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Eles habitam o andar de baixo, enquanto eu, encontro meu refúgio aqui em cima, nesse lugar onde, às vezes, me pego sussurrando baixinh...

gatos igreja medieval
Eles habitam o andar de baixo, enquanto eu, encontro meu refúgio aqui em cima, nesse lugar onde, às vezes, me pego sussurrando baixinho alguma coisa, na solidão de minha pequena montanha de alvenaria. Na maior parte do tempo, a impressão que eles me fornecem é a de viverem presos a um silêncio aterrador, e eu raramente escuto suas vozes elevarem-se, o que acontece apenas quando alguma querela irrompe de súbito entre eles, ou quando um invasor assoma por lá, vindo da rua. Verificam-se nesses momentos uma sucessão de rápidos alaridos, para os quais já percebi que as motivações mais frequentes são as constantes violações do espaço que, talvez um tanto vagamente, tenham sido já delimitadas entre eles.

Há tempos que eu, Axéssio, penso em registrar por escrito, o que seja talvez uma espécie de… ditirambo, sei lá, alguma coisa que jus...

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Há tempos que eu, Axéssio, penso em registrar por escrito, o que seja talvez uma espécie de… ditirambo, sei lá, alguma coisa que justifique, faça jus à vida do meu pobre amigo. Infelizmente, a oportunidade me chega em hora de pesar. Mas, é noite, acabo de jantar, sento-me à escrivaninha e começo a registrar o que começo a conceber como um apanhado geral da vida de Carlos MacCaco, que se pode resumir nos primeiros anos em que, órfão, foi acolhido na casa de Totó, a fuga ainda adolescente e os anos de aprendizagem.”

Nascida e criada no famoso “Riacho Verde”, sítio ao sul de Teixeira-pb, aquele exato lugar onde, por força de familiares seus (Nunes, o...

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Nascida e criada no famoso “Riacho Verde”, sítio ao sul de Teixeira-pb, aquele exato lugar onde, por força de familiares seus (Nunes, origem ibero-judaica), a cantoria de viola houve de nascer no Brasil, a minha avó disse-me um dia se referindo aos “Poços” – um grande açude construído na seca de 1877, e que batizaria toda a região contígua àquele seu lugar de origem : “Meu fio, em tudo que é lugar do mundo, a primeira palavra que uma criança aprende a dizer é: Ma-mãe!... Mas nos Poços, meu fio, era Ba-ta-ta!...”

      Colapsidade Um minuto mais e a cidade Colapsa, setada por Raios Bruxos, lançados por despojos Do ocaso Um minuto só...

 
 
 
Colapsidade
Um minuto mais e a cidade Colapsa, setada por Raios Bruxos, lançados por despojos Do ocaso Um minuto só e ela imerge Dragada por seu próprio porto Aquele do Capim Onde sempre vejo a mesma mulher Adoecida no leito A Pobre mulher um dia deflagrada

De suas estranhezas notou-se primeiramente uma indisfarçável simpatia pela vida de caserna. Pois não é que, às...

literatura paraibana alberto lacet
De suas estranhezas notou-se primeiramente uma indisfarçável simpatia pela vida de caserna. Pois não é que, às vezes, chegava nos cantos subitamente marchando (entenda-se: você o via aproximar-se andando normalmente, quando, a poucos passos, assumia um andar retesado e o bater de pés dos que marcham, e isto apenas para – chegando junto a você – obedecer a uma imaginária ordem de Alto!), quando então estancava batendo um calcanhar no outro e prestando as continências militares, e só depois disto, voltando ele a normalidade da vida civil…Às vezes me pergunto: de onde viria aquilo lá… nele?

As semanas seguintes chegam trazendo novas e inesperadas atividades para Carlos e amigos. Numa delas, talvez se possa dizer, invocand...

conto literatura paraibana alberto lacet
As semanas seguintes chegam trazendo novas e inesperadas atividades para Carlos e amigos. Numa delas, talvez se possa dizer, invocando a seus favores uma suposta inocência da idade, em que a precária juventude os aliviou de peso na consciência - e tornou-a menos espúria. A sós, ou em grupo, captura gatos para serem atirados como alimento na jaula da onça, único felino do circo. Não há recompensa em dinheiro: Um gato, ou dois, a depender do porte, garante uma entrada de circo.

Àquela hora, Marechal Roberto já estava de pé, na rua. Os braços cruzados e colados na barriga, tamanho o fri...

sonho pesadelo conto
Àquela hora, Marechal Roberto já estava de pé, na rua. Os braços cruzados e colados na barriga, tamanho o frio que fazia na manhãzinha em que Horácio acordou e saiu do hotel quando os donos do estabelecimento estavam ainda por levantar-se. Era aquele momento da mais distinta claridade, mal acabara a madrugada de varrer seus últimos fiapos de escuridão, e quando mal podemos acreditar que o dia, ao contrário de uma criança recém-nascida, possa estar tão limpo antes que um bom número de pessoas o vejam por vez primeira.

