Sejam dormitando em nós mesmos ou espalhadas ao nosso redor, as sementes das maiores virtudes aguardam o momento de serem cultivadas. Os alertas que recebemos para evitar quedas desnecessárias e desfechos desoladores encontram-se na voz discreta e silenciosa da própria consciência. Esta, que atua como guia moral e bússola interna, revela os princípios fundamentais já inscritos em nosso interior, devendo nos nortear e apontar a prática da autovigilância e da bondade como o melhor escudo contra os fracassos morais. Esse conjunto de ensinamentos também se encontra nos preceitos transmitidos pelas tradições e doutrinas espirituais ao longo das gerações, bem como nos pilares da ética universal expressa nas mais elevadas manifestações culturais e artísticas.
O famoso texto "Desiderata", de Max Ehrmann, diz em um verso: "tenha cuidado em tudo o que fizer, pois o mundo está cheio de armadilhas, mas não feche os olhos para o bem que sempre existe..."
Nada contra e tudo a favor daqueles que professam outros credos, mas preciso confessar que, para mim, Jesus É o Exemplo Irretocável que devo me esforçar por seguir nas mínimas coisas.
Uma das memórias que melhor evocam a infância é a lembrança de um sabor. O de minha preferência é o do mingau de araruta, meu "café da manhã" favorito quando criança. Lembro dele por sua consistência aveludada, cremosa e levemente gelatinosa, que ficava mais espessa conforme esfriava, mantendo, porém, uma textura macia e lisa.
Na famosa novela de Tolstói, o personagem Ivan Ilitch, já moribundo, encontra consolo em um simples gesto de compaixão de um servo o conforta em sua agonia final. Ivan descobre, no fim, que a verdadeira riqueza de uma vida não está no que foi acumulado, mas no que foi doado.
No dia 26 de janeiro de 2025, um evento incomum e intrigante ocorreu na costa de Tenerife, nas Ilhas Canárias: um peixe diabo negro, uma criatura das profundezas abissais, foi encontrado na superfície, em um acontecimento raro que surpreendeu cientistas e curiosos de todo o mundo. A espécie, habituada à densa escuridão dos oceanos, dificilmente é encontrada viva, ainda mais tão distante de seu habitat.
Há uma cena icônica da entrevista do ator Keanu Reeves no "The Drew Barrymore Show", em 2020. No momento da conversa, a apresentadora falou acerca de sua visão sobre o amor, dizendo que era “do amor e não da luta”. Keanu Reeves, contudo, com sua sabedoria habitual, contestou que, para realmente ser do amor, era necessário também ser da luta, afirmando que “se você não luta pelo que ama, que tipo de amor é esse?”
O escritor sul-africano de ascendência holandesa, Laurens van der Post, revelou que, quando viveu entre os bosquímanos do deserto de Kalahari, eles ficaram surpresos quando descobriram que ele não podia "ouvir as estrelas".
São João da Cruz, em sua obra mais famosa, "A Noite Escura da Alma", descreve um processo espiritual no qual a alma passa por um período de trevas ou desolação, sentindo-se afastada de Deus, como se não houvesse esperança. Segundo ele, essa experiência é necessária para que o ser humano se desapegue das coisas mundanas, ilusórias e das próprias emoções, requalificando-se para uma comunhão mais verdadeira com Deus. Nesse estado de "noite escura", a alma, embora pareça perdida, está, na verdade, sendo preparada para receber a verdadeira luz, que é a Presença Divina. Para o místico espanhol, a escuridão, então, não é um obstáculo, mas um caminho para a luz interior, um refinamento espiritual que prepara a alma para sua plenitude.
Em Lucas 11:1, um dos discípulos pede que Jesus os ensine a orar. A resposta foi o "Pai Nosso", que começa com a invocação a Deus como Pai, destacando a proximidade amorosa que temos com Ele, e exalta Sua santidade, reconhecendo a grandeza de Seu nome.
Folheamos, dia após dia, as páginas que a vida escreve com as tintas dos dias, num livro sem capa e sem fim, cujas linhas são traçadas pelas escolhas, atitudes, silêncios, encontros e despedidas pelos caminhos que escolhemos trilhar.
Meu querido amigo Germano Romero citou uma curiosa estrofe em suas redes sociais por ocasião das festas de fim de ano:
"Felicidade é uma canoa no rio
Uma espiga na brasa
Um cobertor p'ro frio
E um amor em casa"
Michael Telitsyn
A citação foi retirada da "Canção da Felicidade", também conhecida no cancioneiro popular português, e que já foi regravada por diversos intérpretes. Em sua versão supostamente "original", os versos aparecem assim:
"Uma canoa no rio,
Uma sardinha na brasa,
Um cobertor para o frio,
E um amor dentro de casa"
Germano teve a sensibilidade de trocar o substantivo feminino singular "sardinha" por "espiga", numa contextualização cultural muito interessante, pois, no Brasil, o milho substituiu a sardinha nas fogueiras de São João devido à sua maior abundância e praticidade, começando pelo interior, onde a cultura agrícola predomina. O milho,
Tanisa.tw
colhido em junho, se adaptou às tradições regionais e se tornou símbolo das celebrações. Como o "São João" no Brasil se disseminou como uma festa de raiz interiorana, a espiga venceu a sardinha até mesmo no litoral.
