Tem se intensificado a realização de eventos literários em que as pessoas se reúnem para dizer poemas, apresentar, debater e ler tre...
Saraus poéticos: uma tradição que se renova
POEMA-FLOR Minha poesia é flor, muitas vezes, simples, inofensiva. Mas não se engane: uma flor não é só cheiro, cor, delicad...
Uma flor não é só cheiro
Minha poesia é flor, muitas vezes, simples, inofensiva. Mas não se engane: uma flor não é só cheiro, cor, delicadeza.
SONHO DE RIO corre no curso de todo rio intermitente a vontade de ser nuvem novamente sou um rio que seca e, vez por out...
Sonho de rio
corre no curso de todo rio intermitente a vontade de ser nuvem novamente sou um rio que seca e, vez por outra, enche
Hoje é véspera de São Pedro, data simbólica para minha família, porque é aniversário do meu irmão mais velho, Hermes Filho, que se foi ...
Entre fogos e saudades
DO MEU SÃO JOÃO Eu tenho uma fogueira acesa dentro do coração. Enquanto ela queima, trago à memória Imagens de...
Do meu São João
Eu tenho uma fogueira acesa dentro do coração. Enquanto ela queima, trago à memória Imagens de um tempo em que se acreditava nos poderes das simpatias das noites de São João.
Não tenho medo de altura e nem de andar de avião, no entanto, diante de uma ameaça de incêndio ou de uma turbulência um pouco mais for...
É fogo!
DA INUTILIDADE DA POESIA Uma flor qualquer no chão encontrada pode ser motivo de um poema, de uma quadra. A poesia tem ...
A poesia tem dessas coisas
Uma flor qualquer no chão encontrada pode ser motivo de um poema, de uma quadra. A poesia tem dessas coisas inusitadas, com cara
Após sentir fortes dores no ombro e recorrência de febre, fui a um ortopedista que, para obter um diagnóstico mais preciso, solicitou q...
Da Ressonância
DO OBLÍQUO Gata-lobo na janela uiva para a lua que, bela, ilumina os olhos de ressaca dela.
Gata-lobo na janela
Gata-lobo na janela uiva para a lua que, bela, ilumina os olhos de ressaca dela.
POÉTICA A menina azul traz na ponta da língua a palavra que queima dentro de si. A menina azul acende o farol da poesi...
Lassidão
A menina azul traz na ponta da língua a palavra que queima dentro de si. A menina azul acende o farol da poesia que se reflete em seus olhos de jade e rubi.
Dentre os itens da minha lista de metas para o ano de 2024, te...
Pausa digital
Houve um tempo em que minha mãe se incomodava muito com a algazarra feita por filhos, netos e agregados nos dias em que todos se reunia...
Casa vazia
Há um trecho de um poema de Cora Coralina que diz assim: “Ajuntei todas as pedras Que vieram sobre mim Levantei uma escada muito al...
Entre pedras e livros, a Festa Literária de Paraty
Os versos falam sobre transformar as dificuldades em algo positivo; sonhar e buscar realizar esse sonho. Pensar assim é ter coragem de enfrentar os percalços da vida, como ela fez, produzindo doces para sobreviver, mas realizando seu sonho de escritora, ao colar, nos saquinhos de papel que serviam de embalagem, seus poemas encantadores.
Ousadia foi a palavra que me veio à cabeça, ao me meter na aventura de ir a Paraty conhecer a festa literária mais importante do Brasil. Participar desse evento era um desejo antigo a que me dei o luxo de realizar.
A gente não se engana e sabe que é um evento grandioso voltado para o mundo mercadológico editorial. Lá parece que tudo gira mais em torno de quem escreve do que de quem lê. É um filão a ser explorado, pois quem não quer ser reconhecido pela arte literária que produz? Todo artista quer se mostrar e se exibir. Poucos são os que estão ali que não tenham pelo menos um livrinho publicado ou um texto em alguma antologia.
Porém, há a possibilidade de ver e de ouvir escritores que admiramos e trocar experiências num ambiente cuja maioria gosta e respira literatura. Andar pelas ruas de pedras irregulares e ver a luta de tanta gente buscando sair do anonimato são um capítulo à parte.
