Do livro à tela, da literatura à pós-televisão Muito se tem escrito sobre o estrondoso sucesso da série Cem Anos de Solidão , ex...
O trágico, fantástico e maravilhoso no Imaginário de 'Cem anos de Solidão'
Sou do tempo em que, no Colégio Marista (1968-1973), levantávamos quando professores, diretores, autoridades entravam na sala de aula....
Três imagens dos professores no Cinema
Para o cinéfilo poder voltar às salas de cinema após mais de dois anos de confinamento é uma experiência de júbilo e contentamento. E esse...
Duas ou três coisas sobre o filme 'Ilusões Perdidas' (2021)
A transmutação das “Ilusões Perdidas” (Honoré de Balzac, 1843) para as telas (em 2021) é uma experiência que deu certo porque respeita o texto original e dialoga bem com o imaginário das gerações informadas pelos audiovisuais. Entretanto, o seu grande mérito – para o melhor e para o pior — reside na sintonia com o espírito do tempo do sec. XXI, em que a vida
Antes de concluir a leitura, já me senti tonto. Parece um livreco de 80 páginas, mas é um pequeno ATLAS do Mundo. Eu já havia escrito na...
W.J. Solha, um homem vitruviano
Eu já havia escrito na apresentação do catálogo O CLAUSTRO (de Flávio Tavares) que Solha é um vitruviano, o homem de Vitrúvio, o homem dos sete instrumentos. Entende de tudo: Filosofia, Literatura, História, Mitologia, Teatro, Cinema... tem uma erudição extrema. Difícil de assimilá-lo numa primeira mirada.
Diário da Pandemia Ópera visual em quatro atos Introdução Desde o início de 2020, a humanidade tem sido sobressaltada pela diss...
O Claustro
Ópera visual em quatro atos
“Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede soci...
Uma nova estética da vigilância
Não me iludo Tudo permanecerá do jeito Que tem sido Transcorrendo, transformando Tempo e espaço navegando em todos os sentidos Te...
O Ser e o Tempo
Tudo permanecerá do jeito
Que tem sido
Transcorrendo, transformando
Tempo e espaço navegando em todos os sentidos
Estrangeiro , de Edson Lemos Akatoy, é um daqueles filmes que você tem que assistir bem descansado, de espírito aberto e disposto a uma pr...
Uma ode à paisagem
Pouco depois do atentado de 11 de Setembro, eis que aparecem sobre os telhados de Paris as figuras de Monsieur Chat, um gato amarelo sorri...
Elegância, ironia e crítica do cinema francês
Uma mirada sobre o cinema francês — colocando em perspectiva o debate acerca do Poder e da Comunicação — se mostra importante por vários motivos:
Primeiramente, porque a França possui uma modalidade de produção cultural historicamente crítica, cujos atores, cineastas, estetas, jornalistas e apreciadores da sétima arte têm se caracterizado pelo engajamento em termos estéticos e ideológicos, formais e plásticos, em luta pela liberdade, autonomia e emancipação.
Depois, aponta uma alternativa para o circuito cinematográfico que concorre com a indústria de Hollywood, na medida em que define os termos de uma identidade cultural, mesmo e por causa das negociações simbólicas com os modelos globalitários e comerciais norte-americanos.
E finalmente porque o cinema francês, desde a "Nouvelle Vague", não cessa de dialogar com a produção cinematográfica brasileira, compondo outro prisma da conexão entre as artes audiovisuais e as identidades latinas na época da mundialização.
Cumpriria fazer aqui algumas considerações focando o fenômeno do poder e o cinema no contexto francês.
Primeiramente, cumpre relembrar o caráter nacionalista da sociedade francesa que, estrategicamente, se empenhou em realizar a primeira revolução burguesa do mundo e como metrópole ocidental antecipou a globalização avant la lettre, colonizando inúmeros países da África e do Oriente, e o que há de positivo nessa experiência colonialista é a arte absorver o melhor das suas ex-colônias, revigorando a imaginação criadora.
