A arte, no pensamento do sociólogo e filósofo alemão Herbert Marcuse (1898-1979), representa uma forma de resistência às estruturas de dominação impostas pela sociedade industrial. Em obras como Eros e Civilização (1955), A Ideologia da Sociedade Industrial (1964) e A Dimensão Estética (1979), o pensador desenvolve uma reflexão sobre o impacto emancipador da estética frente à exploração econômica da obra de arte e sua relação com a formação de uma consciência crítica. Nesse contexto, a arte não se limita a uma expressão individual de sentimentos ou a um instrumento decorativo: ela constitui uma forma de análise e crítica da racionalidade instrumental que domina o mundo moderno — isto é, o uso da razão como instrumento de controle da natureza e dos seres humanos, desconsiderando questões éticas e morais. Diante disso, a função da arte é revelar as contradições e injustiças da realidade social e defender os ideais de uma sociedade livre de repressão e alienação.
Simulacro refere-se a algo irreal que se tornou tão parecido com o real que não é possível distinguir qual é o verdadeiro. A teoria do simulacro – desenvolvida pelo filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard (1929–2007), em seu livro Simulacros e Simulação, publicado em 1981 – constitui uma reflexão sobre a sociedade contemporânea. Uma de suas teses defende que o real e sua representação tornaram-se indiscerníveis. Isso deu início a um sistema de imagens e signos no qual a realidade concreta desaparece, dissolvendo-se na proliferação de reproduções ou narrativas que já não remetem a uma origem estável. Nessa perspectiva, muitas pessoas vivem imersas em uma falsidade, na qual a própria noção de verdade se converte em um efeito produzido pelas representações enganosas.
A irracionalidade humana pode ser estudada por meio da interconexão entre o ódio na política e a desigualdade social, com o aumento da demência dos cidadãos, desde que as políticas públicas e o estado de saúde mental deles se tornam uma anomia e uma doença psíquica de alguns. Essa relação se manifesta no aumento do declínio cognitivo e da perda do senso crítico-político de muitos, impactando a má saúde financeira e a qualidade de vida da população.
No século XVII, a música europeia vivia uma diversidade de escolas e estilos que buscavam afirmar-se em meio a transformações culturais, religiosas e políticas. A música barroca, que se desenvolveu entre 1600 e 1750, é caracterizada por: o baixo contínuo, que consiste em estabelecer uma base sonora contínua, acompanhada por cifras, tocada por um instrumento grave (caracterizada pelo domínio de notas da linha de baixo), sobre a qual um instrumento harmônico
Edward Louis Bernays (1891–1995) foi um dos arquitetos da manipulação moderna da opinião pública. Sua relevância decorre do modo como traduziu conceitos psicanalíticos para o campo da comunicação e da propaganda. Inspirado pelas teorias de seu tio, Sigmund Freud (1856–1939), Bernays enxergava os desejos ocultos como forças determinantes no comportamento humano, os quais podiam ser explorados estrategicamente para moldar escolhas, hábitos e valores.
Durante o período colonial da Paraíba, entre 1585 e 1889, a música sacra cristã foi introduzida nas igrejas por meio do cantus planus, o canto gregoriano. Nos espaços públicos, como vilas e municípios, bandas militares formaram músicos e preservaram festas populares e cívicas. Já no século XX, a música erudita paraibana ganhou destaque por meio de orquestras, grupos de câmara e corais, especialmente com a criação de instituições culturais, educacionais e acadêmicas.
Publicado em 1972, O Animal Social, do psicólogo estadunidense Elliot Aronson (1932), é uma obra de referência da psicologia social contemporânea. O livro realiza uma análise das dinâmicas sociais, propondo reflexões sobre os desafios enfrentados em sociedades marcadas por desigualdades, manipulações simbólicas e ódio. Ele ensina os leitores a reconhecer e resistir a mecanismos de manipulação, contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos, e apresenta uma análise dos fatores que influenciam o comportamento humano em sociedade, aliando pesquisas empíricas a reflexões teóricas acessíveis tanto ao público acadêmico quanto ao leigo.
