O ra, ora, indagará você: Quem é Sabiniano e quais são as suas superstições? Ele, Sabiniano Maia, foi um homem admirável. De estatura baixa...


Ora, ora, indagará você: Quem é Sabiniano e quais são as suas superstições? Ele, Sabiniano Maia, foi um homem admirável. De estatura baixa, calvo e de uma voz mansa. Mansa a voz, manso o comportamento. Nunca o vi zangado. Católico até os ossos, era o que se costuma dizer: um homem em paz com a sua consciência. Chegaria a acrescentar: temente a Deus, como também se costuma dizer, embora, erradamente, pois Deus não é nenhum Satanás para impor medo, sobretudo aos próprios filhos. Deus é amor.

Mas vamos adiante. Sabiniano era político, mas um político honesto, incapaz de uma desonestidade, de um desvio de verba, tão comum hoje em dia. E lembrar que ele era dado às letras. Escreveu livros e foi jornalista. Tanto é assim, que foi convidado para diretor deste jornal, A União, na época da Ditadura. Quem governava o Estado, naquele tempo, era o desembargador Severino Montenegro. Foi quando o nosso tradicional matutino ficou reduzido ao Diário Oficial. Pois bem, Sabiniano, que gostava muito de mim, chegou ao ponto de dizer: “o Diário é oficial, mas vou ver se abro um pequeno espaço para uma crônica sua”. Aí eu vi que o homem me tinha muito apreço.

Sabiniano, como já disse, era político e como político exerceu o cargo de prefeito em Campina Grande e Guarabira, se não me engano. E como edil foi de uma honestidade Admirável. Nenhum deslize. O dinheiro público para ele era sagrado como a hóstia, já que ele era um fervoroso católico.

Alma sensível, Sabiniano, vez por outra, escrevia uma crônica. Crônica suave e lírica. E escreveu livros, inclusive um intitulado “Superstições”, editado pelo jornal católico “A Imprensa”.

Mas foi Altimar Pimentel, que num texto chamado “Dia do Folclore”, analisou a obra de Sabiniano, concluindo com as seguintes palavras: “Muitos foram os que escreveram sobre as nossas tradições populares. José Américo de Almeida, Coriolano de Medeiros, Mário de Andrade, Ariano Suassuna, e Sabiniano Maia.

E as tradições estão muito bem ilustradas em “Superstições”. O livro é gostoso de ler. A pesquisa de Sabiniano foi longe. Lendo-o é que percebemos como somos supersticiosos. Vejamos algumas que andei pescando no seu livro, que está a merecer uma reedição.

Mas para encerrar, vejamos algumas superstições: “Criar pombos dá azar”; “Gato miando no telhado também”; “Coceira na palma da mão traz dinheiro”; “Entrar com o pé direito em casa, sempre traz felicidade”; “Canto de grilo traz dinheiro”; “Quem passar debaixo de um arco-íris muda de sexo” - ora vejam só...

São numerosas as superstições populares anotadas por Sabiniano. Só assim ele esquecia o prosaísmo dos relatórios de prefeito.

T em vez que desejamos fazer um jejum de gente, isto é, ficar sozinho. Sozinho não, que ninguém fica só. Quando não tem ninguém para convers...

Tem vez que desejamos fazer um jejum de gente, isto é, ficar sozinho. Sozinho não, que ninguém fica só. Quando não tem ninguém para conversar, conversamos conosco. Há um outro dentro da gente, que, às vezes, nos censura, discorda de nós, mas que também nos aplaude. Esse alguém é a consciência, que não morre, que nos acompanha quando nos tornamos espírito, que beleza! Para os que acreditam que com a morte tudo se acaba, principalmente a consciência, o que fizeram de bem ou de mal não importa, porquanto ninguém nos cobra do que fizemos. Não há responsabilidade no nosso viver, pois com a morte tudo se transforma no nada... Mas, quem acredita que a consciência perdura, que o espírito sobrevive ao corpo, aí a coisa muda.

Dizem que existem céu e inferno. Céu para os bons e inferno para os maus. E o mais grave é que esse inferno é eterno. Deus nem tem pena daqueles infelizes, criados por Ele. Ora, aqui para nós, o inferno é uma consciência culpada, e o céu o contrário. O remorso é um fogo, que vai diminuindo, graças ao arrependimento. Um pensador já disse que a felicidade é a consciência tranquila. Eis uma grande verdade.

Voltando ao começo, é quando estamos sozinhos que conversamos com nossa consciência. Daí a necessidade de silêncio e de solidão. Barulho é para quem deseja livrar-se do diálogo com a consciência. Barulho, álcool, droga, diversão, são meios usados para esquecermos a nós mesmos. E o trabalho também é um excelente entorpecente.

