A violência é um fenômeno que é analisado sob conceitos individuais, sociais, culturais e biológicos. Ela é frequentemente entendida como uma agressão física ou verbal direcionada a uma pessoa, a si mesmo ou ao ambiente, e se manifesta de forma estrutural ou simbólica. A estrutural está nos sistemas que perpetuam desigualdades e exclusões.
O narcisismo doentio, muitas vezes associado ao Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), caracteriza-se por um padrão de grandiosidade, pela necessidade de admiração excessiva e a falta de empatia, que impacta negativamente as relações interpessoais e o bem-estar emocional do próprio indivíduo. O narcisista patológico possui uma autoestima vulnerável, que necessita constantemente de validação externa para se sentir acolhido e valorizado. Essa doença se manifesta em comportamentos e crenças que expõem uma visão distorcida de
si e dos outros. A pessoa com TPN que apresenta a voracidade pela grandiosidade exprime um sintoma compulsivo de sentir-se especial e única, de forma a se colocar acima dos outros e esperar uma evidência diferenciada. A necessidade de admiração constante depende da validação externa, a qual busca ser o centro das atenções a fim de receber elogios e reconhecimento. Um dos seus sintomas é acreditar na certeza de merecer tratamento especial, e - em muitos casos – manifestar uma agressividade quando suas expectativas não são atendidas. A exploração interpessoal utiliza as pessoas na sua convivência social como meio para alcançar seus interesses egoístas e suas metas profissionais sem respeitar os próprios sentimentos. A falta de empatia gera dificuldade em se relacionar com as emoções alheias, a qual impossibilita a construção de relacionamentos saudáveis. O narcisista doentio acredita que os outros o invejam ou sente-se ameaçado pelo sucesso de outras pessoas.
A desigualdade se manifesta nas desumanas relações de sistemas econômicos que estruturam a vida em sociedade e são sustentadas tanto por mecanismos materiais quanto por ideias e valores culturais para intensificar o acúmulo de mais privilégios para algumas pessoas. Consequentemente, a cruel distribuição de recursos e as faltas de oportunidades de desenvolvimento pessoal geram a violência entre todos.
A política, por definição, é o espaço onde se articulam e se organizam os interesses de grupos e indivíduos em busca do bem comum. No entanto, quando a perversidade humana se infiltra no processo de construção do bem-estar social, os princípios básicos de justiça, igualdade e transparência são subvertidos por interesses egoístas, muitas vezes impulsionados por distúrbios psíquicos.
Charles-Louis de Secondat (1689–1755), mais conhecido por Montesquieu, foi um filósofo, escritor e teórico político iluminista. Ele contribuiu para criar a ideia de tripartição dos poderes do Estado. Em 1748, o pensador publicou o seu livro Do Espírito das Leis. Neste trabalho, uma de suas teses é o liberalismo político.
“De todos os homens maus, os homens maus religiosos são os piores”, afirmava Clive Staples Lewis (1898 - 1963). Em seu livro Cristianismo Puro e Simples (1952), nos cinco primeiros capítulos, ele apresenta a ideia de que alguns indivíduos têm um padrão de comportamento ao qual esperam que os outros o sigam. No caso da esquizofrenia religiosa, alucinações, delírios, pensamento e fala desorganizados, comportamento bizarro e/ou inapropriado, redução das demonstrações de emoções, problemas de memória e concentração fazem com que os indivíduos acreditem estar em comunicação direta com Deus ou entidades divinas, recebendo missões especiais relacionadas à vida de outras pessoas. A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta o modo como a pessoa pensa, sente e se comporta, geralmente a pessoa esquizofrênica apresenta dificuldade em distinguir a realidade do imaginário.
As crenças religiosas oferecem conforto físico e mental, e frequentemente estruturam o comportamento e a sensação de propósito de salvação. Em pessoas com esquizofrenia, essas crenças podem ser intensificadas por meio de delírios e alucinações auditivas e/ou visuais. Um exemplo disso são indivíduos que acreditam receber mensagens de Deus, considerando-se profetas destinados a se purificarem de uma maldade ou a adquirir mérito pessoal. Para atingir esses objetivos, é comum que pratiquem atos como o jejum, buscando aliviar o mal-estar físico e mental e, de certa forma, transferir para os outros as causas de seus próprios conflitos existenciais e psíquicos.
