O  nome é suave. Soa bem aos nossos ouvidos. Nome de fácil rima. Não lembra o nome de um guerreiro, de um lutador incansáve...


nome é suave. Soa bem aos nossos ouvidos. Nome de fácil rima. Não lembra o nome de um guerreiro, de um lutador incansável, de um homem inquieto, nada acomodado. Homem destinado ao desafio, ao pulso forte, ao sim sim, não não, jamais à acomodação.
Até mesmo o seu físico era mignon, esbelto. Físico de eterno rapazinho. E ele mesmo uma vez me disse que gostaria de ter nascido com estatura maior.
Se ele não era um gigante na estatura, era um gigante de espírito. Difícil ou impossível de se vergar. O seu andar era firme, andar de quem sabe o que quer. Um pigmeu de corpo, mas um gigante na vontade, na coragem, sempre pronto ao desafio. De uma argúcia admirável. Sabia do que queria. Bom de palavra e de ação.
Sim, leitor, estou me referindo a Joacil de Brito Pereira, meu amigo de muitos tempos e de boas lembranças. E como o admirei, seja como advogado, seja como político, seja como intelectual, como pai de família. Como escritor, deixou excelentes livros, a começar pelo substancioso ensaio sobre Maquiavel. Era um ótimo analista da História.
Colega meu de Liceu, e de imortalidade acadêmica, foi um excelente presidente da nossa Academia. Ele só não sabia de uma coisa: ter medo. Acho que o medo é que corria dele. Gostoso de papo, conversar com ele era uma delícia. Já com problemas de coluna, vi-o, várias vezes, se apoiando numa bengala, caminhando pelo calçadão do Cabo Branco, onde morava, ali bem perto do edifício João Marques de Almeida, distribuindo cumprimentos aos amigos que passavam.
Bom de discurso, dava gosto ouvi-lo. Sua oratória era altiva e vibrante. A notícia de sua saída deste mundo comoveu a todos. A saída do guerreiro, que não sabia se curvar, mas marchar de cabeça erguida. Joacil, o riograndense do norte que se tornou um paraibano, que muito nos honrou.
Deu-se a saída do jurista, do advogado, do homem que fez do Direito sua grande paixão ao lado da Política, da verdadeira política.
E eu saio da crônica, não de olhos molhados, mas com a alegria de ter sido seu amigo. Ele, que era o contrário de mim em temperamento. Mas, nunca os contrários se deram tão bem.
Saio da crônica louvando ainda o pai de família que ele foi, ao lado de sua dedicada Nely.

M anhã de muito sol e eis que abro os jornais para saber as notícias. Duas delas aguçam minha curiosidade, a do aparecimento, agora...


Manhã de muito sol e eis que abro os jornais para saber as notícias. Duas delas aguçam minha curiosidade, a do aparecimento, agora à noite, de nossa lua desfilando na passarela do firmamento, toda vestida de azul. E ao que informam ainda os jornais, o melhor lugar para ver o querido satélite, é na Estação Ciências.
Outra notícia: a pobre Índia vai dar uma de país rico. Ela vai mandar uma nave para o Espaço. Enquanto isso, anuncia-se que, a qualquer momento, os Estados Unidos, juntamente com a Inglaterra - ambos adoram guerra - invadirão a Síria. O negócio é sério!
Com tais notícias, umas boas, outras ruins, vejamos esta sobre o Festival da culta e fria Areia, a terra de Pedro e José Américo, o pintor e o escritor. A terra onde fui promotor público, vejam só, e onde me hospedei numa pensão, em cuja sala de refeição havia o seguinte letreiro: ”Lave as mãos ao sair da privada”. Eu achava horrível aquele aviso, coisa para matar qualquer apetite.
Como sou homem do calor, o frio de Areia era de matar. Aliás, quando se fala tanto dos “caminhos do frio”, que tal promover festivais dos “caminhos do calor”, onde estariam Patos, cidade de boa tradição, Itaporanga e Cajazeiras.
Mas estou me lembrando agora de Sapé, a cidade onde Augusto dos Anjos nasceu e que bem poderia promover algo cultural em homenagem ao grande poeta, que agora é chamado “Augusto das Letras”, o que não deixa de ser uma novidade...
O primeiro livro que surgiu sobre Augusto, se não estou enganado, foi de autoria do escritor paraibano De Castro e Silva, que era Fiscal de Consumo, a exemplo de José Lins do Rego. O livro pioneiro de De Castro e Silva se intitulava “Augusto dos Anjos, poeta da morte e da melancolia”. E não esquecer que a temática maior do romancista do engenho Pau D'arco era a morte. Temática que poucos tiveram a coragem, como Augusto, de enfrentar. Mas não esquecer que o poeta foi um lírico admirável, um religioso que via Jesus na Serra da Borborema.
Esse Augusto lírico, filósofo, que teve a coragem de escrever apenas um livro, livro , que vale por uma biblioteca – será que por isso estão lhe classificando de “Augusto das Letras”? Esse poeta-filósofo abordou uma temática, que poucos tiveram a coragem de abordar, a temática da vida e da morte. Mais ainda: Augusto obriga o leitor a pensar. Nada de se perder na linguagem. O que importa é a mensagem.  