Há atividade para tudo quanto é gosto. Da programação oficial, formatada em 20 mesas temáticas, que acontecem numa tenda-auditório climatizada, com reprodução das falas num ambiente com telão que fica ao lado (esse sem ar-condicionado, mas pelo menos com acesso gratuito), até a programação de inúmeros outros espaços privados a que chamam de casas, com suas peculiaridades e que competem entre si pelos ávidos participantes itinerantes, que vão de uma a outra, em busca de novidades.
Encontramos muitos lugares alternativos em meio a um areal (único local plano, mas cheio de lama), ao lado do rio que corta aquele pedaço da cidade histórica, feita de pedras desiguais e escorregadias, em que até quem tem nariz empinado precisa andar olhando onde pisa, sob pena de escorregar e ir ao chão da dura realidade.
No entanto, gostei muito da experiência. Ter o nome na programação oficial, através da participação em uma casa parceira, poder lançar um livro na FLIP e estar em uma coletânea de textos de autoria feminina encheram-me de orgulho. Fiz questão de marcar presença e colocar à venda, numa mesinha branca, forrada com toalha preta, meus três livros de poesia. E as pessoas, curiosas, paravam, folheavam, perguntavam de mim e alguns até compravam.
Além da mesa 19, cujo tema foi “Só então pude falar”, composta pelo escritor mais lido do momento, Itamar Vieira Júnior, Miriam Espodito e a simpática Glicéria Tupinambá, vi, com muito apreço, a mesa 15, que trouxe falas sobre o artista em destaque, Augusto de Campos, vivinho da silva, com seus 92 anos, um gênio do que ouso chamar, com todo respeito que merece, de poeta do virtual, visual e sinestésico, reverenciado por André Vallas, Ricardo Aleixo e Simone Homem de Melo.
No mais, não nos esqueçamos dos perrengues, como um calor infernal, um apagão em toda a cidade, no segundo dia do evento, cheia de mosquitos que picavam para valer, chuva de vez em quando e as filas quilométricas até para conseguir um pequeno espaço do lado de fora, perto da janela, para ouvir alguma celebridade literária ou para pegar um autógrafo do autor do livro mais vendido.
A experiência foi boa. É preciso vivê-la, se você escreve e gosta de literatura. Juntar pedras e construir com elas escadas é ainda o que mais precisamos aprender a fazer. Se voltarei lá um dia? Quem sabe? Talvez. Por que não?
Há anos que deixei de ir ao cemitério no Dia de Finados. Justificava que aquilo era bobagem, pura vaidade para dar satisfação aos outro...
Hodie mihi, cras tibi
Neste ano, no entanto, mudei de pensamento e fiz diferente: comprei flores, acendi velas e andei por entre as alamedas estreitas da “última morada” de minha cidade, Pocinhos, parando em vários túmulos para ver fotos e ler epitáfios.
O PRESENTE O pacote chegou de manhã. Nenhuma referência ao remetente. Abri-o, mecanicamente. Bem na frente, um bilhete: “Antes de...
Arco-íris
O PRESENTE
O pacote chegou de manhã. Nenhuma referência ao remetente. Abri-o, mecanicamente. Bem na frente, um bilhete: “Antes de morrer, ele me pediu para devolver as cartas que você lhe escreveu”. Nós nos conhecemos na quermesse. Era a primeira vez que aparecia na cidade. Vinha a trabalho, de passagem. Seus beijos, os únicos que experimentei na vida. Desse modo foi até a correspondência cessar, sem que ele voltasse uma vez sequer. Lembrei, com amargura, das últimas palavras que dissera a mim, num sussurro, por ocasião da despedida: “Talvez eu tenha encontrado quem procurava”. Toquei fogo no embrulho e fui tomar café.
BACALHAU DA PAIXÃO Sexta-feira Santa. A família, em burburinho infernal, estava à mesa para comer peixe. Para o filho doente, a m...
Não sinto gosto de nada
BACALHAU DA PAIXÃO
Sexta-feira Santa. A família, em burburinho infernal, estava à mesa para comer peixe. Para o filho doente, a mãe fez bacalhau, mesmo com o preço do quilo a exorbitar. Cada um que dissesse do que mais gostava, dentre as comidas ali expostas. Menos ele. Engolia devagar, taciturno, talvez constrangido de ter iguaria diferenciada só para si. Até que, num átimo de silêncio, falou: “Deve estar uma delícia esse bacalhau”. Alguém inquiriu: “Deve estar?!”. Ao que redarguiu: “Desde que o câncer se instalou e precisei fazer o tratamento, não sinto gosto de nada”. Todos voltaram a seus pratos. E comeram calados.