Texto inspirado por e dedicado ao novo imortal da Academia Paraibana de Letras, Francisco Gil Messias.
A relação entre espiritualidade, erudição e razão é frequentemente abordada de maneira divergente e fragmentada. A espiritualidade é entendida como a expressão da necessidade humana diante da complexidade da existência; a erudição, como o robusto acúmulo sistemático de conhecimento; e a razão, como a faculdade crítica e analítica do pensamento. No entanto, para o amadurecimento integral do ser humano, essas três dimensões formam um cidadão sábio e comprometido com a dignidade humana, promovendo uma presença mais consciente e solidária no mundo.
A dança — enquanto expressão simbólica do corpo em movimento — constrói um fenômeno social, cultural e histórico enraizado nas dinâmicas estruturantes das sociedades humanas. Ela representa uma identidade coletiva, preserva as memórias sociais e articula os processos de resistência política e cultural contra o embrutecimento humano. Por meio da Sociologia da Dança, compreende-se que tal prática não pode ser dissociada das relações de poder, das hierarquias sociais e das construções das reexistências das identidades.
A música transcende os sentimentos e a racionalidade humana. Trata-se de uma linguagem universal, capaz de expressar identidades coletivas e de conectar indivíduos por meio de experiências compartilhadas. Nesse sentido, a música erudita — também chamada de música clássica — contribui para a construção do pertencimento cultural, pois está intrinsecamente ligada à formação histórica, social e estética de diversas sociedades. Ela molda não apenas o gosto artístico, mas também um imaginário coletivo que conecta os indivíduos à sua ancestralidade e à dignidade.
A Ética a Nicômaco, escrita entre 340 e 335 a.C. pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), permanece como um dos fundamentos do pensamento ocidental. Nela, o pensador analisa a natureza da moralidade, da virtude e do bem. A obra é organizada em dez livros e visa investigar como os seres humanos podem construir o bem-estar por meio da prática da virtude. O título faz referência a seu filho, Nicômaco.
A psicopatia tem despertado interesse crescente nas análises acadêmicas das ciências sociais, da psicologia, da psicanálise, da filosofia e da ciência política. A imagem simbólica do líder carismático — frequentemente com traços messiânicos e guiado por interesses próprios — levanta questionamentos sobre os perfis de personalidade que favorecem a ascensão ao poder, frequentemente marcada pela brutalidade, em diferentes regimes políticos. Nesse contexto, marcado por dinâmicas de ódio, a psicopatia — compreendida como um transtorno de personalidade caracterizado pela ausência de culpa, comportamento antissocial e egocentrismo — emerge como uma patologia que pode assumir dimensões tanto individuais quanto coletivas nas reflexões sobre liderança e governança.
A tragédia — enquanto forma estética e expressão filosófica da condição humana — é o resultado da tensão entre os impulsos vitais e os sistemas morais que buscam dar sentido e ordem à existência. Quando uma moral absolutista se impõe como estrutura fixa de valores, desconsiderando a diversidade e complexidade da experiência humana, inaugura-se o terreno do trágico. A infelicidade, nesse contexto, não se reduz a um evento catastrófico, mas revela um conflito insolúvel entre princípios éticos, pulsões humanas e as limitações da razão normativa.
A miséria humana não se restringe à carência de recursos financeiros ou bens materiais; trata-se, sobretudo, da negação da dignidade, da escuta, do cuidado e do sentimento de pertencimento. Embora tenha raízes estruturais na injustiça social, a miséria se aprofunda por meio do silêncio, da indiferença e da naturalização do sofrimento. As chamadas "dores sociais" emergem de ambientes marcados
Vitor Nogueira
pela exploração e pela desigualdade, e se manifestam no corpo e na psique por meio de sintomas como a depressão, os transtornos neuróticos ou de personalidade — caracterizados pela forma como o indivíduo interpreta a si mesmo e estabelece relações com os outros.
