A s batinas de antigamente eram pretas. A Igreja evoluiu e elas desapareceram. O sacerdote, então, passou a usar roupa como os demais homens...

As batinas de antigamente eram pretas. A Igreja evoluiu e elas desapareceram. O sacerdote, então, passou a usar roupa como os demais homens. Mas, falemos dos padres da batina preta que cruzaram o caminho de minha existência. Foram tantos! E muitos deles me ensinaram muita coisa. É o caso de dizer, não é o hábito que faz o monge.

E eu não sei por onde começo. Ah, já sei, vou começar pelo padre Abath, que foi meu vizinho, quando eu vim morar na Rua Nova. Ele ainda era seminarista. Bonito, educado, as meninas do colégio faziam tudo para namorar com ele. O seminarista, porém, só tinha um amor. O amor a Deus. Foi fidelíssimo ao seu sacerdócio. Depois, tornou-se padre, e por algum tempo ocupou o microfone da Rádio Tabajara com suas inspiradas mensagens.

Como disse, ele morava na Rua Nova, vizinha à nossa. Uma residência de espíritas ao lado de uma residência de católicos. Meu pai era presidente da Federação Espírita Paraibana. Meu pai desencarnou, e pouco tempo depois, padre Abath, encontrando-se comigo, disse em voz alta, do outro lado da calçada: “Seu pai foi um santo” Ah, como isto me consolou e como aquele sacerdote cresceu na minha admiração... Padre Abath, jamais o esquecerei.

Mas vamos a outras batinas pretas. E quem me chega agora à imaginação é o padre Zé Coutinho, estendendo-me a mão e dizendo ’Um dinheirinho para os meus pobres, prezado”. Não, nunca houve na Paraíba um missionário como aquele, um verdadeiro amigo dos pobres, cujo Instituto ensinava muita coisas, a começar pelos cursos de datilografia. Padre Zé Coutinho vestia uma batina meio rota, terminou sua missão aqui na Terra numa cadeira de rodas e munido de uma vareta com que cutucava as pessoas pedindo dinheiro para o seu Instituto.

Curioso, ele, toda vez que se encontrava com o meu pai, a primeira pergunta era: “Como vai teu Espiritismo, Zé Augusto? “Sim, ambos tinham sido colegas no Seminário Diocesano, desta Capital.

Minha gente, padre Zé Coutinho foi um santo, um verdadeiro discípulo de Jesus. Uma batina que só fez amar ao próximo, não apenas com os atos, mas com a palavra, usando o microfone de seu programa na Rádio Tabajara, todos os dias.

Mas vamos a outras batinas. No antigo Liceu Paraibano, tive professores padres, desde o Monsenhor Pedro Anísio que ensinava português; o Monsenhor Odilon Coutinho, professor de matemática; disciplina que não consegui aprender, e o padre Matias, que ensinava Geografia, mas que, um dia, achou de examinar as unhas dos alunos para saber quem as tinha sujas...

E o Padre Matias, político, inteligentíssimo, e, sobretudo, homem de letras? Foi um dos fundadores de nossa Academia. E vou encerrar a crônica com o padre Hildon Bandeira, que tinha horror ao Espiritismo, a ponto de escrever uma série de artigos, no jornal católico A Imprensa, sob o título geral “Guerra ao Espiritismo”. Mas quem enfrentou o padre foi Horácio de Almeida, advogado, homem culto e que adorava polêmica. O padre não resistiu aos argumentos de Horácio, e terminou saindo da polêmica por ordem do arcebispo Dom Adauto.

S im, quem era aquele homem de linho branco, que está ali, a conversar com os amigos, e só ele falava? Estávamos, no Ponto de Cem ...