P ois não é que, outro dia, sonhei que estava em Viena? Desta vez, pela segunda vez. E nada de comprar passagem, nada de passaport...


Pois não é que, outro dia, sonhei que estava em Viena? Desta vez, pela segunda vez. E nada de comprar passagem, nada de passaporte, nem daquelas longas esperas no aeroporto. Mas como foi isso, cronista? É que sonhei que estava, novamente, na terra de Freud, o velho psicanalista, o primeiro homem que mergulhou no nosso subconsciente e viu muita sujeira.
Ah, como bom esse reencontro com Viena. Claro que nada mudou na culta, silenciosa e musical cidade. Reencontrei a sua bela e harmoniosa arquitetura. Nada daqueles espigões querendo furar o céu. A capital da Áustria continua de uma beleza e de um clima adoráveis. E a música clássica domina-a como o ar. E as mocinhas lindas e risonhas vendendo ingressos para os concertos? Que silêncio nas suas largas avenidas. Os carros pareciam que deslizavam no asfalto. E, ao que soube, no tempo de Mozart , uma pessoa podia falar com outra, de sobrado a sobrado, embora distantes, que eram ouvidas. Pois não é que a situação continua quase a mesma?
Viena! Como gostei daquela visita ao sobrado, onde morou Freud! Com que emoção subi sua escada, monologando!
Da casa de Freud, a gente pode visitar estátuas célebres como a de Mozart e Beethoven, que moraram por muito tempo em Viena. E os seus famosos bosques, que inspiraram as famosas valsas de Strauss? Mais ainda, foi nos bosques de Viena que Beethoven compôs a famosa Sinfonia Pastoral, um hino à Natureza.
A verdade, leitor, é que Viena me ensinou muita coisa em termos de educação. Lá o silencio domina. E na temporada de eleição, a propaganda é feita através de pequenos cartazes, muito bem confeccionados. Nada de gritos, carreatas, nem da chamada poluição sonora.
Agora, para terminar a crônica, informo que deixei, no sobrado onde morou Freud, um exemplar do meu livro “O Papa e a Mulher Nua”. Que enxerimento, hein, leitor?
Espero que este sonho se realize. E vamos dançar o Danúbio Azul de Strauss, que, aqui para nós, não tem nada de azul. É um rio como os outros.
Em Viena, não vi pessoas apressadas nem estressadas. Tudo corre em ritmo de valsa. E dizem que o velho Freud fazia cooper, pelas suas silenciosas avenidas, todas as noites, embora sem short e sapato tênis...

É interessante observar como existem produtos que a gente conhece desde a infância. Alguns deles, de tão familiares, são conhecidos mais ...


É interessante observar como existem produtos que a gente conhece desde a infância. Alguns deles, de tão familiares, são conhecidos mais pela própria marca do que pelo conteúdo, como leite moça, gilete, cotonete e bombril.

E ste novo romance de Marília Arnaud, recentemente lançado pela editora Rocco, sob o título “Suite de silêncios”, é um longo monólogo, reche...


