Mostrando postagens com marcador Carlos Henrique Leite. Mostrar todas as postagens

Mestre Manuel Marcela, tipo longilíneo, um pouco curvado pelo passar dos anos, cor pardacenta, sorriso largo e envolvente, cativava...

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Mestre Manuel Marcela, tipo longilíneo, um pouco curvado pelo passar dos anos, cor pardacenta, sorriso largo e envolvente, cativava à primeira vista. Boa prosa, era o centro das atenções onde quer que estivesse; a falta de instrução curricular – nunca alisou banco de escola – era compensada pela inteligência acima do normal, memória aguçada e, sobretudo, pela presença de espírito.

Era uma ideia que há muito martelava minha cabeça, ou por outra, um...

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Era uma ideia que há muito martelava minha cabeça, ou por outra, um compromisso firmado comigo mesmo, de estender uma viagem que faço, sempre que possível, ao Rio de Janeiro, até a cidade de Leopoldina-MG. Mas sempre arranjava uma desculpa e deixava para depois. Finalmente, em 09 de setembro de 2024, depois de alguns dias de contemplação na cidade maravilhosa e sentir a ebulição do Rock in Rio, encaramos – Salete e eu - a Serra de Petrópolis ou Serra da Estrela, como chamam por lá, possessão do maciço montanhoso da Serra dos Órgãos, em direção a Leopoldina.

Era a época do carrancismo, de muito apego as tradições e aos costumes, do poder pela força. Quando o adulado coronel, barrigudo, manda...

Era a época do carrancismo, de muito apego as tradições e aos costumes, do poder pela força. Quando o adulado coronel, barrigudo, mandava no juiz, no delegado e no prefeito. Prendia e mandava soltar. Tempo em que o sentimento de honra aflorava. Qualquer desfeita era tomada como desonra e exigia reparo. Uma filha ofendida dentro de casa era o pior que podia suceder, o maior dos ultrajes. Para sanar a ofensa só havia duas saídas: casamento ou tragédia. Feito o casório, não se falava mais no assunto, botava-se uma pedra em cima; caso se negasse a reparar o mal feito, era morte na certa.

Numa extensa faixa de terra no oeste da Paraíba, espremida entre os Estados de Pernambuco e o Ceará, situa-se a cidade de Con...

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Numa extensa faixa de terra no oeste da Paraíba, espremida entre os Estados de Pernambuco e o Ceará, situa-se a cidade de Conceição do Piancó. Sua gente arrasta pelos penosos caminhos dos tempos tradições e costumes que trazem a marca da sabedoria popular. Sobressai a espiritualidade dessa gente, que explora com espontânea verve o pitoresco dos fatos.

Toda cidade conhecia a coragem do vigário. Homem jovem, nos seus vinte e poucos anos, franzino, irrequieto, e sem papas na lí...

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Toda cidade conhecia a coragem do vigário. Homem jovem, nos seus vinte e poucos anos, franzino, irrequieto, e sem papas na língua, já dera provas do seu destemor.

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Zé de Dó, ex-cangaceiro, era um sujeito muito esquisito. Jeitão desconfiado, cabeça baixa e de pouca conversa. Movia-se a passos firmes, talvez para se livrar dos curiosos e de perguntas impertinentes. O olhar de gavião varria o horizonte. Um solitário. Nas suas poucas andanças na cidade, sempre era visto desacompanhado, nem um familiar, nem um conhecido, resolvia uma coisa e outra, adquiria os mantimentos na bodega de seu Sitônio, coisa de pouca monta, esquentava o couro com duas ou três lapadas de cachaça, e se largava de volta para o sítio Umbuzeiro, município de Conceição do Piancó, onde habitava com a mulher e dois netos.

Cidadezinha acanhada do alto sertão da Paraíba, espremida entre o Ceará e o Pernambuco, pelos idos dos anos sessenta, Conceição do Pia...

conceicao pianco paraiba
Cidadezinha acanhada do alto sertão da Paraíba, espremida entre o Ceará e o Pernambuco, pelos idos dos anos sessenta, Conceição do Piancó, padecia à míngua de justiça social e foros de civilização. Diversão não existia, uma vez ou outra, apontava por lá um circo, daqueles de ponta de rua, e fazia a festa da garotada, e também de toda a população do lugarejo. A chegada de um circo por lá, por mais humilde que fosse, era sempre um acontecimento marcante. A população ficava ouriçada, não se falava de outro assunto. A televisão engatinhava, contava-se nos dedos, somente uns poucos abastados possuíam o aparelho em preto e branco.

A história do nosso tempo e de nossa gente sempre esteve atrelada ao imaginário popular, ao anedotário, ao cancioneiro regional. A cu...

lampiao cangaco
A história do nosso tempo e de nossa gente sempre esteve atrelada ao imaginário popular, ao anedotário, ao cancioneiro regional. A cultura nordestina, a sertaneja em particular, é o exemplo vivo e mais denso desta herança que se manifesta desde tempos ancestrais, numa sucessão de pai para filhos. São histórias recolhidas ao acaso, das querelas, das lendas sertanejas, da poesia de cordel, dos poetas repentistas, que enriquecem o nosso folclore; quando a verdade pouco importa, onde o real se confunde com o imaginário.

Nas pequenas cidades espalhadas pelo interior a convivência é como em uma grande família, de tudo acontece ...

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Nas pequenas cidades espalhadas pelo interior a convivência é como em uma grande família, de tudo acontece um pouco. É um universo em miniatura. As pessoas se conhecem, se tratam pelo nome, no mais das vezes, por apelidos íntimos ou jocosos. A maioria possui laços sanguíneos, outros se dão por camaradagem, há momentos de afetividade, e não raro de quebra-pau. Amam-se e se odeiam.