Talvez, eu esteja dizendo o óbvio. Mas não custa nada repetir. É a consciência, na sua mudez, no seu silêncio , que nos condenará ou absolverá. E para isso não faltam promotor para acusar, advogado para defender e juiz para julgar.

Por que uma pessoa se suicida? Sem dúvida, mordida por um remorso. Para quem não acredita na vida depois da morte, o suicídio se torna uma excelente fuga.

A solidão, às vezes, é uma beleza. Só assim conversamos conosco. Sim, porque numa festa, num lugar barulhento, com a cuca cheia de álcool, seja de cachaça ou de uísque, o nosso verdadeiro eu está esquecido.

Depois da festa, da diversão, do esquecimento, a grande indagação é aquela do poeta-filósofo Drummond: “E agora, José?”

É a tal coisa: depois da diversão vem a reflexão. E é aí que a consciência fala.

F ui testemunha de sua presença, aqui na nossa capital. Vindo de Alagoa Nova, com quatro anos de idade, para aqui morar, foram os bondes que...

Fui testemunha de sua presença, aqui na nossa capital. Vindo de Alagoa Nova, com quatro anos de idade, para aqui morar, foram os bondes que mais me chamaram a atenção. Veículo seguro, limpo, nada de fumaça, o bonde corria seguro sobre os trilhos, quase sempre apinhado de gente. Gente sentada nos bancos, gente trepada nos estribos, gente pobre, gente rica, era gostoso ser passageiro dele, com o motorneiro lá na frente, e o cobrador, vez por outra, chegando para a cobrança. Aquela zoada fazia a gente dormir. Bondes para todos os bairros: Tambiá, Trincheiras, Cruz das Armas, Varadouro, que descia até o comércio da rua Maciel Pinheiro.

Muita gente gostava de pegar o veículo em movimento, o que implicava num grande perigo. Mas isso ficava para os mais jovens. Chamava-se “amorcegar” o bonde. Gente da alta sociedade não escolhia outro transporte. E uma senhora, professora, e, por sinal solteirona, pelo fato de haver alcançado o veículo, em movimento, e ter gritado “peguei-te”, ficou com esse apelido. Passaram a chamá-la, simplesmente “Dona Pegueite”. Foi o preço do seu arrojo.

Mas a verdade é que o bonde era o transporte mais procurado por todos, sobretudo pela segurança que ele oferecia. Ainda não havia táxis. Havia os carros de aluguel, que ficavam na praça do Ponto de Cem Réis, aguardando fregueses.

Se você desejava dar um passeio, lendo um livro ou um jornal, o bonde era a melhor opção. Um passeio terapêutico. Tinha gente que ia até o fim da linha saboreando aquele momento de muita paz. E não faltava namoro, namoro que terminava em casamento, como foi o caso do memorável arquiteto Clodoaldo Gouveia, com a sua Isaura, minha sogra.

Viajar lendo, viajar dormindo, viajar sonhando, viajar refletindo, o bonde proporcionava tudo isso. Vez por outra, o bonde parava para mudar o trilho, E quem fazia esse serviço era o motorneiro. Não me esqueço de um cobrador que apelidaram de “Caju Azedo”. Ora, vejam que maldade...

Bonde, que depois alcançou a praia de Tambaú, naquele tempo ainda deserta, só sendo procurada pelas famílias ricas para o chamado veraneio.

O bonde não chegava para quem queria. E como era gostoso ouvi-lo, altas horas da noite, correndo pelos trilhos! Todos os bondes desaguavam no Ponto de Cem Réis. Era a sua parada obrigatória.

O escritor Ascendino Leite, no livro “Minha Cidade” relembra, com muito humor, a presença daquele transporte na nossa vida cotidiana, e a chegada festiva dos bondes ao Ponto de Cem Réiis. cujos trilhos foram, estupidamente, arrancados, quando ainda hoje o bonde marca presença nas grandes metrópoles estrangeiras.

Agora é encerrar a crônica com o título acima: “Ah, sim, os bondes!” Bondes que ainda correm na imaginação do cronista. Bondes de “Pegueite”, de “Caju Azedo”. Bondes de todas as classes sociais. Bondes bons para pensar, refletir, sonhar, namorar.

Se você chegou até aqui, certamente está procurando um texto curto e simples para ler, em inglês, com o objetivo de aprender um pouco mais ...

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Se você chegou até aqui, certamente está procurando um texto curto e simples para ler, em inglês, com o objetivo de aprender um pouco mais o idioma. Comece, então, por essa pequena história.

E u estou ansioso para vê-la. Eu ou ele? Acho que é ele, o menino que ainda há em mim. Mas, ela veio de longe. Nasceu numa selva. Não sei se...

