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  Poeira também é poesia Poeira de estrelas Tão poético, e a Vassoura vai varrendo Indiferente, e atando Todo o lixo da casa. ...

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Poeira também é poesia
Poeira de estrelas Tão poético, e a Vassoura vai varrendo Indiferente, e atando Todo o lixo da casa. Na beira da mesa a lesma A mesma esconde a eira Areia de praia que ensaia Soltar as raias por essa casa Me arrasa, tua cauda rasa A minha asa tão só, cantando...

“Amor é um egoísmo a dois” Madame de Stael Tenho mais medo de só ser que ser só. Como não me perder de vista diante de tanta pl...

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“Amor é um egoísmo a dois”
Madame de Stael

Tenho mais medo de só ser que ser só. Como não me perder de vista diante de tanta pluralidade? Como me conjugar frente a tantos verbos? Ações múltiplas para um contexto amplo. E, mesmo tendo essa vastidão, corremos o risco de nos aprisionarmos. Perdidos em si, porque não soubemos escolher bem o outro. Ou por ter feito a escolha de só ser para o outro. Não é necessário muito tempo.

    O POETA É UMA ILHA O poeta é uma ilha naufragando em si mesmo. Constrói sua trilha no verso averso a atalhos e afeito aos ...

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O POETA É UMA ILHA
O poeta é uma ilha naufragando em si mesmo. Constrói sua trilha no verso averso a atalhos e afeito aos obstáculos da palavra. O poeta se sabota e agora enxerga sua poesia como uma maldição que o desnorteia. Melhor ser insensível?

O ser humano é o único animal que sabe que irá morrer, mas vive como se não soubesse e, depois de passado o tempo, se indigna por não...

melancolia saudade
O ser humano é o único animal que sabe que irá morrer, mas vive como se não soubesse e, depois de passado o tempo, se indigna por não tê-lo aproveitado conforme gostaria. Algumas pessoas têm tanto medo de morrer que não vivem. Outras, antecipam o tempo com o autoextermínio, não por não desejar mais a vida, mas por não suportar os sofrimentos da existência. No livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, a médica especialista em cuidados paliativos,

      Intermináveis desejos Triste de quem guarda Sonhos para si mesmo De quem esconde a alma Para dizer que não chora De q...

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Intermináveis desejos
Triste de quem guarda Sonhos para si mesmo De quem esconde a alma Para dizer que não chora De quem demora Para confessar amor E quando confessa Logo transforma em mágoa.

maternidade adocao patinho feio Quando eu era criança, sentia uma profunda empatia (e simpati...

maternidade adocao patinho feio
maternidade adocao patinho feio
Quando eu era criança, sentia uma profunda empatia (e simpatia) pelo Patinho Feio, não que eu me considerasse um pequeno monstrinho, mas por – quem sabe – não me reconhecer tão acolhido quanto desejava. Sempre achei que eu fosse, e às vezes acho, confesso, que não sou o filho que meus pais idealizaram. Porém, quem deve ser, de fato?

Minha experiência com o ensino de Literatura tem me convencido de que não existe, de fato, quem não goste de ler. As pessoas que o a...

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Minha experiência com o ensino de Literatura tem me convencido de que não existe, de fato, quem não goste de ler. As pessoas que o alegam, provavelmente, tiveram contato com a literatura de forma infeliz. Em geral, somos sedentos por conhecimento. Necessitamos fantasiar, transcender

“Texto” vem do latim textum, que significa “tecido”. Não por acaso associamos ao conceito palavras que pertencem ao mesmo campo s...

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“Texto” vem do latim textum, que significa “tecido”. Não por acaso associamos ao conceito palavras que pertencem ao mesmo campo semântico: trama, enredo. Considerando o texto como um tecido, não devemos desconsiderar os fios que o compõe, a fim de levá-lo a uma unidade significativa, afinal não há como considerar uma camisa apenas pela sua manga, pela gola ou por sua barra.

Perguntaram-me qual é a minha métrica para escolher livros. Fiquei pensativo, porque nunca parei, de fato, para “medir” as escolhas...

livros estante leitura
Perguntaram-me qual é a minha métrica para escolher livros. Fiquei pensativo, porque nunca parei, de fato, para “medir” as escolhas que faço no âmbito da minha bibliomania. Mania se mede? Reflito, então, que os livros mais marcantes foram justamente aqueles que me escolheram e não os escolhidos. Na nossa vida de leitores, há livros que são imprescindíveis, dado que são clássicos, essenciais para a formação acadêmica, de professores a advogados, passando por psicólogos,

Em um invólucro, para proteger-me de mim e do mundo, sou incoerente: não quero tamanha proteção. Que o mundo me afete, mas não me fa...

cubismo paul klee misterio vida
Em um invólucro, para proteger-me de mim e do mundo, sou incoerente: não quero tamanha proteção. Que o mundo me afete, mas não me faça perder o afeto. Talvez já seja um tanto tarde demais, mas ainda me resta um pouco de delicadeza. E eu vou entre contrações e descontrações. A cada dia me (re)parto na ávida busca pela unicidade. Antes, ser plural. Mas meu corpo se desencontra da minha alma.

Em Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade, a relação entre Carlos e Elza se inicia com a aproximação da linguagem. Durant...

