, mesmo sem corresponder da mesma forma ao amor de Ariadne, casou-se com ela. Sabia que ela o levaria à glória.
Ariadne, na esperança de ter seu amor correspondido, deu a Teseu um fio para que ele pudesse encontrar o caminho de volta em seu percurso no labirinto. E, assim, ele venceu a luta contra o Minotauro.
Porém, na história, só Teseu levou os louros. Logo após a vitória, ele parte com sua esposa e a abandona numa ilha, retornando para sua pátria.
A partir daí surgem várias versões. Numa delas, o seu amor não era suficiente e por isso resolveu deixar a esposa. Em outra versão, Afrodite, a deusa do Amor, teria se comovido com o desespero da jovem e encarregou Dionísio de desposá-la. Há, também, o relato de que Ariadne morreu e, ainda, a versão de que Teseu quis evitar novos conflitos, caso fugisse com a Princesa. Mas Dionísio se apaixona por ela.
Na verdade, Dionísio rege os mistérios da iniciação, da espiritualidade e, talvez por isso, também simbolize a embriaguez dos sentidos. Talvez qualquer ser humano sugado em um relacionamento amoroso necessite se conectar com sua espiritualidade para, então, poder se redescobrir.
Em nossa sociedade, vemos vários tipos de Ariadnes. O parceiro, muitas vezes ciente do amor que lhe é depositado, apropria-se das coisas que lhe são postas à disposição por aquelas que não sabem haver limites para amar. Essas Ariadnes são aquelas pessoas que, com medo de perder o amor do outro, se submetem a qualquer coisa. Tornam-se objeto e posse do outro.
Na condição de coisa, o outro pode se apropriar de seus frutos, sejam eles quais forem. No direito civil, vemos que um dos efeitos da posse é justamente a percepção dos frutos. Quando o possuidor está de boa-fé, os frutos já percebidos continuam consigo. Quando de má-fé, esses frutos devem ser devolvidos ao verdadeiro possuidor, dono.
Mas, na vida real é assim? Seria se, em nossa sociedade, não vivêssemos tantas incertezas nos relacionamentos descartáveis, nos quais as ameaças e medos de um fim não fossem o impulso das vontades. Seria se o parceiro não se desfizesse do sentimento e ameaçasse o outro com finais e abandonos.
São formas de apropriação inevitáveis. É comum, nas classes média e baixa, vermos bares e restaurantes em que todas as pessoas da família trabalham. Porém, quando nessa família existe um pai ou um marido, o nome do empreendimento tem o nome dele. Mulheres só dão nomes a bares e restaurantes quando trabalham sem auxílio de marido ou companheiro. Em regra, o nome de fantasia é sempre o do homem.
Essas mulheres encontram-se na cozinha ou nos serviços gerais, trabalhando até mais do que seus parceiros, do que seus pais. Elas são pessoas invisíveis. Mulheres cuja mão de obra é associada ao nome do homem e não aos delas. São mulheres que ajudam a crescer um empreendimento, mas que não são vistas. São trabalhadoras gratuitas em nome do que a gente considera a família tradicional, heterossexual e patriarcal, em que o homem comanda e se apropria da força de trabalho feminino.
Também constatamos esse tipo de comportamento quando observamos casais jovens e pobres. O homem pobre decide se casar com uma mulher pobre, mas que tenha força de trabalho para construir, com ele, um patrimônio considerável, que, mais tarde, dará a ele status e poder econômico. É igualmente comum que esse mesmo homem troque sua companheira por outra que possa dar visibilidade ao poder.
São muitas as Ariadnes. E os homens também podem ser Ariadnes. Ariadne é uma condição do ser humano carente, que entrega tudo o que tem, inclusive seu poder de barganha, sua força, sua mão de obra, em troca de um amor que possa ser correspondido. São pessoas que temem dizer “não” e receiam perder aquilo que talvez nunca tenham tido. São pessoas que dão presentes e tudo que possuem para conquistar um amor interesseiro. Talvez, qualquer dia, essas pessoas sejam abandonadas em alguma ilha.