João Pessoa era uma cidade calma. Sempre teve muitos carros, mas o trânsito era relativamente tranquilo. Os engarrafamentos o...
''Chego já'', em João Pessoa, não existe mais!
Belizário era um jovem com alma antiga, daquelas pessoas metódicas no jeito de ser. Nessa manhã ele tinha ido ao Shopping para conser...
A troca do Batom, ou batom na cueca
Resolvi começar a caminhar no parque próximo de casa. Logo nos primeiros passos descobri que precisava andar em zig zag desviando dos ...
Sociedade protetora dos humanos sem pet
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” (Vinícius de Moraes) No corre-corre da cidade, as opções são ...
A vida é a arte do encontro
(Vinícius de Moraes)
Eu sou um cara que não sou adepto dessas modernidades. Outro dia vi numa rede social um homem grávido — que negócio mais estranho, pode...
O Pesadelo!
Arrumando meus guardados, em mais uma mudança, me deparo com o cartão postal do fotógrafo Ricardo Peixoto. EU 100 anos - Aug...
O coração pulsante e outro Eu!
Sentada na cadeira como um diretor de cinema, solto a minha imaginação para assistir pedaços distantes da minha história. A cena mostra tudo cinza e embaralhado, imagens sobrepostas na memória. Foi assim que me senti com a morte do meu avô. Eu com 11 anos passando pela segunda maior separação da minha vida.
Domingo de carnaval, a folia corria solta nas ladeiras de Olinda. O frevo contagiava todos, difícil alguém ficar parado. Era o dia do ...
O beijo roubado!
Tem dias que parecem nunca acabar. São dias melancólicos e sem brilho. Quando acontece, fico até pensando se é o tempo, ou sou eu que e...
Vamos cuidar do que nos resta!
Dia nublado é como a incerteza, não ajuda. Uma espera sem esperança, quieta. É insosso como arroz sem sal. No sertão, em dia nublado, as nuvens passam altas e pesadas, levando a chuva para longe.
Na isolada vila de pescador, apenas uma construção se destaca das demais: o casarão à beira mar, fechado há muitos anos. Os pescadores...
A rosa amarela no jardim de saudades
As mulheres só gostam de olhar para o mar na hora da jangada voltar, uma superstição com misto de medo e respeito. O mar que dá o sustento também leva os pescadores.
A sala quase toda escura, só a luz na mesa revelava a toalha transparente e, por cima, um pano vermelho aveludado onde as cartas do Ta...
O jogo de Tarô
Quando ela entrou, senti que tinha algo diferente, misterioso, meu sexto sentido logo percebeu, tão acostumada que estou com anos e anos atendendo às mais variadas almas aflitas. Ela entrou, deu boa tarde e sentou, ainda com o olhar distante, como se tivesse vindo hipnotizada
Hoje tenho 65 anos. A pele quase toda branca do vitiligo. Antes, minha pele era bronzeada. Gostava de ver o seu brilho depois de um dia ...
A troca de pele
A minha geração era assim. Não existia protetor solar e, sim, os bronzeadores. Os importados, então, um sucesso: Rayito de Sol, Coconut e Coppertone. Também havia as misturas caseiras com urucum, óleo de coco e até coca-cola. Estranho, mas tinha gente que passava. Eu não gostava de me lambuzar, mas para entrar na onda passava óleo no corpo, para fazer a marquinha do biquini. Era a sensação! Nunca tive paciência de ficar deitada bronzeando.
Isaurinha era linda, cabelos longos, cintura fina e ancas largas. Uma belezura, de costas. Já de frente, não era nada bonita. Mesmo assi...
A paixão é inusitada
Esse "causo" aconteceu no século passado. Em uma pequena cidade do alto sertão paraibano, a chuva era escassa quase o ano todo, ...
Uma chuva de gelo e o mundo quase acabou...
Mas houve um ano em que não choveu nem uma gota. Já entrava no segundo ano, quando o céu escureceu no meio da tarde, parecia o fim do mundo, de um lado o sol escaldante, e do outro o céu escuro, escuro, armando um temporal. Todos assustados correram para suas casas esperando saber o que ia acontecer. De repente, começou a soprar um vento. Foi uma ventania tão forte que levantou uma revoada de poeira, troços, galhos, até panela e tabuleiros voaram pelas ruas, e, quando começou a chover, não era água, eram pedras de gelo. Faziam um barulho que parecia uma panela de pipoca gigante. Árvores caídas, não ficou nada no lugar. Foi um corre-corre só, uns para debaixo das camas, outros para dentro dos guarda-roupas pensando que o fim do mundo tinha chegado mesmo. Era um tal de rezar e pedir perdão dos pecados, muitos começaram a correr para a igreja matriz e confessar os seus erros, mesmo que não houvesse padre algum para ouvir, que foi o primeiro a se esconder na sacristia. Confissões jogadas ao vento, um desespero. Quem tinha ouvidos, ouviu. Quando a chuva de gelo parou, começaram a juntar os troços, refazer os telhados, juntar os cacos.
No dia seguinte, muitos andavam desconfiados, principalmente os que confessaram seus pecados alto, famílias quase desfeitas, outros contavam vantagem dizendo que foram arrastados pelo vento tantos quilômetros; uns diziam que chegaram até a voar, histórias de todo tipo, muito marido arrependido por ter confessado seus pecados, amizades desfeitas e amores descobertos, o verdadeiro fim do mundo, pelo menos para eles.