Este novo romance de Marília Arnaud, recentemente lançado pela editora Rocco, sob o título “Suite de silêncios”, é um longo monólogo, recheado de profundas reflexões, a que não faltam belas imagens poéticas sobre a vida. Dir-se-ia que o passado segue os passos como uma sombra. E logo no limiar, o texto nos surpreende com este tópico, profundamente filosófico: “E como é doce morrer de lembrar”... Mais adiante esta reflexão: “Não nasci para o esquecimento”. E repete: “o passado é casa sem portas, nem janelas”.
Todo o texto é ao mesmo tempo lírico e filosófico. E como disse, o passado pesa-lhe como uma sombra. Grande é a sua percepção das coisas. Está antenada com tudo que acontece ao seu redor. Mas se fala da Natureza, “de um violoncelo desafinado”, não esquece uma igreja onde um sino morre na solidão.

Repito, o romance é um passeio no passado, que a personagem faz questão de ressuscitar. E daí monologar, isto é, conversar consigo mesma. Um monólogo de muita maturidade. O passado, sempre o passado, como um insistente leit-motiv, é o que caracteriza a sua escorreita e madura prosa.

E que bela definição dada ao esquecimento, que é quem mata o passado: “O esquecimento é um jogo, onde o único adversário é você mesmo”.
É difícil ler o romance de Marília, correndo. Seus devaneios, sua maneira de ver a vida exigem uma pausa, uma pausa para a meditação. Impossível sair das páginas de seu livro da mesma maneira como se iniciou a leitura.

Disse um famoso critico que o grande romance é aquele em que o leitor sai de suas páginas se lembrando de sua leitura por muito tempo. É o caso de Marília com o seu “Suíte de Silêncios”. 
E de repente, esta dolorosa indagação sobre a morte: “Como é espantoso estar vivo! E como é igualmente espantoso saber que logo mais será o nunca mais”. Profunda reflexão, tão profunda como a admissão do Nada. Uma reflexão pessimista de quem não acredita na vida após a morte.
Mas depois dessa prosa exuberante e, ao mesmo tempo inquietante, Marília despede-se do leitor dizendo, sem lágrimas e sem sorrisos:
“Deixo-lhe, aqui, a minha história e tudo que permanece em mim, a minha infância, a casa onde morei, a horta do meu pai, a pureza das estrelas que ele me apontava no céu”.
E eu deixo a crônica, repetindo o que a romancista diz no início do livro: “É doce morrer de lembrar”.

V i no jornal uma foto que muito me comoveu. Ela focava dez a quinze casinhas populares, juntinhas uma das outras, como num rosário...


Vi no jornal uma foto que muito me comoveu. Ela focava dez a quinze casinhas populares, juntinhas uma das outras, como num rosário. Casinhas de porta e janela, com dois cômodos apenas, a sala de visita e a sala de jantar. Ignoro se elas estiveram no projeto de algum arquiteto. Acho que não. Tão diferentes dos elegantes edifícios que o meu filho arquiteto, Germano, projeta pela cidade...
Convém lembrar, porém, que todas essas casinhas, destinadas às comunidades de baixa renda, são iguais. O que uma tem, todas têm. Mas, como diferem dos modernos condomínios chamados verticais, que a gente só em olhar, sente tontura. Cada qual com centenas de apartamentos e dezenas de andares. Apartamentos juntos, a exemplo das casinhas populares. Mas com a inconveniência de seus moradores terem de descer e subir num elevador. As casinhas populares, casinhas dos pobres, prescindem de elevadores. Nada de subida e descida. Nada de verticularidade. tudo é horizontalidade. Dir-se-ia que todas estão de mãos dadas. Melhor ainda: todos se conhecem. Todos se sentem irmãos. Ninguem vai dizer: minha casa é melhor do que a sua. O que uma tem, já disse, todas têm.
Nos edifícios de apartamento, assim como nos bairros “chiques”, nem todos se conhecem. E nos prédios, muitos nem chegam a se falar quando se encontram no elevador. Dir-se-ia que esse negócio de solidariedade humana é mais comum entre as pessoas carentes. Estou certo que nas casinhas populares, a maioria se sente como irmãos. Seja na alegria, seja na tristeza, seja na doença, seja na saúde, seja na fofoca. E nada de eclusas, cercas eléttricas ou guaritas com vigilantes.
Mas o bom mesmo é não precisar de elevador para subir e descer. Nem de estacionamentos, pois todos não possuem carros, a não ser uma moto ou uma bicicleta.
O que estão faltando às casinhas são piscina, salão de jogos, quadras esportivas e etc. Mas nelas vale a pena sentir o vento, a brisa. Vento natural, muito diferente do vento produzido pelos condicionadores de ar dos luxuosos apartamentos.
E para concluir, lembrar que aquelas casinhas de mãos dadas não violentaram a ecologia...