Eu estou ansioso para vê-la. Eu ou ele? Acho que é ele, o menino que ainda há em mim. Mas, ela veio de longe. Nasceu numa selva.

Não sei se foi casada. Viveu muito tempo trabalhando para os outros, sem receber gratificação. É verdade que foi muito aplaudida pelas multidões de vários países. Mas o que ela desejava mesmo era viver no país onde nasceu. Melhor dizendo, viver no seu habitat, longe das multidões, dos refletores, do barulho.

O leitor perspicaz, sem dúvida, já sacou. Estou me referindo à elefanta que veio morar em nossa cidade e que está se preparando para se apresentar ao público. Está hospedada, como já noticiaram, no Parque Arruda Câmara, ainda se aclimatando, para depois se apresentar ao público, notadamente, ao público infantil ou aos adultos com espírito de criança.

As nossas colunas sociais, a começar pela do amigo e vizinho de página, Abelardo Jurema, não noticiaram a sua chegada à nossa capital. Mas não faltará oportunidade para que o colunismo social lhe dê o merecido destaque à aparição pública da mais nova pessoense. E eu já estou imaginando a nossa elefantazinha sendo objeto do noticiário, não só dos jornais, da TV, mas até da Internet. Tomem nota do que estou dizendo, a nossa, hoje paraibana elefantazinha (que tal promovermos um concurso para a escolha de seu nome?), vai se constituir numa das nossas melhores referências turísticas. O menino que há em mim está ansioso para vê-la, agora no seu verdadeiro ambiente. Não mais num circo, mas rodeada de árvores e outros animais.

O prefeito Cartaxo não deve ficar indiferente ao acontecimento turístico e ecológico. Espero vê-lo no parque, na ocasião de seu debut. Mais ainda, espero vê-lo fotografado junto da agora paraibana elefantazinha. O próprio governador Ricardo também deve estar presente ao poético evento.

Mas vamos terminar a crônica. Que o atual diretor do Parque Arruda Câmara procure dar maior realce a essa aparição pública da nossa elefantazinha. Que os nossos colégios levem as crianças até aquele paraíso verde, que espero não esteja contaminado pela poluição sonora e outras sujeiras.

E o nome da jovem? Repito: que tal um concurso para sua escolha? Mas, o importante, agora, é a sua aparição pública. Vamos vê-la?

D epois da Rua Nova, que motivou tantas evocações que o tempo ainda não conseguiu apagá-las, que tal apertarmos a memória e desvendar outros...

Depois da Rua Nova, que motivou tantas evocações que o tempo ainda não conseguiu apagá-las, que tal apertarmos a memória e desvendar outros caminhos adjacentes e que tanto me encantaram, a começar pela Igreja São Francisco, cujo pátio mereceu minha reverência, mas que eu, juntamente com a meninada de minha infância, fi-lo campo de futebol? Campo de pedra e não de grama. Pedra histórica, mística, merecedora de nossa reverência. E a meninada correndo pra lá e pra cá, gritando e muitas vezes soltando nomes feios. Lá no alto a histórica igreja, com o seu convento, nos convidava à reflexão, à oração, ao silêncio. E que dizer daqueles azulejos evocando passagens do Evangelho? E do chão histórico, pisado por numerosos padres e freiras?...

A igreja agora olhava, não para a Rua Nova, mas para a profana Duque de Caxias, onde o Carnaval era a maior atração, que, a exemplo de sua vizinha, a Rua Nova, mantém, ainda, seu aspecto colonial, e esbarra na praça João Pessoa, famosa por suas retretas, e que já foi jardim publico, toda cercado de grades.

Carnaval na Rua Direita, com seus blocos, lança-perfumes, confetes, serpentinas. Com as pessoas nas janelas dialogando com as do corso. O tradicional carnaval era, sem dúvida, a maior atração turística da Capital. Mas a Rua Nova não a invejava. De festa bastava-lhe a da Padroeira. Não invejava nem os bondes que corriam nos trilhos da Rua Direita até o Ponto de Cem Réis.

Os bondes, por que diabo arrancaram seus trilhos? Bondes que corriam por toda a cidade: Tambiá. TrIncheiras, Comércio, Tambauzinho. Bondes, coisa do passado? Mentira. Até hoje as modernas capitais européias os mantêm. Transporte seguro, limpo e por que não dizer: poético.

E a Lagoa, lá no belo Parque Sólon de Lucena, que também tem a sua história? Foi lá que meu pai comprou um sítio, paraíso de minha infância, e onde acampavam os circos que vinham de fora, para alegria da meninada e desespero dos gatos. E por que o desespero? Ora, ora, é que o dono do circo dava entrada gratuita ao menino que trouxesse um gato para matar a fome do leão. Que horror!...