DE AMORES PROVISÓRIOS
Jamais quis criar animal algum. Não cogitava se apegar a um ser que certamente iria viver menos do que ela. Preferia não se comprometer. A neta ganhou um cãozinho. Deixou-o com ela, sem pedir licença, alegando que a avó morava só, numa casa espaçosa, entre jardim e quintal. A rotina assim se estabeleceu: colocar comida, trocar a água da vasilha, retirar o cocô da caixa de areia e dar banho, uma vez por semana. Dele não gostava nem desgostava. Apenas o aturava, sem sentimentos nem aproximações. Juntos, no entanto, passavam horas a fio, estando ele na beira do fogão, ao pé da máquina de costura ou dormindo no tapete ao lado de sua cama. Isso até o cão adoecer e morrer. Para surpresa de si mesma, uma lágrima correu no canto de cada olho. Agora, sozinha de tudo, resmungava: “Bem que eu não queria bicho aqui”.
O ENCONTRO
Estava decidido a morrer naquela noite. A questão era como. Queria uma morte perfeita, sem dores, sangue jorrando, danos a outrem e vestígios. Cansara de ser um velho sozinho, doente e sem ânimo para lutar contra o que lhe oprimia o peito. Chovia fino e, enquanto caminhava a esmo, arquitetava. Foi quando a viu num cantinho escuro, por trás de uma lata de lixo, tremendo de frio e, agora, de medo também. Ela quis se esquivar, para se proteger de uma possível agressão, o que já lhe era natural. O homem se abaixou, pegou-a no colo e a protegeu, entre a camisa de algodão e o surrado casaco de lã. Naquela noite, ela não miou desesperadamente. Ele não mais pensou em se matar.
OLHAR POÉTICO Olha a flor com olhos de jardineiro que cava a terra e planta a semente que rega e limpa na espera paciente...
Olhar poético
Olha a flor com olhos de jardineiro que cava a terra e planta a semente que rega e limpa na espera paciente de que ela brote vingue e floresça
Certa vez, numa entrevista, perguntaram a Hebe Camargo se ela tinha medo de morrer. Ela falou que não. O que sentia era pena de deixar ...
Bloco na rua
É assim que tenho me sentido nos últimos tempos quando saio dos shows a que tenho assistido. Eu me coloco no lugar dos que, mesmo após os setenta, oitenta anos, conseguem se reinventar e continuam fazendo sucesso com os fãs do seu tempo e os de agora, pelo que podem significar para uma geração inteira de filhos e netos que não os conheceu à época deles, mas sabe que existem na memória dos pais e avós.
MELANCOLIA O som da chuva nas telhas, nas plantas, nas pedras, nos vãos. A água correndo nas calhas, nas bicas, na...
O som da chuva nas telhas... memória ativada
O som da chuva nas telhas, nas plantas, nas pedras, nos vãos. A água correndo nas calhas, nas bicas, nas ruas, no chão. Memória ativada, lá vem a saudade dos tempos de outrora em meu coração.
Não escrevo sobre alegrias, mesmo, dentre elas, a mais pura. Essa, eu deixo para viver, apreciando cada sorver de um néctar que pouco dura, mas se espalha e contagia.
Dor compartilhada é dor dividida que nos conforta nas agruras da seara que é a vida.
Mesmo sendo repetitivo, a insistir, não me canso de ouvir o canto claro e harmônico Do bem-te-vi.
Ontem eu tive um sonho muito estranho. Sonhei que ia fazer uma vitamina de frutas diversas e, ao invés de colocá-las no liquidificador,...
Alzheimer: um caminho chamado labirinto
Acordei assustada e perdi o sono tentando entender o que aquele sonho, vindo do nada, no meio da noite, poderia significar. Procurando atribuir sentidos e interpretar tais devaneios, despretensiosamente, sem um viés científico, o que me veio à cabeça foi que poderia se referir à situação de minha mãe que, há alguns anos, sofre com Alzheimer.