E is aí, leitor, três coisas que lembram muito a minha infância. Lembranças gustativas. A água curava, o vinho alegrava e a bolacha se disso...


Eis aí, leitor, três coisas que lembram muito a minha infância. Lembranças gustativas. A água curava, o vinho alegrava e a bolacha se dissolvia na boca, deixando a gente com gosto de quero mais. Mais ainda: a água ainda continua sendo vendida, o vinho e a bolacha ficaram apenas no nosso paladar. Havia ainda outras lembranças, que insistem em trazer o passado para o presente, enchendo a gente de saudade.
Vamos à água, que curava tudo que era de ferimento. Bastava um ligeiro corte no dedo e lá vinha a recomendação: “bote Água Rabelo”. Tiro e queda, num instante o corte desaparecia. Rabelo era o nome de seu fabricante, que, se não me engano, era farmacêutico. E a fábrica ficava lá na Rua da Areia. Ele era parente da cronista e imortal Adhylla Rabelo, mãe dos jornalistas Gerardo e Neno Rabello. Este último, embora sem a visão, vê mais longe do que muita gente.
Mas continuemos mexendo com a memória. O vinho era chamado “Celeste” e até uma criança podia bebê-lo, pois quase não tinha álcool. Em toda casa quase não faltava o vinho, que tinha gosto de beijo. Daí o poeta e historiador paraibano Eudes Barros, meu irmão por parte de mãe, dizer em verso: “O vinho Celeste tem sabor do beijo que tu me deste”.
A verdade é que em nenhuma casa faltavam a Água Rabelo, o Vinho Celeste e a bolacha Yayá. Esta, gostosíssima. E com manteiga, então... A bolacha marcava presença em todas as ceias. E o seu fabricante escolheu para sua propaganda, o seguinte e sugestivo slogan: “É isto, bolacha só Yayá”.
Havia outras gostosuras para o nosso paladar, a exemplo do “doce americano”, que era vendido na rua. Só em me lembrar dele já começo a sentir água na boca. Havia o cavaco chinês, o doce Cumaru, o rolete de cana. Ah, leitor, basta de salivação.
Outras coisas que desapareceram de nosso cotidiano: os pregões. Pregões de jornais, pregões de vassoura, pregões de fígado, pregões de pitomba. E o vendedor ainda gritava: “chora menino para comprar pitomba”. E pregoeiro gritava “figo”, amedrontando as crianças. Diziam que o homem vinha tirar o fígado do menino desobediente.
Mas o gostosa mesmo era a bolacha Yayá, que a gente comia com manteiga Turvo ou Garça... E viva a memória gustativa!


Houve uma época dourada para intérpretes e compositores, na qual o sucesso podia ser medido pelo número de álbuns vendidos. Um bom lançamen...

os artistas que mais venderam discos na historia da musica

Houve uma época dourada para intérpretes e compositores, na qual o sucesso podia ser medido pelo número de álbuns vendidos. Um bom lançamento chegava facilmente à marca dos milhões de exemplares, trazendo riqueza e prosperidade ao universo da música.

É hoje o Dia dos Pais, o que faz com que eu escreva esta crônica em louvor de meu pai, que tanto respeitei e amei e com quem tanto aprendi. ...