Outro velho amigo sempre me recitava os mesmos versos, atribuindo-os a um pescador do município de Lucena, que costumava repeti-los. Curiosamente, o grupo de chorinho da vizinha cidade de Cabedelo, costuma tocar a "Canção da Felicidade" , sempre acompanhando a elogiada interpretação da cantora Roseleide Farias.
A canção também pode ser encontrada nas vozes dos cantores de bolero Hélio Portinhal e Orlando Dias, e também de Teixeirinha, mais dedicado a músicas gaúchas.
Há uma versão lusitana, executada por José Afonso, diferente da que circula no Brasil:
Felicidade é uma quimera
Que o homem persegue pela vida fora,
É uma casa pequenina
E uma roseira à porta.
Felicidade é uma sardinha na brasa
E um amor dentro de casa.
Felicidade é uma conversa à janela,
Um sorriso de criança,
É uma coisa tão singela.
Alex George
A autoria dessa adaptação é atribuída aos compositores portugueses José Niza e Luís Oliveira, enquanto a versão brasileira é imputada a Francisco Luiz, que aparece como autor na gravação feita por Hélio Pontinhal.
A canção é mais portuguesa ou mais brasileira? Qual a sua versão "verdadeira"? Quem a compôs primeiro?
Antes de William Shakespeare, a história de "Romeu e Julieta" já fora contada pelo poeta inglês Arthur Brooke em 1562, que, por sua vez, baseou-se no escritor italiano Matteo Bandello, que publicou o drama dos amantes de Verona em 1554, inspirado em antigas lendas e narrativas populares.
Ariano Suassuna Ariano Suassuna Oxente
Ariano Suassuna relatou que se inspirou num mentiroso contumaz, com o qual conviveu em sua infância na cidade de Taperoá, para criar o personagem Chicó. Já em relação a João Grilo, Suassuna faz o resgate de uma figura muito popular nos contos nordestinos, e que se insere numa longa tradição de personagens pícaros portugueses e espanhóis, a exemplo de João Ratão e Lazarillo de Tormes.
O famoso Cordel nordestino "O Romance do Pavão Misterioso" relata o resgate da condessa grega Creuza pelo herói João Evangelista, que a bordo de uma máquina voadora criada pelo inventor português João Sem Medo, retira-a de uma torre. A história se assemelha à de Rapunzel, popularizada pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, a partir do seu livro "Contos de Fadas", publicado em 1812. O autor francês Charles Perrault também apresentou uma versão de "Rapunzel" em 1697, no livro "Histórias ou Contos de Tempos Passados", mas há narrativas ainda mais remotas sobre uma donzela sendo socorrida por um herói.
Uma das partes mais emocionantes e épicas do Ramayana, o grande épico hindu atribuído ao sábio Valmiki, é sobre o resgate da princesa Sita, após ela ser sequestrada
pelo demônio Ravana, o rei de Lanka, o que provocou a longa e árdua jornada de Rama para resgatá-la.
Acredita-se que o Ramayana tenha sido escrito entre os anos 200 a.C. e 200 d.C.
A pergunta sobre "quem é o autor?" desafia a ideia de uma origem fixa. Ao longo de gerações, canções, contos, fábulas e histórias se transformam, enriquecidos e remodelados pelas mãos e pelos corações dos que os recriam.
Não pode haver um único autor para aquilo que toca a todos, pois o povo, em seu poderoso imaginário coletivo, é também criador.
A literatura, como o rio que atravessa os campos de nossa memória cultural, não pode ser contida. As suas margens são fluidas, como o próprio conceito de autoria. Um escritor é, na verdade, um guardião da herança espiritual da humanidade, que preserva a memória para que ela seja reinventada e resignificada pelas novas gerações, que a mantém desse modo dinâmico, recriando-a e não apenas recitando-a, pois só o espírito vivifica.
Tudo passa e também se renova no transcorrer dos dias, mas é fundamental manter-nos sempre operosos e úteis na construção da felicidade dos outros, como forma de edificar o próprio sucesso. Enquanto preparamos e nutrimos a nossa bem-aventurança, devemos contribuir para a alegria do próximo.
Para que possamos enxergar com clareza qual o nosso papel no quadro da vida, precisamos permitir que um Propósito Superior nos oriente os passos.
Em face dos desafios que nos rodeiam, por vezes nos abatemos. São conflitos domésticos, desentendimentos, dificuldades na sobrevivência material, hostilidades aparentemente gratuitas, julgamentos injustos, agressões recebidas, desentendimentos e outros episódios que trazem dor e angústia, numa prova de que ninguém passa incólume pela existência.
Embora não seja fã e até os evite, eu compreendo o êxito dos filmes de terror. Ao assisti-los, as pessoas sentem que, diante das condições drásticas e terríveis exibidas por essas produções, as suas vidas são até suportáveis.
A vida é um constante fluir de escolhas, cada uma das quais trazendo depois o fruto da semente que plantamos. Nossas decisões esculpem nosso destino, influenciando também na vida daqueles que convivem conosco e do mundo a nossa volta. É necessário entender quem somos, o que nos motiva e onde pretendemos chegar, antes de cada ação.
A mente é um jardim no qual florescem as sementes que nele são lançadas.
Paisagens sombrias de ressentimentos e tristeza, se cultivadas, projetam sombras espessas que nos debilitam e enfraquecem o ânimo. Em vez de estocar lixo na cabeça, cada um deve manter em sua tela mental a disposição de ajudar o próximo, de ser solidário, e de agir com bondade e compreensão. Trabalhando em favor do bem, criamos as condições de possibilidade imprescindíveis ao nosso próprio bem estar.