Martin Mordechai Buber (1878 – 1965) foi um filósofo, teólogo, escritor e pedagogo austríaco. Sua obra filosófica Eu e Tu, publicada em 1923, versa sobre o diálogo e a relação humana. O pensador desenvolveu uma teoria centrada na ideia de que o sentido da existência humana está no honesto relacionamento dialogal, o qual prioriza o respeito para construir a dignidade entre os seres humanos, e que os objetos e o mundo necessitam de interações para existirem. As palavras-princípio, “Eu-Tu” (relação), “Eu-Isso” (experiência), demonstram as dimensões da filosofia do diálogo que, segundo Buber, dizem respeito à própria vida. O diálogo em Buber está relacionado ao conceito de encontro.
A estética da subjetivação do “cuidar de si” refere-se ao processo de constituição da pessoa, no qual ela desenvolve um senso de pertencimento por meio de práticas estéticas, éticas e políticas, influenciando a formação da subjetividade. Filósofos franceses como Michel Foucault (1926-1984) e Gilles Deleuze (1925-1995) contribuíram para os estudos sobre autocuidado, mostrando como ele se modifica ao longo do tempo, transformando os modos de pensar e de ser da existência humana. Esse processo envolve a interação da pessoa com a ética do cotidiano, priorizando a criação de valores próprios e a resistência contra normas e ideologias repressoras. Entre as principais características estéticas e subjetivas do “cuidar de si”, destacam-se:
A angústia, conforme apresentada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788–1860), está relacionada à sua visão pessimista da existência humana e do mundo. Segundo ele, os seres humanos são escravos de seus próprios desejos. Ao satisfazer um desejo, imediatamente surge outro, de modo que se vive em um estado de insatisfação constante. Além disso, o pensador observa que o mundo está repleto de injustiças e violências,
tornando a existência uma fonte contínua de sofrimentos. Sua obra mais conhecida, O Mundo como Vontade e Representação, publicada em 1819, explora esses temas. O livro é dividido em quatro partes: o primeiro capítulo é dedicado à teoria do conhecimento, o segundo à filosofia da natureza, o terceiro à metafísica do belo e o quarto à ética.
O uso inadequado da tecnologia contra o bem comum e a exploração perversa do sistema econômico na vida das pessoas estão destruindo princípios morais, levando à exclusão, discriminação e acentuando a competição destrutiva entre os cidadãos. A ausência de autocuidado resulta na desvalorização da dignidade humana em grande parte das pessoas. Diante dessa violência, é necessário examinar os efeitos desumanizadores que eliminam o significado da existência e do pertencimento.
Acrasia é um termo de origem grega que se refere à incapacidade de um indivíduo de exercer controle ao optar por ações que vão de encontro ao que ele próprio considera ser o melhor, segundo sua consciência. Essa definição se aplica a pessoas que não conseguem moderar seus desejos excessivos e que não respeitam os limites sociais e afetivos, entre os quais se destaca o respeito ao próximo. A etimologia da palavra em grego descreve que "a" é uma negação, enquanto "kratein" significa controlar. Quando traduzida para o latim, resulta em "incontinentia", que se interpreta como incontinência, ou seja, desregramento. Atualmente, a acrasia é objeto de análise em ética, psicanálise, psicologia e psiquiatria.
A maldade humana se apresenta de maneira sedutora, perseguindo seus próprios interesses. Este comportamento é marcado pelo egoísmo e, frequentemente, se manifesta através da falsidade. Além disso, pode se expressar pelo sadismo, visando semear o medo nos demais por meio de agressões psicológicas ou físicas, o que resulta na destruição de valores socioafetivos e na desconsideração das normas sociais. Diante disso, quais são as expectativas em relação a um psicopata ou a um indivíduo em situação de exclusão social?
No final do século XVIII, no período inicial do romantismo alemão, conhecido como “Tempestade e Ímpeto”, o poeta, filósofo, médico e historiador Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759 – 1805) revitalizou o renascimento das ideias da Antiguidade grega e romana, que buscavam a junção da beleza estética com os valores morais do comportamento humano. Schiller buscava redescobrir um ideal de unidade, perfeição, totalidade e completude, que sentia ter sido perdido ao longo dos séculos. Para desenvolver novos conceitos e romper com as formas tradicionais dos gêneros literários, ele defendeu a tese de que para cada época existe um gênero literário próprio, e que os poetas seriam os seus guardiões. O fundamento dessa argumentação está em sua obra Poesia Ingênua e Sentimental, publicada em 1795.