Há duas formas para reviver-se um mesmo passado. Uma é individual e memorialista, a outra, além de coletiva, é histórica. Em qual...

escrita sumeria historia dominio poder
Há duas formas para reviver-se um mesmo passado. Uma é individual e memorialista, a outra, além de coletiva, é histórica. Em qualquer dos 2 casos, o indivíduo encontrará – acaso pretenda – sinais inequívocos de seu percurso existencial. A primeira pode ser bloqueada e atirada na lixeira do esquecimento por uma eventual capitulação de funções cerebrais nos períodos finais do curto tempo de vida dos indivíduos, uma perda que não será sentida por ninguém mais além de familiares próximos.

Parte I – No Vento das Despedidas Da pequena multidão espremida no cais, persiste apenas o lento acenar de braços para os agora...

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Parte I – No Vento das Despedidas

Da pequena multidão espremida no cais, persiste apenas o lento acenar de braços para os agora indistintos tripulantes ainda avistáveis pelo tombadilho. Medo e esperança e júbilo, numa gama bastante variada de expectativas, seguem depositados naqueles navios acabados de levantar âncora no rumo do sol nascente. Penetrar o temível Mar Oceano é seu grande e desmesurado desafio. Estamos aí no início do século XVI, e o mundo cristão vive um dos seus mais duradouros estrangulamentos desde que as hordas de Gengis Khan, mil e duzentos anos antes, ainda no início de tudo, desceram do extremo Oriente e das estepes geladas da Ásia Setentrional empurrando centenas de tribos nórdicas para o sul, de encontro aos muros do império romano.

Parece que todo esforço empreendido por nós, porcos, em trazer um pouco de limpeza e de higiene para as pobres aldeias...

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Parece que todo esforço empreendido por nós, porcos, em trazer um pouco de limpeza e de higiene para as pobres aldeias do passado neolítico desses nossos atuais (e de muito tempo) carrascos, terminaram por nos colocar, no conceito desses mesmos verdugos, em perene débito até com as noções mais elementares de asseio e higiene pessoal.

Naquele começo de tarde de 1995 – ou 6, consigo ainda, em dado momento, rever-me em minha ativida...

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Naquele começo de tarde de 1995 – ou 6, consigo ainda, em dado momento, rever-me em minha atividade diária da pintura: aos poucos, muito lentamente vou delineando uma figura masculina como elemento central do quadro. O primeiro plano é ocupado por este elemento humano, sentado em um banco de pintor. Ele tem o torso nu, descamisado. Ao lado dele há um garoto. O desenho havia se modelado pela memória de meu filho que já não vivia comigo. Passados 28 anos, consigo ainda lembrar alguns detalhes daquele momento.

Se você colocar Estética de um lado, Dinheiro do outro, poderá ser que tenhamos aí duas abordagens bastante diferentes para um mesmo p...

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Se você colocar Estética de um lado, Dinheiro do outro, poderá ser que tenhamos aí duas abordagens bastante diferentes para um mesmo processo produtivo reconhecido como Artes Plásticas, ou Visuais, uma das 3 formas de Arte – ao lado da Música e da Poesia. Essas 2 bordas podem ser tanto opostas quanto contíguas, como as tabelas de uma sinuca.

ARQUETIGRAMAS I Antigamente a noite ardia em círios Desfalecia em flores apodrecidas As virgens ...

poesia paraibana alberto lacet
ARQUETIGRAMAS
I Antigamente a noite ardia em círios Desfalecia em flores apodrecidas As virgens carregavam segredos Para a cova Em antiguidade mais recente O ódio, entre pesados tributos Passou a exigir também um incêndio Assim, no instante final da purga Na tarde borrada por insultos Um herege recebe as terríveis Explicações do fogo Em outra, mais antiga Em tempo sem leis de tempo (Quando insuspeitos serão os poemas) Qualquer horizonte é prenúncio da horda, ninguém Homem ou deus Opõe-se a um pântano Não se conhece a morada do deus Cuja boca sopra Ventos e rios Nem mesmo a um poema Cabe parar na forma Grafado na pedra

Dentro da Mercearia, os três homens bebericam a intervalos espaçados, fumando nesse tempo. Escutaram o barulho do ônibus chegando, ...

