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Não houve golpe mais drástico no viço do meu artesanato do que terem exonerado o papel linha d’água da impressão dos meus escritos. P...

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Não houve golpe mais drástico no viço do meu artesanato do que terem exonerado o papel linha d’água da impressão dos meus escritos. Por conta de amores velhos com A União, um dos raros jornais deste país fiéis ao papel de impressão, ainda continuo no ambiente pelo qual fui gamado ou pelo que de melhor se escreveu e imprimiu na literatura do mundo.

Nesse calorão do nosso meio—dia, saí de uma sala fria, gelada, do Tribunal de Justiça, para, sufocado, sentir a falta imediata, no edi...

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Nesse calorão do nosso meio—dia, saí de uma sala fria, gelada, do Tribunal de Justiça, para, sufocado, sentir a falta imediata, no edifício vizinho da OAB, do gabinete do antigo presidente da Associação dos Procuradores, Assis Camelo, onde íamos respirar, anos atrás, o clima conterrâneo de Alagoa Nova. Com o ar refrigerado no mesmo grau, o calor da estima fazia a diferença.

Mas dou com o olhar numa casa de alpendre ao lado, de porta e janelas fechadas e que de repente se alegra, atraente, de jovens rostos, e que rostos, à janela. Era a casa de Lúcia Braga, que ela descreve de um modo, em suas memórias, e o antigo revisor de A União que eu fui via de outro em suas idas e vindas a caminho de casa, em Jaguaribe.

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Rua da Palmeira (atual Rodrigues de Aquino) ▪️ J. Pessoa GSView
Li ou ouvi dizer que a vida começa a ter real encanto a partir do instante em que se constitui em memória. Os instantes felizes só chegam a ser felizes muito tempo depois. Vejamos o que dona Lúcia escreveu já exilada da militância política com o marido Wilson Braga:

“Eu já era mocinha de 15 anos e estava com Tereza e as Menezes debruçada numa das janelas da Palmeira, 73, quando três moços vestidos a caráter, com violão e guitarra aos ombros e usando sombreiros tipicamente mexicanos param na calçada e nos cumprimentam, galanteadores: — Que belas muchachas! Por Diós! Agradecemos as palavras gentis e indagamos curiosas: “Quem são vocês?” — Somos artistas, El Trio los Panchos, e vamos hacer uma presentación em la Rádio Tabajara – disseram os três numa só voz. E acrescentaram: — Poderemos cantar para Usteds? — Gostaremos muito – respondemos vibrando. E foi assim que assistimos a Los Panchos numa pré—estréia sui generis.”
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Lúcia Braga Câmara dos Deputados (PB)
A Rádio Tabajara dava para a janela dessas meninas, a janela da casa da Rua da Palmeira. Exercia verdadeiro fascínio na vida de Lúcia e das amigas entre crianças e adolescentes. Palco nacional, não raro internacional, com gente como Los Panchos, Agustín Lara, do outro lado da calçada das meninas. Orlando Silva, Galhardo, Silvio Caldas, nem se fala.

Quando não era isso, era a guerra. A Tabajara retransmitindo os horrores da Europa que a BBC despejava estalando por entre o filó amarelado do mostrador do rádio. Lúcia e as meninas ouvindo, vendo tudo da escada da rádio, onde sentavam para brincar, esperar os tipos passarem na calçada, como o jovem sempre empertigado Humberto Lucena ou, a algumas milhas dali, fantasmas, Hitler, Churchill, as suas tropas, seus bombardeios e as nuvens negras que a narrativa mesclava de fagulhas e de jorros de fogo.

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Prédio da Rádio Tabajara demolido em 1984, no governo Wilson Braga (PB)
Mano Ramalho
Vem o marido, governador, e põe abaixo o castelo que a mulher reconstrói nas memórias, todo um mundo supervalorizado pela saudade e pela fama que o tempo foi deixando sentar, moldar, como um pó benéfico além do tempo.

Tempos felizes, diz Lúcia, depois de primeira—dama, deputada, protagonista de uma obra social que é apenas um dos capítulos.

Sofro de memória curta para certas coisas. Inclusive, para livros inteiros, muitos deles desbravados na hora, de forma ardente, e, mais...

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Sofro de memória curta para certas coisas. Inclusive, para livros inteiros, muitos deles desbravados na hora, de forma ardente, e, mais à frente, esquecidos, ainda que me deixem algum rescaldo de nebulosa procedência. Quantas achegas às lições da vida são colhidas remota ou presentemente de alguma leitura!

A concorrência nos obrigava a entrar pela noite até o fechamento da última página, a primeira. Mas não enfadava, era um jogo.

agnaldo almeida jornalismo paraibano
A concorrência nos obrigava a entrar pela noite até o fechamento da última página, a primeira. Mas não enfadava, era um jogo.

