dezembro 18, 2024
“É preciso ter ainda o caos dentro de si para dar à luz uma estrela bailarina” (Friedrich Nietzsche) Não saber nomear as ...
“É preciso ter ainda o caos dentro de si para dar à luz uma estrela bailarina” (Friedrich Nietzsche)
Não saber nomear as coisas, os sentimentos e o vazio que por vezes nos acomete é causa de muita angústia e de adoecimento psicofísico. Desde cedo, intuía isso, por isso lia dicionários diversas vezes, na vã tentativa de aplacar o sofrimento que sequer sabia de onde vinha. Se “o amor é o fogo que arde sem se ver”, a dor ascende quando não sabemos como dizer. E, por ironia, o não dito literalmente nos tira a voz. O estado de pânico, a solidão mal administrada, o impacto de uma ida sem volta. Se a boca não fala, o corpo padece. Problemas respiratórios, gastrointestinais, dor de cabeça...
dezembro 18, 2024
dezembro 11, 2024
“É preciso coragem para abrir nosso coração aos outros e expor nossa vulnerabilidade. Podemos parar de nos esconder e de temer que...
“É preciso coragem para abrir nosso coração aos outros e expor nossa vulnerabilidade. Podemos parar de nos esconder e de temer que alguém possa ver quem realmente somos, porque estaremos escolhendo ser vistos”.
Thupten Jipa
dezembro 11, 2024
dezembro 04, 2024
Recentemente, um amigo meu, professor, submeteu-se a um processo seletivo em uma escola. Após realizar uma prova escrita, seguiu para...
Recentemente, um amigo meu, professor, submeteu-se a um processo seletivo em uma escola. Após realizar uma prova escrita, seguiu para uma entrevista coletiva, cuja primeira tarefa dos candidatos era confeccionar um crachá criativo. À disposição, estava uma cestinha na qual havia lápis de pintar, hidrocor, tesoura, cola, palito de picolé, papéis coloridos e um cordão. Sendo pouco habilidoso, o resultado não poderia ser menos cômico. Ao tentar aproveitar o máximo dos recursos, o crachá, ao final,
dezembro 04, 2024
novembro 27, 2024
Abrir um sorriso para morrer é contraditório a quê? A quem? Nascemos chorando. Ninguém estará mais à espera de um parto, talvez de um...
Abrir um sorriso para morrer é contraditório a quê? A quem? Nascemos chorando. Ninguém estará mais à espera de um parto, talvez de um partir e, provavelmente, a espera maior será a minha. Ninguém passa pela vida sem desejar a morte. Ninguém chega à morte sem querer a vida – por mais que tenha dor. O sofrimento é a purgação de toda alegria. A espera dói e opera. Faz uma ópera desconcertada. O renascimento ocorre no agora. Uma descrente me fez crer melhor.
novembro 27, 2024
novembro 20, 2024
Poeira também é poesia Poeira de estrelas Tão poético, e a Vassoura vai varrendo Indiferente, e atando Todo o lixo da casa. ...
Poeira também é poesia
Poeira de estrelas
Tão poético, e a
Vassoura vai varrendo
Indiferente, e atando
Todo o lixo da casa.
Na beira da mesa a lesma
A mesma esconde a eira
Areia de praia que ensaia
Soltar as raias por essa casa
Me arrasa, tua cauda rasa
A minha asa tão só, cantando...
novembro 20, 2024
novembro 13, 2024
“Amor é um egoísmo a dois” Madame de Stael Tenho mais medo de só ser que ser só. Como não me perder de vista diante de tanta pl...
“Amor é um egoísmo a dois”
Madame de Stael
Tenho mais medo de só ser que ser só. Como não me perder de vista diante de tanta pluralidade? Como me conjugar frente a tantos verbos? Ações múltiplas para um contexto amplo. E, mesmo tendo essa vastidão, corremos o risco de nos aprisionarmos. Perdidos em si, porque não soubemos escolher bem o outro. Ou por ter feito a escolha de só ser para o outro. Não é necessário muito tempo.
novembro 13, 2024
novembro 06, 2024
O POETA É UMA ILHA O poeta é uma ilha naufragando em si mesmo. Constrói sua trilha no verso averso a atalhos e afeito aos ...
