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Uma pequena homenagem a Inaldo Quintans Os irmãos se viam pouco. Não porque não se gostassem, mas era hábito da família a reserva. Q...

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Uma pequena homenagem a Inaldo Quintans

Os irmãos se viam pouco. Não porque não se gostassem, mas era hábito da família a reserva. Queriam-se bem, contentavam-se ao encontro, mas viam-se pouco. Quando juntos, riam alto, comiam com gosto, bebiam até ao exagero, alegravam-se!

Era um sábado, haviam há muito se encontrado, e a esposa de um deles decidiu promover a reunião – comemorariam a visita do irmão que morava longe, comemorariam a vida também. Sabendo dos gostos da linhagem, ela escolheu uma feijoada para o almoço; teria o sabor que era de agrado de todos, teria a simplicidade que não feria a espontânea conversação. Assim foi.

Estupefata diante de nossa nova chegada a Marte, me detive nas inacreditáveis imagens do planeta vermelho. Ainda com os pequenos seres ve...

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Estupefata diante de nossa nova chegada a Marte, me detive nas inacreditáveis imagens do planeta vermelho. Ainda com os pequenos seres verdes na memória, marcianos da fantasia humana, me deparei com a impactante realidade do vizinho orbe: um deserto de pedras e areia, de uma beleza atávica, imemorial, bem alinhado com os estranhos momentos que vivemos.

Nestes tempos de quarentena, além das dores, a espontânea expressão musical vem unindo o globo em torno do malfadado vírus. Em diversas for...

sandra trombetta musica na psicanalise

Nestes tempos de quarentena, além das dores, a espontânea expressão musical vem unindo o globo em torno do malfadado vírus. Em diversas formas e espaços, a nobre arte tornou-se fiel companheira na épica experiência que vivemos. Em seu conjunto, doença e música poderiam compor um filme de Quentin Tarantino, qual Django Livre, em que o conhecido diretor une cenas de atônito terror a belas e inusitadas melodias – retrato exato da pluralidade de sentimentos que nos assola.

A música daquele domingo... arrancou-me para o mundo do sonho
No pedaço do mundo onde habito não tem sido diferente. A partir das apresentações de um talentoso vizinho, que nos presenteou com o som de seu violino, a pracinha em frente ao meu edifício virou palco de generosas apresentações. Um palco estranho, é bem verdade, já que os ouvintes continuam entocados em suas varandas, dando a falsa impressão de que não existe plateia.

Em um domingo de abril foi a vez de uma cantora lírica, que, entre populares e clássicas, fez entoar Puccini através de sua melodiosa voz. Fui dormir adolescente, cantarolando Nessum Dorma em minha mente, e naquela noite não quis saber de notícias tristes ou estatísticas assustadoras. Acordei na madrugada ainda com um recanto de sossego dentro de mim, e lembrei que a música costuma ser definida como dois sons entre um silêncio. Um som contínuo, sem o intervalo do silêncio, será qualquer coisa como um barulho; mas não será música. E somente então percebi o quanto eu estivera mergulhada na busca incessante da informação, ou da compreensão, sem me permitir o precioso intervalo do sonhar e do silêncio.

A psicanálise nos ensina que o sonhar, aquele que produzimos quando estamos dormindo, mas também aquele que nos permitimos ao mergulhar numa bela canção ou num pequeno devaneio, é condição para que possamos mentalmente assimilar a realidade, modificando-a no que for possível, aceitando-a no que tiver de inexorável. Assim como na arte da música, o nosso pensamento produtivo precisa do intervalo do sonhar para acontecer. A realidade sem este intervalo também é apenas barulho, ficamos cegos de tanto vê-la, e por mais que a informação se acumule dentro de nós ela não se transformará em matéria para o aprendizado, para as decisões e escolhas que a vida nos impõem, para o crescimento.

A música daquele domingo, por sua beleza e inusitada inserção, ao modo de Tarantino, arrancou-me para o mundo do sonho amenizando-me o peso do vivido, restituindo-me o espaço do pensamento e permitindo, inclusive, que me debruçasse sobre o papel do computador para escrever estas linhas.

*Variações de uma psicanalista sobre a quarentena


Sandra Trombetta é psicanalista, membro da Sociedade Psicanalítica do Recife