novembro 18, 2024
Foi-se há poucos dias, aos 78 anos, Carlos Aranha, jornalista, escritor, compositor e agitador cultural, entre outras atividades e o...
Foi-se há poucos dias, aos 78 anos, Carlos Aranha, jornalista, escritor, compositor e agitador cultural, entre outras atividades e outros talentos. Antes de tudo, um inquieto, sempre em movimento, sempre fazendo “artes”, no bom sentido, como se dizia antigamente das crianças peraltas. E no caso de Aranha a palavra “artes” tem tudo a ver, pois ele foi essencialmente um artista, uma ampla vocação de artista, plenamente realizada ou não, não importa.
novembro 18, 2024
novembro 11, 2024
Li esta frase não sei onde e gostei. Ela me fez refletir sobre os estereótipos, os quais têm tanta força, como sabemos, e nem sempre re...
Li esta frase não sei onde e gostei. Ela me fez refletir sobre os estereótipos, os quais têm tanta força, como sabemos, e nem sempre retratam a verdade dos fatos, também sabemos. Mas quando eles “pegam”, acabou, não tem como se fugir deles; o trabalho para desmenti-los é grande – e não raro inútil. Vejamos alguns.
novembro 11, 2024
novembro 04, 2024
Desinformação? Improvável. Preconceito? Sem dúvida. Se um articulista regular de O Globo escreve nos dias de hoje que o Nordeste é um...
Desinformação? Improvável. Preconceito? Sem dúvida. Se um articulista regular de O Globo escreve nos dias de hoje que o Nordeste é um cafundó, não pode ser desinformação, só pode ser o velho preconceito sudestino, de cariocas e paulistanos “cosmopolitas”, contra os nordestinos de sempre, para eles, os “cosmopolitas”, eternos símbolos de atraso, ignorância e matutice. Pode?
novembro 04, 2024
outubro 28, 2024
A voluntária morte do poeta e filósofo Antonio Cícero, ocorrida na última quarta-feira, 23 de outubro de 2024, em Zurique, na Suíça, ...
A voluntária morte do poeta e filósofo Antonio Cícero, ocorrida na última quarta-feira, 23 de outubro de 2024, em Zurique, na Suíça, é daquelas que nos põem a pensar. Pois foi uma morte por eutanásia (suicídio assistido), escolhida e planejada, além de tranquila, ele segurando a mão do companheiro de vida até o fim. Uma bela morte, diriam os filósofos, pois reuniu no ato derradeiro consciência, domínio, aceitação e paz, ingredientes quase sempre difíceis de juntar. Daí a beleza da despedida desse carioca de 79 anos, autor de uma consistente obra poética e filosófica, que o levou, por merecimento, à Academia Brasileira de Letras, sem falar na consagração pela autoria de inúmeras letras de canções célebres de nossa música popular.
outubro 28, 2024
outubro 21, 2024
Só mesmo uma oriental para comemorar a conquista do Nobel de literatura tomando chá, em silêncio. Pois foi isto que fez a escritora...
Só mesmo uma oriental para comemorar a conquista do Nobel de literatura tomando chá, em silêncio. Pois foi isto que fez a escritora sul-coreana Han Kang, 53 anos, ao receber a notícia da grande vitória. “Tomarei chá com meu filho, em silêncio”. Só esta frase, esta reação tão serena e tão sábia, justificam, para mim, a outorga do prêmio, não tivesse ela escrito, apesar de ainda jovem, livros que, segundo a Academia Sueca, “inovaram a prosa contemporânea”. “Tomarei chá com meu filho, em silêncio”. É preciso repetir esta frase extraordinária para penetrar-lhe o profundo sentido e alcance. Nada da algazarra do mundano e previsível champanhe que outros elegeriam para momento tão festivo, mas a sóbria ancestralidade do chá e o recolhimento do silêncio, símbolo de modéstia, de reflexão e, quem sabe, de oração.
outubro 21, 2024
outubro 14, 2024
No início era o engenho. O engenho e a estrutura social que o sustentava. A casa-grande e os resquícios da senzala. O ...
No início era o engenho. O engenho e a estrutura social que o sustentava. A casa-grande e os resquícios da senzala. O senhor e os cassacos quase escravos. O canavial. A cana-de-açúcar. O açúcar. O mel. A rapadura. A farinha de mandioca. A tapioca. A pequena roça de subsistência. Um mundo à parte do mundo. Um feudo. Um específico universo material e imaterial. Um microcosmo. Uma sociologia. Uma antropologia. E nessa mesma origem, dois meninos, meninos de engenho, não moleques da bagaceira, mas sinhôzinhos da casa-grande: José Lins do Rego e João Cabral de Melo Neto. O primeiro, paraibano nascido em 1901, em Pilar; o segundo, pernambucano vindo ao mundo em 1920, no Recife, mas ambos com a infância passada nos engenhos das respectivas famílias.
outubro 14, 2024
outubro 07, 2024
Eles e elas gostam de ser chamados de influencers, em inglês. Isto já diz muito sobre tais pessoas que pretendem influenciar muitas o...