Sim, quem era aquele homem de linho branco, que está ali, a conversar com os amigos, e só ele falava? Estávamos, no Ponto de Cem Réis, que, naquela naquela época, era uma espécie de pátio cultural, onde se reuniam políticos, jornalistas e escritores, sem esquecer os juízes e os desembargadores.
Naquele grupo, só o homem de branco falava, os outros só faziam ouvi-lo Elegante no vestir, no falar, ele me chamou a atenção. E veio a resposta à minha indagação: aquele é doutor Mário Moacyr Porto, juiz de Bananeiras. E fiquei a imaginá-lo caminhando pelas silenciosas ruas de sua comarca, certamente sem público para ouvi-lo. Mas aquele homem simples sabia pensar e quem sabe pensar nunca esta só.
E eis que chegou a vez de o homem de branco ser promovido a desembargador. Viria agora para a capital. E vez por outra, vestiria uma toga preta.
Foi daí em diante que começou minha amizade com ele. Ele desembargador e eu juiz. Mas ele não via em mim um magistrado e sim um cronista, um homem de letras, um homem de jornal, que era mesmo a minha vocação.
Fomos amigos, para a minha honra. E com ele só fiz aprender. Ele era, sobretudo, um homem de Letras, tanto é assim que terminou aterrissando na nossa Academia de Letras. E, aqui para nós , num cochicho ele me disse gostava de ler minhas crônicas.
Mario Moacyr Porto foi, antes de tudo um homem de muita ética. Um verdadeiro príncipe. Um varão de Plutarco.
Escreveu vários textos de Direito Civil, sua especialidade. Que estilo! Que maneira elegante de dissertar, sem querer mostrar erudição.
Uma vez, ele me disse, “cronista, você é, antes de tudo, um admirador do sexo feminino”. E disse uma verdade.
E agora aconteceu o que ele não esperava. Escrevi um livro com o título “O Papa e a mulher nua”. E para apresentá-lo, não pensei duas vezes: Mário Moacyr Porto. Nesse tempo ele já tinha se aposentado e morava em Natal. Escrevi-lhe uma carta formalizando o convite. Ele respondeu, ironizando, “mas, cronista, você quer me incompatibilizar com a Igreja?”
E concluiu a carta, aceitando o convite. Eu quase caí de emoção. O lançamento se deu no restaurante Pedra Bonita, na cobertura do Espaço Cultural, que, infelizmente acabaram.
O jurista e homem de letras Mario Moacyr Porto apresentou meu livro. Foi aquele um dos melhores momentos de minha vida, que jamais esquecerei.
O lançamento do livro foi uma beleza. Mario Moacyr foi a grande estrela. Todo mundo desejava ouvi-lo. Formou-se uma grande roda de cadeiras em torno do jurista e homem de letras. E eu morrendo de alegria, da boa vaidade.
Não me saem da memória as palavras do ilustre apresentador, cheias de muito humor. Mas, não devo esquecer, para alegria minha, a presença da minha Alaurinda, de Márcia Kaplan, viúva do maestro Kaplan, e de sua filha Ana Elvira, que muito me ajudaram na preparação do lançamento.
O lançamento teve gosto de “quero mais”. Mas o nosso príncipe não ficou apenas na apresentação. Mais tarde, já em Natal, ele me escreve elogiando o livro e a festa.
Fico por aqui, com medo de que venham lágrimas aos meus olhos.

E , de repente, eis o cronista num salão de beleza, acompanhando a esposa, informando que iria demorar um pouco. Fiquei meio tonto ...


E, de repente, eis o cronista num salão de beleza, acompanhando a esposa, informando que iria demorar um pouco. Fiquei meio tonto em ver tantas mulheres cuidando de seus cabelos, de suas unhas, de seus pés, de seu rosto, que a beleza ainda é a grande meta, sobretudo para o outrora sexo frágil. Mais de cinquenta mulheres, de tesoura na mão mexendo nos cabelos das clientes, que dormiam ou faziam que dormiam.
E vi como é difícil o trabalho dessas profissionais da beleza, sem esquecer os homens, também muito eficientes no seu ofício de embelezamento. Quase caí da poltrona, que me ofereceram, quando vi uma frequentadora do salão, rica dos anos, sair inteiramente rejuvenescida. E me veio aquela recomendação de minha mãe: “meu filho, velhice quer trato”. E ninguém melhor do que ela cumpriu este preceito. O relaxamento com a própria pessoa é uma ofensa à Natureza.
Mas voltemosao salão. Vi um homem, por sinal muito bem vestido, cochilando, enquanto a manicure cortava-lhe as unhas. Pelo jeito, tratava-se de um deputado ou um executivo. Curioso é que parecia dormir. Decerto era solteirão, viúvo ou desquitado, porquanto uma mulher ciumenta não o deixaria assim, mesmo cochilando.
Ainda bem que levei um livro para aproveitaro tempo. Mas diante daquelasdezenasde mulheres, preferi ficar olhando o espetáculo, pois gosto muito de observar as pessoas. E pus-me a pensar na transitoriedade da vida.
Quantas pessoas desejando ser belas, principalmente as mulheres que têm horror à velhice. E como se preocupam com o cabelo. Ainda bem que nunca houve uma moda careca. Quando uma mulher é olhada, se sente observada(e ela vê pelos poros), graças à sua inata intuição, a primeira coisa que faz é dar um jeitinho, uma sacudida no cabelo.
Vieram me oferecer um Capuccino, que adoro. Gentileza da casa. E cadê minha Alaurinda? Certamente está em outra secção. O salão de Anthony é imenso. O deputado já se foi com as unhas dos pés bem cortadinhas. E viva a aparência. Somos julgados por ela. Equem me ajuda a aparar as unhas dos pés, estes adoráveis pés que me levam às caminhadas, é minha Lau.
Eu corto meu cabelo aqui perto, no salão de beleza “Semper Bela”, com o meu cabeleireiro Josias, um grande conhecedor da Bíblia, mestre na tesoura, nascido em Riacho dos Cavalos

V ou concluir, hoje, minhas impressões sobre a Nova Zelândia, aquela ilha paradisíaca que dorme, isolada, no oceano Pacifico. Como já mencio...



