"Aquele anjo velho, lembrando um norueguês com asas, havia caído no intramuros do alambrado “e as galinhas o bicavam em busca dos parasitas estelares que proliferavam nas suas asas”
A epígrafe que encabresta essa conversa foi extraída do conto “Um senhor muito velho com umas asas enormes”, de Gabriel García Márquez e grifada por Demétrio Diniz, com lápis marca-texto, em 17 de maio de 2010, dia do meu aniversário. O livro era “A incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó desalmada”, catalizador do realismo mágico, estilo que lastreou toda a produção literária do escritor colombiano. Lá se vão, portanto, doze anos do presente, e tudo ainda está muito verde em minha memória: a saudade do amigo, o livro como um indicativo de rota, plano de voo realizado por ele e a mim repassado como modelo. 0 deserto empestado de contrabandistas, missionários, índios, piratas, foragidos e garimpeiros, todos na maior secura por Erêndira, a garota acorrentada a uma cama e transformada em escrava sexual pela própria avó sem coração.