O POETA É UMA ILHA
O poeta é uma ilha
naufragando em si mesmo.
Constrói sua trilha no verso
averso a atalhos e afeito
aos obstáculos da palavra.
O poeta se sabota
e agora enxerga sua poesia
como uma maldição que
o desnorteia. Melhor ser insensível?
novembro 06, 2024
outubro 30, 2024
O ser humano é o único animal que sabe que irá morrer, mas vive como se não soubesse e, depois de passado o tempo, se indigna por não...
O ser humano é o único animal que sabe que irá morrer, mas vive como se não soubesse e, depois de passado o tempo, se indigna por não tê-lo aproveitado conforme gostaria. Algumas pessoas têm tanto medo de morrer que não vivem. Outras, antecipam o tempo com o autoextermínio, não por não desejar mais a vida, mas por não suportar os sofrimentos da existência. No livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, a médica especialista em cuidados paliativos,
outubro 30, 2024
outubro 23, 2024
Intermináveis desejos Triste de quem guarda Sonhos para si mesmo De quem esconde a alma Para dizer que não chora De q...
Intermináveis desejos
Triste de quem guarda
Sonhos para si mesmo
De quem esconde a alma
Para dizer que não chora
De quem demora
Para confessar amor
E quando confessa
Logo transforma em mágoa.
outubro 23, 2024
outubro 16, 2024
maternidade adocao patinho feio Quando eu era criança, sentia uma profunda empatia (e simpati...
maternidade adocao patinho feio
Quando eu era criança, sentia uma profunda empatia (e simpatia) pelo Patinho Feio, não que eu me considerasse um pequeno monstrinho, mas por – quem sabe – não me reconhecer tão acolhido quanto desejava. Sempre achei que eu fosse, e às vezes acho, confesso, que não sou o filho que meus pais idealizaram. Porém, quem deve ser, de fato?
outubro 16, 2024
outubro 09, 2024
Minha experiência com o ensino de Literatura tem me convencido de que não existe, de fato, quem não goste de ler. As pessoas que o a...
Minha experiência com o ensino de Literatura tem me convencido de que não existe, de fato, quem não goste de ler. As pessoas que o alegam, provavelmente, tiveram contato com a literatura de forma infeliz. Em geral, somos sedentos por conhecimento. Necessitamos fantasiar, transcender
outubro 09, 2024
outubro 02, 2024
“Texto” vem do latim textum, que significa “tecido”. Não por acaso associamos ao conceito palavras que pertencem ao mesmo campo s...
“Texto” vem do latim textum, que significa “tecido”. Não por acaso associamos ao conceito palavras que pertencem ao mesmo campo semântico: trama, enredo. Considerando o texto como um tecido, não devemos desconsiderar os fios que o compõe, a fim de levá-lo a uma unidade significativa, afinal não há como considerar uma camisa apenas pela sua manga, pela gola ou por sua barra.
outubro 02, 2024
setembro 25, 2024
Perguntaram-me qual é a minha métrica para escolher livros. Fiquei pensativo, porque nunca parei, de fato, para “medir” as escolhas...
Perguntaram-me qual é a minha métrica para escolher livros. Fiquei pensativo, porque nunca parei, de fato, para “medir” as escolhas que faço no âmbito da minha bibliomania. Mania se mede? Reflito, então, que os livros mais marcantes foram justamente aqueles que me escolheram e não os escolhidos. Na nossa vida de leitores, há livros que são imprescindíveis, dado que são clássicos, essenciais para a formação acadêmica, de professores a advogados, passando por psicólogos,
setembro 25, 2024
setembro 18, 2024
Em um invólucro, para proteger-me de mim e do mundo, sou incoerente: não quero tamanha proteção. Que o mundo me afete, mas não me fa...
Em um invólucro, para proteger-me de mim e do mundo, sou incoerente: não quero tamanha proteção. Que o mundo me afete, mas não me faça perder o afeto. Talvez já seja um tanto tarde demais, mas ainda me resta um pouco de delicadeza. E eu vou entre contrações e descontrações. A cada dia me (re)parto na ávida busca pela unicidade. Antes, ser plural. Mas meu corpo se desencontra da minha alma.
setembro 18, 2024
setembro 11, 2024
Em Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade, a relação entre Carlos e Elza se inicia com a aproximação da linguagem. Durant...
