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POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero” (Editora Arribaçã – 2021)   A terra é plana no avesso do Zero. O início O Zero já in...

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POEMAS DO LIVRO “A arte do Zero”
(Editora Arribaçã – 2021)


 
A terra é plana no avesso do Zero.

O início
O Zero já inscrito na imensidão, boca aberta aguardando o verbo ― trocou os dentes.


POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE” (Editora Mondrongo – 2019)   O QUE NÃO CABE A forma contida - este imbroglio, amarras de ...


POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)

 
O QUE NÃO CABE
A forma contida - este imbroglio, amarras de cizal ao vento, feixo de palavras, regalo, falso cabedal de um momento do poeta diante do espelho, de um olhar vaidoso, soberbo, lidando com a morte dos tolos no penduricalho do verbo, não basta ao real esquecimento retinto por outros no tempo como transitório alento.

Conheci Carlos Nejar em um almoço na casa de meu amigo e poeta capixaba, Oscar Gama Filho . Sempre admirei a obra de Nejar, uma exte...

Conheci Carlos Nejar em um almoço na casa de meu amigo e poeta capixaba, Oscar Gama Filho.

Sempre admirei a obra de Nejar, uma extensa e rica produção literária que comprova tratar-se de um dos maiores poetas brasileiros.

POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE” (Editora Mondrongo – 2019)   MASSA DE PÃO O dote, esta maçã mordida; A voz, esta tinta d...


POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)

 
MASSA DE PÃO
O dote, esta maçã mordida; A voz, esta tinta de estar Nome, fugaz expectativa, Moinho dos ossos, o lar. Resmas, orvalhos e os espectros Restam postos, nomeando dias, Fermento gestando o passado, Massa de pão, refluxo, azia.

Sempre é oportuno relembrar que a leitura atenta de um livro começa pelo nome com o qual o autor convida o leitor à leitura...

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Sempre é oportuno relembrar que a leitura atenta de um livro começa pelo nome com o qual o autor convida o leitor à leitura – sobretudo quando se trata de um livro de poemas. O poeta costuma buscar a densidade em cada palavra, um visgo que grude na capa toda uma carga de significantes e emoções transfigurados em linguagem.

No final do século XVIII o pastor, teólogo e filósofo alemão, Johann Kaspar Lavater sur...

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No final do século XVIII o pastor, teólogo e filósofo alemão, Johann Kaspar Lavater surpreendeu Goethe com a sua capacidade de dizer sobre a personalidade das pessoas a partir da análise da expressão facial, características físicas e a postura corporal. Lavater ficou conhecido pelo seu livro Fisiognomia e por sua amizade com o jovem Goethe e com o médico Mesmer (criador do mesmerismo).

" A invenção da imprensa é o maior acontecimento da história. É a revolução mãe... é o pensamento humano que larga uma forma e ves...

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"A invenção da imprensa é o maior acontecimento da história. É a revolução mãe... é o pensamento humano que larga uma forma e veste outra... é a completa e definitiva mudança de pele dessa serpente diabólica, que, desde Adão, representa a inteligência."
(Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris, 1831)

 
O exercício era recortar o jornal picotar as palavras lançá-las no aquário as bolhas de um solitário peixe tratavam de desmentir qualquer verdade


POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE” (Editora Mondrongo – 2019)   ERA UMA VEZ A UTOPIA Para Renato Suttana Será possível...

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POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)

 
ERA UMA VEZ A UTOPIA
Para Renato Suttana Será possível conservar acasos, ruas sem rumo e pastos sem cerca? As cortinas não expõem a tristeza, o crepitar, o tremor, o espasmo? Deixem que os mortos testemunhem a dor, o vibrar ensurdecedor - silêncio, cada tambor reverberando o ócio dos que violam o que do amor restou.

POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE” (Editora Mondrongo – 2019) Nota do autor Crise do soneto ou crise do poeta? Falamos da imp...

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POEMAS DO LIVRO “SONETOS EM CRISE”
(Editora Mondrongo – 2019)

bacharach dietrich
Nota do autor
Crise do soneto ou crise do poeta? Falamos da imperfeição métrica, da inacurácia do esteta ou da pobreza técnica?
Impor-se a necessidade das formas fixas, de por “amarrados” os versos que se firmaram como libertos ao longo dos anos de produção poética – este o objetivo do poeta.

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018) CUMULUS Quero te dizer de uma nuvem acontecida, das l...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

CUMULUS
Quero te dizer de uma nuvem acontecida, das luzes de uma cidade distante, – companheira – desses derradeiros dias, da última idade antecipada,

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018) EU ME APRESENTO Há que se entender ou não o ornitorrinco d...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

EU ME APRESENTO

Há que se entender ou não o ornitorrinco do pau oco?

Eu, por exemplo, vivo em busca de algum autoentendimento. Só recentemente, relendo uma definição do Breviário da decomposição de Emil Cioran, é que me descobri um pessimista entusiasmado.

POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO” (Editora Cousa – 2018)     BESTAS, BEATS E BEATOS Na me...

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POEMAS DO LIVRO “O ORNITORRINCO DO PAU OCO”
(Editora Cousa – 2018)

 
 
BESTAS, BEATS E BEATOS
Na medida em que o olhar poético flui do verde para o concreto, muito se perde. Cabe devastar a poesia, arrancar a relva, desgastar a terra, impregnar de concreto a carne e esparramar ao sol a pele tatuada dos homens? O non sense, em dizer: Maldito deus.

Vida e Poesia “Sem poesia não há salvação”, escreveu Mario Quintana. Sem dúvida, uma das pessoas que têm plena consciência desta ...

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Vida e Poesia

“Sem poesia não há salvação”, escreveu Mario Quintana. Sem dúvida, uma das pessoas que têm plena consciência desta sabedoria é Jorge Elias Neto, que vem há muito se dedicando à poesia. Neste O ornitorrinco do pau oco, traz-nos ele uma coletânea de seus primeiros quatro livros publicados e poemas inéditos. Segundo Carlos Nejar, o poema de Jorge Elias Neto é “feito de chispas”, o que é uma observação perfeitamente correta. Mas também de sua composição fazem parte – como Nejar também nota – o sonho, assim como o lirismo e, claro, a condição humana de um modo geral.

  Os pés dentro da ilha Falar da superfície, o que envolve, encharca e afoga, o que gruda nos pés – mangue e areia –, o cinz...

poesia capixaba espirito-santense jorge elias
 
Os pés dentro da ilha
Falar da superfície, o que envolve, encharca e afoga, o que gruda nos pés – mangue e areia –, o cinza absoluto, o verde disperso nas frestas e espelhos,

    Cansaço Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me pre...

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Cansaço
Amor: quantas palavras necessárias para que um gesto se torne inscrito no tempo? Hilton Valeriano Não me presta, não me cabe o alforje de palavras, a pretensão de um discurso; supor que a obviedade de um soluço ocupe mais que um segundo de um tempo que se desfaz e não cabe nesse cabedal polvilhado de tolices;

    Um resto de sol no desalento Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, r...

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Um resto de sol no desalento
Ocupo-me de uma febre sem propósito. Modos existem de forjar os dias, principiar universos, rir do descomunal segredo da vida ... Mas não nessa noite gelada

No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González Compondo o sítio arqueológico A vastidão é uma pedra ...

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No fue un sueño, lo vi: la nieve ardía. Ángel González



Compondo o sítio arqueológico
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A vastidão é uma pedra redonda e fria. Grande esfera onde deslizam e desabam as criaturas. O horizonte ‒ gelo intransponível. Daí esse tatear – essa procura. A obscura arqueologia de esconder-se.

  Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos...

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Por que o boxe? Porque é o homem. Prefácio
Há que se entender o to be para exprimir em versos o que se cultua com punhos.

  70 metros* Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um tor...

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70 metros*
Na perspectiva da ponte O pássaro solitário não volta. Bom sentar aqui... Gera um desvio do olhar, um torcicolo súbito diante da emanação do absurdo. Ver do alto a evolução das águas: sem o murmúrio do bocejo das ondas, sem o grito ruidoso do rasgar do mar. Imagino os que trafegam às minhas costas ... Nas gaiolas de metal, guardam as intenções dos gestos.

  Uma carteira e seus sentidos às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entr...

 
Uma carteira e seus sentidos
às crianças de Realengo Observe essa carteira vazia – ociosa – desocupada. Entre na dimensão do absurdo – no que se contorce – e resvala, e desperta, e nos cala. Observe essa carteira vazia –ruidosa– maculada. Ventre da omissão confusa – que nos paralisa – e enoja, e perpassa , e retalha. Observe essa carteira vazia – poderosa – enfeitada. Lembre-se da profusão do sangue – que se dispersa – e tinge, e respinga, e nos entala. Observe essa carteira vazia – fervorosa – devotada. Sinta a celebração da loucura – que consente – e trucida, e cega, e nos abala. Observe essa carteira vazia – tenebrosa – malfadada. Sinta a emanação do ódio – que se alastra – e devora, e abraça, e nos trespassa. Observe essa carteira vazia – silenciosa – abandonada. Crente na devassidão do mundo – que surpreende – e ignora, e reproduz, e nos arrasa. Observe essa carteira vazia – deliciosa – delicada. Prenhe de ilusão confusa – que consente – e insinua, e seduz, e nos agarra. Observe essa carteira vazia – espaçosa – desejada. Ciente na criação do sonho – que compreende – e ama, e perdoa, e nos concede a graça.


 
O poema acima de mim
Se disser tudo, me restará a última mentira. Mas, rente ao chão, toda mentira resvala na inutilidade.