Hoje, Paris e outras cidades francesas experimentam em casa e na própria pele a revanche do multiculturalismo. As novas gerações (árabes, afrodescendentes) imprimem as suas impressões digitais na cultura francesa, mas nem sempre se integram
Tudo isso já fora prenunciado em filmes indignados como Delicatessen (Jean-Pierre Jeunet, 1991), O Ódio (La haine, Kossovitz, 1995), Irreversível (Gaspar Noel, 2002) e Banlieu 13 (Pierre Morel, 2004), e reaparece em todas as cores e credos nos filmes franceses mais recentes como Intocáveis e Samba (Olivier Nakache e Eric Toledano, 2011 e 2014), Que mal eu fiz a Deus? (Philippe de Chauveron, 2014).
Em cena, os mestiços franceses, árabes, africanos, orientais, latinos, francofônicos descendentes, migram dos subúrbios, são excluídos e indignados, exigem o seu lugar no mundo do trabalho, das atividades sociais, das decisões públicas.
Numa palavra, o cinema francês, como o brasileiro, tem exibido os abismos sociais e as fraturas do cotidiano, sintoma de um projeto neoliberal, que dá mostras de insustentabilidade.
Apreciando uma cultura de tradição verbal, como a francesa, à primeira vista ressalta aos olhos, a maneira com o cinema absorveu — mais do que em qualquer outro país — a retórica literária. Mas este é um país privilegiado pelo extraordinário acervo das artes plásticas, pintura, escultura, arquitetura, moda, design, publicidade; a França é hors concours em matéria de comunicação visual. Além da tradição de dramaturgia, que também fornece grande parte da matéria prima do cinema francês, o estilo de vida parisiense, desde a época dos Luíses, passando pela urbanização de Haussmann, a construção das Passagens, a decoração dos ambientes, a etiqueta e o adestramento na construção dos interiores, atestam uma modalidade de mise-en-scène que antecipa a simulação da vida imaginada no cinema.
As imagens da Cidade-Luz, os grandes diretores e a constelação de estrelas, que fizeram a fama do cinema francês ao longo do século XX, contribuíram para a consolidação de um estilo narrativo que reúne arte, existência, ficção e história, produções que primam no trabalho de elaboração do princípio do sonho (ficção) e princípio da realidade (documentário).
A título de ilustração, há alguns filmes que servem de pretexto para uma compreensão das relações entre o poder e a sociedade no contexto francês: A Grande Ilusão (Renoir, 1937), Les Enfants du Paradis (Marcel Carné, 1945), Hiroshima Meu amor (Alain Resnais, 1959), Os Incompreendidos (Truffaut, 1959), A Chinesa (Godard, 1967), além das versões da obra prima de Victor Hugo, Os Miseráveis, para o cinema, são clássicos que levam a um aprendizado estético do social.
Em verdade, os tons de harmonia e tranquilidade da paisagem apolínea cultivada desde a Grécia clássica, atualizados hoje, no cinema, seduz...
As máscaras de Apolo e as exposições dionisíacas
Há mais de um século, o cinema atua como um universo paralelo onde os seres humanos se espelham e que por sua vez — espelha a odisseia da ...
O homoerotismo no cinema
O tema das celebridades é contemplado à exaustão em diferentes modalidades pela sétima arte e aparece majestoso no filme O Crepúsculo dos ...
A fama e a indústria das celebridades
O filme atira contra o sistema opressivo da "sociedade do espetáculo" (Debord), denunciando a crueldade da indústria do cinema que explora os atores, absorvendo-lhes o talento, a energia, o vigor da juventude e depois os atira à margem da vida, quando chegam irremediavelmente à velhice.
Abordando o mundo dos ídolos e celebridades, Woody Allen atualiza a sua verve irônica no filme sintomaticamente chamado Celebridades (1998), uma leitura ácida da indústria cinematográfica. Lançando um olhar satírico sobre os famosos, Allen desconstrói o esquema das mitologias da fama, exibindo os superstars como pessoas emocionalmente desequilibradas.