Eles e elas gostam de ser chamados de influencers, em inglês. Isto já diz muito sobre tais pessoas que pretendem influenciar muitas outras e com isso ganhar notoriedade – e dinheiro, muito dinheiro, of course. Atualmente são uma verdadeira praga nas redes sociais, virou uma profissão, um projeto de vida, um meio de vida e, não raro, a própria vida desses e dessas figuras, a maioria desconhecida fora do círculo de seus seguidores.
outubro 07, 2024
setembro 30, 2024
Na capa do livro, logo abaixo do título, está escrita em letras pequenas mas perfeitamente visíveis a palavra ficção. Vejam bem. N...
Na capa do livro, logo abaixo do título, está escrita em letras pequenas mas perfeitamente visíveis a palavra ficção. Vejam bem. Não se optou por romance, novela ou memórias, mas por... ficção. E no entanto não é bem assim. Que há ficção, há, mas também, e talvez em maior parte,
setembro 30, 2024
setembro 23, 2024
Não sei por que me lembrei dele ao ler o mais recente livro de Aldo Lopes de Araújo, Memorial do esqueleto e outros contos , Sebo Ver...
Não sei por que me lembrei dele ao ler o mais recente livro de Aldo Lopes de Araújo, Memorial do esqueleto e outros contos, Sebo Vermelho Edições, Natal, 2024. Refiro-me ao poeta e contista português Miguel Torga, tão grande que o nosso Jorge Amado considerava-o merecedor do Nobel, só para se ter uma ideia do valor desse médico taciturno, cujo nome verdadeiro era (e é) Adolfo Correia da Rocha. Nascido em São Martinho de Anta, Trás-os-Montes, viveu, trabalhou e morreu em Coimbra, onde se formou. Entretanto, quando jovem, viveu uns tempos em Leopoldina, Minas Gerais, o que nos remete ao nosso Augusto dos Anjos que lá viveu seus últimos dias como diretor de um colégio. Coincidência? Sabe Deus.
setembro 23, 2024
setembro 16, 2024
Não é qualquer um que tem amigos há mais de meio século. Amigos de verdade, digo, e não meros conhecidos de ocasião, de conveniência, ...
Não é qualquer um que tem amigos há mais de meio século. Amigos de verdade, digo, e não meros conhecidos de ocasião, de conveniência, de mesa de bar ou de chapéu, como diria Machado de Assis. Amigos para o que der e vier, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, semelhante a um casamento feliz e longevo. Amigos, uma meia dúzia, no máximo, feitos ao acaso (ou não), ao puro sabor das circunstâncias, e que jamais poderiam prever a rara longevidade da amizade, esse tesouro que ilumina nossas vidas, não raro mais que os próprios parentes de cada um.
setembro 16, 2024
setembro 09, 2024
Na culinária, os chefes de cozinha costumam preferir o fogo brando ao forte para alcançar o cozimento perfeito das iguarias. Trata-s...
Na culinária, os chefes de cozinha costumam preferir o fogo brando ao forte para alcançar o cozimento perfeito das iguarias. Trata-se, logo se vê, de uma sabedoria lentamente apurada ao longo do tempo, através de experimentos mil, de erros e de acertos, ao fim dos quais se concluiu que sempre comem melhor os que não têm pressa. Foi nessa filosofia, talvez, que o nosso poeta Sérgio de Castro Pinto escolheu o inspirado título de seu livro mais recente: Brando fogo das palavras, Editora Patuá, São Paulo, 2024, belamente ilustrado por Flávio Tavares.
setembro 09, 2024
setembro 02, 2024
Pode um branco escrever um romance sobre personagens de cor? E pode um ocidental escrever uma história passada no Oriente? Toda vi...
Pode um branco escrever um romance sobre personagens de cor? E pode um ocidental escrever uma história passada no Oriente? Toda vida foi possível — e há mil exemplos —, mas agora parece que não. Agora a coisa não é tão simples, como nada mais parece ser simples, num mundo que, estou certo, ficou mais burro — e desagradável.
setembro 02, 2024
agosto 26, 2024
Três ícones marcaram o cinema francês e mundial na segunda metade do século passado, talvez para sempre. A rigor, dominaram a cena na...
Três ícones marcaram o cinema francês e mundial na segunda metade do século passado, talvez para sempre. A rigor, dominaram a cena nas décadas de 1950, 1960 e 1970. São eles Alain Delon, o bonito, Jean Paul Belmondo, o feio, e Brigitte Bardot, a sensual (e também linda, mas não agora, claro). Quanto a isso, creio que ninguém discordará, cinéfilo ou não. São figuras célebres que ocuparam o imaginário popular ao seu tempo, em torno das quais e sobre as quais foram criadas mitologias, verdadeiras ou não. Para usar a feliz expressão do presidente Macron, os três são “monumentos franceses” indiscutíveis. Autênticas unanimidades. Alguém contesta?
agosto 26, 2024
agosto 19, 2024
Conta Otto Lara Resende que Guimarães Rosa gostava de dar o seguinte conselho aos seus amigos escritores: “Não fabriquem biscoitos, ...