É hoje o Dia dos Pais, o que faz com que eu escreva esta crônica em louvor de meu pai, que tanto respeitei e amei e com quem tanto aprendi. Ensinou-me a amar as plantas. E naquela plantação de crótons que ornamentava a entrada do sítio onde morávamos, ele me ensinou a aguá-los, dando-me um aguador pequeno, próprio para a minha idade. E mais: chegou a me dizer que as plantas agradecem quando matamos a sua sede, tanto é assim que acenam para nós. Mas depois eu vim a saber que as plantas são movidas pelo vento. Não havia aquele cumprimento de que falava o meu velho...
Meu pai, José Augusto Romero nasceu num lugar chamado Juá, perto de Alagoa Nova, onde cultivava o café. Casou-se com uma viúva linda, minha mãe. Dela teve sete filhos.
Antes, meu pai foi seminarista, pois o sonho de seu progenitor era ter um padre na família, coisa importante naquela época. Acontece que o meu velho terminou saindo do seminário e foi ser professor em Alagoa Nova, onde, já espírita, fundou um centro espírita para desespero do padre. E chegaram a jogar pedras no centro, durante as reuniões mediúnicas que lá se processavam...
Depois, ele achou de ir morar na capital, um meio maior para a educação dos filhos e atendendo ainda ao grande pedido de sua esposa, que já estava farta de cidade pequena.
Quando eu nasci, meu pai já era espírita, e por isso não me batizou. Depois foi trabalhar na Departamento de Obras Contra as Secas , chegando a ser secretário. Deu-se bem na burocracia, ele que viveu maior tempo de sua vida na lavoura.
Espírita até os ossos, ele foi presidente da Federação Espírita Paraibana durante mais de quarenta anos.
Homem pacato, incapaz, como se costuma dizer, de matar uma mosca, mesmo que fosse o mosquito da dengue. Costumava dizer que se tornou espírita depois que leu a obra de Leon Denis “O problema, do ser, do destino e da dor”. Escreveu muitas crônicas no jornal A União. Foi maçon e tinha uma grande amizade ao padre Zé Coutinho. E o padre, toda vez que o encontrava, dizia na maior intimidade: “Zé, como vai o teu Espiritismo?”
Tanta coisa para dizer dele... O que mais detestava era a desonestidade. Aludindo a uma certa pessoa, costumava dizer: aquele é um homem de caráter. Caráter para ele era tudo.  

S e a caneta-tinteiro já caiu em desuso, o mesmo não acontece em relação à caneta esferográfica. A primeira, que sucedeu a delicada pena, ex...


Se a caneta-tinteiro já caiu em desuso, o mesmo não acontece em relação à caneta esferográfica. A primeira, que sucedeu a delicada pena, exige tinteiro, a esferográfica, não, essa útil invenção que ainda permanece para as nossas anotações.
Depois, a esferográfica é hoje um símbolo, usado como souvenir e item de propaganda. Mas, porque eu estou trazendo a esferográfica como objeto desta crônica? Seria falta de assunto?...
Não, leitor, é que na passagem deste ano recebi uma coleção de esferográficas de meu amigo e primo, jamais cliente, pois o homem é advogado. Advogado PhD, advogado que começou a visitar o mundo dos cartórios, ainda estudante. Nasceu para a profissão que abraçou. Vi-o, muitas vezes, sobraçando processos, numa época em que a moderna tecnologia ainda não havia chegado à vida forense.
Mas vou matar a sua curiosidade, leitor. O advogado a que estou me referindo não é outro senão Roberto de Luna Freire, meu primo e amigo, que vive a maior parte do tempo no seu muito visitado escritório, que ficava na avenida Marcionila da Conceição, aqui em Tambaú. Um escritório sempre apinhado de gente à procura de justiça. O escritório já se mudou e hoje está muito bem instalado no Trade Center Office da Av. Rui Carneiro, ainda em melhores condições.
Roberto não daria nunca para político. Começa que ele sorri pouco, fala pouco e não é de dar aquele sorriso à cata de votos, tão em uso por estes tempos...
Mas, voltando ao presente de fim de ano que o primo me deu, foi uma primorosa coleção de esferográficas, ou melhor de muito bom gosto. Claro que elas eram publicidade de seu escritório, mas e daí, não dizem que a propaganda é a alma do negócio?
E mal peguei num exemplar e comecei a sentir uma coceira nos dedos para usá-lo.
Não faz muito tempo, tive a alegria de me encontrar com Roberto, numa conexão de voos que fazíamos no aeroporto de Lisboa. O primo, quando está de folga, no escritório, coisa rara, dana-se a viajar, o que faz muito bem. Irmão de Alexandre, juiz federal, hoje gozando a imortalidade acadêmica, Roberto é filho do grande João Lélis, o historiador da Campanha de Princesa, e um intelectual de mão cheia, imortal de nossa Academia de Letras.