— Que você faz com um pão velho e duro como esse, que não dá pra comer? – perguntei a Da Luz. — Nunca tive esse problema, seu Luiz, ...

cordel jose rufino almeida paraiba lembrancas

— Que você faz com um pão velho e duro como esse, que não dá pra comer? – perguntei a Da Luz.

— Nunca tive esse problema, seu Luiz, mas dá pra fazer farinha de pão. Também só compro na conta, nunca deu pra sobrar.

Há pequeníssimas coisas que dispensam autoria mas que terminam trazendo do borralho de nossas vaidades a parte que temos com elas....

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Há pequeníssimas coisas que dispensam autoria mas que terminam trazendo do borralho de nossas vaidades a parte que temos com elas. São autorias que não vão além do autor e que justificam aquelas memórias saudadas por Flávio Sátiro em ensaio circunstancial como “a história por dentro”, ou seja, o depoimento narrado sem pretensões historiográficas, como quem abraça ou acarinha um álbum nem sempre fotográfico de instantes incrivelmente memoráveis, que nunca nos largam e que os de fora jamais se darão pela significação deles. Os que nos alimentam para a vida toda, mesmo repousados ou colados lá no fundo da consciência e por um nada sobem à tona.

Hoje o jornal A UNIÃO chega aos 132 anos impresso em papel, 80 dos quais coçando nos meus dedos, acendendo lembranças, atraindo-me quas...

jornal a uniao paraiba 132 anos
Hoje o jornal A UNIÃO chega aos 132 anos impresso em papel, 80 dos quais coçando nos meus dedos, acendendo lembranças, atraindo-me quase a vida toda para o que tem se passado fora de mim e em mim se revertendo continuamente.

Somos de 1933, todos do mesmo ano: Juarez Farias, Evaldo Gonçalves de Queiroz e o autor duma crônica a cada dia mais solitária. Aind...

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Somos de 1933, todos do mesmo ano: Juarez Farias, Evaldo Gonçalves de Queiroz e o autor duma crônica a cada dia mais solitária.

Ainda somos. Não houve jura nem promessa, mas “somos” - o plural do verbo assim mesmo no presente – só partindo o fio de continuidade quando os três deixarem de existir.

Vem a ideia de ser dado, antecipadamente, à “ponte do futuro” o nome de Augusto dos Anjos. Seria uma forma de responder ao Brasil de ...

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Vem a ideia de ser dado, antecipadamente, à “ponte do futuro” o nome de Augusto dos Anjos. Seria uma forma de responder ao Brasil de hoje àquela pergunta antiga de Gilberto Freyre a Zé Lins do Rego, bestificados diante da estátua imensa, na Praça do Bispo, a um general da nossa primeira República: “Quem é esse?“ – e diante da resposta: “E por Augusto dos Anjos o que vocês fizeram?”.

Sem formar ostensivamente no bloco dos saudosistas e, seja como for, respeitando-os, Cícero Lucena , o piranhense que pela quarta vez...

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Sem formar ostensivamente no bloco dos saudosistas e, seja como for, respeitando-os, Cícero Lucena, o piranhense que pela quarta vez administra a terceira mais antiga capital do Brasil, não parece estranho a esta (para nós riquíssima) peculiaridade histórica de João Pessoa.

Roço o dedo à procura do telefone de João Batista Simões, nesta passagem de ano e, sem que possa me queixar, surge Gil Messias no...

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Roço o dedo à procura do telefone de João Batista Simões, nesta passagem de ano e, sem que possa me queixar, surge Gil Messias no site de Romero inconformado com o tempo que levamos para vencer uma avenida de légua das muitas que dão nome à nova cidade litorânea sem atinar com o que lhe devemos e mesmo quem foi.

Indicam-me a farmácia de manipulação “que fica defronte o jornal O Norte”. Indicação de três dias atrás. Como gostei! Reparei na menina ...

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Indicam-me a farmácia de manipulação “que fica defronte o jornal O Norte”. Indicação de três dias atrás. Como gostei! Reparei na menina que me falou assim e não a vi com idade para fazer de um jornal fechado há mais de quinze anos um ponto de referência. Menina recepcionista se muito nos seus 18 aninhos.

Será pelo nome de João Pessoa que a fome ainda campeia às margens das nossas cidades? Por mais que se invista (e como se tem investido!...

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Será pelo nome de João Pessoa que a fome ainda campeia às margens das nossas cidades? Por mais que se invista (e como se tem investido!) fica difícil encontrar lógica nessa impertinência para mudar o nome da nossa capital ou abolir o que lhe foi dado, não pelo colonizador, menos ainda pelo poderes oficiais, mas pela pressão voluntária de um plenário que extravasou das portas do Teatro Santa Roza para a maioria das praças e ajuntamentos públicos acompanhados por todo o país.