Mas, está bom de encerrar estas notas do nosso cotidiano, que começaram na Rua Nova e terminaram na Lagoa. A verdade é que em matéria de festas, a Rua Nova e a Duque de Caxias foram insuperáveis. Só a Festa das Neves ainda tenta perdurar, conquanto sem aquela beleza de outrora. Que me diz o grande cronista das nossas evocações, o arguto e lírico Carlos Pereira? E, aqui pra nós, depois que descobriram Tambaú, a cidade sofreu grande mudança na sua vida social.

Carnaval na antiga Rua Direita, Festa das Neves, na Rua Nova, retretas na praça João Pessoa, do jeito como eram, agora não passam de um sonho...

Eles fumavam e bebiam muito uísque e conhaque. Portavam pistolas e lâminas fatais, guardadas elegantemente no bolso interno do paletó. Mas...



Eles fumavam e bebiam muito uísque e conhaque. Portavam pistolas e lâminas fatais, guardadas elegantemente no bolso interno do paletó. Mas, por outro lado, não falavam palavrões... não ficavam dizendo termos vulgares a cada cena. Era assim o chamado Film Noir. Boas histórias detetivescas, com excelentes interpretações, envoltas em mistérios e muitas sombras.

A nunciada a sua vez de falar, ele ergueu-se da mesa, sem muita pressa, mas com um sorriso de homem em paz com a vida. Pegou o microfone e c...

Anunciada a sua vez de falar, ele ergueu-se da mesa, sem muita pressa, mas com um sorriso de homem em paz com a vida. Pegou o microfone e começou sua palestra. O tema era sobre paz, saúde e amor. Que trindade temática admirável. E ilustrou sua fala com vários slides. A voz mansa já era uma mensagem de paz. Contagiada com aquele clima, a assistência atenta não perdia uma palavra do orador.
Disse ele que a paz é fruto do amor fraternal, que o ódio é que faz o homem adoecer. Que a maior terapia de todos os tempos é o amor. Ensinou ainda que há necessidade de, vez por outra, a gente lançar um olhar retrospectivo, um olhar para dentro de si, e constatar nossos erros. E citou Santo Agostinho que recomendou uma conversa consigo mesmo, antes de dormir. Lembrou ainda as bem-aventuranças do Sermão da Montanha proferido por Jesus, aquele sermão que, segundo Gandhi, substituiria todas as bibliotecas do mundo.
Paz e saúde. Paz de espírito, saúde do corpo. E nunca um palestrante se identificou tão bem com o tema. Ele mesmo, o orador, era aquilo que falava. Um homem de muita paz com a sua consciência. Nunca se irritou, nunca falou mal de alguém, nunca demonstrou desânimo, nunca, ao pegar no arado, olhou para trás, como lembra o Evangelho.
Numa palestra, vez por outra, alguém não resiste ao sono, a um ligeiro cochilo. Mas, sob o efeito de sua palavra, todos os assistentes estavam atentos e silenciosos.
A verdade é que o mundo, cada vez mais, está carente de saúde e paz. Que gritem os jornais, o rádio, a TV, a Internet. Mas o Mestre disse que aquele que perseverasse até o fim, seria salvo. A solução portanto, está na receita: “Orai e vigiai para não entrardes em tentação”. A tentação do ódio, do orgulho, do egoísmo, da inveja, da maledicência.
Mas ele está acabando a palestra e eu a crônica. Deixou o microfone, voltou a ocupar a cadeira onde esteve sentado, numa sutileza de quem caminha sobre nuvens. Ele não é outro senão Marcos Lima, atual presidente da Federação Espírita Paraibana, Nunca a palavra sintonizou tão bem com o exemplo. Esqueci-me de dizer, ele toca violão que é uma beleza. Canta e toca. Só vendo e ouvindo. Mais esta: vestia camisa escura, decerto, para falar claro...

S eu nome mesmo era José Lins do Rego. Popularizaram-no para Zé Lins. E o primeiro livro que me chegou às mãos e aos olhos foi “Menino de E...

Seu nome mesmo era José Lins do Rego. Popularizaram-no para Zé Lins. E o primeiro livro que me chegou às mãos e aos olhos foi “Menino de Engenho” - Que delicia de leitura! Como desejei ser aquele menino. Mas, cá pra nós, minha infância, lá no sítio da Lagoa, foi muito mais bonita.