E stavam os dois em plena discussão. Desejavam saber qual deles era o mais importante em nossa vida. Curioso, os dois são mudos, mas, assim ...


Estavam os dois em plena discussão. Desejavam saber qual deles era o mais importante em nossa vida. Curioso, os dois são mudos, mas, assim mesmo, discutiam, reuniam argumentos e provas em defesa de suas bem fundamentadas teses. Fiquei por alguns momentos a observá-los em silêncio. Mas, afinal, quem eram eles? Caia das nuvens, leitor, eram as minhas mãos e meus pés que entabulavam esta conversa.
E me veio a indagação: que seria de nós, se nascêssemos sem eles? Mas voltemos à discussão dos dois. E falavam as mãos dizendo: graças a nós, o homem pode levar o alimento até a boca, escrever, assim como bater nas teclas deste computador; pode acariciar, aplaudir, tocar piano e outros instrumentos. Sem nós, uma sinfônica ficaria muda. E como ajudar os outros, sem nossa presença? Como fazer o asseio pessoal, como acariciar o nosso amor, como varrer a casa, como plantar e aguar as plantas de um jardim? Como indicar o caminho a alguém que está perdido? Como preparar a nossa comida, como dirigir um automóvel, como abraçar um amigo? As mãos são tudo ou quase tudo em nossas vidas.
Entretanto, não esqueçamos que elas podem fazer coisas boas e coisas más, pois a vida é um constante teste, pois evoluimos num mundo de provas expiações.
Mas os pés nada diziam. Depois, contra-argumentaram: sim, as mãos são todo em nossa vida. No entanto, graças a nós, os pés, é que o homem caminha. Somos conscientes de nossa humildade, todavia, sabemos que também ajudamos na direção dos veículos, seja carro, seja moto, seja uma bicicleta. E quem movimenta o pedal de um piano, ou de uma harpa para o músico tocar? Por fim, disseram os pés. Que seriam de Jesus e dos doze apóstolos, na caminhada da evangelização, cheia de poeira e de muito calor, se não fôssemos nós? E não esqueçam de que, se Pilatos lavou as mãos, foi Jesus quem lavou os pés dos discípulos. Num gesto de muito amor e muita humildade. E as mãos só fizeram escutar...
Mas a verdade é que nada é inútil. E o nosso corpo, este veículo que Deus nos deu, é a nossa casa, que devemos saudar, cuidar, conservar, e limpar todos os dias. E ainda há quem o maltrate com a má alimentação, com o fumo, com álcool, drogas e outros excessos e abusos...

E stou fazendo justiça, a cidade é boa mesmo. Boa como Lisboa, embora sem o bacalhau. Cheia de encantos mil. Se você duvida, vá descendo o p...


Estou fazendo justiça, a cidade é boa mesmo. Boa como Lisboa, embora sem o bacalhau. Cheia de encantos mil. Se você duvida, vá descendo o planalto do Cabo Branco, perto da estatua de Iemanjá e olhe para aquela enseada... É um trecho de deixar a gente em êxtase poético. Quer ver outro lugar maravilhoso? A praia de Manaíra, com o mar bem perto. Ah, João Pessoa, cidade boa e bela, que faz muita inveja aos paulistas, que não têm praia. Praia de Tambaú.
Mas vamos adiante. Adiante não, vamos recuar um pouco no tempo e ver como a cidade nasceu. Fazem muitos anos. Nasceu no ano de 1585, lá em baixo, onde desfila o rio Sanhauá, afluente do Paraíba. Foi ali que se deu, oficialmente, a fundação ou melhor, o nascimento da capital paraibana. Foi ali que a mão indígena apertou a mão portuguesa, num pacto de paz. A nossa capital, portanto, nasceu sob o signo da paz e da concórdia. Um soberbo acontecimento, que ocuparia as manchetes dos jornais, se estes existissem. O índio Piragibe seria entrevistado pela TV.
Fundada, a nova capital achou de subir, deixar a cidade baixa em busca da cidade alta. E nessa caminhada, foi bater no centro, onde existia uma lagoa. Uma lagoa que poderíamos chamar de espelho, onde a cidade havia de se mirar.
Mas a cidade continuou subindo em busca do mar, ainda bem longe. E teve de se aventurar pela densa floresta, que o presidente João Pessoa precisou destruir, um dia, para construir a grande avenida que iria dar acesso à decantada praia, hoje a mais importante da cidade. Assim, descoberta a praia, a cidade ficou entre o rio, o mar e uma lagoa no centro.
João Pessoa, que já se chamou Paraíba, é hoje uma gostosa cidade. Boa de clima, de verde, muito visitada pelos turistas, embora venha se tornando num inferno sonoro, com propaganda comercial e eleitoreira. Mas, um dia, ainda temos esperança que isto se acabará.
João Pessoa! Vim para cá com quatro anos de idade. E me apaixonei logo por ela. Alagoa Nova que me perdoe, não é Wills Leal? Afinal, podemos definir a nossa capital como cidade dos flamboyants, das acácias, ou uma cidade entre o rio e o mar, com uma lagoa ao centro...

