Mostrando postagens com marcador Rinaldo de Fernandes. Mostrar todas as postagens
outubro 27, 2019
O que fazer com uma montanha que tem endereço?
Um pedaço de jornal rolou pelo chão – e veio cair um recado na minha mão. O recado dizia de uma casa à venda, que tinha como vizinha uma montanha. Eu olhei em volta e não vi montanha alguma contornando a cidade. Mas a notícia era imperiosa, a montanha estalava e podia ser vista todo dia. Fiquei tão curioso que destaquei o endereço e fui em busca da casa.
Dirigi por algum tempo, atravessei uma ponte. De fato, à medida que eu me aproximava da casa, crescia, ao fundo, uma montanha azulada, em cujo topo havia névoas breves – verdadeiros soluços brancos. Era mesmo um fascínio morar num lugar daquele, com uma montanha tão imponente e que estalava. Ocorre que, quando catei no papel o endereço exato da casa, notei algo esquisito. A rua era sem nome, a casa sem número. O único endereço ali era o da montanha.
O que fazer com uma montanha que tem endereço? Eu não sabia. Então resolvi que olhar montanha pode ser arrebatador, mas que, mesmo tendo endereço e estalando, uma montanha será sempre uma gigantesca pedra. E desisti dos soluços brancos.
Talvez morrer antes
Veio ontem almoçar comigo o meu filho que se droga. Há uns dias ele não se drogava – mas veio para acabar de me partir. À mesa, quase não me olhava e esquecia-se do pai – observava, obsessivo, os ramos do tapete. Foi à pia escarrar algumas vezes. Quando se dobrava para cuspir, eu via bem o seu pescoço com sujos, a sua orelha nua. Eu sempre cobri bem meu filho quando ele dormia aqui – e sempre lhe imprimi o calor de minhas orações. Ontem lhe ofereci coisas, estiquei a mão, tentei agradar seus cabelos empoeirados.
O que fazer com uma montanha que tem endereço? Um pedaço de jornal rolou pelo chão – e veio cair um recado na minha mão. O recado dizia d...
“Três contos, três brilhos”
O que fazer com uma montanha que tem endereço?
Um pedaço de jornal rolou pelo chão – e veio cair um recado na minha mão. O recado dizia de uma casa à venda, que tinha como vizinha uma montanha. Eu olhei em volta e não vi montanha alguma contornando a cidade. Mas a notícia era imperiosa, a montanha estalava e podia ser vista todo dia. Fiquei tão curioso que destaquei o endereço e fui em busca da casa.
Dirigi por algum tempo, atravessei uma ponte. De fato, à medida que eu me aproximava da casa, crescia, ao fundo, uma montanha azulada, em cujo topo havia névoas breves – verdadeiros soluços brancos. Era mesmo um fascínio morar num lugar daquele, com uma montanha tão imponente e que estalava. Ocorre que, quando catei no papel o endereço exato da casa, notei algo esquisito. A rua era sem nome, a casa sem número. O único endereço ali era o da montanha.
O que fazer com uma montanha que tem endereço? Eu não sabia. Então resolvi que olhar montanha pode ser arrebatador, mas que, mesmo tendo endereço e estalando, uma montanha será sempre uma gigantesca pedra. E desisti dos soluços brancos.
Talvez morrer antes
Veio ontem almoçar comigo o meu filho que se droga. Há uns dias ele não se drogava – mas veio para acabar de me partir. À mesa, quase não me olhava e esquecia-se do pai – observava, obsessivo, os ramos do tapete. Foi à pia escarrar algumas vezes. Quando se dobrava para cuspir, eu via bem o seu pescoço com sujos, a sua orelha nua. Eu sempre cobri bem meu filho quando ele dormia aqui – e sempre lhe imprimi o calor de minhas orações. Ontem lhe ofereci coisas, estiquei a mão, tentei agradar seus cabelos empoeirados.
Assinar:
Postagens (Atom)