E sabe quem me deu o livro? Minha mãe, a quem devo o gosto pelas letras. Graças a ela, grande contadora de histórias, minha infância foi uma beleza. E quando eu adoecia de asma, era ela quem, sentada na cama ia excitando a minha imaginação com belas histórias. História de bruxas, de fadas, de bichos que falam, de feiticeiras, de papa-figos, de princesas... Eu gostava tanto dessas narrações, que chegava a desejar que a asma se prolongasse.

Voltando a Zé Lins, cujos livros devorei, sabendo que se tratava de um paraibano, aí foi que me tornei não apenas um leitor, mas um admirador. E o que mais me fascinava era a leveza da linguagem. O homem escrevia como respirava. Uma linguagem linear. Diziam que ele claudicava um pouco no português, diferente de Graciliano Ramos. Ambos frequentavam com assiduidade a livraria José Olimpio, no Rio, e, certo dia, quando lá estavam, apareceu uma jovem atrás de comprar uma gramática portuguesa. Mal a jovem acabou de falar, Zé Lins interveio com muito humor, dizendo para o livreiro: “Se não tiver uma gramática, um livro de Graciliano serve”. A risada foi geral.

José Lins do Rego! Como o admirei e admiro. Uma grande alegria na minha vida foi quando era repórter do jornal A União e fui entrevistá-lo, numa casa lá na Duque de Caxias. E fiquei muito feliz quando o ouvi dizer, lá do interior da casa: “É A União que quer me entrevistar? Quanta honra!” Estava eu, frente a frente, com o autor de ”Menino de Engenho”, livro que deleitou minha infância. Este foi um grande momento na minha vida.

Sua personalidade de homem simples, que escrevia como quem respira, era o que me encantava, assim como aquele seu entusiasmo pelo Flamengo carioca. Um entusiasmo de menino. Ele, que nunca deu um chute numa bola...

Zé Lins era assim, ora alegre, ora triste, sem formalismos, sem protocolo, sem fingimento. Álvaro Lins, rigoroso critico, quando leu “Fogo Morto” do escritor paraibano, bradou, entusiasmado, que se tratava de uma “obra-prima”.

O site WorldMapper apresenta uma curiosa relação de mapas políticos, mostrando os territórios dos países de acordo com as suas respectiva...



O site WorldMapper apresenta uma curiosa relação de mapas políticos, mostrando os territórios dos países de acordo com as suas respectivas classificações nos mais diversos temas.

A Rua Nova dorme o seu sono histórico, com suas casas de portas e janelas agarradinhas umas às outras, mergulhadas num silêncio místico, gr...

A Rua Nova dorme o seu sono histórico, com suas casas de portas e janelas agarradinhas umas às outras, mergulhadas num silêncio místico, graças aos seus templos. Quase não passa carro, ali. As janelas, quando se abrem, é para os mais idosos. E das janelas eles alongam o seu olhar triste e cheio de saudades.
Mas, numa certa manhã, eis que aquele silêncio monástico é perturbado por batidas de martelos. O que está havendo? A garotada logo percebe: estão construindo os pavilhões da Festa das Neves. E haja menino na rua para saudar a novidade. Festa das Neves, Festa da Padroeira, festa que faz a Rua Nova transformar-se na grande atração da cidade. Que a Rua Direita, hoje Duque de Caxias, morra de ciúme de sua vizinha. Mas, por que ciúme, se ela é palco do Carnaval, com confetes, serpentinas e lanças-perfume?
Agora, não é apenas o sagrado que domina a Rua Nova, mas o profano também. São nove dias de alegria. A meninada não cabe em si de contente. A tinta nova dos pavilhões cheira que é uma beleza. As casas já não estão mais fechadas. Muita gente nas janelas olhando os pavilhões se erguendo, emprestando novo visual à velha rua.
Saber que toda a cidade virá participar da tradicional festa... Não se fala nem se pensa noutra coisa. E eis todos os pavilhões já prontos. O maior deles é para a elite. Moças lindas, cavalheiros elegantes exibindo os melhores vestidos e roupas. Gente da elite. E quantos namoros!
Mas a tradicional festa tem suas discriminações. Discriminações sociais. No tradicional passeio pelas largas calçadas, os mais pobres andam pelo lado do Convento São Bento, enquanto os ricos utilizam a outra calçada. Por que esta distinção, esta separação? Nunca ninguém explicou esse natural e espontâneo comportamento.
Era belo ver as pessoas passeando nas calçadas pra lá e pra cá, e as janelas apinhadas de gente. Quanta paquera! Haja sorrisos e mangações... As janelas ficavam apinhadas de pessoas da casa e de fora. E isto ia até meia noite, terminando com a missa na Catedral.
Além dos passeios nas calçadas e divertimentos nos pavilhões, havia a famosa Bagaceira, que ficava lá pelas imediações da Catedral. Ali, a bebedeira dominava. Não esquecer as comidas, o cachorro quente, o amendoim, a pipoca, o algodão doce e tantas outras guloseimas. Dominava o profano, bem junto do sagrado.
Curioso, tanta gente, e nunca se ouviu uma confusão, uma briga, que exigissem a presença da polícia. A Festa transcorria na maior tranqüilidade. E enquanto durava a festa, as janelas continuavam escancaradas. Até os mais idosos iam pra cama mais tarde.
Faltei de lembrar um dos maiores atrativos da Festa: os seus bem feitos jornalzinhos, cheios de humor, mexendo com muita gente.
Mas está na hora de encerrar a crônica, pois a Festa também acabou e uma profunda tristeza domina a velha rua. O silêncio agora é quebrado com as batidas do martelo na madeira. Os pavilhões já estão sendo demolidos.
As janelas voltaram a se fechar. Tudo agora é silêncio. Ainda bem que as meninas do Colégio das Neves voltarão a animar a velha rua, todas as manhãs, com seus sorrisos, suas gargalhadas, sua ânsia de viver.
Agora dá para se ouvir o canto dos galos, nos quintais das casas de porta e janelas. Agora o relógio da Catedral está dizendo que tudo passa na vida, menos a saudade. Agora, o sagrado domina o profano.