H élio Zenaide... Pois não é que, uma noite dessas, ouvi-o falando, lá no Centro Espírita “Leopoldo Cirne”, dissertando sobre o futuro na vi...


Hélio Zenaide... Pois não é que, uma noite dessas, ouvi-o falando, lá no Centro Espírita “Leopoldo Cirne”, dissertando sobre o futuro na vida da gente. E Hélio ilustrou sua fala com fatos retirados da Bíblia. Ele, que está com a visão diminuída, viu longe na sua palestra. Afinal, vivemos entre três realidades: a do passado, a do presente e a do futuro. E curioso, com exceção do presente, as outras são incógnitas. Não sabemos, como espirito, o que fomos na vida passada. E quanto ao futuro o ignoramos, completamente, o que não deixa de ser uma benção. Já imaginou se tivéssemos consciência de tudo que vai nos acontecer? Já pensou se, daqui a um minuto, eu soubesse que seria atingido por um infarto? Ou que amanhã seria atropelado por um automóvel? Se... Não, leitor, não adianta ficar horrorizado. O futuro é uma grande mistério.
Mas voltemos ao nosso Hélio, que outrora era cronista político. E depois, já maduro, a filha levou-o a um centro para assistir a uma reunião mediúnica, onde ele pôde testemunhar fatos que o levaram a mudar de ótica religiosa. Hélio se tornou espírita, dando passes e conversando , não mais com os políticos, mas com os espíritos, ora vejam só...
E Hélio como jornalista? Um primor de estilo, clareza e argúcia. Falando bem perto de mim, notei que ele não tem nenhuma ruga. A cara enxuta que me fez inveja. E que tal conversar com ele? A gente sai outro da conversa. Depois da palestra, ele cumprimentou, ligeiramente, os amigos e foi para o seu abrigo doméstico. Foi com a consciência tranqüila de mais um dever cumprido com a sua doutrina.
Foi aqui neste jornal A União, onde ele mais escreveu. E eu gostaria que ele voltasse a escrever no nosso tradicional matutino, hoje dirigido por um mestre do jornalismo, o meu amigo Fernando Moura.
Hélio Zenaide é filho do grande paraibano, escritor e pesquisador Heretiano Zenaide, autor de vários livros didáticos sobre temas ecológicos. E, aqui para nós, o governo bem que poderia reeditar as obras de Heretiano.
Mas, voltando ao nosso Hélio, que ele me perdoe esta crônica, ele que agora vive escondido na sua modéstia, na sua paz de consciência limpa.

N ós temos, hoje, boas livrarias, duas no Manaíra Shopping, uma no Shopping Tambiá, recém-inaugurada lá no centro da cidade, a Livraria do L...


