Nós estamos na Semana Santa de 2021, e há mais de um ano vivemos uma crise múltipla na história da humanidade, que nos desestabiliza em todos os sentidos. Cenas de desespero e horrores, sentimentos de temor e incerteza ameaçam a paz, banalizam a morte, corroem a esperança, ameaçam a fé.
Muitos buscam na religião um meio de combater a inquietude do presente e fortalecer a confiança no futuro. Para os cristãos, a narrativa da Paixão de Cristo revivida em encenações da Via Sacra é um poderoso estímulo ao restabelecimento da fé. Esse precioso sentimento que tem o poder de proteger e estabelecer a necessária unidade entre corpo e espírito.
Por isso eu achei oportuno relembrar hoje o oratório Via Sacra em que um poema de Waldemar José Solha, minha música e a coreografia de Rosa Cagliani interagem cooperativamente para transmitir mais uma versão dessa história de um poder inigualável.
Estas entrevistas datam do ensaio geral do Oratório, que foi estreado na Semana Santa de 2005, na Igreja de São Francisco, em João Pessoa. Elas estimulam a memória dos processos criativos e interpretativos que moldaram a música e a cena que interpretam o poema Via Sacra, de W. J. Solha, resultando num espetáculo multimídia, sobre o qual ele se refere:
“Eu não sou religioso, mas fascinado pela grande metáfora da vida, que é a religião. Por isso pensei em culminar o texto com uma ressurreição, que seria a do ser humano se perpetuando na Terra através das gerações.”:
Isto se encontra nas últimas estrofes do cordel que é um verdadeiro canto de esperança e de fé no homem:
A noite será um pesadelo
Se não se espera outro dia
Se o Sol se vai de uma vez
A treva é terna e agonia
Por isso precisa-se tanto
Disso que agora eu canto
A volta da alegria
A luz que o mundo regressa
Confirma a nossa esperança
Pense no horror da velhice
Sem ter a quem dar sua herança
Herança de uma unidade
Que só prossegue em verdade
Quando aparece a criança
No fim do caminho há o homem
Que se identifica com Deus
Que sai da treva glorioso
Assim como o Sol lá no céu
Que compreende seu mundo
Torna-se grande e profundo
Sabe que tudo é seu Eu