Quando os ventos foram acalmando, o coronel falou:
- Arreie as calças!
Tião assustadíssimo:
- Valei-me Nossa Senhora, agora lascou mesmo, o coronel valente vai fazer o que comigo???
Com um medo danado, apertado como estava, fez xixi nas calças. O coronel, quando viu:
- Deixe de ser frouxo homem, quero é trocar de calça com você, tá me estranhando? A minha está toda borrada e eu não vou sair assim, vão acabar comigo.
- Mas coronel, a minha está mijada.
- É melhor do que cagada, cabra frouxo!
E saiu com sua valentia, vestido nas calças de Tião. Mas antes se certificou se Tião tinha mesmo vestido as dele, toda borrada. E nem procurou as moletas do pobre Tião...
A história pode parecer engraçada, mas retrata como a nossa cultura foi construída, calcada numa força criada no imaginário popular, na exploração e submissão de pessoas, nos falsos poderes que expropriam do povo as necessidades mais primárias. Gostaria nunca tivesse existido situações assim, mas se não foi essa, podem acreditar, que muitas semelhantes ou até piores, aconteceram e ainda acontecem nesse país, em especial na “ladeira abaixo” que estamos vivendo, com a miséria estampada nas ruas diariamente. É só observar os homens e mulheres de hoje, com seus carrões, jogando migalhas nos sinais de trânsitos, “limpando suas consciências com bondades” às custas da pobreza alheia, sem abrir mão de privilégios, como se fossem merecedores. Sabemos que não o são.
Será que um dia trocaremos privilégios por igualdades de direitos? Será que ainda cabe sonhar com um país com oportunidades para todas as pessoas? Fica a reflexão!
Uma noite dessas de pandemia, sonhei com Albertina a senhora que trabalhou por muitos anos na casa do meu avô, onde vivi desde que nasci. ...
Albertina, um ser especial
Quando eu era criança ela não gostava que eu ficasse na cozinha, mas eu estava sempre lá fazendo alguma traquinagem. Nessa época, a galinha era comprada viva na feira e morta no quintal, horas antes do preparo, e eu acocorada acompanhava tudo bem de perto, mesmo com os protestos dela. Um corte no pescoço, rápido para tirar o sangue e fazer o molho à cabidela,
Quando convivemos muitos anos com alguém, intimamente, dividindo não só a vida, mas a cama, o quarto, os objetos, além das alegrias e dore...
A intimidade da convivência
Nessa época de final de ano é comum recebermos uma quantidade enorme de mensagens, às vezes piscando cheias de Papai Noel, árvores enfeita...
Cuidar é acima de tudo um ato de amor
Aqui no Nordeste não temos as estações bem definidas. Popularmente temos o verão, com o sol, e o inverno com o tempo das chuvas. Muitas veze...
Chuva de verão
Quem ama os livros não se separa deles mesmo nas situações mais inusitadas da vida. Essa certeza eu tive quando comecei a acompanhar uma se...
Vida andada, girada, não importa!
Quem ama os livros não se separa deles mesmo nas situações mais inusitadas da vida. Essa certeza eu tive quando comecei a acompanhar uma senhora, moradora de rua, elegante, com roupas de uma outra época e de um outro lugar. Ela parecia um personagem de romance que transitava pelas quadras e super quadras de Brasília. Enigmática, chamava atenção daqueles mais atentos à paisagem e ao que dela fazem parte.
Mesmo morando na rua, nunca estava deselegante. Magra, esbelta, saia longa de cintura alta, larga, com botas e cabelo longo encaracolado, o louro já indo embora para dar lugar ao grisalho, carregava uma maleta de couro pequena parecendo Mary Poppins, (filme da minha infância, um dos clássicos com Julie Andrews)
Em tempos de isolamento social, época de pandemia, é dúbio pensar: estou fora! Se a pessoa for idosa e do grupo de risco, o fora é dentro d...
Novamente ela chegou sem avisar
Em tempos de isolamento social, época de pandemia, é dúbio pensar: estou fora! Se a pessoa for idosa e do grupo de risco, o fora é dentro de casa. Essa constatação ficou bem óbvia quando acordei, olhei para as minhas roupas penduradas na arara e pensei: quanto tempo mais vou viver fora das minhas roupas? Cheguei até a sonhar que estava com meu vestido verde claro, com um tecido mesclado, que gosto tanto.
O som das ondas do mar acaricia o meu corpo como um leve afago, era o que estava precisando. Este dia que me faz voltar ao mar para sentir ...
A carícia necessária
O som das ondas do mar acaricia o meu corpo como um leve afago, era o que estava precisando. Este dia que me faz voltar ao mar para sentir o afago, também me coloca no mundo real.
Já faz 14 anos que não tenho mais você aqui. O carinho e o amor ficaram em outra dimensão, em uma lembrança, num olhar solto na paisagem, num cheiro, ou no barulho de uma porta que não é aqui. Não tem ninguém para chegar, e como era bom ver você chegar… A música solitária no rádio do carro ainda toca e me toca. Agradeço tudo o que vivemos, tudo que construímos nas nossas almas.