Vou concluir, hoje, minhas impressões sobre a Nova Zelândia, aquela ilha paradisíaca que dorme, isolada, no oceano Pacifico. Como já mencionei, estivemos lá duas vezes, e espero que descansemos um pouco, porquanto a viagem é longa.
Mas qual a razão do título? Prossiga na crônica, curioso. Não esqueça que nesta viagem àquela ilha o calendário assinalava a Semana Santa, quando recordamos os sofrimentos de Jesus.
Continuemos com a viagem. Digo, agora, passeio. Passeio de carro, com meu filho Germano na direção pela mão esquerda. E lá fomos estrada afora, entre altíssimas e silenciosas montanhas, muitas delas com suas cascatas, que desciam numa lentidão de lágrimas. Montanhas nunca vistas com tanta abundância. E nos informaram que muitas delas, no passado, se irritavam e viravam vulcões. Mas no nosso passeio, elas dormiam seu sono místico.
Eram montanhas de um lado, florestas do outro, e, por cima, um céu limpo de nuvens. Quanto silêncio, meu Deus! Dava para ouvir as batidas do coração. Quilômetros e mais quilômetros, e, de repente, a Pastoral de Beethoven pelo rádio, em homenagem àquele momento de paz. Ah, se o mestre de Bonn, tivesse conhecido a Nova Zelândia! Quanta inspiração encontraria para as suas sinfonias e sonatas!
Horas e horas caminhando no paraíso. E eis que regressamos com o coração vibrando de contentamento, os olhos ricos de imagens paradisíacas. De repente, alguém lembra: quando é que vamos a Kare Kare, uma praia distante e isolada, que já foi cenário do famoso filme “O Piano”. E lá fomos atrás de mais um paraíso.
Mas, aqui é que começa meu sofrimento. A mata intrincada, quase virgem, muitas pedras no chão e muitas árvores se abraçando, querendo impedir nossa caminhada. Seriam ciúmes? Não sei. Só sei que tive de entrar num riacho cheio de pedrinhas furando os meus pés. Fui amparado pelo braço do meu amigo Davi, que, ao invés, de pena, dava boas risadas.
Por fim, a praia. Uma praia mais para surfistas do que para banhistas. Uma praia mística, boa para a reflexão, para uma conversa com Deus. Ah, as pedrinhas do riacho! Como sofri...! Mas, pior foram aqueles pregos enormes furando os pés de Jesus.
E foi com os meus, ardendo que nem fogo, que sai pisando naquele mundo frio e silencioso. Aí respirei fortemente, e botei aquela paisagem dentro de mim.
A praia de Kare Kare continua na minha cabeça. Que refúgio! Não me esqueço daqueles jovens bonitos e cheios de vida, dentro de uma barraca, preparando o material para o surf. Muitos deles já estavam deslizando nas ondas fazendo inveja ao cronista, que tiritava de frio. Sim, lembrar que eu estava numa ilha solta no Pacífico, um pedacinho de nada de terra. Esta viagem, aqui na Nova Zelândia não foi só uma viagem, nem um passeio. Foi uma grande aventura!

N ada mais triste do que um olhar de despedida. A presença, aos poucos, vai se tornando ausência. Mas o que é a vida senão uma sucessão de a...


Nada mais triste do que um olhar de despedida. A presença, aos poucos, vai se tornando ausência. Mas o que é a vida senão uma sucessão de ausências?...

E aconteceu o inesperado. De repente, nos deu aquela vontade de um passeio à beira-mar. Nossos olhares se demoraram na linha do horizonte que limitava o mar. Silêncio absoluto. E eis que ela, numa euforia de namorada, gritou: “Vamos curtir este momento”. Sim, a paisagem estava para o amor, para a alegria interior, para um poema. E nossos olhos, acostumados a muitos horizontes, daqui e de além-mar, se maravilhavam com o que víamos. Sim, estávamos naquela enseada de nossa Tambaú, onde o Cabo Branco continua tentando subir o planalto, desejando ver de perto o sol que, ali, nasce primeiro.
“Vamos!” - gritava ela, eufórica -, “vamos enquanto não chega a noite”. E ela tinha razão, tudo na vida é fugidio. E na sua euforia, disse: parecemos dois namorados. Por que namorados? Ora, porque num bom casamento, os conjugues nunca deixarão de ser namorados. Sim, éramos, naquele momento dois seres que se amavam e, ao mesmo tempo, namoravam a paisagem, com o mar parado como se estivesse dormindo.
Sim, o mar, às vezes, dorme e sonha. Quase ninguém na praia. Mas os nossos olhos pediam mais paisagem. E que tal entrarmos no carro e subirmos o planalto? Foi o que fizemos. Fomos até a Estação Ciências, completamente sem ninguém. Mas, lá do Planalto é que a visão da praia lá embaixo faz a gente sair correndo e gritando: “Venham, minha gente, ver a praia de Tambaú dormindo.”
Como disse, havia pouca gente na praia. Pouca gente para ver essa lua de mel do casal, embriagado de sonhos e de muito amor. E temos certeza que o mar gostou de nos ver. Ele também ama. E quem ama, beija. O mar beija a areia com suas ondas, que se transformam em espumas.
Não, nosso passeio não foi um passeio de namorados, e, sim, de enamorados da paisagem, que se oferecia aos nossos olhos como uma mensagem cheia de muita paz e de muito amor.
Só sei que ela sorria o seu sorriso bonito. E sabem que quando a mulher é amada se torna mais bonita? E, já ia me esquecendo, aquele adágio de Beethoven embelezou ainda mais a nossa lua de mel. Lua de mel de enamorados. E viva o amor!