O desejo extremo da fama midiática constitui a substância principal de um trabalho insólito, encarnado por Nicole Kidman, Um Sonho sem Limites (Gus Van Sant, 1995), cuja personagem representa uma ambiciosa "moça do tempo" e ajudada por dois adolescentes problemáticos, mata o marido (Matt Dillon), que lhe ameaça o sucesso pessoal. No desfecho final, a metáfora da aspirante à celebridade morta e congelada, deslisando sob a superfície de um lago canadense é implacável.
Com estilo mais clean, bonito e sofisticado, o cineasta Robert Altman modela um retrato irônico e divertido do mundo das passarelas, em Prêt-à-Porter (1994), satirizando os repórteres e outros agentes do "mundo fashion".
Contudo, nada parece mais extremo do que Assassinos por Natureza (Oliver Stone, 1994), que narra a odisséia sinistra de uma dupla de jovens facínoras, usando a mídia eletrônica e câmeras portáteis roubadas para contar suas estórias macabras.
Um repórter inescrupuloso os adula, os coloca no ar em cadeia nacional, fazendo deles celebridades criminosas. Mas os assassinos exibicionistas superam a perversidade do jornalista, tomam-no como refém e atiram nele, preferindo o testemunho da câmera automática que registra as suas proezas sádicas, assegurando seu lugar na posteridade.
O cinema de Woody Allen representa certamente o que há de mais "genuíno" na arte cinematográfica norte-americana com sotaque nov...
A Rosa Púrpura do Cotidiano
Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma ...
Um olhar poético ao cinema

Fui ver o filme ESTRANGEIRO (Edson Lemos Akatoy). É um daqueles filmes que você tem que ir bem descansado, espírito aberto e disposto a uma profunda contemplação da natureza. É longo (quase 2 horas).
Me lembrou LIMITE (Mário Peixoto) o tempo todo e a música de Satie (repetidamente) me reavivou essa lembrança. Correto, bem feito, em verdade, abissal, meio existencialista, meio metafísico, supõe refletir a temática da saudade, mas sendo extremamente intimista, me tocou - entretanto - como uma espécie de busca juvenil da personagem que "volta" às origens (?) e "viaja".
Terá sido tudo somente um sonho? Well... o onírico tem sua potência, claro. O filme tem matizes oníricas e brilha nos flagrantes fotográficos da natureza bela das praias paraibanas (principalmente Tabatinga). A sacada de fazer o filme em preto e branco foi genial, pois respalda a proposta meio espectral, nostálgica, fantasmagórica (quanto a isso, nenhum pecado). Bem nordestino, brasileiro (o sotaque não nega, nem ofende), mas é de um outro Nordeste que se trata (longe desse insensato e miserável mundo).
Acadêmico sim senhor, mas há lugar também para uma nova escola de cinema nordestino, por que não?. E provavelmente, "Estrangeiro" terá seu lugar na filmografia nordestina (e brasileira) do futuro.
Feito com poucos recursos tem o mérito de captar a beleza do lugar, o silêncio e a generosidade ecológica que os deuses concederam à região. As interpretações das jovens atrizes não comprometem, mesmo porque no centro da cena reina mesmo a Mãe Natureza (talvez idílica, edênica, paradisíaca em demasia, pois sabe-se, a Natureza é também madrasta).
O filme é norteado por uma vibe aguçadamente feminina (guardando grandes enigmas, sutis mistérios). Mas o experimentalismo valeu demais. Principalmente porque a estética é deslumbrante.
No que concerne ao fenômeno cinema, lembrei das aulas de Linduarte Noronha, cinema é "imagem em movimento". Mas e o pathos? A saída foi buscada na música trovejante de Wagner. (Algo que - me parece - não ficou bem resolvido).
No mais, elipses, flashback, fusões... porque a juventude pode também ensaiar novos itinerários de (trans)vanguarda. E... uma ode à paisagem, cheia de encantamentos: chuvas lindas, suavidade, êxtase das crianças correndo à beira-mar, e que coisa bonita as imagens das bolhas de ar em raro flagrante submarino, justo quando a atmosfera do Brasil e do Nordeste real parecem irrespiráveis. Enfim, estranheza poética, e muita poesia!