Artistas têm procurado sincronizar sua criação a distintas correntes de pensamento, seja nas ciências humanas ou nas ciências naturais. Esse vínculo gerou espaço para a elaboração de temas que orientam suas obras e impulsionam seu processo criativo, além de possibilitar o desenvolvimento de suas próprias teorias. Eles têm atribuído significados à arte, buscando novas possibilidades de relação entre filosofia, ciência e arte. Diante disso, destaca-se o paradigma trazido pela arte conceitual contemporânea nas últimas décadas do século XX com as investigações da Neuroestética. Essa nova área de estudo é explorada por meio da neurobiologia, neuroanatomia, neurofisiologia e neurociência, com o objetivo de aprofundar a compreensão do funcionamento do cérebro humano.
Martin Heidegger (1889-1976) foi um filósofo alemão que influenciou o existencialismo, que se caracteriza pela inclusão da angústia, do sofrimento, da morte e do modo como os seres humanos têm existência no mundo. Essa teoria tem a finalidade de dá sentido à vida por meio da liberdade e de responsabilizar-se pelas das escolhas pessoais.
Edgar Morin é um filósofo, sociólogo, antropólogo francês, nascido em Paris em 1921. Ele é conhecido por desenvolver a epistemologia da complexidade, que teve seu início na década de 1960. Esse tipo de pensamento desafia o paradigma tradicional da razão e da ciência como as únicas formas de interpretar a realidade, buscando interconectar conhecimentos dispersos e
promover uma integração entre a cultura científica e a humanística. Na perspectiva da complexidade, “tudo está interligado”. Essa abordagem emerge como uma maneira de evidenciar a multidimensionalidade do mundo real, incentivando todos a estabelecer uma epistemologia que promova o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento, visando uma compreensão mais abrangente do mundo. Compreender o contexto global de maneira unidimensional já não é viável, considerando que as relações humanas são múltiplas e incompreensíveis. Tanto uma visão analítica quanto uma visão holística têm se mostrado cada vez mais insuficientes para entender a condição humana.
A publicação "Raízes do Brasil" (1936) pelo historiador, sociólogo, e escritor de São Paulo, Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982), introduz o conceito do "homem cordial", que se tornou fundamental para a compreensão do país. O livro analisa a história do Brasil, de sua população e de suas estruturas, como a influente família patriarcal que surgiu durante a era colonial. Organizado em sete capítulos, a obra versa temas como "Fronteiras da Europa", "Trabalho e Aventura", "Herança Cultural", "O semeador e o Ladrilhador", "O Homem Cordial", "Novos Tempos" e "Nossa Revolução". A palavra "cordial" aqui não se restringe apenas a boas maneiras e gentileza.
A violência é o uso intencional da força ou de um poder contra si, outra pessoa ou um grupo/comunidade, constituindo uma ameaça de ferimento, morte, dano mental, prejuízo ao desenvolvimento humano ou privação. Certos indivíduos praticam a violência sem perceberem os prejuízos para todos. Eles agem por meio de um julgamento de que o outro é uma ameaça e deve ser eliminado. A recusa ao diálogo, a falta de respeito e a tentativa de destruir uma autoridade através da crueldade banalizam aqueles que agem pelo ímpeto destrutivo e perverso. A incapacidade cognitiva desta patologia impede o reconhecimento da necessidade de racionalidade que não pode ser ignorada. Essa brutalidade irracional configura um problema estrutural que tem agravado as disparidades socioeconômicas, a marginalização social e a negligência das ações governamentais.
Éfeso, uma antiga cidade na região do Egeu, localizada no coração da Turquia e próxima à moderna Selçuk, é conhecida por suas ruínas milenares que contam a história de séculos, desde a Grécia clássica até o Império Romano, época em que se tornou um importante centro comercial no Mediterrâneo. O templo dedicado à deusa Artemis em Éfeso era classificado como uma das sete
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903-1969) foi um filósofo, musicólogo, compositor e sociólogo alemão. Em sua obra Dialética Negativa (1966), influenciada pela Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, ele versa a libertação da alienação da consciência por meio da dialética como uma maneira de confrontar as forças opressivas da sociedade e do Estado. Para Adorno, encarar esse mal-estar significa despertar para a realidade da própria
existência e reconhecer que tal realidade surge de um contexto prévio que a influenciou, havendo um processo histórico implícito à formulação de políticas e a todas as atividades humanas. Escapar desse ciclo cruel é liberar-se da própria alienação, o que requer a negação das premissas estabelecidas para questionar a própria identidade, caracterizando assim a essência da ‘dialética negativa’ contra à necropolítica, que representa a politização da morte. A dialética adorniana revela modos de pensamento que vão além do que está visível na realidade. O seu senso crítico gera a autonomia do sujeito.