E , de repente, me veio aquele súbito desejo de fazer uma oração. Não como aquela do “Pai Nosso”, com a qual o Meigo Nazareno ensin...


E, de repente, me veio aquele súbito desejo de fazer uma oração. Não como aquela do “Pai Nosso”, com a qual o Meigo Nazareno ensinou o mundo a orar, e muito menos como a de São Francisco de Assis, um hino à solidariedade e ao perdão. Mas, uma oração que começaria assim:
Senhor, dá-me força, para um dia, domar o orgulho e outros vícios que ainda há em mim. Que eu seja como o sol, que ignora a escuridão, que só faz iluminar nossos caminhos. Que eu seja a pedra do caminho, humilde, mas que sustenta o edifício. Que eu seja como aquela ponte, vencendo os obstáculos do caminho ou aquele túnel permitindo nossa passagem entre montanhas. Que eu seja a água, cuja persistência vence a pedra dura. Que eu seja caminho, jamais obstáculo. Que eu seja como as flores, sempre sorrindo para a vida. Que eu seja como o vento, sempre trazendo alegria e suavidade para as pessoas tristes. Que eu seja como as nuvens a deslizarem serenas, lá do alto, esquecendo as sombras cá de baixo.
Senhor, como gostaria de ser como a chuva, molhando com suas lágrimas toda a terra, sem particularismo, sem preferências, sem discriminação.
Que eu seja como o mar, cujas espumas lavam nossos pés, para depois morrerem, que a vida é um eterno vai e vem, de saudades e de esperanças.
Que eu seja como a grama macia, que não dá flores, mas na sua humildade serve de tapete para os homens.
Que eu seja uma montanha, que lá do alto, sorri o seu sorriso de transcendência. Que eu seja o outro para saber como é que ele nos vê. Que eu olhe sempre para o espelho para saber como vai o meu rosto, a minha imagem. Se é um rosto de tristeza ou de alegria, de cara fechada ou de semblante aberto. Que eu esqueça as rugas do corpo que envelhece, porquanto o espírito é sempre jovem para os que amam tua Verdade, aquela que nos consola e nos liberta.
Que eu esteja sempre atento no caminhar, vigilante no discernimento, atento aos obstáculos e jamais olhando os outros sem aquele olhar de compreensão. Que eu esteja sempre vigilante para não cair em tentação como nos ensinaste. Que eu tenha sempre a humildade necessária para ser um crítico de mim mesmo.

V ez por outra, estou cutucando a memória. É gostoso e terapêutico trazer à nossa presença pessoas que nos deixaram forte impressão, belos e...


Vez por outra, estou cutucando a memória. É gostoso e terapêutico trazer à nossa presença pessoas que nos deixaram forte impressão, belos exemplos, exemplos de ética, de bondade, de dignidade. Ah, como é salutar recordá-las. É a tal coisa, o homem morre, mas o seu exemplo de compostura e elegância continua.
Estou me lembrando de muita gente boa que transitou pelo meu caminho. E como aprendi com eles! Estou me lembrando agora do primeiro que chega à memória para minha alegria. É como se estivesse vendo-o. Sempre eufórico, sempre de abraços abertos, sempre sorrindo, mais do que isto: Sempre dando boas gargalhadas. Era médico, e ocupou cargos importantes. Impossível não gostar dele, de não ser atraído pela sua constante euforia de quem está em paz com sua consciência. Era médico. Mais do que médico, ere homem de letras. Doido pela nossa Academia. Nunca uma pessoa se identificou tanto com uma instituição. E foi ele quem me convidou para a Casa de Coriolano de Medeiros. “Quero você lá”. E terminei entrando naquele templo de letras, sem eleição e concorrência. Mas quem era ele, cronista? Era Oscar de Castro. Impossível não gostar dele, repito. O primeiro de minha lista. Um homem de bem. Nunca o vi zangado. Já estou ouvindo sua gargalhada a me ver, diante deste computador, que não existia no seu tempo.
Oscar de Castro, médico e escritor, que fez da nossa Academia de Letras a sua segunda casa.