Dentro da Mercearia, os três homens bebericam a intervalos espaçados, fumando nesse tempo. Escutaram o barulho do ônibus chegando, e saindo, depois de rápido momento, sem nada comentar, nem se dispor a dar uma olhada, embora Dega Veíno, pesando açúcar por trás do balcão, tivesse ângulo suficiente para ver na direção da parada. Isso que fez. Apertou ligeiramente as pálpebras e filtrou um pouco da claridade lá fora. Alguém se movia por lá, no outro lado do canteiro, mas nem dando para reconhecer dali. Um doce se consegue ficar parado. Até o poste fica tremido. Já foi para um canto, para o outro, às vez anda. Pára. Parou de novo, agora. Tinha um pano na cabeça, e agora tirou. É bem um doido. Conversando sozinho, no meio do tempo.

Agora estamos num ajuntamento esparso de pessoas, ao ar livre. Como sempre há muitas crianças, mocinhas adolescentes, como sempre andr...

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Agora estamos num ajuntamento esparso de pessoas, ao ar livre. Como sempre há muitas crianças, mocinhas adolescentes, como sempre andrajosamente vestidas. Vêm-se jovens mães com bebês. Em menor proporção, adultos de idade variada. A câmera sai colhendo imagens e depoimentos curtos. Um homem por volta dos 25, branco, tem um cabelo fino e esbranquiçado de eslavo, está sem a camisa e exaltado:

    A OUTRA RUA Não é que não tenha mais a rua A outra rua, que agora um nevoeiro Oculta. E sempre por onde o antigo Céu s...

alberto lacet poesia paraibana
 
 
A OUTRA RUA
Não é que não tenha mais a rua A outra rua, que agora um nevoeiro Oculta. E sempre por onde o antigo Céu se abaixava E vinha se abaixando Quando então a enorme Cabeleira de nuvens A tudo umedecia Não é que não se tenha mais Essa rua Sempre tão submarina Que esteve em outro lado Do meu tempo

Era, sobretudo, pela via comum dos relatórios que a cúpula da empresa tomava conhecimento do que se passava nos canteiros de obra, das d...

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Era, sobretudo, pela via comum dos relatórios que a cúpula da empresa tomava conhecimento do que se passava nos canteiros de obra, das dificuldades, dos resultados, da eficiência – ou não, dos responsáveis. No caso aqui, dada a distância, a rota pouco usual de acesso, a situação normalmente ruim das estradas, a regra não tinha exceção e o controle se dava unicamente através dos relatórios, habitualmente parcimoniosos, produzidos pelo seu inspetor geral, e como se verá, exatamente por essa parcimônia.

— O que me diz quanto a ser a literatura um gênero da ficção, e não o contrário? – Não sei. Quero que...

assiria antiguidade historia comunicacao
assiria antiguidade historia comunicacao

— O que me diz quanto a ser a literatura um gênero da ficção, e não o contrário?

– Não sei. Quero que me esclareça antes sobre o que você chama de ficção. Da literatura sabemos todos que a ideia geral e mais difundida sobre ela abrange todo e qualquer registro de linguagem escrita da qual escorra um relato de motriz mais geral no entretenimento. Embora longe de ser o único, já que a literatura situou-se num vasto espectro de abordagens que pode ir das manipulações de massa aos ensinamentos históricos, do universo infantil fantasioso aos registros documentais de viagens, batalhas, conquistas, etc. Sem falar na grande quantidade de romances que, nos dois séculos anteriores ao nosso, arrebanharam leitores atraídos pela exposição da variada gama dos sentimentos humanos expostos de forma novelesca.

Parece que toda instância de dor, medo, ódio, sentimentos de uma forma geral, ou sentidos físicos como sabor, cheiro, sensação térmica ...

cerebro tecnologia
Parece que toda instância de dor, medo, ódio, sentimentos de uma forma geral, ou sentidos físicos como sabor, cheiro, sensação térmica de frio ou calor, tudo isso é registrado pelo corpo humano após o ganho de uma forma de expressão sensitiva identificada por canal especifico no cérebro.

Portanto, o cérebro humano também é — além da conhecida maquina de pensamentos e formulações racionais para leitura e interpretação da realidade (cuja chave decisiva para execução dessas tarefas foi o lento processo criativo de formulação linguística) — um dispositivo que prontamente serve de alarme

Agora chegando. As sombras da tarde mergulhando para baixo do carro, mas no momento da colisão subindo para lamber o para-lama e toda ...

Agora chegando. As sombras da tarde mergulhando para baixo do carro, mas no momento da colisão subindo para lamber o para-lama e toda borda, dando a ilusão de que se atropela a silhueta estirada da fileira de casas, silhueta não exatamente reta, na margem direita, mas logo depois se percebe os frontões projetados até um ponto em que se afastam do carro, recuados e parcialmente indistintos, antes de sumir da visão. Mas então, depois, como que voltando. Freiar. Sempre esquecendo de tomar o remédio.