Em Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade, a relação entre Carlos e Elza se inicia com a aproximação da linguagem. Durante a narrativa nos deparamos com vários momentos em que o corpo se constitui por meio da língua(gem). Isso é percebido quando ambos os sujeitos “se leem”, cada qual com seus estímulos e impulsos. Elza é a professora alemã do menino. A ela cabe o ensino do idioma de seu país. A atividade docente é interceptada quando entre eles o corpo
setembro 11, 2024
setembro 04, 2024
Foi no teu setembrante que me outonei. Primaverei. Submeti-me a uma fidelidade que determinou o teu mundo, mas sem escravizá-lo. ...
Foi no teu setembrante que me outonei. Primaverei. Submeti-me a uma fidelidade que determinou o teu mundo, mas sem escravizá-lo. Não fui eu o fator de ilusão. A lógica é simples. A emoção é o complexo. Não há conflito naquele que põe o amor como regente. Nele tornei-me religioso. Outono é tempo de queda. Neste, o solo é adubado. Primavera é tempo ressurreto. Na morte o fruto se desprende em sementes. Num tempo em que as cigarras cantavam e trocavam as carcaças, eu ficava sob a terra gerando meu canto. Neste solo, espinhos cravaram meus pés. Meu caminho inflamado...
setembro 04, 2024
agosto 28, 2024
Onde mora a felicidade? Não mora, não tem casa, é andarilha, pousa às vezes, vezes mais, vezes menos. Não admite receitas, regras nem...
Onde mora a felicidade? Não mora, não tem casa, é andarilha, pousa às vezes, vezes mais, vezes menos. Não admite receitas, regras nem milagres. É rebelde, atrevida, teimosa. Muitos, por a procurarem demais, acabam ficando para trás, restando-lhe uma miragem. Queremos um oásis, mas sequer caminhamos para encontrá-lo. Alguns almejam que se materialize diante de si imediatamente.
agosto 28, 2024
agosto 21, 2024
O amor como a poesia nos repõe o olhar, sedento pela crueza revestida de um leve cozimento - cicatriz a ser a lembrança. Não quero te...
O amor como a poesia nos repõe o olhar, sedento pela crueza revestida de um leve cozimento - cicatriz a ser a lembrança. Não quero ter filhos para ser pai do mundo. Sem pretensão de ser Deus. Não quero que ninguém seja órfão em sua dor. Por isso estou sempre a gestar. Paro às vezes para parir. Sofro as contrações da vida e nalgumas madrugadas pus meu choro à prova. Fui aprovado. Já diziam: “a noite é curada com a lágrima”. É mais fácil acreditar nos precipícios lacrimais do que no sorriso fácil.
agosto 21, 2024
agosto 14, 2024
Hoje gostaria de assumir meu lugar de falha, que é atravessado pela fala, pelo interdito da voz, que, represada, irrompe numa agress...
Hoje gostaria de assumir meu lugar de falha, que é atravessado pela fala, pelo interdito da voz, que, represada, irrompe numa agressividade, numa (im)pulsão de vida e morte. Meu horizonte verticalizado pela ânsia de querer ser gente, pelas exigências de uma sociedade inalcançável, cuja utopia se esvai para dar vez à distopia. O caos instaurado corrompe nossa humanidade, fazendo-a crer que o comum é normal,
agosto 14, 2024
agosto 07, 2024
“Sem amor não há paz” – diz uma das personagens do filme homônimo ao título deste texto. Do diretor russo Andrey Zvyagintsev, 2017...
“Sem amor não há paz” – diz uma das personagens do filme homônimo ao título deste texto. Do diretor russo Andrey Zvyagintsev, 2017, a obra cinematográfica narra um drama familiar a partir de um casal que está se divorciando. No centro do conflito, está Alyosha, um garoto de 12 anos de idade, filho do casal. Até então, nada tão banal, se não fosse a forma (mal) conduzida desse término por seus pais, uma vez que estes descontam suas frustrações e desafetos no fruto desse relacionamento.
agosto 07, 2024