Mas deixemos Oscar e vamos a outro príncipe, a outro homem de ética e que me impressionou, profundamente, pela sua maneira de ser. Também pertenceu à nossa Academia de Letras. Escreveu livros admiráveis, cuja temática foi nossa terra. Historiador autêntico. Escrevia com muita leveza. Mas, o que mais importa nessas rememorações é o homem, sua ‘maneira de relacionar com os outros, sua ética.
Estou me lembrando de Celso Mariz. Sabia se vestir bem (sempre usava linho branco). A cabeça branca e uma maneira distinta de se relacionar com as pessoas. Costumava sempre dizer “all right?” quando se encontrava com a gente Era um verdadeiro gentleman. Sabia entrar, sabia sair. Incapaz de uma vulgaridade. Falar de alguém? Jamais. Daí o respeito que impunha.
Extraordinário autodidata, Celso Mariz foi outro admirável príncipe, que transitou pela nossa província. Quando repórter deste jornal, fui incumbido pelo diretor, deste jornal, já tarde da noite, a buscar Celso e trazê-lo, porquanto havia dúvida sobre um fato histórico da Paraíba. Recebida a ordem, saí como uma bala. E veio uma duvida, onde estaria o nosso príncipe? Estaria jogando lá no clube Cabo Branco? Dito e certo. E quando soube da nossa incumbência, levantou-se da cadeira e veio conosco para o jornal. Mas antes indagou: “Tu tens verba?“ Ele se referia a um carro para levá-lo. Já era tarde. Carro que era chamado de “aluguer”, pois ainda não havia o táxi.
Não me esqueço daquela tarde, em que ele fora dar um passeio para contemplar o crepúsculo do rio Sanhauá, Um dos espetáculos mais belos da nossa cidade. Celso, depois da visita, apenas disse: “Na nossa idade, é bom, vez outra, lançar um olhar de despedida para as coisas”...

A melhor maneira de aprender uma língua estrangeira é morar ou fazer intercâmbio em outro país. A segunda é matricular-se em centros de es...



A melhor maneira de aprender uma língua estrangeira é morar ou fazer intercâmbio em outro país. A segunda é matricular-se em centros de estudos de idiomas, os quais, como se sabe, costumam cobrar uma mensalidade muito alta. Outras formas de aprendizado são igualmente caras e até mesmo impossíveis para a maioria dos brasileiros.

A  primeira vez que a vi, fiquei encantado com o seu desembaraço no falar e, sobretudo, com a sua inteligência e desenvoltura. Eu tinha ido ...


primeira vez que a vi, fiquei encantado com o seu desembaraço no falar e, sobretudo, com a sua inteligência e desenvoltura. Eu tinha ido fazer uma consulta a um famoso fisioterapeuta, Dr. Jailson Ferreira, especialista em osteopatia, homem de poucas palavras, educação fina, cujos dedos iriam mexer na minha coluna, que não andava bem, pois, infelizmente ainda não podemos comprar uma ossada nova, saída de uma vitrine. Não há ainda uma substituta da coluna que Deus nos deu, o que é uma pena...
Mas deixemos o nosso fisioterapeuta e me voltemos à sua educadíssima e culta atendente, cujo nome me soou bem aos ouvidos: Mardênia! Informada de que sou escritor e cronista, a jovem secretária, na sua conversa, enveredou pelos caminhos da literatura com muita pertinência, citando seus escritores prediletos. Falou ainda de seu sítio, onde ela planta de tudo. E no convívio com a Natureza, ela vem mais alegre e mais ainda conciliada com a vida. Mardênia cultiva ainda flores. E é com esse espírito jovial e entrosada com a vida, que ela vai fazendo amigos e se livrando das coisas más da vida.
A verdade é que a moça me surpreendeu, principalmente pelo otimismo, pelo amor à vida. Sua conversa era tão interessante que me esqueci da coluna.
O tempo foi passando, foi me dada alta pelo especialista, quando fui informado que Mardênia estava com um sério problema na vista, tendo se submetido a uma cirurgia para retirada de uma neoplasia e iria se submeter a tratamento quimioterápico. A noticia me deixou muito triste. Seu problema era raro e grave. Acontece que Mardênia continua a mesma, em entusiasmo, otimismo e amor à vida e ao trabalho, do qual não se afastou. Que exemplo ela dava!
Fui revê-la, com Alaurinda. Mardênia trazia num dos olhos um tampão, em conseqüência da recente cirurgia. Mas agora é que sorria e ressaltava o seu sorriso bonito. Nada de tristeza, nem de pessimismo. Continua nos dando uma profunda lição de alto astral energia e vigor mental.
Mardênia, minha querida Mardênia, você foi demais! Fique boa logo e venha cuidar de seu sítio, de seu jardim, de suas flores no templo da Natureza. As flores vão gostar muito de sua visita. Como nós de você.

N ão satisfeita com a primeira viagem, eis que a nossa equipe projeta a segunda viagem à Nova Zelândia, aquela ilha perdida no Pacífico co...


Não satisfeita com a primeira viagem, eis que a nossa equipe projeta a segunda viagem à Nova Zelândia, aquela ilha perdida no Pacífico com o Japão lá em cima. O dedo deslizando no Mapa num instante chega lá, mas de avião... São 14 horas de vôo, somente no último trecho sobre o Pacifico. Vôo direto, sem escala. Na nossa primeira viagem, minha sobrinha cardiologista, lá de São Paulo me telefonou, dizendo: cuidado com essa longa viagem. Não se esqueça da meia de pressão para evitar trombose. E para quem já teve uma... Cumpri a recomendação da médica e enfrentei o problema. E sabe que cheguei a gostar da viagem? Na aeronave da LAN Chile nada faltava. E ainda me recomendaram fazer, ali, um ligeiro “cooper”. E lá vou eu num caminho estreitíssimo entre poltronas cumprindo a recomendação. Veja o leitor como é importante, vez por outra, movimentar as pernas. O sangue corre que é uma beleza.