T udo o que eu disse, até agora, sobre a Rua Nova foi pouco. A rua da minha adolescência, a rua-museu, a rua que guarda em suas calçadas min...

Tudo o que eu disse, até agora, sobre a Rua Nova foi pouco. A rua da minha adolescência, a rua-museu, a rua que guarda em suas calçadas minhas lembranças, a rua que, por milagre, ainda continua, quase a mesma. Ninguém até hoje teve a coragem de derrubar uma de suas casas, de porta e janela, sem vigilantes, ainda com suas salas de visita. Qualquer pessoa podia bater palmas e gritar “ô de casa”, que alguém respondia: “ô de fora”. E tudo corria na paz do Senhor, com o relógio da Catedral avisando o passar das horas. As calçadas largas, cheias de sombras, serviam de campos de futebol para a meninada. E a bola não era de couro, mas de borracha ou de meia.
O silêncio era sólido. As pessoas deslizavam numa mansidão de sombras. Freiras e padres era o que mais se via. E a meninada quando avistava um padre, com sua batina preta, corria para ele, pedindo “santinhos”. Mas o bonito mesmo era a missa dos domingos, com os fiéis passando para a Catedral, muito bem vestidos. Muita gente indo para as janelas para ver e criticar os passantes. Os das janelas e os da rua se olhavam, se cumprimentavam. Ainda se dava um respeitável “bom dia”. Hoje não se usam mais os cumprimentos anunciando as horas. Hoje os homens viraram robôs. Ontem, tirar um chapéu era um gesto elegante e respeitoso.
E haja fofocas, críticas, sorrisos. O sino chamando o povo para a missa e quase todas as janelas ocupadas. Havia até mulher idosa usando binóculos para verem as pessoas de perto. Ah, a curiosidade humana! Mas isso era só aos domingos. Os dias comuns eram de silêncio.
Outro grande acontecimento, que tirava o silêncio da Rua Nova era a Semana Santa. A catedral se enchia. E haja jejum, nada de comer carne. Os santos todos vestidos de roxo. Uma tristeza mística tomava conta do templo. E na Sexta Feira Santa, a semana terminava com um longo sermão proferido defronte da Igreja de São Bento, em que se evocava Maria, a mãe de Jesus, com muitas lágrimas no rosto. Se não me engano, esse sacerdote se chamava João de Deus.
Rua Nova, hoje General Osório, não passa de um museu urbano. A cidade de ontem está, ali, naquela calçada, naquelas casas de porta e janela, naquele silêncio ainda místico.
E agora, me chega à lembrança um fato que me encantava os olhos e fazia vibrar meu coração. A saída das meninas do Colégio das Neves, ao lado da Catedral, defronte da estátua de Nossa Senhora de Lourdes. As garotas fardadas de blusa branca e saia azul, enchiam a rua com as suas risadas, a sua alegria, a sua juventude. Iam ao colégio sozinhas e muitas delas voltavam acompanhadas dos namorados. Nada de namoro perto do colégio, que as freiras proibiam. O policiamento do colégio era severo. Os rapazes sabiam disso e ficavam, de longe, esperando as namoradas. Meninas lindas, morenas, loiras e abrindo-se para o mundo com a sua alegria, seus sorrisos. Evidente que a Rua Nova também se contagiava com aquela euforia das adolescentes do colégio mais badalado da época, colégio de meninas ricas, cujo prédio ainda hoje existe e onde funciona uma faculdade de medicina.
Rua Nova... Por que diabo mudaram o nome para General Osório, que nem conheceu aquela rua, e que, decerto, nunca esteve na Paraíba? Mas, e a badalada Festa das Neves? Ah, sobre isso tenho muito o que dizer. Aguardem!

