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O calor atravessa a pele, invade a alma. O veículo avança e revela, em rajadas rápidas, novos e velhos, cenas e cenários. Prédios hist...

carnaval cinzas folia
O calor atravessa a pele, invade a alma. O veículo avança e revela, em rajadas rápidas, novos e velhos, cenas e cenários. Prédios históricos passam desbotados, corpos circulam sem ter as identidades reveladas, nuvens viajam a velocidades díspares, os corpos pulam, soam, vibram, tudo é movimento. A cidade vive incondicionalmente à vontade de qualquer um que a habite nos dias silenciosos ou nos reinados momentâneos.

Vi de relance as torres da velha cidade por um novo ângulo. Perdidas do alto, de lado, ainda assim imponentes, a catedral, a igreja, a...

joao pessoa paraiba parahyba centro historico

Vi de relance as torres da velha cidade por um novo ângulo. Perdidas do alto, de lado, ainda assim imponentes, a catedral, a igreja, as paredes erguidas há séculos. Um pedaço de árvore, um naco de poste, telhados disformes e o céu nublado completavam a cena. A desorganização das construções ainda assim em tom poético. Um segundo para olhar e capturar a imagem na retina. Um instante para guardar num clique e na mente o cenário. Mais um segundo para amar a terra, a velha Parahyba.

Era a vontade de tocar o ouro esparramado no fim de tarde pelos telhados e pedaços de ruas históricas da cidade. Cada vez mai...

Era a vontade de tocar o ouro esparramado no fim de tarde pelos telhados e pedaços de ruas históricas da cidade. Cada vez mais o Sol se deitava, seus braços ficavam ainda mais ricos e sutis na carícia das copas das árvores, dos paralelepípedos, das paredes, dos rostos, das nuvens... Como se fizesse uma mesura, beijava a terra antes de desejar boa noite.

O alto da praça se torna prata esverdeado com a dança veloz do vento e a passagem dos pingos por entre as copas das árvores....

chuva prosa poetica clovis roberto
O alto da praça se torna prata esverdeado com a dança veloz do vento e a passagem dos pingos por entre as copas das árvores. A chuva invade o ar e canta pelas calhas, galhas e vidraças e divide o espaço sonoro com a música. Entra em cartaz muitos acordes e sonhos dormidos, campos e composições de trens e discos.

Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calca...

contemplacao mar praia poesia
Encostei os pés na água do mar. Deixei que a espuma encontrasse os meus dedos, entrasse por entre eles, subisse até os calcanhares, acariciasse as raízes do corpo. A leve onda foi e regressou num passeio sobre a terra onde repousa a imensidão do oceano. Os olhos fechados estavam ali e, ao mesmo tempo, corriam alhures. Eu sentia a paz molhar a vida.

A manhã abraça com um sorriso e uma chuva de cajus. Nas praças, nos quintais, em terrenos baldios, aquarela em amarelo ou ve...

chuca caju maturi fruta tropical
A manhã abraça com um sorriso e uma chuva de cajus. Nas praças, nos quintais, em terrenos baldios, aquarela em amarelo ou vermelho e mesmo verde. Um balanço natural ao toque do vento e ao sabor tropical. A chuva do verão anuncia o fruto que deixa um gosto travoso. Do suco, do doce, da boca na carnosidade vegetal ao inconfundível e resistente caju.

Num recanto o ventilador quebra a sonoridade noturna. E gira, gira, gira... embebido antes de consumir qualquer bebida que regue a no...

vinho noite reflexao leitura
Num recanto o ventilador quebra a sonoridade noturna. E gira, gira, gira... embebido antes de consumir qualquer bebida que regue a noite. São tempos "decembrais" e as festivas luzes natalinas intercalam claridades coloridas no ambiente, refletindo tons diversos às taças de vinho e água. Um gole para abrir a sede de beber livros, músicas, olhares e seduções.

  Vento no porto O vento canta o mar com um assobio, deixa-se levar no desequilíbrio, segue nas vagas o prumo, balança na entrad...

vento noite poesia paraibana clovis roberto
 
Vento no porto
O vento canta o mar com um assobio, deixa-se levar no desequilíbrio, segue nas vagas o prumo, balança na entrada do sitiado porto. Feito vida assopra sem rumo, queima noturno, esfria soturno, agarra o ser, atira-se aos cascos, corrente que afoga, afaga, apoio.

Havia naquele fim de tarde um vento estranho. Forte, penetrava com intervalos inexplicáveis nas janelas, sacudia o interior d...

vento prosa poetica paraibana clovis roberto
Havia naquele fim de tarde um vento estranho. Forte, penetrava com intervalos inexplicáveis nas janelas, sacudia o interior das casinhas, balançava roupas e fantasmas das pessoas. Não trazia chuva, só uma fina poeira que se impregnava em tudo que tocava. Do rosto entristecido de um quadro na parede à superfície da mesa no canto da sala, do enfeite dependurado num armador de rede às garrafas de vinho enfileiradas como ornamentos ébrios num aparador...

Eis que surge uma notícia desafinada e triste: o silenciar de um piano. Morreu o pianista carioca Arthur Moreira Lima, aos 84 anos, v...

arthur moreira lima jornalismo paraibano ricardo anisio
Eis que surge uma notícia desafinada e triste: o silenciar de um piano. Morreu o pianista carioca Arthur Moreira Lima, aos 84 anos, vítima de câncer. Imediatamente me vem à memória o inusitado dia em que o entrevistei para o extinto Jornal O Norte, do Diários Associados.