Atraído por aforismo de Gide, saído da sombra para o Memorial que é página deste jornal, já me achava fechando a escrita à lu...

dalton trevisan curitiba literatura conto
Atraído por aforismo de Gide, saído da sombra para o Memorial que é página deste jornal, já me achava fechando a escrita à luz do do poente, quando vem o pior: a tevê anuncia a morte de Dalton Trevisan. Ele de sua Curitiba, província literária isolada até então dos cânones, tornada epicentro do mais novo modo de contar. O conto clássico já havia encurtado fora das nossas matrizes, aqui e ali com Tchekhov, Katherine Mansfield, William Saroyan, para falar do que sei. Mas não havia chegado ao conto-síntese, “beirando o patético e o grotesco, a face oculta de um ser humano que sempre procura mostrar o que na realidade não é”, como flagra Afrânio Coutinho.

Não me lembrava mais desse título dado por Luiz Hugo Guimarães à sua experiência de encarcerado do regime de 1964 na ilha de Fernand...

fernando noronha ditadura 1964 luiz hugo guimaraes
Não me lembrava mais desse título dado por Luiz Hugo Guimarães à sua experiência de encarcerado do regime de 1964 na ilha de Fernando de Noronha. Publicado há 36 anos, reencontrado por acaso entre meus livros injustamente fora da estante, por alguma razão me dá as caras.

Deu pra notar a ausência daquele vendedor de livros usados empilhados a partir de um pé de parede da esquina esquerda do Paraíba Hote...

revista careta j. carlos
Deu pra notar a ausência daquele vendedor de livros usados empilhados a partir de um pé de parede da esquina esquerda do Paraíba Hotel? Era ele do lado oposto ao de Régis, este um dos antigos gazeteiros que fundou seu ponto e sua parte com o Ponto de Cem Réis à porta de entrada do hotel.

Leio em Glauco Morais, em sua coluna da última terça-feira: “A Paraíba vive historicamente seu melhor momento econômico, tendo as ...

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Leio em Glauco Morais, em sua coluna da última terça-feira:

“A Paraíba vive historicamente seu melhor momento econômico, tendo as indústrias do turismo e da construção civil como molas propulsoras do verificado desenvolvimento. Esses dois segmentos se entrelaçam numa conjunção de fatores que os permitem traçar diversos cenários futuros. (...) Outros segmentos, como os de alimentos e bebidas, entretenimento, lazer, também se irmanam com a construção civil, numa simbiose permanente de geração de empregos,

A energia de Carlos Aranha contagiou todos na noite em que lançou na Academia seu livro, “Nós / an insight” (poesia). Contagiou pri...

carlos aranha jornalismo cultural paraibano
A energia de Carlos Aranha contagiou todos na noite em que lançou na Academia seu livro, “Nós / an insight” (poesia). Contagiou principalmente a casa, que viu gente nova, de outras cogitações e auditórios, ocupando as cadeiras e reclamando a falta de espaços. Contagiou a crítica do acadêmico Hildeberto Barbosa, que foi da análise literária ao fervor poético.

Por mais próximo que Bayeux estivesse ou sempre esteja, meu olhar nunca se deteve em algo que se distinguisse como seu cartão postal. E...

bayeux paraiba reminiscencias
Por mais próximo que Bayeux estivesse ou sempre esteja, meu olhar nunca se deteve em algo que se distinguisse como seu cartão postal. Em décadas e décadas de chegadas e saídas, de idas e vindas, a antiga Barreiras pouco passou de entrada ou saída para outros destinos. O ônibus entrando em Bayeux, cortando a avenida central que já foi incriminada como Corredor da Morte, e a intenção lá na frente, na ponte do Baralho ou subida de Álvaro Jorge e Matarazzo, que continuo avistando ainda que em ruínas ou cobertas de melão até que a Prefeitura ou o Estado possa transformar toda essa área abandonada num amplo recreio cultural com escola especial, centro de arte e praça de esporte aberto a todo aquele mundo pobre lá de baixo certamente rico de crianças.

Nem bem termino de ler as Elegias do poeta maduro, de Hildeberto Barbosa , expansão em ritmo de repente dos seus 70 anos, bate-me à p...

vladimir carvalho cinema paraibano
Nem bem termino de ler as Elegias do poeta maduro, de Hildeberto Barbosa, expansão em ritmo de repente dos seus 70 anos, bate-me à porta a Regente final surgida das sombras no último fragmento do poema, dessa vez interrompida pelo desgarramento de Vladimir Carvalho de sua obra. Obra que, por mais que eu tente comentar, pouco viria acrescentar a outra elegia, esta em prosa de Silvio Osias, escrita sob o imediato efeito da notícia e, paradoxal que possa parecer, de final feliz.