Nós temos, hoje, boas livrarias, duas no Manaíra Shopping, uma no Shopping Tambiá, recém-inaugurada lá no centro da cidade, a Livraria do Luiz, que acaba de passar por uma radical reforma, e por último, a livraria do Shopping Via Sul, dos Bancários.
Aqui para nós, tais livrarias deixaram aquele velho costume que, para ler um livro, só depois de comprá-lo. Costume provinciano e estúpido. Nada de namorar com o livro, nada de uma maior intimidade com ele...
No novo conceito de livraria moderna, além de um bom atendimento por recepcionistas competentes, informados e bem-humorados, costuma-se deixar os clientes à vontade. Mais: não lhes faltam confortáveis recantos com cadeiras e poltronas para ele fazer uma leitura do livro, que pretende ler, só sendo proibido fazer anotações nele, é lógico. Outra coisa: a moderna livraria estimula a presença do leitor infantil, que também dispõe desses espaços. E nessa questão, estão merecedoras de aplausos a Leitura e a Saraiva, no Manaíra Shopping. Ambas abriram tais ambiente para as crianças.
Mas, vai aqui uma observação: as livrarias, aqui instaladas, têm obrigação de dar mais destaque aos escritores da terra. A Leitura, nessa parte, merece aplausos. E o que dizer dos livros espíritas? Tem delas que ao invés de Espiritismo, colocam Esoterismo. Simples preconceito com a Doutrina codificada por Allan Kardec, cujos livros têm prioridade na venda, a começar pelos psicografados por Chico Xavier. Toda essa preconceituosa atitude é merecedora de repulsa. Bem disse o grande Einstein, para quem é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.
Aqui para nós, conheci muitas livrarias estrangeiras, mas nenhuma delas me encantou mais do que a El Atheneo, em Buenos Ayres, onde os freqüentadores ficam inteiramente à vontade. Têm deles que lêem até deitados nos tapetes. E que silêncio! Só não vi lá crianças.
Ah, as livrarias, que belos refúgios para a leitura, a reflexão e o bem-estar intimo! A verdade é que, como profetizou a Bíblia, ”fazer livros não tem fim”.

Q uando eu era adolescente, até que gostava da Festa das Neves, cuja parte profana não atrapalhava a parte religiosa, razão maior do tradici...


Quando eu era adolescente, até que gostava da Festa das Neves, cuja parte profana não atrapalhava a parte religiosa, razão maior do tradicional acontecimento religioso.
Eu morava na rua Nova, hoje General Osório, e a festa vinha alegrar todos os seus moradores. Minha alegria começava com o batuque na madeira anunciando a construção de pavilhões.
E a festa era bonita mesmo. Muita disciplina, muito bom gosto, muita segurança. E quantos casamentos começaram ali...
A parte profana era chamada a bagaceira, onde o povo ia beber, comer e se divertir, esquecido de que o evento era primordialmente religioso, um culto à Nossa Senhora das Neves, a padroeira da terceira capital mais antiga do país.
Mas o progresso, aos poucos, foi avançando para a orla marítima. Tambaú era e continua sendo a grande atração. O centro da capital foi mudando de lugar. Vieram as edificações gigantes, vieram os congestionamentos, vieram os assaltos, a falta de segurança, a poluição sonora. Acabaram-se os quintais, o ecológico foi agredido. E a tradicional festa já não dispunha de espaço, porquanto a população crescera. A catedral ficou completamente esquecida. O comércio preponderou sobre tudo. A Festa das Neves atrapalhou o trânsito, terminou produzindo muito barulho para a vizinhança, e assim por diante. O objetivo maior quase que ficou esquecido. Preponderou o profano em detrimento do religioso, e ninguém para expulsar os “vendilhões do templo”
Mas pouca gente deu por essa transformação. E se deu, calou-se. E eis que surge uma voz de quem não tem papa na língua. Um homem de coragem e que viu na citada festa puro mercantilismo, puro mundanismo, nada de religiosidade. E que ficou sensibilizado com os problemas urbanos que a festa agora produz. Este homem não é outro senão o nosso Arcebispo Dom Aldo, que teve a coragem de vir a público, lançar o seu protesto contra o desvirtuamento a que chegou a Festa. Ele, que desde que aqui chegou, demonstrou força e atitude perante costumes equivocados da cidade, que passou a adotar como sua.
Parabéns, meu Arcebispo. Um homem que prefere viver com a consciência, do que com a conveniência.

Quando o assunto é telenovela, as opiniões se dividem. Uns acham que é puro lixo. Outros consideram apenas como uma simples e inofensiva div...

Quando o assunto é telenovela, as opiniões se dividem. Uns acham que é puro lixo. Outros consideram apenas como uma simples e inofensiva diversão, indispensável para relaxar no final do dia.