Depois de saltarmos de um trampolim, após uma escala em Santiago do Chile (ah, cidade para eu gostar...) nos atiramos no abismo oceânico, armados de nova coragem para o segundo vôo, de 14 horas. E nada de trombose. Dessa vez a viagem foi uma beleza. Viajar é mesmo sonhar. Foi numa madrugada que aterrissamos naquela ilha paradisíaca. Aeroporto de primeira. Mas, o frio me encabulou. Quanta roupa por cima e por dentro. Descemos em Auckland, que já foi capital e que muito nos encantou.

Agora Nova Zelândia estava mais íntima. Um povo educadíssimo. Educação no trânsito, educação nos restaurantes, educação na rua, educação nos hotéis, educação em tudo. Impossível ouvir uma buzina insistente de automóvel. Silêncio absoluto nas ruas. E que cidade agradável essa Auckland! Cidade de todas as idades, desde aquela elegante senhora, com seus oitenta ou mais anos, ao garoto com um iPhone no ouvido, discutindo não sei para quem.

Mas o que mais me encantou foi a limpeza da cidade com o seu chão colorido. A cidade não tem um buraco no chão, mesmo do tamanho de um dedal. E caminhando, eis que vejo um espaço cheio de livros, com bancos, para você e descansar. Tudo de graça. Ninguém pensando em levar um livro para casa. Ah, leitor, não perdi tempo. Sentei-me num puff e fiquei folheando uma revista. Quantos livros à disposição de quem quisesse ler...

Auckland! Quase toda plana. Sem trânsito ostensivo. Mas, o sol se esqueceu de aquecer o cronista. Um sol que iluminava mais do que esquentava.

A noite foi chegando e a gente nem deu fé do tempo. E cadê a Natureza dessa decantada Nova Zelândia. A Natureza que é o seu cartão de visita? Fica para depois, pois a fome começa a apertar. O restaurante que nos acolheu, servido por duas garotas bonitas e educadas, que quando descobriram que éramos brasileiros, foi uma festa. Ah, Brasil para ser amado e exaltado!...

Pois é, leitor, o nosso país tem qualquer coisa de lendário. Espero, como já dizia o grande Zweig, que ele seja ainda o país do futuro.

Mas, a crônica está terminando, agora dispondo de espaço maior, o que faz aumentar a responsabilidade do cronista.

A o invés do título acima, esta crônica bem que poderia denominar-se “Terapia do Esquecimento”. Sim, esquecer, muitas vezes, pod...


Ao invés do título acima, esta crônica bem que poderia denominar-se “Terapia do Esquecimento”. Sim, esquecer, muitas vezes, pode vir a ser um bálsamo, um alívio. Já pensou se não esquecêssemos? Se conservássemos uma mágoa por muito tempo, por exemplo? Deus sabe amenizar as nossas dores. Esquecer nos traz paz, nos renova, nos dá saúde. Que tal, aqui ensina o Evangelho, se conservássemos o ódio no coração, ou melhor, se não esquecêssemos um mal que alguém nos fez? Horrível. Enquanto o que nos fez mal, talvez nem se lembre do mal que fez. E você se torturando, não esquecendo o mal que ele lhe fez.
Perdoar e esquecer, eis uma formula saudável. Vingança é uma tremenda estupidez. Bobo é aquele que diz: “Perdôo, mas não esqueço”. Enquanto isso, o mestre Gandhi, na sua sabedoria, disse a alguém que lhe perguntou se ele perdoava, e ele respondeu, naquela simplicidade que lhe era familiar. “Não, não perdôo”. Todos ficaram estupefatos. Mas, em seguida, veio o complemento de sua resposta. “Não perdôo, porque nunca me sinto ofendido”. Que resposta, hein? A lição é a do esquecimento. Mas para isso é necessário muita grandeza de espirito. Lembre-se de que a vida é muito curta para a gente estar se martirizando, remoendo...
Vamos para diante, e procuremos limpar a nossa mente de muita sujeira. Agora estou me lembrando do ex-presidente Figueiredo, quando ao deixar o governo, um repórter lhe perguntou: “Presidente, dê uma mensagem de despedida ao povo brasileiro. E ele apenas disse: “Quero que me esqueçam!” O general já estava cheio de críticas ao seu governo. Desejava, agora, paz.
O negócio é saber usar esta terapia maravihosa. A terapia do esquecimento, esquecimento das más lembranças, do desejo de vingança, que não levam a nada.
Olho para traz e não sinto nenhum desejo de criticar alguém, de me sentir ofendido, mesmo que tenha sido agredido. Esquecer o inimigo é tirá-lo de seu caminho. Eis a solução. Depois, segundo me ensinou a Doutrina Espirita, não morremos, apenas o corpo vai adubar a terra (que excelente adubo... O espírito continua, assim como os que nos amam e nos odeiam. Quando reencarnamos o passado é esquecido. Vamos, então iniciar uma nova vida.
Esquecer, sim, remoer nunca. Bote isso na cabeça.

N o dia 9 de outubro de 1861, na cidade de Barcelona, onde ainda havia o ranço da Inquisição, foi queimado em praça pública, O Livro dos Esp...


