Autossuficiência é uma forma de egoísmo porque nos priva de sermos para com o outro. Essa frase ressoa como um eco profundo em tempos em que a independência é exaltada como virtude suprema. Mas há um paradoxo nisso. Se não precisamos de ninguém, para quem seremos? De que adianta construir fortalezas emocionais se, ao final, nos encontramos solitários dentro delas?
O romantismo, em sua essência mais pura, é um ato de entrega. Ser romântico me rendeu alguns poemas. Mas para quem servem os versos? Para nada, diriam alguns. Afinal, qual a utilidade de um poema? - Nenhuma. Eu quero o significado. A poesia não precisa de um propósito tangível para justificar sua existência. O amor, a arte, a beleza –tudo isso é valioso não porque têm uma função prática, mas porque preenche o espaço do que é imaterial.
É nesse espaço que a poesia se insere. Poeta não precisa de rima na sua poesia; precisa de poesia no seu ritmo. A vida, afinal, também não obedece a métricas perfeitas. Ela pulsa em cadências irregulares, em descompassos que, por vezes, se tornam mais belos do que qualquer harmonia previsível. Assim como os versos livres, as emoções também fogem de amarras rígidas. Não é a estrutura que define a poesia, mas o que ela comunica – e a forma como ressoa em quem a recebe.
Talvez seja por isso que ser romântico é trágico, como bem disse um professor de Literatura. O romântico é aquele que sente demais, espera demais, se joga demais. Ele é, por definição, aquele que se entrega ao impossível, que se apaixona por ideias e vive na expectativa do sublime. Imagino o drama de quem não aprendeu a romancear. Porque, se o trágico é sentir demais, o que dizer de quem sente de menos?
A tragédia de ser romântico não está apenas na dor da desilusão, mas na consciência de que a vida real, muitas vezes, não acompanha o roteiro idealizado. O mundo não é feito de metáforas bem elaboradas ou finais grandiosos – e, ainda assim, há beleza em continuar tentando escrever a própria história com sensibilidade.
Ser romântico é, no fim das contas, insistir em encontrar sentido onde muitos só veem vazio. E talvez isso seja o maior ato de coragem.