Conta Otto Lara Resende que Guimarães Rosa gostava de dar o seguinte conselho aos seus amigos escritores: “Não fabriquem biscoitos, fabriquem pirâmides.”. Referia-se o autor de Grande Sertão: Veredas provavelmente a obras semelhantes ao seu célebre livro. Obras importantes, definitivas, de preferência volumosas. Rosa gostava de livros grossos, que ficassem de pé sozinhos. Vejam só. Como se fosse fácil fabricar pirâmides. Como se dependesse apenas da vontade e do esforço do escriba. Quantas pirâmides não teríamos se fosse assim tão simples...
agosto 19, 2024
agosto 12, 2024
Haveria de agradá-lo muito este título. Ararunense antes de tudo. Sabem disso os que o conheceram mais de perto ou nem tanto assi...
Haveria de agradá-lo muito este título. Ararunense antes de tudo. Sabem disso os que o conheceram mais de perto ou nem tanto assim. Pois Araruna, o serrano e querido chão natal, estava em seu ser, habitava seu ser de forma profunda, declarada: nas palavras, nas memórias, nos escritos, no querer e no fazer de cada dia.
agosto 12, 2024
agosto 05, 2024
O envelhecimento de tudo que é vivo marca a gradativa vitória de Tânatos sobre os viventes. É inevitável, sabemos nós, eternos aprendi...
O envelhecimento de tudo que é vivo marca a gradativa vitória de Tânatos sobre os viventes. É inevitável, sabemos nós, eternos aprendizes da finitude. Aceitar isso com alguma naturalidade é sabedoria, pois de que adianta qualquer revolta e irresignação? Entretanto, dentro do possível, e mesmo sem se mostrar, Eros luta contra Tânatos até onde pode. É inevitável também, pois é da natureza de tudo que vive querer permanecer vivo, pelo menos até onde der. Eros e Tânatos, pulsão de vida e pulsão de morte, como dizem os psicanalistas, as duas forças vitais que nos regem e se combatem mutuamente.
agosto 05, 2024
julho 29, 2024
Talvez a maior preocupação de quem tem livros e os guarda e preserva amorosamente seja o destino deles quando já não se estiver aqui pa...
Talvez a maior preocupação de quem tem livros e os guarda e preserva amorosamente seja o destino deles quando já não se estiver aqui para deles cuidar. O temeroso “day after” de toda biblioteca particular, seja ela grande ou pequena. Chego a imaginar que os livros devem pensar sobre essa previsível e incontornável ausência do dono e suas consequências para eles. O mesmo imagino em relação aos animais de estimação. O que será de mim quando aquele ou aquela que me ama desaparecer? Esta é a pergunta que, em minha imaginação, paira no ar.
julho 29, 2024
julho 22, 2024
O leitor sabe, tem livros mais difíceis de ler que outros. Exemplos: Ulisses , de James Joyce, e Grande Sertão: Veredas , de Guimarãe...
O leitor sabe, tem livros mais difíceis de ler que outros. Exemplos: Ulisses, de James Joyce, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Há mais, claro, mas estes dois são reconhecidos desafios, face as especificidades formais, sem falar na extensão da obra, por si só capaz de desanimar muita gente. A montanha mágica, de Thomas Mann, menos pela complexidade da linguagem e mais pelas centenas de páginas, também costuma espantar leitores.
julho 22, 2024
julho 15, 2024
Político gosta de sorrir. Pelo menos, publicamente. Gosta de parecer simpático. Acredita que isso lhe rende votos. O eleitor, pensa el...
Político gosta de sorrir. Pelo menos, publicamente. Gosta de parecer simpático. Acredita que isso lhe rende votos. O eleitor, pensa ele ou ela, não gosta de cara feia, ou seja, séria. O eleitor gosta de ser enganado, em outras palavras. Por sorrisos falsos e, pior ainda, por falsas palavras. Assim tem sido no Brasil e no mundo, principalmente a partir da segunda metade do século passado, após o advento da televisão e dos marqueteiros profissionais.
julho 15, 2024
julho 08, 2024
1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “...
1994. Lembro-me bem. Inflação nas alturas, dissolvendo os salários e o dinheirinho daqueles que não podiam ou não sabiam aplicar no “overnight”. A população refém da insegurança e da angústia decorrentes da incerteza sobre o dia seguinte. Medo de consumir, medo de poupar, medo de investir. Ainda na mente – e nos corações – das pessoas o aloprado confisco de Fernando Collor. Dias sombrios. Futuro nebuloso. Lembro-me bem. E quantos mais ainda o fazem?
julho 08, 2024