No dia 9 de outubro de 1861, na cidade de Barcelona, onde ainda havia o ranço da Inquisição, foi queimado em praça pública, O Livro dos Espíritos, obra básica da Doutrina Espírita, entre outros, inclusive o fragmento de uma Sonata, que o espírito de Wolfgang Amadeus Mozart havia transmitido ao médium francês Bryon D'Orgeval. E quem presidiu a solenidade foi o Arcebispo da cidade.
O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec, foi considerado obra satânica, embora o sacerdote encarregado de estudá-la, o abade Leçanu, autor do livro “História de Satanás “, depois que leu a obra disse: “Quem quer que leia este livro e observe seus preceitos faz-se bastante para tornar-se santo na Terra”.
A verdade é que o livro foi queimado. O livreiro, antes, ainda tentou recorrer às autoridades, mas um espírito aconselhou a que nada fizesse, porquanto a queima de O livro dos Espíritos despertaria ainda mais a curiosidade do público e o resultado é que não chegou para quem queria.
Esse fato aconteceu há muito tempo. O Livro dos Espíritos é hoje o livro mais vendido da literatura espírita. E agora, que estamos comemorando os 156 anos da Doutrina, houve em nossa capital, em plena praça do Ponto de Cem Réis uma exposição dos livros espíritas, com destaque para O Livro dos Espíritos. Muita gente prestigiando o acontecimento, e isto sob a batuta de Marco Lima, atual presidente da Federação Espírita Paraibana.
Só faltaram o nosso Arcebispo Dom Aldo Pagoto, com o seu admirável ecumenismo e o pastor Estevam para, com sua presença, mostrarem que os tempos são outros. A lei é a da evolução e o verdadeiro cristão é aquele que ama ao próximo como a si mesmo. A fogueira da Inquisição está apagada para sempre.
O Espiritismo completou no dia 18 de abril 156 anos. Um tempo muito curto diante das antigas e milenares religiões. Seu lema é “Fora da caridade não há salvação”. Haverá ecumenismo maior do que este?
Os tempos são outros. Está aí o novo Papa Francisco com uma nova mensagem, procurando se inspirar no humilde São Francisco de Assis, cuja famosa oração deveria ser lida todos os dias.

P ara esta espécie de terapia há necessidade do olhar. Um deficiente visual, por exemplo, não pode se utilizar dessa terapia. Mas, ...

Para esta espécie de terapia há necessidade do olhar. Um deficiente visual, por exemplo, não pode se utilizar dessa terapia. Mas, diz o ditado que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Para este, é inútil a “paisagem-terapia”. Ele olha um por do sol e não o vê, uma madrugada, a mesma coisa, um jardim, idem. Tem jardineiro que exerce o seu trabalho com a cegueira da ignorância. Não digo que chegue a falar com as plantas, como procedia um príncipe inglês, mas que as olhe com um sentimento de amor.
Eu sempre estou usando essa terapia e me sinto muito bem. Parece que lavamos a alma. Jesus já convidava: “Olhai os lírios do campo”. E desse convite deu uma lição. A lição da despreocupação, da fé, da confiança na vida, na providência divina.
Deus encheu o mundo de belezas naturais para que o homem alegre a sua alma. Olhar e não ver é a mesma coisa de não olhar... A Natureza é a grande riqueza que Deus nos deu, de graça. Eu estou sempre pondo o olhar nas coisas belas da vida e saio delas com outro astral. E aqui, repito: uma das coisas belas de uma viagem aérea é olhar as nuvens pela janelinha do avião. As nuvens ficam lá embaixo nos infundindo uma tranquilidade interior enorme. Lembram, às vezes, um campo cheio de ovelhas. Ora, e foi justamente isso que vimos, não só nos caminhos pelo interior da Escócia, como agora nova Nova Zelândia. Que paz, esta paisagem rural nos transmite! Só as ovelhas não elevam o olhar para ver a dança silenciosa das nuvens. Elas se comportam como certos homens de negócio. Fixados nos seus interesses imediatos, não têm tempo para ver as coisas belas.
Ah, a terapia da vista aérea! E que dizer das florestas e das montanhas, sem esquecer as cascatas? As montanhas, no seu silêncio, dão lições de misticismo. Não foi sem motivo que Jesus aproveitou aquela elevação de terra para proferir o seu primeiro sermão.
Terapia da paisagem! É difícil sair de uma praia, como a nossa de Tambaú, com a alma suja de pessimismo, de ódio ou mau humor.
O poeta Bilac convidou-nos a “ouvir” as estrelas. O físico e matemático Pascal, vez por outra, derramava os olhos no Infinito, o que alimentou muitas de suas reflexões.
Terapia da paisagem. Não custa nada, e faz muito bem ao espírito!

Na história da música, especialmente do Rock'n'Roll, algumas capas de discos, elaboradas com grande criatividade, acabaram se torn...



Na história da música, especialmente do Rock'n'Roll, algumas capas de discos, elaboradas com grande criatividade, acabaram se tornando mais conhecidas do que as próprias canções, sendo copiadas e parodiadas exaustivamente, até mesmo por outros artistas.