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Em Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade, a relação entre Carlos e Elza se inicia com a aproximação da linguagem. Durante a narrativa nos deparamos com vários momentos em que o corpo se constitui por meio da língua(gem). Isso é percebido quando ambos os sujeitos “se leem”, cada qual com seus estímulos e impulsos. Elza é a professora alemã do menino. A ela cabe o ensino do idioma de seu país. A atividade docente é interceptada quando entre eles o corpo

Foi no teu setembrante que me outonei. Primaverei. Submeti-me a uma fidelidade que determinou o teu mundo, mas sem escravizá-lo. ...

primavera outono estacoes
Foi no teu setembrante que me outonei. Primaverei. Submeti-me a uma fidelidade que determinou o teu mundo, mas sem escravizá-lo. Não fui eu o fator de ilusão. A lógica é simples. A emoção é o complexo. Não há conflito naquele que põe o amor como regente. Nele tornei-me religioso. Outono é tempo de queda. Neste, o solo é adubado. Primavera é tempo ressurreto. Na morte o fruto se desprende em sementes. Num tempo em que as cigarras cantavam e trocavam as carcaças, eu ficava sob a terra gerando meu canto. Neste solo, espinhos cravaram meus pés. Meu caminho inflamado...

Onde mora a felicidade? Não mora, não tem casa, é andarilha, pousa às vezes, vezes mais, vezes menos. Não admite receitas, regras nem...

Onde mora a felicidade? Não mora, não tem casa, é andarilha, pousa às vezes, vezes mais, vezes menos. Não admite receitas, regras nem milagres. É rebelde, atrevida, teimosa. Muitos, por a procurarem demais, acabam ficando para trás, restando-lhe uma miragem. Queremos um oásis, mas sequer caminhamos para encontrá-lo. Alguns almejam que se materialize diante de si imediatamente.

O amor como a poesia nos repõe o olhar, sedento pela crueza revestida de um leve cozimento - cicatriz a ser a lembrança. Não quero te...

montanha abismo plenitude viver
O amor como a poesia nos repõe o olhar, sedento pela crueza revestida de um leve cozimento - cicatriz a ser a lembrança. Não quero ter filhos para ser pai do mundo. Sem pretensão de ser Deus. Não quero que ninguém seja órfão em sua dor. Por isso estou sempre a gestar. Paro às vezes para parir. Sofro as contrações da vida e nalgumas madrugadas pus meu choro à prova. Fui aprovado. Já diziam: “a noite é curada com a lágrima”. É mais fácil acreditar nos precipícios lacrimais do que no sorriso fácil.

Hoje gostaria de assumir meu lugar de falha, que é atravessado pela fala, pelo interdito da voz, que, represada, irrompe numa agress...

falha reconhecimento mea culpa estatuas classicas
Hoje gostaria de assumir meu lugar de falha, que é atravessado pela fala, pelo interdito da voz, que, represada, irrompe numa agressividade, numa (im)pulsão de vida e morte. Meu horizonte verticalizado pela ânsia de querer ser gente, pelas exigências de uma sociedade inalcançável, cuja utopia se esvai para dar vez à distopia. O caos instaurado corrompe nossa humanidade, fazendo-a crer que o comum é normal,

“Sem amor não há paz” – diz uma das personagens do filme homônimo ao título deste texto. Do diretor russo Andrey Zvyagintsev, 2017...

filme russo sem amor
“Sem amor não há paz” – diz uma das personagens do filme homônimo ao título deste texto. Do diretor russo Andrey Zvyagintsev, 2017, a obra cinematográfica narra um drama familiar a partir de um casal que está se divorciando. No centro do conflito, está Alyosha, um garoto de 12 anos de idade, filho do casal. Até então, nada tão banal, se não fosse a forma (mal) conduzida desse término por seus pais, uma vez que estes descontam suas frustrações e desafetos no fruto desse relacionamento.

“O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos”. Affonso Romano de Sant'Anna

mulheres poder meia idade
“O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos”.
Affonso Romano de Sant'Anna

Livres nós já não estamos, se é que um dia fomos. Dentre essas e outras notícias, Byung-Chul Han, filósofo coreano, nos traz na obra...

estresse depressao
Livres nós já não estamos, se é que um dia fomos. Dentre essas e outras notícias, Byung-Chul Han, filósofo coreano, nos traz na obra “Sociedade paliativa”. Em tempos nos quais a dor é vista como sinal de fraqueza, devemos nos manter sempre em alta performance, haja vista os discursos múltiplos em que a produtividade é a palavra da vez. As comparações se estabelecem indo desde as horas de trabalho até quantos quilômetros consegue-se percorrer a pé diariamente. Tenho que ser o mais bonito, mais atlético, o mais estudioso e trabalhador possível para ter meu valor, talvez, assegurado.

Ouvimos constantemente que há uma crise no Brasil referente à proficiência leitora, haja vista os dados revelados por pesquisas, como ...

leitura biblioteca escola educacao
Ouvimos constantemente que há uma crise no Brasil referente à proficiência leitora, haja vista os dados revelados por pesquisas, como Retratos da Leitura no Brasil. Para conferir os resultados da 5ª edição, sugiro fazer a consulta na internet, pois quero me deter à escola que, por excelência, lhe cabe o papel principal de agente letrador. Todavia, se investigarmos como o acesso aos livros é ofertado, sobretudo nas instituições públicas brasileiras, ver-se-á que a maioria não dispõe sequer de uma pequena biblioteca.

No ano de 2022, comemorou-se o centenário da Semana de Arte Moderna. Entre as publicações do ano, merece destaque a biografia de Tarsil...

tarsila amaral semana arte moderna
No ano de 2022, comemorou-se o centenário da Semana de Arte Moderna. Entre as publicações do ano, merece destaque a biografia de Tarsila do Amaral, escrita pela historiadora Mary de Priore, intitulada Tarsila – Uma vida doce-amarga (José Olympio, 2022, 144 p). Dada a fluidez do texto, traço típico da autora, bem como o número pequeno – mas suficiente – de páginas, Priore opta por não dividir a obra em capítulos, narrando a vida da pintora de modo a manter a curiosidade acerca da biografada,