A alteridade cultural constitui um elemento essencial na formação das identidades individuais e coletivas, uma vez que se configura a partir da relação dialógica do sujeito com sistemas simbólicos e expressões culturais que lhe conferem sentido de pertencimento, tanto em relação ao grupo social ao qual integra quanto à sua historicidade e à construção de uma percepção de mundo. Nesse contexto, a música erudita, quando difundida por meio de perspectivas democráticas e inclusivas, pode desempenhar uma função relevante nos processos de integração sociocultural, ao mobilizar narrativas vinculadas à ancestralidade e à memória coletiva, promovendo, assim, políticas afirmativas para a consolidação da dignidade humana.
Todo ser humano possui lembranças que compartilha apenas com alguns amigos. Existem outras que ele não revelaria nem mesmo a esses confidentes, guardando-as apenas para si, em segredo. Mas há também aquelas memórias que ele teme até mesmo admitir a si próprio — esse é o inconfessável, que gera sofrimento. São sentimentos como o apequenamento, o escapismo, a ingratidão, e uma consciência fragmentada, com dificuldade de se reconciliar com os outros e consigo mesma. Essa forma de viver constitui um constante conflito entre razão e emoção; desejo e frustração; recusa e aceitação — e revela a falta de um existir com dignidade, fundada na carência emocional, nas falhas existenciais e psíquicas, nas incertezas pessoais e no sentimento de vazio existencial.
Nos dias atuais, o estilo de vida de muitas pessoas está cada vez mais acelerado e marcado por excessos. Nessa angústia disfuncional, a simplicidade surge como uma escolha consciente por uma vida mais leve e harmoniosa. O que é simples contém uma força silenciosa, capaz de reorganizar prioridades e promover um bem-estar inalterável. Vivenciar a simplicidade significa preservar a serenidade interior, em vez de desperdiçar tempo com superficialidades ou buscar a acumulação de bens materiais.
As reflexões sobre o amor do filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844–1900) podem ser agrupadas em três eixos: a crítica ao amor romântico-religioso; o amor como manifestação da vontade de potência; e a proposta de um amor afirmativo, trágico e autêntico. O pensador germânico propõe uma forma de amar livre de ilusões e submissões. Para Nietzsche, o amor deve brotar da afirmação da vida — mesmo quando esta se manifesta em suas expressões mais sofridas.
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Amar é também um exercício de liberdade e uma arte de viver com autenticidade, promovendo um processo contínuo de autossuperação. Nesse sentido, o amor se torna uma força capaz de transformar o embrutecimento humano, conduzindo o indivíduo ao autocuidado e a uma vida mais intensa em todas as suas dimensões — inclusive na imperfeição. O amor, portanto, pode ser trágico, mas é justamente nessa tragédia que se revela a beleza do próprio "sim à vida".
Ronilson Ferreira dos Santos é professor e poeta, natural de João Pessoa (Paraíba). É doutor e mestre em Linguística. Seu primeiro livro, [Re]Verso da Palavra, foi publicado em 2023. O segundo, Depois da Folha, em 2025. A poesia de Ronilson — conhecido como Rony Santos — não é apenas fruto de um trabalho intelectual ou técnico, mas um ato criativo impulsionado por uma força interna espontânea, que não se submete a regras rígidas ou convenções. A espontaneidade em sua criação poética permite que as intuições fluam livremente, fazendo da inspiração um processo de equilíbrio entre razão e emoção, entre forma e conteúdo. Seus poemas sublimam as forças conflitantes do ser humano e expressam compaixão diante do grito social e da miséria humana.
A ideia de psicopatas no poder político sempre despertou fascínio e temor, tanto nos institutos de pesquisas acadêmicas quanto na cultura popular. Psicopatas são indivíduos caracterizados por traços como falta de empatia, manipulação, charme superficial, ausência de remorso e uma inclinação para comportamentos antiéticos e até criminosos, sem que isso lhes gere culpa. Quando essas características se manifestam em líderes políticos, os impactos podem ser de terror social ou de guerras.