G ermano, meu filho e mestre, escreveu, outro dia, em sua coluna no Correio da Paraíba, uma crônica sobre a Nova Zelândia exaltando as belez...


Germano, meu filho e mestre, escreveu, outro dia, em sua coluna no Correio da Paraíba, uma crônica sobre a Nova Zelândia exaltando as belezas daquele país, com destaque para suas enormes montanhas, espetáculo que tanto o maravilhou, na nossa segunda viagem àquela ilha, isolada de tudo, entre o Oceano Pacífico e o Mar da Tasmânia.
E como os meus, os olhos dele se juntaram na mesma emoção. Aqui para nós, é um espetáculo único no mundo. São quilômetros e mais quilômetros entre florestas primitivas e montanhas, com a estrada se curvando pelo meio. Montanhas imensas, gigantescas agarradas umas às outras, como se estivessem brincando de ciranda. Nunca um silêncio falou tão alto. Era a voz de Deus, o autor daquela maravilha da Natureza. E assim íamos entre as matas e as montanhas. Curioso, não vimos pássaros voando sobre aquelas montanhas, mas, segundo Germano, que se adentrou pela floresta, ouviu-os cantar lindamente. Mas, o bonito mesmo eram as cascatas que desciam daquelas alturas, silenciosas e belas, como se fossem lágrimas. Será que as montanhas choram?...
Lembrei-me, ligeiramente, de Atenas e do Havaí, cujas montanhas também são belas, juntamente com as ilhas.
Mas, como já disse, essas montanhas da Nova Zelândia são um espetáculo único no nosso planeta. Elas pareciam que estavam resguardando as cidades de qualquer ataque, de qualquer invasão.
Em baixo, vez por outra, um rio ou riacho correndo, alimentado pelas cascatas. E nada havia além do silêncio, a única música que se ouvia naquele ermo.
Germano dirigindo o carro, por sinal pela mão esquerda, coisa de inglês. Seus olhos de arquiteto chegavam às lágrimas. A verdade é que aquelas montanhas falavam. Pareciam querer proteger a Natureza contra a invasão do homem.
E a contemplação de uma montanha vale por uma prece, assim como contemplar o mar. Mas o mar – desculpe-me a Nova Zelândia – só o de Tambaú ou de Manaíra, que estão a exigir mais cuidado do Poder Público, sobretudo pelo lixo e contaminação de suas águas.
Nossas praias são um local ótimo para a meditação. E nada de patins e patinetes no passeio público, ameaçando a integridade física das pessoas.
Impossível esquecer as montanhas da Nova Zelândia, só vendo para crer.

Não me surpreendeu a morte dele, como também não me surpreende a morte dos outros. É da lei que assim seja. Ninguém escapa à sua dura inexor...



Não me surpreendeu a morte dele, como também não me surpreende a morte dos outros. É da lei que assim seja. Ninguém escapa à sua dura inexorabilidade. Agora a reflexão a fazer é esta: o que fez ele da vida e na vida? Há quem diga que ele foi para o céu, outros para o inferno, e, por fim o purgatório. Depois há aqueles que acreditam que tudo vira pó, nada mais resta. E surge a pergunta, que adianta a vida seja digna ou não, se não há nada, nem ninguém para nos julgar?
Estas reflexões me chegaram com a notícia do falecimento do meu amigo Dorgival Terceiro Neto. Um homem que sempre me deixou uma excelente impressão e também uma lição. Terceiro Neto foi um homem sereno e sério, que fez de sua vida uma obra de arte.
De poucos sorrisos, a constante nele era a seriedade, o sentimento de responsabilidade. Inimigo implacável da corrupção, sobretudo na política, a qual exerceu com muita dignidade. Seja como governador, seja como prefeito, ele sempre deu um exemplo admirável de honestidade.
O bem humorado filósofo grego Diógenes, discípulo de Sócrates que fez da pobreza extrema uma virtude, chegando a “morar” num barril, segundo a História, vivia pelas ruas de Atenas, com uma lanterna na mão dizendo-se “em busca de um homem honesto”, e isto em plena luz solar. E não o encontrou. Tenho certeza de que se o nosso Dorgival Terceiro Neto estivesse por lá, o filósofo não teria perdido o seu tempo.
Certa vez, faz alguns anos, encontrei-o casualmente em São Paulo, um pouco irritado com a deficiência auditiva. Tinha vindo do consultório médico. Abraçou-me, fez referências elogiosas às minhas crônicas, e saiu. Nunca esquecerei aquele cordial abraço e seu sereno meio-sorriso. O encontro comoveu-me.
Terceiro Neto saiu da vida pública em paz com a sua consciência, E, sem dúvida, é essa paz que lhe dará o verdadeiro paraíso.
Escritor, membro da nossa Academia de Letras, o nosso Dorgival foi um telúrico por excelência. Amava a sua terra como ninguém.
Nunca me esqueci da imagem daquele jovem casal de noivos transitando pelas ruas da cidade. Ele e Marlene... Estavam em plena lua de mel. Terceiro sempre foi um cavalheiro, homem de boas maneiras, que impunha respeito. Um homem em quem poderíamos confiar cegamente.