S im, eles são mudos. Melhor dizendo, eles falam, mas em silêncio. São centenas deles, aqui, à minha disposição. Não sei se gosta...

Sim, eles são mudos. Melhor dizendo, eles falam, mas em silêncio. São centenas deles, aqui, à minha disposição. Não sei se gostam de ser consultados, já que dormem, num gostoso silêncio. E com que alegria e orgulho são lembrados pela curiosidade do saber. Curiosidade que é fome de conhecimento. Sim, eles nos ensinam. Sem eles, seriamos ignorantes. E haverá maior desgraça do que a ignorância?
Com eles, não estou só. Dizem os apressados que os nossos mudos vão se acabar fisicamente. Vão ser todos virtuais. Mas eu fico duvidando... Ariano Suassuna, no seu eterno humor, disse que estar em sua companhia, deitado na cama, é uma delícia.
Mas voltemos ao que eu estava dizendo no começo sobre esses mudos que falam. Estou aludindo aos livros. Que adorável mutismo! Leitura, não esqueçamos, exige silêncio. Eis porque não admito uma livraria que venha perturbar esse silêncio. Ler é como orar. Jesus quando desejava se comunicar com o Pai, procurava um lugar deserto e silencioso. E assim nos ensinou a orar. Deus não fala através do barulho.
Entro na minha biblioteca como quem entra num mosteiro. Os livros dormem mas prateleiras e só despertam quando começamos a lê-los, isto é, a puxar conversa com eles. De música, só se for baixinho e que induza à reflexão. Que tal a Sonata ao Luar de Beethoven ou Clair de Lune de Debussy?
Livraria com música alta não dá. Logo agora que elas oferecem recantos com poltronas para a leitura. Lá em Lisboa visitei uma que era uma ilha de silêncio. Mais ainda: havia um espaço reservado à leitura com suave música ambiente. Que delícia. E os livros, estes mudos que falam, não perturbam o sossego.
E que tal esta bem-aventurança que não está no sermão inaugural de Jesus: “Bem aventurados os que lêem bons livros porque se diferenciam dos brutos”. E termino com este slogan do grande livreiro de Campina Grande, o saudoso Pedrosa: “faça do livro seu melhor amigo”.
E, aqui vão os aplausos ao amigo Heriberto, do “Sebo Cultural”, pela campanha que está empreendendo em favor da criança, cujos pais devem estimular o gosto pela leitura, a boa leitura.

Eis aqui um passatempo interessante para os beatlemaníacos: ouvir as músicas dos quatro fabulosos com a parte vocal isolada dos sons instr...



Eis aqui um passatempo interessante para os beatlemaníacos: ouvir as músicas dos quatro fabulosos com a parte vocal isolada dos sons instrumentais.

A ntes de fazer a costumeira visita aos livros, o rapaz da livraria começou a puxar conversa comigo. Foi um papo gostoso, pois ele, além de ...

Antes de fazer a costumeira visita aos livros, o rapaz da livraria começou a puxar conversa comigo. Foi um papo gostoso, pois ele, além de inteligente e perspicaz, era muito viajado. Conhecia várias capitais do país, inclusive Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis, justamente as que eu não conhecia, conquanto já estivesse ligeiramente em Belo Horizonte e Ouro Preto, há muito tempo.
O jovem sabendo que eu já visitara várias capitais estrangeiras, disse sorrindo: “Não deixe de visitar Curitiba, a cidade das palmeiras”.
Depois ele começou a elogiar o chão da simpática metrópole. Nenhum buraco, tudo liso e limpo. Aí eu indaguei: você é curitibano? E ele: não, sou apenas seu namorado. E referiu-se à educação do povo. Educação no trânsito, em tudo, sem esquecer o respeito ao silêncio. Nada de barulho, tudo funciona numa harmonia que encanta. Os carros deslizam pelo asfalto que é uma beleza. Avançar o sinal, jamais. Muito respeito ao pedestre. Os carros parece que nem têm buzina, e a gente mal ouve o ruído dos pneus no asfalto. Eu já estava pensando em arrumar a mala para uma visita a Curitiba, quando ele revelou uma coisa que não quis acreditar: que nos ônibus por sinal moderníssimos, ouve-se musica clássica.
E ainda repetiu: “o senhor vai adorar Curitiba”. Não digo adorar, pois adoro minha João Pessoa, de quem hoje sou cidadão, graças à Câmara Municipal, através de um projeto do meu amigo vereador Fernando Milanez.
E continuando a conversa com o rapaz da livraria, ele me lembrou ainda a bela arborização da cidade. Toda vestida de verde, a árvore, ali, não é apenas respeitada, mas reverenciada. Derrubar uma árvore é como matar uma pessoa.
Mas, aqui para nós, minha cidade só precisa de maior atenção das autoridades, mas duvido que seja menos bela do que Curitiba Nossa cidade tem o mar. O mar de Cabo Branco, que, infelizmente, ao que denunciou o meu arquiteto Germano, outro dia, em artigo aqui no Correio, está com a água contaminada...