Longos monstros de braços gigantes espiam sobre a serra. Alertas, atravessam enormes pás ciclopes para além do horizonte na...

paisagem sertao floracao
Longos monstros de braços gigantes espiam sobre a serra. Alertas, atravessam enormes pás ciclopes para além do horizonte na vigilância da serpente negra por onde trafegam inventos que transportam humanos no sentido leste-oeste. A paisagem seca por quilômetros abriga muita vida e o verde desaparecido está à espera de qualquer invernada para reflorescer a região.

As latas e as garrafas espalhadas pelo canto da varanda nas alturas de um endereço encantado são testemunhas e enumeram a lista de am...

amigos recordacoes encontro amizade
As latas e as garrafas espalhadas pelo canto da varanda nas alturas de um endereço encantado são testemunhas e enumeram a lista de amores e anos juntos. Tudo amarrado em Recife, Parahyba, Campinas, Guarulhos e terras alhures, passagens em Minas e Paraíba. É hora de sorrir ao som das falas das vozes conhecidas até a madrugada chegar, à espera do primeiro sol do dia que desmergulha do Atlântico.

A última chuva abraça a primavera trazida por ventos que lembram agosto. Contudo, as pessoas continuam a seguir em frente...

tempo esperanca otimismo
A última chuva abraça a primavera trazida por ventos que lembram agosto. Contudo, as pessoas continuam a seguir em frente alheias às passadas do tempo. Flores, carros e relógios são dispositivos da vida rumo a uma finitude desconhecida, por mais que se finjam certezas sobre o instante seguinte ao fechar os olhos.

Transpareço pelas esquinas e ruas como uma nuvem flutuante, ou um cão dono da própria vida que é atraído pelo cheiro da co...

joao pessoa paraiba centro historico
Transpareço pelas esquinas e ruas como uma nuvem flutuante, ou um cão dono da própria vida que é atraído pelo cheiro da comida, a abelha conectada pelo néctar das flores a sugar vida. A cidade velha me atrai. Faz mergulhar nas histórias. Em outros instantes me afoga nas vivências de anos partidos. Ela me agarra na revisita das marcas visíveis e conceituais das suas paredes e monumentos.

De repente na manhã uma chuva de gotas fortes dá passagem e permite a volta do céu aberto... A mente levanta voo e vai buscar umas saud...

saudades recordacao infancia nostalgia
De repente na manhã uma chuva de gotas fortes dá passagem e permite a volta do céu aberto... A mente levanta voo e vai buscar umas saudades aleatórias. Uma misturada de coisas antigas guardadas no depósito da memória que salta à superfície do imaginário como pedrinhas em meio a um pequeno terremoto de magnitude suficiente apenas para ser sentido, sem maiores danos. A terra se divide e surgem objetos de velhos mundos. E reaparecem, feito tempestade, objetos díspares em nuvens de lembranças.

Imagino José Américo de Almeida observando a paisagem da Praia do Cabo Branco pela primeira vez. O “Homem de Areia”, saído do Brejo...

casa jose americo almeida praia cabo branco
Imagino José Américo de Almeida observando a paisagem da Praia do Cabo Branco pela primeira vez. O “Homem de Areia”, saído do Brejo e do meio dos engenhos, desembarcando no litoral. Penso no sossego dos dias quando o escritor residia na casa de número 3336 à beira-mar e compunha o cenário paradisíaco daquela região da cidade.

Há poesia nos movimentos... No gol gritado a plenos pulmões para uma torcida fictícia quando a bola atravessa um gol demarcado por ped...

crianca brincadeira infancia
Há poesia nos movimentos... No gol gritado a plenos pulmões para uma torcida fictícia quando a bola atravessa um gol demarcado por pedras, sandálias ou pedaços de madeira fincados ao solo; na corrida desenfreada pelo terreno do corredor de pés descalços; no cruzar dos olhos concentrados no adversário do outro lado da rede que já apresenta furos antes de um saque com a bola gasta; no equilíbrio do corpo sobre uma corda ou um skate, ou ainda na escalada da árvore em busca do fruto maduro como se fora um salto em altura...

Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através...

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Eram os tumultuados e confusos anos 70... E eu lembro bem de uma miscelânea de imagens daquela época vomitada em preto e branco através do tubo de imagem da TV. Guerra do Vietnã, o Ira na Irlanda, John Lennon, um Papa que morria e um novo que sorria, mísseis apontados para o céu, bandeiras e discursos, o rebolado e a morte de Elvis Presley, ruas ocupadas e os cassetetes impondo uma “ordem”. Por outro lado, a mente captava ondas sonoras de uma caixinha mágica chamada rádio. Elas ainda repercutem nos meus ouvidos como se eu permanecesse nos agitados anos daquela década.

Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em p...

cronica poesia bucolismo indiferenca
Piados quebram o silêncio das primeiras horas. A luz desperta bem-te-vis, canários da terra, rolinhas e outros pássaros que trazem em primeira mão as rotineiras notícias do dia. Aqui e acolá há um movimento humano de domingo despreguiça o cenário. O Sol já se faz presente há algumas horas, chega para descortinar a madrugada friorenta do fim de junho e revela as formas dos bancos, calçadas e árvores da praça.

Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias...

milho junho sao joao junino
Eis que chove novamente por todos os cantos e a água sempre refresca a memória quando o junino mês se estende... Já em seus meados dias enfeitados de tantas festas se reveste de tiras de papel e pano, bandeirolas coloridas por terreiros e postes, contraste em dias de céu nublado. Junino de alegrias, de tempos sorrisos, múltiplos encantos com sabores de receitas do milho de vivo verde e gosto a mais no sentimento de enamorados que passeiam na garupa e carrocerias pelas estradas, campinas e fantasias.