 Mas o que eu não quis acreditar foi ele dizer que nos ônibus de sua cidade ouve-se música clássica. Já não vamos exigir tanto da nossa capital, que é bela por Natureza, como diz aquela modinha “Sublime Torrão”, do nosso grande compositor popular Genival Macedo.

Q uando eu vim de Alagoa Nova, minha terra natal, para viver na capital, foi na Rua Nova, hoje, General Osório, passando a morar numa casa, ...

Quando eu vim de Alagoa Nova, minha terra natal, para viver na capital, foi na Rua Nova, hoje, General Osório, passando a morar numa casa, hoje demolida, e que ficava onde está, hoje, o “Terceirão”. A casa era espaçosa, e o que mais encantou ao menino de quatro anos foram as amplas janelas. E janelas, naquela época, eram o melhor instrumento de comunicação. Ah, as fofocas na janela! A rua era larga, silenciosa e meio mística, com o relógio da Catedral anunciando as horas.
Mas não demorou muito esse primeiro contato com a Rua Nova, que, se não estou enganado, motivou a minha primeira crônica no jornal A União, sob o título “Rua triste”.
Saímos da Rua Nova e fomos morar num sítio, lá na Lagoa. Um sítio que foi para mim um paraíso. Decorridos alguns anos, eis que meu pai vendeu o sítio e veio residir, novamente, na Rua Nova, o que muito também me agradou. Lembrar que menino adora mudança. Nossa casa ficava defronte do Mosteiro de São Bento. Que silêncio naquele mosteiro! Diziam que lá dentro tinha uma caveira. E não é que um menino, meio doido, achou de penetrar naquele misterioso espaço em busca da risonha caveira. Para decepção dos outros, o afoito garoto chegou de mãos vazias...
E valia a pena ficar contemplando a extensão da avenida, com suas casas, grandes janelas e seu silêncio místico. Gente na janela era o que não faltava, principalmente os idosos. Havia quintais, quintais com suas galinhas, fruteiras e, vez por outra, o triste cantar de um galo. Raramente passava um carro. Mas não faltava um pregão. Pregão do homem que vendia fígado, que vendia pitomba e ainda acrescentava: “chora, menino, para comprar pitomba”.
A Rua Nova era plana e arborizada com fícus benjamina ou oitizeiros, não estou bem lembrado. Era lá que estava a sede da Loja Maçônica, num bonito prédio, guarnecido por duas esfinges de pedra. Diziam que lá tinha um bode preto. Mentira. Meu pai era maçon e desejou me batizar lá. O batismo não era com água, como na Igreja Católica, mas com mel. Que gostosura. Mas meu pai terminou não falando mais nisso.
Agora vejam quantas pessoas ilustres eu vi nas janelas contemplando a rua. Vi, e meu pai foi quem me mostrou, o ex-presidente do nosso Estado Camilo de Holanda. O velho tinha uma bela postura. E parecia que estava assistindo a um desfile de soldados, já que ele era general. Vi o historiador, fundador da nossa Academia de Letras, Coriolano de Medeiros. A cabeça bem alva. Vi o escritor De Castro e Silva, o primeiro a escrever sobre o poeta Augusto dos Anjos. Como vêem, as janelas, numa época em que não havia TV, constituíam um meio de sair de casa sem sair.
Não esquecer a bela casa, que ficava junto de uma ladeira e que pertencia ao professor de piano Gazzi de Sá, cuja escola gozava de um grande conceito em nossa terra. Todas as moças da alta sociedade eram suas alunas.
Havia na Rua Nova um belo sobrado, onde, ao que dizem, morou o escritor Virginius da Gama e Melo. Infelizmente o sobrado foi demolido.

 A Rua Nova, depois do sítio da Lagoa, foi meu paraíso urbano. Foi no batente do Mosteiro de São Bento que li toda a coleção do grande Monteiro Lobato. E tanto me empolguei com sua leitura, que esquecia até a horas das refeições. O silêncio da rua propiciava a leitura. Silêncio, vez por outra, interrompido pelo sino da Catedral...